Ainda o Jamil (*)
Já me tinha referido ao Jamil anteriormente e realmente ele tinha contactos com o PAIGC: pelo menos um comandante de canhões deles, que vim a conhecer mesmo na sua casa, tinha sido empregado dele em lojas que tinha na zona de Mina [, na margem direita do Rio Corubal], antes da guerra.
Na primeira vez que foi ao Xitole depois da guerra, foi logo cumprimentá-lo em sua casa. Foi quando o conheci pois estava a bebericar uns scotchs com o Jamil.
O cozinheiro chamava-se Suri e tive o prazer de provar a sua "galinha de mancarra" por duas vezes: uma de oferta do Jamil e outra de encomenda nossa. Espectaculares. Mas precisavam de várias horas de preparação. O Suri tinha um problema de saúde-um testículo enorme que o atrapalhava nos movimentos-seria elefantíase?
O Jamil, libanês, era o mais velho da sua família, e sei que tinha personagens influentes e em cargos políticos em vários países africanos e no próprio Líbano,como parentes.
Abraços para todos
José A.S. Zeferino
2. Comentários do editor L.G. (*):
A conversa aqui é como as cerejas... Ainda a propósito do "mensageiro" do Xitole (que levou à tropa a notícia do 25 de abril!) (*), há um comentário do Paulo Santiago, no blogue da Tabanca do Centro, que eu tomo a liberdade de a seguir reproduzir.
Pessoalmente, não o conheci, ao Jamil Nasser, embora tenha ideia de o ter visto, no decurso das nossas colunas logísticas Bambadinca- Mansambo - Xitole - Saltinho, no tempo do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12, no 2º semestre de 1969... Como os demais comerciantes da Guiné, tinha fama, se calhar injustamente, de dar-se bem com os "dois lados"...
Não sabia que era tio do jornalista (e compositor) brasileiro David Nasser (1917-1980), um homem influente no seu tempo, no Brasil e em Portugal.
Na primeira vez que foi ao Xitole depois da guerra, foi logo cumprimentá-lo em sua casa. Foi quando o conheci pois estava a bebericar uns scotchs com o Jamil.
O cozinheiro chamava-se Suri e tive o prazer de provar a sua "galinha de mancarra" por duas vezes: uma de oferta do Jamil e outra de encomenda nossa. Espectaculares. Mas precisavam de várias horas de preparação. O Suri tinha um problema de saúde-um testículo enorme que o atrapalhava nos movimentos-seria elefantíase?
O Jamil, libanês, era o mais velho da sua família, e sei que tinha personagens influentes e em cargos políticos em vários países africanos e no próprio Líbano,como parentes.
Abraços para todos
José A.S. Zeferino
2. Comentários do editor L.G. (*):
A conversa aqui é como as cerejas... Ainda a propósito do "mensageiro" do Xitole (que levou à tropa a notícia do 25 de abril!) (*), há um comentário do Paulo Santiago, no blogue da Tabanca do Centro, que eu tomo a liberdade de a seguir reproduzir.
Pessoalmente, não o conheci, ao Jamil Nasser, embora tenha ideia de o ter visto, no decurso das nossas colunas logísticas Bambadinca- Mansambo - Xitole - Saltinho, no tempo do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12, no 2º semestre de 1969... Como os demais comerciantes da Guiné, tinha fama, se calhar injustamente, de dar-se bem com os "dois lados"...
Não sabia que era tio do jornalista (e compositor) brasileiro David Nasser (1917-1980), um homem influente no seu tempo, no Brasil e em Portugal.
3. Comentário de Paulo Santiago [, com data de 10 de julho de 2012, em poste publicado no blogue da Tabanca do Centro,] e republicado no nosso blogue, no poste P13378 (*) ...
Estou a ver o Jamil com um lenço entre o colarinho e o pescoço para absorver o suor enquanto o nível do whisky ía baixando na garrafa .
Foi com ele que conheci essa do tomate com whisky...sabia bem !!!
