A CIDADE OU VILA QUE MAIS AMEI OU ODIEI, NO MEU TEMPO DE TROPA ANTES DE SER MOBILIZADO PARA O CTIG
CALDAS DA RAINHA
O tema sugere sentimentos extremados relativamente às localidades por onde a tropa nos mandou antes do cruzeiro ultramarino. Cá para mim, não houve amores ou ódios no que às localidades por onde passei me tenham marcado. Mais, fui feliz em todas elas. Feliz, na tropa, perguntar-se-ão? É verdade. Até então não tinha tido mesada ou receita continuada de trabalho, pois levei uma vida airada, de menino quase protegido, que me permitiu não ter estragado o corpinho em afazeres laborais, com excepção do mês de Outubro de 68, em que pedi o salário de um conto para trabalhar. Até fiquei doente, com uma pleuresia, que me atirou para a cama durante quinze dias, passados os quais surpreendi o médico a pedir autorização para sair à noite. Em 09JAN69, convenientemente recuperado, apresentei-me no RI 5, nas Caldas da Rainha, com o meu amigo Zé Tito, para uma aventura que havia de ligar-nos por três anos, até Janeiro de 72, quando passámos à peluda. Mas mantemos a amizade.
O meu pai, coitado, perante a realidade mais dura para ele do que para mim, prontificou-se a facultar-me momentos tão bons quanto possível, até à hora em que levasse um tiro indesejável, ou que por qualquer outra via decorrente da guerra me passasse para o lado dos anjinhos. Nessa convicção, passou a abonar-me uma muito generosa mensalidade para mitigar as dificuldades da tropa, o que, conforme as circunstâncias, me permitia comer, dormir fora, e andar na galderice com um grupo chegado de amigos, o que é sempre fácil de concretizar naqueles verdes-anos, e o Zé participava igualmente. Pois! Esse gajo entrou comigo, e acompanhou-me sempre, no continente, na Madeira e na Guiné, só não podíamos pertencer ao mesmo pelotão por causa da especialização em "mines and bloody tracks".
Estação dos Comboios das Caldas da Rainha
Foto: Wikipédia
Ainda à civil, e já estava a armar a primeira barraca. Estendia-se o pessoal por uma longa fila, para receber os primeiros ícones militares: a farda (que o Veríssimo tão bem descreveu e que nos garantia exemplar compostura), que incluía botas; e a G-3, coisas que nos obrigaram a abrir os olhos, pois constou que logo ali seríamos roubados de qualquer coisa. Com o pessoal à rasca, um furriel etiquetado de "operações especiais", acolitado por dois ou três militares, vinha a comandar aquela força de revista aos sacos de cada um. Chouriços, salpicões, bagaceiras, etc, eram produtos arrecadados para o festim deles. Quando me interrogou sobre o conteúdo do meu saco com intenção de o abarbatar, respondi-lhe que estava carregado de coisas boas, queijo, presunto, bolinhos de bacalhau, e, até, um magnífico salame de chocolate, uma delícia da minha namorada, que até passarmos à peluda constituiu um pretexto de especulação com o Tito: só te dou um bocadinho de salame, se... e ainda assim ele queria. Peço-vos contenção imaginativa, o Tito é um gajo porreiro e meu amigo, que, às vezes, supria as minhas dificuldades a engraxar as botas. Mais nada.
A rematar aquela informação, confiado no físico do Tito, estudante avantajado no Instituto Superior de Educação Física, informei o cujo, de que o conteúdo do saco não lhe estava disponível, esclarecimento que o visado aceitou com civilidade total, e até mandou suspender a revista e colecta dos produtos portadores de colesterol. Começava a gostar da tropa. No dia seguinte, fiquei a conhecer o comandante do 2.º pelotão, da 6.ª Companhia, o tenente Clemente, com quem me daria bastante bem.
À noite, o pessoal saía para jantar na cidade, arrastar os corpinhos pelas barras dos cafés, e ala, que estávamos nos anos sessenta, a região era provinciana, não havia garotas na rua, nem estabelecimentos de diversão noturna. Outrossim, já lá havia umas almas da PM para nos intimidarem. Não passei por qualquer azar.
