Quinquagésimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Há mais de uma dezena de anos, como delegado do sindicato da
“United Steelworkers of America”, assisti a uma convenção na
cidade de Las Vegas. Era uma daquelas convenções, onde as pessoas
se reúnem com tempo para falar de tudo, menos daquilo para que
foram delegadas, onde existe comida e bebida, que dá para quatro ou
cinco vezes mais do que as pessoas presentes, todas aquelas
facilidades e mordomias, que alguém tinha que pagar, onde existem sempre encontros de ocasião, pessoas que só se vêm uma vez na vida
e, alguns tinham vindo da Califórnia ou de South Dakota, tal como nós
que viemos de New Jersey, mas depois de falar cinco segundos, logo se
diz que se lembra muito bem de ter ouvido falar dele.
Num dia em que o programa da convenção designava “viagem de
estudo”, fizemos uma visita à barragem de “Hoover Dam”, num
pequeno autocarro, com um bar improvisado, acompanhados por
umas gentis meninas, que devido ao calor do deserto do estado do
Nevada, iam com roupas reduzidas e, por mais que elas gentilmente
quisessem que a nossa atenção fossem para as suas palavras, quase
ninguém ligava nada ao que diziam, pois a atenção era para os seus esbeltos corpos, com que o Criador as contemplou! Diziam-nos elas,
entre outras coisas, que o cimento que foi colocado no fundo da
estrutura da barragem, por volta do ano de 1931, portanto no século
passado, ainda continua “fresco”, ainda está a “curar-se” e, que neste
momento estão a nascer uns “fungos”, no fundo da bacia da
barragem, que daqui a três mil anos farão com que a barragem fique
“seca”!
Eu não fiquei no mínimo incomodado com a notícia, pois daqui a
três mil anos, já cá devem estar outros, mas pensei que um dia
devia de visitar este lugar com mais vagar, pois quem vê cá de cima
parece um “mar”, toda aquela zona que se situa a norte e, pensando
naquelas rochas, naquele deserto de terras áridas e secas, como
deveriam de ser antes desta gigante barragem ser construída.
Pois bem, esse dia veio agora, com todo aquele tempo que nós nesta
idade vamos tendo. Na noite anterior, dormimos num “Rancho”, no
deserto do Arizona, pela manhã, seguindo pela estrada número 93, no
sentido norte, eis-nos próximo da fronteira com o estado do Nevada,
descendo por um labirinto de estrada que vai passar sobre a barragem
“Hoover Dam”, que cruza a fronteira entre estes dois estados.
Na altura uma grandiosa ponte estava em construção sobre a
barragem que faz fronteira com o estado de Nevada, portanto
seguindo pela estrada número 93, temos que passar por cima da barragem, portanto, a estrada desce, com algumas
curvas apertadas, onde existem alguns locais com vista privilegiada,
podendo-se apreciar uma imensidão de água, entre as rochas, e depois da
barragem, o precipício onde o rio continua a sua jornada.
A barragem “Hoover Dam”, está localizada entre os estados de
Arizona e Nevada, no rio Colorado, ficando mais ou menos a 50
quilómetros da cidade de Las Vegas, o seu nome é uma homenagem a
Herbert Hoover, que foi o 31.º Presidente dos USA, e que foi muito
importante no processo da sua construção.
Esta barragem, além da energia eléctrica, forma uma albufeira que
funciona como reservatório, a que dão o nome de “Lago Mead”, que
presta uma homenagem a Elwood Mead, é o maior projeto dos Estados
Unidos da América, sendo considerada como um “Marco Histórico
Nacional”.
Uma curiosidade, muito próximo existe a cidade de Boulder City, que
foi construída pelo Gabinete de Reclamações dos USA, para abrigar os
trabalhadores que operaram na construção da barragem. Uma
lembrança dos tempos da construção da barragem é a proibição dos
jogos de azar no território da cidade, sendo que somente Panaca, um
município próximo, onde existe uma colónia “Mormon”, que também
proíbe o jogo no estado de Nevada. Outra lei que havia na cidade era a
proibição das bebidas alcoólicas, que entretanto foi derrubada em
1969.
A construção foi iniciada em 1931 e terminada em 1936, dois anos
antes do prazo estipulado, custou naquele tempo 48 milhões de
dólares e morreram 96 operários durante todo o processo de
construção. A barragem mede 221 metros de altura e 379 de largura, a sua base tem 200 metros de espessura e 15 no topo, onde passa
uma estrada que faz a ligação entre os dois estados.
Por aqui nos demorámos algumas horas, tirando fotos, fazendo o
“tour”, vendo as “turbinas” e a água revoltosa lá no fundo logo a
seguir à barragem, onde de vez em quando existe alguma descarga.
Seguimos a nossa rota em direcção a Las Vegas, parando umas
milhas antes da cidade, no centro de informação, procurando hotel de
acordo com a nossa condição financeira, pois como já sabem, já não
era a primeira vez que por aqui andávamos e, para quem não sabe,
em Las Vegas qualquer pessoa pode gastar milhares de dólares para dormir uma noite, dependendo das mordomias, até pode dormir pelos
típicos $29.99 por uma noite, pode até simplesmente não pagar nada, (sendo delegado de qualquer coisa e, sendo convocado para ir
às tais convenções), ou naquelas promoções de certos hotéis/
casinos, onde estamos a dormir, ouvindo e pensando no “tilintar”
das moedas nas máquinas de jogo.
Las Vegas é famosa pelos seus casinos, a Las Vegas
Boulevard, mais conhecida por “Strip”, é onde se encontram os mais
imponentes casinos do mundo, como o Bellagio, Caesars Palace,
Excalibur, Luxor, Mandaly Bay, MGM Grand, Monte Carlo, New York, Treasure Island, entre muitos outros.
Dormimos num hotel/casino umas milhas antes, por um preço
irrisório e ainda com cupões para a comida.
No próximo episódio, se vocês concordarem, falaremos então de Las
Vegas.
Tony Borie, Abril de 2014.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 26 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13048: Bom ou mau tempo na bolanha (53): "Cristo", o Carpinteiro (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Olá Tony
Novo 'postal' dos States....
Pois, achei muito interessante, principalmente os dois primeiros parágrafos.
No primeiro, pelas 'pinceladas' sobre o modo como decorriam os 'encontros' sindicais, os lautos repastos, os 'reconhecimentos', etc.
No segundo parágrafo, para além de se ficar a saber da beleza e 'atracção visual' das 'gentis meninas', retive a questão dos fungos que irão originar que a barragem fique seca. Há que tomar medidas, não é? Ou vai-se assistir paulatinamente a essa 'fatalidade'?
Abraço
Hélder S.
Obrigado Tony este teu post após a guerra na Bolonha em Mansoa é uma lufada de ar fresco com bom ou mau tempo.
Um abraço
Colaço
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