Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, membro da nossa Tabanca Grande, "Comando, Guineense, Português" (Lisboa: Associação dos Comandos, 2010, 229 pp., 150 fotos, preço de capa: 25 €). Vive hoje em Portugal, na Amadora. Acabou a sua carreira militar como alf comando graduado, na CCAÇ 21, comandada pelo cap cmd grad Djamanca, um dos primeiros camaradas guineenses a ser fuzilado pelo PAIGC. Foi também amigo e camarada do alf cmd graduado Braima Baldé, natural de Bambadinca, e dado como fuzilado pelo PAIGC a seguir à independência.
Foto (e legenda) : © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados
1. Mensagem do nosso leitor Aladje Mustafá Baldé
De: Aladje Mustafa
Data: 25 de dezembro de 2014 às 01:09
Assunto: informação sobre o ex-comando Braima Baldé
Olá, camarada, meu nome é Aladje Mustafá Baldé, guineense, estudante no Brasil. Vim te informar de que hoje tive oportunidade de ler o e-mail escrito por sr Serifo Baldé desde 2008, perguntando do paradeiro do pai, ex-comando do exército português, de nome Braima Baldé.(*)
É para te dizer de que eu tenho um tio meu, de nome Braima Baldé, ainda de vida, pertencente ao exército português, formado em Portugal, ele é natural de Bambadinca. Caso o sr queira, eu posso lhe passar o contacto dele para você tentar saber se se está tratando do mesmo Braima. Se salientar que ele também trabalhou com o PAIGC, depois da independência.
2. Comentário do nosso editor Luís Graça:
Obrigado, amigo Aladje Mustafá pela tua mensagem e interesse pelos conteúdos do nosso blogue. O Braima Baldé de que estamos a falar pode realmente ser o teu tio, natural de Bambadinca, comando, e que depois da independência terá trabalhado para o PAIGC... A informação de que tínhamos até agora era a de que ele tinha sido posteriortmente fuzilado, em data e local desconhecidos Como sabes, há informações contraditórias sobre o destino de muitos dos nossos camaradas guineenses, a seguir à independência. Nem todos fugiram, nem todos foram fuzilados...
A ser verdade o que tu nos contas, ficamos muito felizes. e peço-te que confirmes os dados biográficos que apresentamos a seguir. Fala com o teu tio. Em todo o acaso há que ter em conta a mensagem do Sherifo Baldé, que vive em Portugal, e que nos disse o seguinte, em 6/2/2008:
"Sou o filho do Alferes Cmd Braima Baldé, que infelizmente não tive a felicidade de conhecer devido às vicissitudes da guerra."
Segundo as informações recolhidas pelo nosso blogue, o Braima Baldé era alferes comando graduado da 1ª Companhia de Comandos Africanos, formados em Fá Mandinga, perto de Bambadinca, na 2ª metade do ano de 1969, e mais tarde integrada nop Batalhão de Comandos Africanos (BCA). Eu na altura estava em Bambadinca, na CCAÇ 12, uma companhia africana (julho de 1969/março de 1971) e acompanhei a formação da 1ª CCmsd Africanos. Conheci alguns graduados.
Este batalhão (3 companhias) foi formado entre 1969 e 1974, exclusicamente com militares do recrutamento local, ou seja, guineenses. Era uma força de elite, temida pelo PAIGC. Um dos camaradas do Braima Baldé foi o Amadu Bailo Djaló, futa-fula, hoje com 74 anos, e autor do livro "Guineense, Comando, Português: 1º volume: Comandos Africanos, 1964-1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 299 pp.)