O meu pelotão foi premiado com a abertura do desfile no dia do juramento de bandeira, e para isso contribuiu decisivamente, o comportamento excepcional daquele corpo de milicianos, tanto na ordem unida, como nas provas de tiro, como ainda nos exercícios intelectuais, e ainda, nas provas de "mato", aquelas que nos obrigavam a sair do conforto aquartelado. Já antes referi que a incorporação se verificou em 09Jan69, um dia chuvoso. E a chuva continuou a frequentar a região durante alguns dias. Num desses, talvez uma semana mais tarde, estavam os pelotões instalados nas salas de aulas onde os instruendos recebiam valiosa formação teórica protegidos da chuva inclemente, quando esta praça, de um dos últimos lugares da sala, levantou a mão pedindo autorização para alguma coisa. O Ten. Clemente inquiriu:
- O que é que quer, oh nosso instruendo?
E o instruendo fez uma brevíssima caracterização do ambiente:
- Oh meu Tenente, isto parece uma turma de meninas!
O Tenente quase explodiu de surpresa:
- Aaahhhnnn?
Aquela espécie de interrogação compeliu o instruendo que eu era, a especificar as razões da intervenção:
- Oh meu tenente, se nós estamos neste período de instrução a prepararmo-nos para a guerra de África e para os climas inóspitos, não se percebe por que é que nos protegemos de umas gotinhas de água (sic) para baixo do tecto.
O Ten. Clemente, naturalmente reagiu:
- Está tudo a formar lá fora!
E foi o bonito. Dirijimo-nos para um campo anexo onde estavam os aparelhos, marchámos, rastejámos, voltámos a rastejar e a pagar sempre que o Senhor Tenente entendia que alguém não fazia as coisas como era conveniente da condição militar, até que no final do período de aulas, marchámos até à parada, fizemos um bocado de ordem unida, formámos, e finalmente, mandou destroçar. Acho que ainda chovia. O nosso aspecto devia ser lastimoso, e ao entrarmos na caserna onde pernoitavam os três pelotões da Companhia, ouvi alguns camaradas desses pelotões a avaliarem a situação:
- O vosso tenente deve ser um filho da... - ao que foram logo esclarecidos por uns camaradas que me acompanhavam:
- Filho da... é o Dinis - ao que eu lhes chamei a atenção que estava ali, e não queria ouvir aqueles mimos. Todos nos rimos da parvoeira colectiva. Afinal, numa reacção psicológica típica dos vinte anos, o pessoal mostrou que estava para a curvas.
Num dos primeiros crosses que fizemos, saímos em grande velocidade, pedimos licença e ultrapassámos outros pelotões. Depressa ficámos fora do alcance visual dos restantes, e foi quando pedimos para descansar debaixo de um pomar e fora de vistas. Nesse dia não chovia. Da estrada, um pouco distante, chegava-nos o barulho dos pelotões em corrida na direcção de Óbidos. Depois fizemos uma refeição de laranjas, tudo na maior rebaldaria, com o abandono no local dos restos da fruta, o que atestava a presença de inimigos no laranjal. Regressámos outra vez em correria, entrámos com espavento nas instalações regimentais, demos ainda uma volta à parada com a alegria de atletas bem classificados, e esse facto causou algum efeito junto de oficiais que saíram do edifício do comando para observar aquele corpo de valentes mancebos. Só muito depois chegavam os outros pelotões. O Ten. Clemente deve ter inventado um itinerário alternativo para não nos cruzarmos com os restantes, e isso causou logo uma forte impressão geral. Todos caladinhos como fora combinado, saíamos do duche "quentinho", quando os outros começavam a chegar mortos da estafa.
Outra ocasião, regressávamos às Caldas provenientes da carreira de tiro, quando começou uma chuvinha. A coluna estancou, e vieram dizer para me apresentar ao Ten. Clemente que seguia na primeira viatura. Bati a palada, e ele colocou a hipótese de aproveitarmos o tempo remanescente, e a escassa chuva que caía, para armarmos um passo de desfile pela cidade e impressionarmos as garotas. Achei logo que sim, as miúdas ficariam impressionadas. E foi o que aconteceu. O Tenente à frente, com garbo e vaidade, cabeça levantada e quico a proteger os olhos, levantava braços e pernas numa marcha cadenciada. Atrás, o pessoal esforçava-se para corresponder à harmonia dos movimentos, e todos mostravam um sorriso para as meninas e as senhoras, que protegidas nas ombreiras das portas da chuva que adensara, nos olhavam impressionadas e com vontade de nos levarem para lugares confortáveis, quiçá para nos darem mimos.