Comi alguns almoços em casa dele,o "criado" era um excelente cozinheiro e o "chabéu" óptimo...
Aos Domingos, no tempo da CCAÇ 2701, o Jamil ía com frequência almoçar ao Saltinho,e após almoço eram umas duas garrafas de scotch e uns quantos tomates a serem aviados.
O Jamil era tio de um jornalista da revista Manchete, muito conhecido no Brasil,e também em Portugal,chamado David Nasser.
Foi com ele que conheci essa do tomate com whisky...sabia bem !!!
Comi alguns almoços em casa dele,o "criado" era um excelente cozinheiro e o "chabéu" óptimo...
Aos Domingos, no tempo da CCAÇ 2701, o Jamil ía com frequência almoçar ao Saltinho,e após almoço eram umas duas garrafas de scotch e uns quantos tomates a serem aviados.
O Jamil era tio de um jornalista da revista Manchete, muito conhecido no Brasil,e também em Portugal,chamado David Nasser.
Xitole, c. 1971/72 > O Jamil Nasser com o alf mil op esp Joaquim Mexia Alves, da CART 3492 |
4. O Jamil Nasser, na evocação feita pelo Joaquim Mexia Alves [, texto originalmente publicado no blogue da Tabanca do Centro, em 10/7/2012, e aqui reproduzido com a devida vénia (**)
Recordações da memória – o Jamil
por Joaquim Mexia Alves
por Joaquim Mexia Alves
[, à esquerda uma rara foto do Jamil Nasser, com o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves; cortesia do autor] (**)
Na Guiné, que me lembre, tive apenas um amigo civil, com quem partilhei longas conversas e uma amizade sincera.
Tratava-se do Jamil Nasser, comerciante libanês no Xitole, com quem logo desde o início da minha estadia de “férias” naquele lugar, estabeleci relações de companheirismo e amizade.
Assim, era muito rara a tarde em que ao fim do dia não me dirigia para sua casa, para, no alpendre/varanda que dava para a estrada Bambadinca/Xitole, beber com ele uns “uísques”, acompanhados de pedaços de tomate vermelho salpicados com sal grosso.
Poder-se-ia pensar que tal ligação não combinava, mas digo-vos que era uma coisa de se lhe “tirar o chapéu”.
Ali estávamos, uma ou duas horas, conversando e ouvindo as noticias em árabe, o que, como podem calcular, a mim me dava imenso jeito!!!
O Jamil, se bem me lembro, era o primogénito de uma grande família libanesa, de posses, mas que tudo perdeu na guerra daquele país.
Para que os seus irmãos mais novos pudessem estudar, o Jamil demandou terras da Guiné, onde se estabeleceu no Xitole, enviando dinheiro para os seus irmãos no Líbano.
Um dos seus irmãos chegou mesmo a Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, (segundo sua informação), e embora já estivessem todos bem, o Jamil, habituado à Guiné, já não quis regressar à sua terra natal.
A fotografia aqui colocada, foi tirada no fim de um almoço que o Jamil ofereceu na sua casa, em Abril de 1972, (julgo que tendo como “desculpa” o meu aniversário), cuja ementa foi um saborosíssimo chabéu, coisa que eu nunca tinha comido na minha vida.
Lembro-me que uns dias antes o Jamil me pediu para o ajudar a carregar a arca frigorifica com garrafas de vinho branco, para ser mais preciso duas caixas de 12, e eu lhe ter dito que era demais, pois eramos cerca de 12 pessoas!
Ele respondeu que se beberia tudo e se calhar não chegava!
Percebi depois porquê, porque ao meter a primeira garfada do chabéu à boca, pareceu-me que tinha engolido uma fogueira!
Tratava-se do Jamil Nasser, comerciante libanês no Xitole, com quem logo desde o início da minha estadia de “férias” naquele lugar, estabeleci relações de companheirismo e amizade.
Assim, era muito rara a tarde em que ao fim do dia não me dirigia para sua casa, para, no alpendre/varanda que dava para a estrada Bambadinca/Xitole, beber com ele uns “uísques”, acompanhados de pedaços de tomate vermelho salpicados com sal grosso.
