terça-feira, 29 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13066: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (6): Pretendem atrofiar-me a memória?

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.
1. Em mensagem do dia 18 de Abril de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422/BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, Pelundo e Bissau, 1965/67) enviou-nos mais uma Crónica Higiénica.

Desta feita para, com toda a legitimidade, deixar aqui a sua indignação face às afirmações reproduzidas no nosso blogue, pelo camarada Manuel Vitorino (jornalista e ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4518/73, Cancolim, 1973/74) que no mínimo tiram do sério qualquer ex-combatente que viu morrer a seu lado um companheiro de armas.
Por vezes, também nós editores, falo por mim, discordamos daquilo que nos aparece para publicação, mas é nossa obrigação manter distância e reagir, se for o caso, em local apropriado.


CRÓNICAS HIGIÉNICAS

6 - PRETENDEM ATROFIAR-ME A MEMÓRIA? Esqueçam

Até se me saltou a tampa, senão vejam bem, que no post 12955 aqui no n/blogue se afirma:

- "A MINHA COMPETIÇÃO FOI OUTRA"
- "A GUERRA DA GUINÉ SÓ PODIA SER GANHA PELO PAIGC"
- "...UMA COLUNA DE «TEMÍVEIS GUERRILHEIROS DO PAIGC ULTRAPASSOU O ARAME FARPADO E VEIO FRATERNALMENTE AO NOSSO ENCONTRO"

E EU? EU, que sei ler, comecei a ferver... a ferver... a ferver.

Mas muito calmamente, vamos lá ao contraditório:

- "COMPETIÇÃO" significa disputa.
E então o camarada estava a competir ou a lutar, cumprindo o seu dever enquanto militar integrado no Exército, que lhe ensinou e pagou, para defender a Pátria?

- "SÓ PODIA SER GANHA PELO PAIGC"
Não consigo chegar a tal conclusão, nem tão pouco a admito, embora a tenha ouvido já algumas vezes, e ouvido o contrário por muitas mais. Ou será que eu e os que pensamos que a guerra podia ser ganha por nós PORTUGUESES, somos heróis, e aqueles que pensam o contrário são cobardes?

Estou convencido que uns e outros coexistiram em quaisquer dos casos, mas só que os heróis, não renegam...
NÃO COMPETIAM MAS LUTARAM...
SOFRERAM...
VIRAM AMIGOS A DESAPARECER...
COMBATERAM POR SI E PELOS SEUS, PARA SE DEFENDEREM, que essa era a sua missão.

Mas aquela: "UMA COLUNA DE TEMÍVEIS GUERRILHEIROS, etc etc etc... fez-me rir e lastimar o autor destas opiniões que o sendo, mereceriam o meu desprezo mas que aqui postadas como afirmações sem nexo, apenas repudio com nojo.

Brincamos ou quê?

Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar do FUR.MIL Higino Arrozeiro, da minha CCAÇ 1422, que foi morto ali na estrada que liga K3 a Mansabá, por mina colocada pelos "temíveis guerrilheiros" como lhes chama e "com quem trocou a farda e os emblemas tal e qual como acontece nos jogos de futebol"
- Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar do Cap Corte Real, CMDT da minha CCAÇ 1422, morto ali na estrada que liga o K3 a Farim, por mina colocada pelos "temíveis guerrilheiros", como lhes chama, e "com quem trocou a farda e os emblemas, tal e qual como acontece nos jogos de futebol"
- Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar daqueles sete infelizes, incluindo três majores, bárbaramente assassinados e que pacificamente, desarmados, iam para um encontro pretensamente amigável com os "temíveis guerrilheiros" e que foram liquidados a sangue frio e à catanada pelos mesmos "temíveis guerrilheiros, como lhes chama e com quem trocou a farda e o emblema, tal e qual como acontece nos jogos de futebol"

É EM SITUAÇÕES DESTAS que lastimo ser educado e não saber escrever asneirame, pois que me apetece mesmo espetar aqui meia dúzia daquelas do mais ordinário que sei. 
Fiel aos meus princípios, não o farei mas... Espero que o autor deste post 12955, que esteve a beber cervejas talvez até com os causadores dos assassinatos que atrás menciono, e de tantos mais outros amigos e por quem choro cada dia, pois que o autor, repito, medite... e que a luz o ilumine. 