O pelotão era bem divertido e tornou-se solidário. Da cidade daquele tempo já quase não tenho recordações. Do Ten.Clemente também não voltei a ter notícias, mas que ele deve ter abixado algum louvor à pala da camaradagem, acho bem provável. Nas provas finais recusei-me a lançar-me ao galho, mas um capitão homónimo, vindo não sei de onde, intimidou-me:
- És a vergonha do meu nome. Não passas, não sais no fim-de-semana.
E acabou-se a brincadeira que se estribava em vertigens. Fiz a pista em tempo recorde, que nem os coxos levariam tanto tempo. No fim tive que recusar a ida para os comandos, fiel ao princípio de nunca me oferecer. Com fé inabalável nos psicotécnicos, admitia que fosse seleccionado para a Artilharia Anti-Aérea de Costa, e colocado em Cascais com as vantagens consequentes. Tá-bem-tá !!! Mas a "sociedade" com o Tito prolongar-se-ia com a coincidência de destino nas guias de marcha: Tavira!
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Nota do editor:
Último poste da série de 9 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12815: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (23): Santarém, onde volto por necessidade, por gosto e por desgosto de ver desaparecer algumas das minhas referências (Hélder Valério de Sousa)
24 comentários:
Tchiii, mas qu'a ganda malandro me saíste !!! E eu, qu'anjinho fui !!!
Um abraço do
Veríssimo.
José Dinis
Devo ter chegado ás Caldas na mesma altura, era Cabo Miliciano há uns dias, vinha de Tavira e fui integrado na 5ª Companhia. Mas só queria perguntar-te se te lembras da visita do Américo Tomaz ao RI5 nesse periodo. Falei com um camarada que esteve lá nesse periodo e não se lembra, começo a pensar que sonhei com isso, mas tirei fotos e tudo do sonho.
Um abraço
César Dias
O Ten.Clemente(Carlos Trindade Clemente)foi comandante da CCAÇ 2701 na Guiné,companhia a que esteve adido o PELCAÇNAT 53.Está bem retratado pelo José Manuel,o Carlos é assim.Hoje é Coronel reformado,um grande amigo,falamos ao tlm imensas vezes.Foi ferido em Moçambique já depois do 25 de Abril,e em 78 ou 79,apanhou uns dias de prisão(já não sei quantos)dados pelo CEME,por numa festa no RI 2,ter pedido ao conjunto musical para tocarem "Grandola Vila Morena".A pena foi-lhe retirada passados tempos.A bronca saiu nos jornais da época.
a/c do Veríssimo:
Com que então anjinho? Logo tu que tens dado grandes lições de vida, sem faltarem os condimentos de bom humor;
a/c do César Dias:
Não me lembro da visita do P.R. mas admito que sim. Cá o computador, ou o disco, já não é o que era, ou não são o que eram. O problema das fotos pode radicar na data a que respeitam, mas a unidade deve ter no seu historial a data de tão insigne visitante;
a/c do Paulo:
É engraçado como aqui se cruzam caminhos, eu nas Caldas, e tu na guiné, com um individuo que nos terá marcado pela jovialidade e bom carácter. Na ocasião, ele frequentava uma casa de fados a caminho do Guincho, que fazia parte de um roteiro de jovens a atirar para marialvas, malta que procurava o gozo, a paródia, a convivência alegre. Uma ocasião dei de caras com um casal que caminhava abraçado num passeio da cidade. Era ele, e em vez de bater a pála, escangalhei-me a rir pela surpresa, e ele correspondeu. Não era fácil encontrar um oficial deste género. Se fizeres o favor, aproveito para pedir que lhe transmitas um abraço saudoso, pois, apesar de só termos convivido durante 3 meses, e em situações distintas, ele "ajudou-me" a levar a água ao moinho, e a tropa não chegou a ser tormento para mim.
Aos três, desejo muitas alegrias, e transmito um grande abraço
JD
José Manuel
Já mandei o link do teu post ao Clemente,que é mais nabo que eu a mexer em teclados,e só tem mail há escasso tempo.