Reproduzo, mais uma vez, o depoimento dele sobre o seu camarada Braima Baldé, natural de Bambadinca. Oxalá o Braima Baldé esteja vivo, e seja o teu tio de Bambadinca, e pai do Sherifo Baldé (que vive em Portugal). (**()
3. Depoimento sobre o Alferes Comando Graduado Braima Baldé (, natural de Bambadinca), pelo seu camarada Amadu Bailo Djaló (alferes comando graduado, no BCA, e depois na CCAÇ 21, sediada em Bambadinca, no final da guerra, em 1973/74; futa-fula, nascido em Bafatá, em 1940) [Depoimento recolhido por Virgínio Brione, Lisboa, Maio de 2009].(*)
(...) Tinham acabado os comandos do CTIG, em finais de Junho de 1966, e regressei à CCS do QG [Quartel General,. em Bissau]. Uns meses mais tarde, fui transferido para Bafatá, para o BCav 757, conhecido pelo “sete de espadas”, comandado pelo tenente-coronel Moura Cardoso. Foi nessa altura que conheci o Braima [Baldé].
O Braima era 1º cabo, tal como eu, embora mais antigo dois anos (incorporação de 1960), pertencia à BAC [Bateria de Artilharia de Campanha]. e estava destacado no esquadrão [de cavalaria] de Bafatá. Não conheço os motivos mas soube que o Braima tinha sido louvado e recebido o prémio Governador da Guiné.
O Braima pertencia à família real do Corubal. A característica mais forte da personalidade dele era ser uma pessoa muito reservada. Quando a gente falava uns com os outros, o Braima podia estar junto de nós, mas era como se não estivesse, especialmente se estivéssemos nas brincadeiras. Nunca ouvi ninguém queixar-se dele.
Em 1969, com a chegada de Spínola, deu-se a formação dos comandos africanos. Primeiro, houve um curso de quadros ministrado em Brá, sob o comando do capitão Barbosa Henriques, de que eu e o Tomás Camará fomos monitores. Foi nessa altura que nos ficámos a conhecer melhor, embora nunca tivéssemos sido amigos íntimos.
Acabado o curso, regressámos às nossas unidades e ficámos a aguardar que nos chamassem para o curso de formação da 1ª CCmds Africanos, da qual, já como furriéis graduados, fizemos parte.
O Braima [Baldé] foi graduado em 1º sargento. Entrámos juntos, embora em companhias diferentes.
Fomos a Conacri [op Mar Verde, 22 de novembro de 1970], estivemos em Mansabá a dar o 4º curso de comandos e fomos a Kumbamory [, no Senegal], cada um a comandar o seu grupo.
Ao Braima calhou-lhe ir no agrupamento onde ia o major Almeida Bruno. Conta-se a história que, nesta operação, o Braima pode ter salvado a vida do major [Almeida] Bruno [, hoje tenente general reformado].
Quando este, de pé, avistou uns militares, chamou-os, julgando que eram nossos. Eram paraquedistas senegaleses. O Braima apercebeu-se, gritou-lhe que se abaixasse, e segundos depois foram alvejados com rajadas.
No regresso, já em Guidajee, o major Bruno [ antes ajudante de campo do Spínola, depois comandante do BCA] tirou os galões de um alferes europeu e colocou-os nos ombros do Braima.
Quando se deu o 25 de Abril, o PAIGC atribuiu-lhe um cargo numa secretaria em Bambadinca. Não foi só ao Braima, ao alferes Sada Candé, também dos comandos, o PAIGC encarregou-o de uma missão no Senegal.
Tive conhecimento que os dois foram executados, juntamente com muitos outros companheiros nossos, em 1975, em dia e local que desconheço."
_______________2. Comentário do nosso editor Luís Graça:
Obrigado, amigo Aladje Mustafá pela tua mensagem e interesse pelos conteúdos do nosso blogue. O Braima Baldé de que estamos a falar pode realmente ser o teu tio, natural de Bambadinca, comando, e que depois da independência terá trabalhado para o PAIGC... A informação de que tínhamos até agora era a de que ele tinha sido posteriortmente fuzilado, em data e local desconhecidos Como sabes, há informações contraditórias sobre o destino de muitos dos nossos camaradas guineenses, a seguir à independência. Nem todos fugiram, nem todos foram fuzilados...