Chega de dor... chega de gozarem com a tropa... chega de provocações.

Veríssimo Ferreira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12844: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (5): Contrastes e coincidências

3 comentários:

manuel maia disse...

Camarigos,

De há bastante tempo a esta parte afastei-me do blogue no que concerne a comentários ou envio de posts,aparecendo no entanto com regularidade mas apenas e só para parabenizar os camaradas aniversariantes ou comungar da dor de saber dos que partem...

As razões deste meu afastamento prendem-se com o facto da inviabilidade de comentários de algum cariz político que por vezes não consegui evitar,apesar de constatar que ultimamente ando a vê-los surgir com surpreendente acuidade... nesta fase algo conturbada da vida nacional...

Mas desabafo solto,vou dizer-vos do porquê deste surgimento acontecer agora.

Por mero acaso dei de caras com o post que o Veríssimo aqui colocou e que subscrevo na íntegra, onde verbera o comportamento de um tal "jornalista" então fur milº Manuel Vitorino que pertenceu à 2ª ccaç do bcaç 4518 (creio) chegado à guiné em 73 e que no post 12955 tem tiradas verdadeiramente desconcertantes...

Vejamos...

Diz Vitorino,com pormenores a mais, para quem sem formação política a (maioria esmagadora dos
militares situava-se neste patamar da impreparação,e não seria um Vitorino de 5º ano de liceu( se é que o tinha-uma boa parte dos furrieis de 72 não o possuia - já que eram repescados os outros para suprir a falta de oficiais...)muito menos disporia de conhecimentos de poliglota para ouvir radios alemãs e a bbc conforme no dito post referiu...

Quis dourar a pílula mas acabou por lhe saír o tiro pela culatra já que era "abortiva"...

Já agora és jornalista em que orgão de comunicação,Vitorino?

A determinada altura da sua "crónica",Vitorino diz que ouvindo os chavões do povo unido e mfa "que já só queria aterrar em Lisboa,viver dia e noite e fazer parte da história"...

Há aqui uma incongruência ó Vitorino,então aspiravas a ser "herói" em Lisboa e confraternizavas com o inimigo na Guiné ?

De seguida surge a tirada de "cabo de guerra" quando afirma: " e digo para os meus botões". "A guerra acabou"...

Os "temíveis guerrilheiros" só entraram no arame farpado de quem isso lhes consentiu...

Quando se deu a golpada militar de 74 também estava na Guiné,(depois de ter passado pelo Cantanhez da porrada,)mais precisamente num destacamento onde éramos trinta homens chamado Fatim que pertencia à companhia sediada no Dugal,ali perto de N`hacra...

Devo dizer-te camarada Vitorino que nunca tentaram confraternizar senão teriam levado ferro no lombo...

Quando afirmas que te disseram que sabiam o que vocês faziam em Cancolim,era provavelmente porque teriam informadores resta só saber se seria algum "militar alegre"...

Depois falas na confraternização,nas cervejas pela noite fora na troca de fardamento e galhardetes como se fora num jogo de futebol...só faltou dizer que "depois casaram e tiveram muitos meninos"...

Se leres atentamente o que Veríssimo diz a propósito dos seus camaradas mortos nessa estrada a que aludes,restar-te-á pedir-lhe desculpa pelo "romancear" dessa tua crónica, como lhe chamas...

Um abraço para ti,e outro para o Veríssimo extensivo a todos os camarigos que na Guiné deram o melhor de si mesmos.

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Camaradas Veríssimo Ferreira e Manuel Maia. 100% de acordo com a vossa forma de verem a guerra em que nos vimos envolvidos por dever Pátrio. A vossa voz é a de uma grande maioria, estou certo, mas silenciosa. Como o Manuel Maia, também, eu me tenho abstido de opinar no blog, pelas mesmas razões do Manuel Maia. Eu sei que é um erro, mas os meus 75 anos, exigem que tenha cuidado acrescido com a minha tensão arterial.
Um abraço,

admor disse...

Caros Camarigos,

Completamente de acôrdo com o autor do texto e com os comentaristas.

Abraços.

Adriano Moreira