Abraço
Caro Zé Dinis
O que te posso dizer?
Vi logo que eras 'menino das Caldas'...
Ora bem, não te chegava a vida airada que levavas, conforme nos relatas mas que todos já tínhamos percebido, como tiveste que fazer 'amargar' o pessoal do teu Pelotão com a tua mania de 'te chegares à frente'. E dizes tu depois que tinhas cuidado com isso de seres 'voluntário'!
Só uma dúvida: como é que chegaste a pensar, em teorizar que irias 'para casa', para a Artilharia de Costa? Contavas com o 'factor C'? Era suficientemente forte?
E se fosses, não achas que terias perdido a oportunidade de tua vida de conheceres África, de te tornares um 'condutor de homens' (mesmo ao pontapé!)?
Pois é, devemos viver cada momento com a alegria que pudermos pois serão sempre irrepetíveis.
Hélder S.
Caro José Dinis,
O meu comentário fica assim a modos que, entre o comentário do Veríssimo e o do Hélder. Bem anjinho, anjinho não diria mas menino do coro era de certeza.
Um grande abraço para ti e restantes intervenientes.
Adriano Moreira
O ex-cap Carlos Trindade Clemente foi o cmdt da CCAÇ 2701 (Saltinho) e diretor do jornal de caserna, "O Saltitão"...
O cap Carlos Trindade Clemente foi o comandante, ainda no meu tempo, da CCAÇ 2701/BCAÇ 2912 (Saltinho, 1970/72)...
E, nessa qualdiade, foi o diretor do "jornal de caserna" , "O Saltitão", de se publoicarm pelo menos dois nºs, em setembro e outubro de 1971...
O BCAÇ 2912 tinha sede em Galomaro. Da CCS era, por exemplo, o nosso grã-tabanqueiro o António Tavares. Vários médicos, conhecidos, passaram por Galomaro neste tempo... como, por ex., os drs.
Vítor Manuel Veloso da Silva;
José Alberto Martins Faria;
José Guedes;
Eduardo Teixeira de Sousa;
António Manuel Pereira Coelho.
A CCAÇ 2701 tem 25 referências no nosso blogue:
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/CCA%C3%87%202701
Ó Camarada Dinis.
Com que então, nas Caldas da Raínha. Pois também eu. De janeiro a Março de 67. Mas por lá fiz pouco, que eu já conhecia a cidade.
Por razões que para lá me levaram, eu era mais de fora.
Saia pela portinha de armas, às 18, e entrava pelas 5, 6 da matina, através daquele portão de ferro, nas traseiras do Quartel, que dava para o Pinhal onde fazíamos ordem unida e outras aprendizagens da ordem.
Três pancadas rápidas e duas lentas, com os nós dos dedos no dito portão e era o "abre-te sésamo". Ordens superiores vindas de longe e garbosamente cumpridas lá dentro, e era para quem queria festa.
No teu tempo ainda lá "imperava" o Major Inácio?
"quase" andou comigo ao colo. Jogámos ténis de mesa na Académica de Santarém. Ele nos séniores e eu a começar nos infantis. Um fim de tarde atrasei-me no desenfianço. Fiquei à rasca. A equipa estava lá fora à minha espera. O Inácio de oficial de dia. Fiz todos os batimentos e correctos pedidos de autorização para avançar em direcção à secretária, e pedi a "vossa senhoria meu major, que tinha um problema de uma familiar doente, se me permitia a saída, e ele que NÃO SENHOR". Retirei-me galhardamente, dei volta e voltas à parada, tentando perceber porque me lixara o Inácio.
Nisto uma faísca e fez-se Luz. Regressei ao ponto de partida, repeti os salamaleques da ordem, entrei e, quase orelha a orelha, disse-lhe: "Ó Inácio, atrasei-me a sair e está a gajada toda lá fora à minha espera...". carimbadela da dispensa de recolher e lá vai ele.
O Inácio morreu nos anos oitenta. Na Avenida da Liberdade, em Lisboa, tinha ele saído do teatro e regressava a Santarém com a mulher, um filho da puta atravessou a avenida ignorando o sinal vermelho, dando-lhes morte imediata.