A ser verdade o que tu nos contas, ficamos muito felizes. e peço-te que confirmes os dados biográficos que apresentamos a seguir. Fala com o teu tio. Em todo o acaso há que ter em conta a mensagem do Sherifo Baldé, que vive em Portugal, e que nos disse o seguinte, em 6/2/2008:
"Sou o filho do Alferes Cmd Braima Baldé, que infelizmente não tive a felicidade de conhecer devido às vicissitudes da guerra."
Segundo as informações recolhidas pelo nosso blogue, o Braima Baldé era alferes comando graduado da 1ª Companhia de Comandos Africanos, formados em Fá Mandinga, perto de Bambadinca, na 2ª metade do ano de 1969, e mais tarde integrada nop Batalhão de Comandos Africanos (BCA). Eu na altura estava em Bambadinca, na CCAÇ 12, uma companhia africana (julho de 1969/março de 1971) e acompanhei a formação da 1ª CCmsd Africanos. Conheci alguns graduados.
Este batalhão (3 companhias) foi formado entre 1969 e 1974, exclusicamente com militares do recrutamento local, ou seja, guineenses. Era uma força de elite, temida pelo PAIGC. Um dos camaradas do Braima Baldé foi o Amadu Bailo Djaló, futa-fula, hoje com 74 anos, e autor do livro "Guineense, Comando, Português: 1º volume: Comandos Africanos, 1964-1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 299 pp.)
Reproduzo, mais uma vez, o depoimento dele sobre o seu camarada Braima Baldé, natural de Bambadinca. Oxalá o Braima Baldé esteja vivo, e seja o teu tio de Bambadinca, e pai do Sherifo Baldé (que vive em Portugal). (**()
3. Depoimento sobre o Alferes Comando Graduado Braima Baldé (, natural de Bambadinca), pelo seu camarada Amadu Bailo Djaló (alferes comando graduado, no BCA, e depois na CCAÇ 21, sediada em Bambadinca, no final da guerra, em 1973/74; futa-fula, nascido em Bafatá, em 1940) [Depoimento recolhido por Virgínio Brione, Lisboa, Maio de 2009].(*)
(...) Tinham acabado os comandos do CTIG, em finais de Junho de 1966, e regressei à CCS do QG [Quartel General,. em Bissau]. Uns meses mais tarde, fui transferido para Bafatá, para o BCav 757, conhecido pelo “sete de espadas”, comandado pelo tenente-coronel Moura Cardoso. Foi nessa altura que conheci o Braima [Baldé].
O Braima era 1º cabo, tal como eu, embora mais antigo dois anos (incorporação de 1960), pertencia à BAC [Bateria de Artilharia de Campanha]. e estava destacado no esquadrão [de cavalaria] de Bafatá. Não conheço os motivos mas soube que o Braima tinha sido louvado e recebido o prémio Governador da Guiné.
O Braima pertencia à família real do Corubal. A característica mais forte da personalidade dele era ser uma pessoa muito reservada. Quando a gente falava uns com os outros, o Braima podia estar junto de nós, mas era como se não estivesse, especialmente se estivéssemos nas brincadeiras. Nunca ouvi ninguém queixar-se dele.
Em 1969, com a chegada de Spínola, deu-se a formação dos comandos africanos. Primeiro, houve um curso de quadros ministrado em Brá, sob o comando do capitão Barbosa Henriques, de que eu e o Tomás Camará fomos monitores. Foi nessa altura que nos ficámos a conhecer melhor, embora nunca tivéssemos sido amigos íntimos.
Acabado o curso, regressámos às nossas unidades e ficámos a aguardar que nos chamassem para o curso de formação da 1ª CCmds Africanos, da qual, já como furriéis graduados, fizemos parte.
O Braima [Baldé] foi graduado em 1º sargento. Entrámos juntos, embora em companhias diferentes.
Fomos a Conacri [op Mar Verde, 22 de novembro de 1970], estivemos em Mansabá a dar o 4º curso de comandos e fomos a Kumbamory [, no Senegal], cada um a comandar o seu grupo.
Ao Braima calhou-lhe ir no agrupamento onde ia o major Almeida Bruno. Conta-se a história que, nesta operação, o Braima pode ter salvado a vida do major [Almeida] Bruno [, hoje tenente general reformado].