Poder-se-ia pensar que tal ligação não combinava, mas digo-vos que era uma coisa de se lhe “tirar o chapéu”.
Ali estávamos, uma ou duas horas, conversando e ouvindo as noticias em árabe, o que, como podem calcular, a mim me dava imenso jeito!!!
O Jamil, se bem me lembro, era o primogénito de uma grande família libanesa, de posses, mas que tudo perdeu na guerra daquele país.
Para que os seus irmãos mais novos pudessem estudar, o Jamil demandou terras da Guiné, onde se estabeleceu no Xitole, enviando dinheiro para os seus irmãos no Líbano.
Um dos seus irmãos chegou mesmo a Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, (segundo sua informação), e embora já estivessem todos bem, o Jamil, habituado à Guiné, já não quis regressar à sua terra natal.
A fotografia aqui colocada, foi tirada no fim de um almoço que o Jamil ofereceu na sua casa, em Abril de 1972, (julgo que tendo como “desculpa” o meu aniversário), cuja ementa foi um saborosíssimo chabéu, coisa que eu nunca tinha comido na minha vida.
Lembro-me que uns dias antes o Jamil me pediu para o ajudar a carregar a arca frigorifica com garrafas de vinho branco, para ser mais preciso duas caixas de 12, e eu lhe ter dito que era demais, pois eramos cerca de 12 pessoas!
Ele respondeu que se beberia tudo e se calhar não chegava!
Percebi depois porquê, porque ao meter a primeira garfada do chabéu à boca, pareceu-me que tinha engolido uma fogueira!
O Jamil disse para insistir, porque depois das três ou quatro primeiras garfadas, a boca se habituava ao picante e depois é que se podia saborear o chabéu.
E assim foi, sem dúvida, pois não me lembro de comer outro tão bom como este!
É curioso que por vezes tenho saudades desses fins de
É curioso que por vezes tenho saudades desses fins de
tarde no Xitole! Hei-de voltar ao Jamil Nasser e a
outras histórias com ele.(***)
Monte Real, 10 de Julho de 2012
Joaquim Mexia Alves [, foto atual à direita]
[ex-alf mil op esp, CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73]
________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 8 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13378: No 25 de abril eu estava em...(24): Xitole, e foi o comerciante libanês Jamil Nasser quem me deu a notícia, ouvida na BBC, na sua emissão em árabe (José Zeferino, ex-alf mil at inf, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74)
(**) Último poste da série > 21 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13173: (De) Caras (18): Pedido de desculpas... Afinal não foi o oficial da GNR quem, em Portalegre, no antigo aquartelamento do BC1, nos mandou comprar a bandeira portuguesa na loja do chinês (Vasco da Gama, ex-cap cav, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74)
5 comentários:
Uma questão interessante é a de se saber quantos libaneses viviam na Guiné, antes e durante a guerra colonial (1963/74)... Algumas famílias terão ficado por lá mesmo depois da independência.
Do nosso tempo estão sinalizados ou tên sido referidos alguns comerciantes libaneses, ou de origem libaneza: Bissau, Bafatá, Nova Lamego, Xitole, Bissorã...
Não há estatísticas... De qualquer modo, a diáspora libanesa é já antiga. Calcula-se que, para uma população atual de 4,3 milhões a viver no Líbano, haja o dobro ou o até o triplo de libaneses, ou seus descendentes, pelo mundo fora, com destaque para o Brasil (5 a 7 milhões), a Argentina, os EUA,a Venezuela, a Austrália, etc. Mas também países árabes, África ocidental francófona (Costa do Marfin, Senegal...).
Antiga colónia ou protetorado francês, o Líbano alcançou a independência em 1943. As tropas francesas sairam de lá em 1946. E a emigração para a África Ocidental francófona deve ser dessa época, ou aé anterior. Alguns vieram para a Guiné nessa época, presumo...