Impressionante o pesar que à sua morte deixou a cidade onde nasceu, cresceu, estudou e viveu.
armando pires
Kamarradas:
a/c de Helder:
Só um grandecíssimo sacana pode afirmar sobre quem conhece, o mesmo que afirmas sobre mim. Tens sorte, por um lado, não te alcanço quando mereces o pontapé no cú, por outro, tenho por ti grande estima. Toma!... e embrulha.
Ah! Ficas a saber que nunca tive cunhas, quando era fácil tê-las.
Quando de uma das férias, encontrei um senhor comendador que vinha todas as 4ªs ou 5ªs feiras a Lisboa e conversava com o Salazar.
Então rapaz? há muito tempo que não te vejo!
Pois não senhor comendador, tenho estado na Guné!
E não me disseste nada!! podia ter-te livrado disso!
Vale o que vale. Também não devias imaginar-me tão ingénuo ao ponto de admitires que eu acreditava nos psicotécnicos.
Ficas a saber que eu estava determinado a acabar com a guerra, o Spínola é que não me autorizou;
a/c do Adriano:
Cheguei a frequentar os Salezianos, mas a minha voz estridente e os sufocos por incapacidade para dosear, nunca me inspiraram o coro. Fiz teatro, mas para me baldar ao "estudo", e ajudei à missa para me baldar às aulas de matemática. Mas quando fui para a tropa, graças a Deus, já estava a um passinho de me tornar ateu;
a/c do Luís:
Já fui bisbilhotar sobre a 2701, e com o Paulo já troquei impressões muito lisonjeiras sobre o Clemente;
a/c do Armando:
Minhas Senhoras, e meus Senhores!
Eis, finalmente, um bom malandro, e na primeira pessoa do singular, que ele não é tíbio. Fadista, recruta, especialista em evasões e invasões de quartéis e campos militares, o Pires bem que podia ter safado os mais novos, apresentando-os ao sr. major, que não sei se conheci, mas eu conheci tão pouca gente. Agora, quando me apresento com ligações às Caldas, ou à Guiné, é que os inerlocutores me questionam imediatamnente, «então conheces o Pires»
Abrassos fraternos
JD
Olá José Dinis.
Creio que vou ser o último a comentar, porque assim já me livro dos "minhas senhoras e meus senhores" e dos "abrassssos fraternossss, que dão aos teus escritos aquele "toque", tal como o sal, salsa ou pimenta, daqueles "rissóis", que tu levavas, ou querias levar para dentro do quartel!.
Olha, tudo o que descreves, era aquilo que quase todos nós, naquela idade queríamos fazer, mas por isto ou por aquilo, talvez não houvesse coragem, talvez não houvesse "corrones", como dizem os espanhóis, determinação ou até recursos financeiros, para o fazer e, aqueles "Tenentes e Capitães", eram "profissionais", às vezes arrogantes, era o dito sistema da intimidação, davam cabo do corpo e da paciência àqueles jovens, que quando estavam na tal "instrução", na "parada", nos exercícios ou nas corridas, pensavam em tudo, menos no que eles ensinavam, ou seja, pensavam em "garotas", copos e festas e não, em serem futuros militares!.
Era a nossa idade e, talvez o ambiente que pairava no ar, em quase todas as aldeias, vilas ou cidades, com os jovens a irem para guerra, fazia despertar em todos nós, uma possível fase de rebeldia, fez-nos rebeldes!.
Pelo menos isso aconteceu comigo!.
Gostei da tua narrativa.
Um abraço, sem dois "ss", porra, não sei se estou a escrever bem, já me embaralhas-te!.
Tony Borie
Camarigos,
Também assentei praça no RI 5 em 08 de Janeiro de 1969, uma quarta-feira.
O ano de 1969 foi muito invernoso, o ano do terramoto. Apanhei muito frio e chuva nas Caldas da Rainha.
Pertenci à 4ª Companhia de instrução cujo comandante era o Capitão de Infantaria José Máximo Moncada Oliveira e Silva.
Conheci em Santa Margarida, Fevereiro/1970, no IAO, o então Capitão Carlos Clemente. Pessoa de fino trato, estimado e respeitado por todos os militares. Recordo que certo dia de 1970/72 fui ao Saltinho, na companhia do 2º Comandante do Baç.2912, e tive o privilégio de ser muitíssimo bem recebido pelo Capitão Clemente e restantes camaradas da CCaç.2701. Aliás era apanágio desta companhia receber bem. O emblema da CCaç.2701 tinha três S… de SERVIÇO, SIMPLICIDADE e SIMPATIA, o lema desta Companhia.
