quarta-feira, 16 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13404: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XVI: A "sorte de um soldado", transmontano, que não sabia ler nem escrever quando foi incorporado (José Tomás Costa, sold at inf, 1º pelotão)


Guiné > região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > "Picagem até Jumbembem". Imnagem inserida a pág. 69, do livro "Histórias da CCAÇ 2533".






1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte XVI (José Tomás Costa, sold at inf, 1º pelotão):

Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Registe-se, como facto digno de nota, que esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares  (oficiais, sargentos e praças) da companhia.

A brochura  chegou-nos às mãos, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. Até ao momento, ele é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.

[Foto à esquerda: o ex-1º cabo cripto Luís Nascimento, em dia de chuva, em Canjambari, c. 1969/70]

Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

Desta vez publicamos  2 pequenas histórias, contadas pelo sold at inf José Tomás Costa, que foi ferido em combate já para o fim da comissão: (i) nós e as minas (p. 69); e (ii)  a sorte de um soldado (p.70)...
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6 comentários:

Luís Graça disse...

Sorte danada!... Escapou de um mina, foi ferido mas não morreu numa emboscada... Não sabia ler nem escrever quando foi para a tropa... E hoje orgulha-se, apesar dos probloemas de saúde, de ser autor destes dois textos, que reproduzimos, inseridos na brochura "Histórias da CCAÇ 2533"...

Obrigado, Zé Tomás, tens razões para estar vivo e orgulhoso. Viajámos juntos para lá, no Niassa, em 24/5/1969, e para cá, no Uíge, a 17/3/1971... (Presumo que tenhas regressado a casa com os teus cmaradas, no Uíge).

Anónimo disse...

Caro Luís Graça, amigos e camaradas

...Este nosso camarada não se queixa da sua sorte. Pelo contrário reconhece o bom aproveitamento que fez de situaões de arrepiar.

Com simples palavras sente ter feito a diferença na vida das populações locais, algo que muitos de nós sentimos.

Vai mais longe ao orgulhar-se do seu do seu progresso escolar e como o conseguiu.

Tiro-lhe o chapéu pela lufada de ar fresco com que impregnou os seus depoimentos.

Abraço amigo,
José Câmara

Anónimo disse...

Caro Tomás Costa:

Todos nós nascemos analfabetos. Alguns ficam analfabetos até morrer embora aprendam outros códigos de comunicação. Tu não deves nada à tropa nem ao Estado, este é que te deve porque só te proporcionou tardiamente a aprendizagem da escrita. Além do mais respondeste positivamente a uma convocação do Estado para aquilo que julgavas certo e desempenhaste as tarefas que te couberam de forma muito humana, preocupado com a população da Guiné. És credor do Estado e estou mesmo a ver que este não te tratou como devia.
Um abraço

Carvalho de Mampatá.

Joaquim Luis Fernandes disse...

Caros amigos e camaradas

Eu sou mesmo um coração de manteiga, sem remissão!

Não é que ao ler estes textos do camarada José Tomaz Costa, não consegui conter as lágrimas de comoção que os mesmos me provocaram!

Em palavras simples, mesmo se não explicito, está contido tanto drama, tanto sofrimento, calado, reprimido... Elas falam de uma realidade, de um passado, nem sempre bem retratado, que nos conduziu durante a longa noite, para um beco sem saída, de que ainda hoje sofremos as consequências.

E mais não digo, que o discurso seria de desolação.

Abraços
JLFernandes

Luís Graça disse...

É pena que a malta da CCAÇ 2533, que produziu este livrinho com mais de 6 dezenas de histórias do dia a dia de Canjambarim e Farim, ainda não tenha respondido ao meu convite para se sentarem, também eles, á sombra do poilão da nossa Tabanca Grande. Só preciso do seu OK e das duas fotos da praxe. Eles são credores da nossa admiração e apreço. E são um exemplo para dos demais combatenets da Guiné por partilharem, deste modo, as suas experiências, vivências e memórias.

Já aqui reproduzimos textos dos seguintes camaradas da CCAÇ 2533, por ordem cronológica:

(i) Cap inf Sidónio Nartins Ribeiro da Silva, cmdt de companhia, hoje cor ref;

(ii) Fur mil at inf Fernando J. do Nascimento Pires, 3º pelotão;

(iii) Fur mil minas arm Avelino da C. Meneses Pereira, 4º pelotão;

(iii) Alf mil inf Armando Manuel H. Gabriel da Mota, cmdt 1º pelotão;

(iv) Sold at inf José Tomás Costa, 1º pelotão.

Mas ainda há mais autores, uns oito... Para todos eles, vão os nossos parabéns e o nosso alfabravo. LG

Anónimo disse...



O José Câmara por algumas intervenções que já li no blogue reconheço que é dos maiores humanistas da Tabanca Grande.
O Carvalho de Manpatá, fez um comentário tão perfeito que a mim tirou-me as palavras, se eu as conseguisse encontrar. Porém o Carvalho tem um defeito que é exceder-se ao ouvir falar em Tràs-Os-Montes. Eu perdoo-te mas os outros camaradas não sei.
O Luís Graça já todos o sabemos é o santo ou feiticeiro que tem sempre a palavra certa para todas as ocasiões.
Por mim digo que como transmontano,orgulhoso das minhas origens, por vezes um pouco só nesta Tabanca Grande senti um grande orgulho ao ler as crónicas e as experiências do José Tomás da Costa.
Tomás, se me leres, quero dizer-te que tu apesar de aprenderes a ler e escrever tarde,aprendeste depressa a lição e sabes expressar-te como poucos. Falas com emoção, quando referes a tua família e com humanidade quando referes as gentes da Guiné. Tomás gostei muito dos teus textos, tu com outras condições e motivações podias escrever um grande livro.
Conheci outro Tomás, em Brunhoso, na minha aldeia,era três anos mais velho do que eu. Foi um grande amigo, com quem passei bons e maus momentos. Passamos juntos muitos momentos de borga. Ele como mais velho apesar das nossas quezílias frequentes, convidava-me sempre para todas as farras que organizava com amigos mais velhos.
Era temperamental e excessivo na amizade e na festa que ela podia proporcionar.
Um pouco diferente dele e com alguns conflitos, de proximidade e temperamentos, sei há muitos anos que foi um grande amigo que tive e que perdi.
Em 1967 foi como soldado para o norte de Moçambique. Foi para Mocimboa da Praia. Escreveu-me alguns aerogramas onde falava da vida difícil que tinha por lá. Falava também duma correspondente brasileira que ele apreciava muito.
Quando regressou, após 28 meses. trouxe muito chá, trouxe um gravador de cassetes, novidade em nossa casa. Trouxe ainda fotos que me mostrou da correspondente do Brasil,era linda, feita de uma mistura de raças, india, africana e europeia. Leu-me cartas dela, meiga sedutora como se isso fizesse parte da sua natureza.
Talvez nesse tempo se ele tivesse asas para ir ter com ela ao Brasil ele fosse. Ele não tinha, era pobre como eu.
Este Tomás Baptista era meu irmão, o irmão masculino que pela idade tive mais próximo de mim.
Tivemos os nossos choques e desentendimentos mas sempre houve uma grande amizade entre nós.
O meu irmão temperamental e folgazão,morreu há 16 anos.
Este texto escrevo-o em homenagem a ele e ao outro Tomás transmontano
Para eles e para os camaradas da Tabanca que gostem de fado, descobri um da Celeste Rodrigues que se chama "Praia de Outono", acho-o também bastante adequado à nossa idade.

A todos um grande abraço
Francisco Baptista