Quando este, de pé, avistou uns militares, chamou-os, julgando que eram nossos. Eram paraquedistas senegaleses. O Braima apercebeu-se, gritou-lhe que se abaixasse, e segundos depois foram alvejados com rajadas.
No regresso, já em Guidajee, o major Bruno [ antes ajudante de campo do Spínola, depois comandante do BCA] tirou os galões de um alferes europeu e colocou-os nos ombros do Braima.
Quando se deu o 25 de Abril, o PAIGC atribuiu-lhe um cargo numa secretaria em Bambadinca. Não foi só ao Braima, ao alferes Sada Candé, também dos comandos, o PAIGC encarregou-o de uma missão no Senegal.
Tive conhecimento que os dois foram executados, juntamente com muitos outros companheiros nossos, em 1975, em dia e local que desconheço."
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 13 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4332: Os Nossos Camaradas Guineenses (8): Braima Baldé, ex-Alf Cmd Graduado, BCA (1938-1975) (Amadu Djaló / Virgínio Briote)
(*) Vd. poste de 13 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4332: Os Nossos Camaradas Guineenses (8): Braima Baldé, ex-Alf Cmd Graduado, BCA (1938-1975) (Amadu Djaló / Virgínio Briote)
From: Balde Serifo [mailto:serifo_balde@msn.com ]
Sent: quarta-feira, 6 de Fevereiro de 2008 13:00
To: Luís Graça
Subject: Alferes Cmd Braima Baldé
Antes de mais gostaria de lhe felicitar o seu blogue, que tive a felicidade de conhecer.
Sou o filho do Alferes Cmd Braima Baldé, que infelizmente não tive a felicidade de conhecer devido às vicissitudes da guerra.
Gostaria de saber mais coisas sobre ele no caso de o professor ter privado com ele.
Resido em Lisboa, e o meu email é serifo_balde@msn.com,
Telemóvel: 963312294.
Obrigado por tudo, professor, e agradeço muito a sua compreensão (...)
Sent: quarta-feira, 6 de Fevereiro de 2008 13:00
To: Luís Graça
Subject: Alferes Cmd Braima Baldé
Antes de mais gostaria de lhe felicitar o seu blogue, que tive a felicidade de conhecer.
Sou o filho do Alferes Cmd Braima Baldé, que infelizmente não tive a felicidade de conhecer devido às vicissitudes da guerra.
Gostaria de saber mais coisas sobre ele no caso de o professor ter privado com ele.
Resido em Lisboa, e o meu email é serifo_balde@msn.com,
Telemóvel: 963312294.
Obrigado por tudo, professor, e agradeço muito a sua compreensão (...)
(**) Último poste da série > 21 de outubro de 2014 > Guiné 673/74 - P13774: Os nossos camaradas guineenses (39): Calaboche Tchuda, apontador de bazuca do 4º pelotão da CCAÇ 13, e prémio Governador Geral...Preso e fuzilado de imediato, quando regressava da sua escola, em Nhacra, depois da independência... (Carlos Fortunato)
3 comentários:
Confirmo que o Alferes Aliu Sada Candé foi fuzilado em 1975 em Bambadinca. Ainda há estivo com oseu filho que vive em Lisboa o Tijane Candé que vive na amadora - Lisboa. Uma outra filha é a Secretária do nosso querido amigo já falecido o Eng. Carlos Silva (Pepito).
José Teixeira
Confirmo que o Alferes Aliu Sada Candé foi fuzilado em 1975 em Bambadinca. Ainda há estivo com o seu filho que vive em Lisboa o Tijane Candé que vive na Amadora - Lisboa. Uma outra filha é a Secretária do nosso querido amigo já falecido o Eng. Carlos Silva (Pepito).
José Teixeira
Informação do João Parreira, hoje, 31/12: O Amadu está no hospital das Forças Armadas no Lumiar no primeiro andar, quarto 11(individual). Visitas das 16h30 as 18h00.
VBriote
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