Um abraço do
António Tavares
Camarigos,
Também assentei praça no RI 5 em 08 de Janeiro de 1969, uma quarta-feira.
O ano de 1969 foi muito invernoso, o ano do terramoto. Apanhei muito frio e chuva nas Caldas da Rainha.
Pertenci à 4ª Companhia de instrução cujo comandante era o Capitão de Infantaria José Máximo Moncada Oliveira e Silva.
Conheci em Santa Margarida, Fevereiro/1970, no IAO, o então Capitão Carlos Clemente. Pessoa de fino trato, estimado e respeitado por todos os militares. Recordo que certo dia de 1970/72 fui ao Saltinho, na companhia do 2º Comandante do Baç.2912, e tive o privilégio de ser muitíssimo bem recebido pelo Capitão Clemente e restantes camaradas da CCaç.2701. Aliás era apanágio desta companhia receber bem. O emblema da CCaç.2701 tinha três S… de SERVIÇO, SIMPLICIDADE e SIMPATIA, o lema desta Companhia.
Um abraço do
António Tavares
Olá!
a7c do Tony:
Caríssimo, escreves sempre bem e nada baralhado. Deixa-me dizer, que sempre fui respeitador, mas atrevido, e procurava aligeirar as coisas, outras vezes, ousava contestar. Neste post não me referi em termos contestatários, mas de ligeireza sádia. No caso da minha recruta, parecia estar possuído pelo espírito da brincadeira e vontade de reinar aos cowboys, e tudo se conjugou agradavelmente, pois o Tenente era um tipo jovial, e com capacidade para instruir sem autoritarismo, o que lhe conferia autoridade reconhecida pelo pelotão. Quero dizer, que terá havido uma "conjugação astral" para que tudo me corresse bem;
a/c António Tavares:
Congratulo-me com outro testemunho sobre a categoria do já Capitão Clemente, e com o suscitar de memórias agradáveis em circunstâncias tão dificeis. E os 3 ésses são uma boa identificação de virtudes em tempo de guerra ("quando não se limpavam armas").
Mais abrassos para ambos
JD
Dei voltas à cabeça. É que o Ten.Clemente era muito bem secundado por um Cabo-Mil. que julgo chamar-se Mourinho, e também ajudou muito a cimentar aquele bom ambiente.
Assim manda a justiça.
JD
Caros Camaradas,
Aproveito este texto do nosso Furriel Dinis para informar que o Ten. Clemente está velho, mas ao ler isto no mínimo rejuvenesceu 10 anos. Agradeço-lhe. A mensagem do que é a camaradagem passou. Fico contente por todos nós. Espero que os jovens militares das nossas Forças Armadas entendam o que passados tantos anos o Dinis nos quer transmitir.
O vosso,
Carlos Clemente
Meu Caro Comandante,
É surpreendente a sua intervenção neste blogue, e a maneira discreta como o faz. Neste tempo da publicação tenho trocado correspondência com o Paulo, um seu incondicional amigo, radicado na admiração que lhe terá imposto na Guiné. E nessas ocasiões dificeis, penso eu, +e que se revelam as melhores capacidades, no seu caso, a de comandar uma Companhia com preocupações de protecção, e valorização don pessoal, sem comprometer a actividade operacional.
Deixe que lhe dê um bocado de graxa: foi consigo que tive a melhor experiência no relacionamento militar, e como deve ter-se dado conta, não sou propriamente militarista.
É com agrado que lhe envio esta notícia da minha admiração, agora alicerçada com os testemunhos obtidos.
Desejo-lhe longa vida com muita satisfação.
JD
Olá Amigos & Camaradas
Zé Dinis
1 - Desconhecia o facto de termos sido contemporâneos nas Caldas e pelos vistos em Tavira, embora em especialidades diferentes, porquanto sou de "armas pesadas".
2 - Na verdade no dia em que nos apresentámos 8 ou 9/1/1969 chovia copiosamente.