Não se o Joaquim Mexia Alves e outros camaradas que privaram com o Jamil Nasser, têm alguma informação sobre a história da família, sua chegada à Guiné, etc.
Vamos lá sinalizar comnercianets libaneses na Guiné, no nosso tempo:
(i) Bissau > Na baixa, havia as lojas do Taufik Saad e a do Azis Harfouche:
(ii) Bafatá > As manas libanesas
(iii) Xitole > Jamil Nasser
(iv) Nova Lamgo > (?)
(v) Bissorã > (?)
(vi) Teixeira Pibto / Canchungo > (?)
(vii) Xime > Amin
(viii) Catió > ?
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/libaneses
Em Bafatá 1965 estava uma libanesa a (padeira) de se lhe tirar o chapéu para nós a boina ou o bivaque a mulher do dono da padaria será que algum dos camaradas que passou por Bafatá a conheceu.
Um alfa bravo
Colaço.
Em Piche havia um libanês, cujo nome vou escrever Tufico", mas não sei se era mesmo assim ou estou a ir atrás do som que me (nos) soava.
Tinha, mesmo ao lado das instalações da "ferrugem", do lado de fora, um "estabelecimento comercial", daqueles que vendem tudo, com um "bar/restaurante" associado.
Comi lá uma ou duas vezes, para variar da ementa da messe, mas havia quem jurasse que os frangos que servia eram bem grandinhos para a generalidade do que se via. Juravam mesmo que podiam ser 'jagudis'.
Do que eu era cliente, normalmente depois do jantar, era "café com bolinha". Saía do aquartelamento, passava pela tabanca para tentar "sentir" a tranquilidade ou a ansiedade para essa noite, ia lá beber o tal café 'aromatizado' e depois regressava.
Portanto, é de registar que em Piche havia também um libanês, Tufico de seu nome (alegadamente) que tinha 'comércio e restauração'.
Hélder S.
Com a devida v+enia, reproduz-se aqui um artigo do jronal Expresso, 7/9/2006;
Os libaneses na actual Guiné-Bissau
19:50 Quinta feira, 7 de setembro de 2006
http://expresso.sapo.pt/os-libaneses-na-actual-guine-bissau=f94721
Dos libaneses que se estabeleceram na Guiné-Bissau há cerca de 120 anos houve quem apoiasse o Hezbollah durante o conflito de Agosto.
O cônsul do Líbano em Bissau, o comerciante Hassib el Awar, garante que os "sirianus" – como eram conhecidos os libaneses antes da independência da Guiné-Bissau – estão cá há pelo menos 120 anos. Este druzo de 73 anos, natural da região de Baabda, no centro do Líbano e a 40 quilómetros de Beirute, sabe do que fala. Chegou à ex-Guiné Portuguesa em 1949, para trabalhar com o tio, de quem herdou a "Casa Mamud el Awar", loja que ainda hoje conserva o mesmo nome.
Hoje, o cônsul tem um registo de apenas 200 libaneses. Mas supõe-se que são muito mais, na maioria muçulmanos, xiitas. Discretos, por vezes, não hesitam em exibir as suas preferências políticas, como durante o recente conflito com Israel, em que o restaurante "Ali Baba", em Bissau ostentou um retrato de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah.
Os irmãos Mazeh, xiitas, instalados a partir dos anos 90, abriram a primeira fábrica de espuma da capital guineense, onde está o grosso dos libaneses. Mas ainda há um punhado de comerciantes nas regiões. É o caso de Abibe Fares, ex- colaborador do general Aoun, que vive em Bissora, no Norte. Outro apoiante do líder cristão, Ghassam S. Makarem, um famoso jornalista, explora duas papelarias em Bissau.
As diferenças confessionais não impedem a comunidade de coabitar. Em Julho, cristãos e muçulmanos organizaram uma marcha de protesto contra a ofensiva israelita no sul do Líbano. Mas difícil é manter a associação local, que apenas funcionou um ano.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/os-libaneses-na-actual-guine-bissau=f94721#ixzz37TSo75rj
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