3 - Eu pertenci à 2ª Companhia, cujo comandante era o Ten Bicho Beatriz já falecido e capitão de Abril. O comandante do meu pelotão era o Ten Carneiro um excelente homem, também capitão de Abril, e os cabos milicianos "uns caras de pau" mas uns tipos porreiros e quem eram eles ? nada mais, nada menos que o Humberto Reis e o Moreira, e quem diria que todos nós fomos bater com os costados à Guiné.
4 - Pelo episódio que contas, podias ter metido o "chico"
5 - Das Caldas temos boas recordações e matéria para excelentes episódios desde quando estávamos em sentido e ouvíamos uma voz estridente " em sentido não mexe, nem que te passe um caralho das Caldas pela boca ", passando pelo célebre sismo do dia 28/2 até às formaturas do final do dia em que escutávamos a leitura da OS solenemente e no final o leitor pronunciava "O Comandante, Giacomino Mendes Farrari" que jamais esquecerei.
6 - Quanto à visita do Alm Américo Tomás às Caldas, seguramente que não foi no período em que lá estivemos, 1º trimestre de 69, portanto, ou foi antes ou posteriormente à nossa passagem por lá.
Um abraço
Carlos Silva
Carlos Silva
Ainda sobre a visita do PR ás Caldas, só posso dizer que estive no RI5 desde 6 de Janeiro de 69 a 13 de Março, e que lhe foi prestada Guarda de Honra por uma companhia, junto à porta de armas do Quartel, e um dos pelotões que fez parte dessa força foi o meu da 5ª Companhia, por isso guardei essas fotos até hoje.
Um abraço
César Dias
Olá César
1 - Eu dei entrada no RI 5 a 8/1/69 e saí de lá a 30/3/69 e durante esta minha permanência nas Caldas o Alm Américo Tomás não esteve lá, pois já consultei a minha agenda e não tenho tal registo e nem ouvi falar de tão importante visita. Excepto ....
2 - Contudo, admito que possa ter estado e tu tens esse registo fotográfico, isto durante um fim de semana em que eu não estivesse presente, pois apenas passei lá 2 ou 3 fins de semana e os restantes a saber fui passá-los a casa: 17 a 19/1; 24 a 26/1; 31/1 a 2/2; 7/2 a 9/2; 14/2 a 16/2; 21/2 a 23/2; 28/2 [6ª feira - dia do sismo] a 2/3; 7/3 a 9/3; 14/3 a 16/3 e 21/3 a 23/3 a seguir foi o juramento de bandeira e retirada das Caldas a 30/3.
Nós saíamos à 6ª feira ao fim do dia com licença/passaporte.
Por acaso recordas-te do dia da visita ?
Um abraço
Carlos Silva
Carlos
Não me recordo do dia que foi, nem se ele chegou a entrar no quartel, mas arrisco em dizer que foi de passagem, e como sabiam que ele passaria por ali, ali plantaram uma companhia devidamente composta. Mas digo-te que foi uma espiga, porque não devem ter dito a que eras passava, e ali estivemos várias horas naquela figura. Não sabia que tinha morrido na praia, nós saímos das Caldas no dia 13/3 e vocês juraram bandeira pouco depois.
Um abraço
César
César Dias
Informo e mando publicar que o corta fitas Américo Tomás visitou o RI5 no 1ºperíodo de 1969 e foi num dia da semana.
Eu também era C.Miliciano há dias e fui para a Companhia comandada pelo ainda Ten. Vasco Lourenço.
O sismo de 1969 também foi nesse período, salvo erro em fevereiro.
Um grande abraço a toda a malta.
BARTOLOMEU
César Dias
Informo e mando publicar que o corta fitas Américo Tomás visitou o RI5 no 1ºperíodo de 1969 e foi num dia da semana.
Eu também era C.Miliciano há dias e fui para a Companhia comandada pelo ainda Ten. Vasco Lourenço.
O sismo de 1969 também foi nesse período, salvo erro em fevereiro.
Um grande abraço a toda a malta.
BARTOLOMEU
Olá Bartolomeu,
Só agora vi a sequência de comentários iniciada pelo Carlos Silva.
Afinal pertencemos à mesma companhia (a 6ª.?), e como referi integrei o pelotão do Ten. Clemente, com dois cabos-milicianos de que não recordo o nome, mas arrisco o de Mourinho para o mais empático dos dois, um tipo alegre e bem preparado.
Um abraço
JD
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