sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15796: O Início da guerra na Guiné (1961-1964 ) (José Matos, historiador) > II (e última) Parte

 1. Segunda e última parte do artigo do José Matos

[ Foto à direita: 
o nosso grã-tabanqueiro José [Augusto] Matos;
formado em astronomia em 2006 na Inglaterra ( University of Central Lancashire, Preston, UK ); 
é especialista em aviação e exploração espacial desde 1992;
filho de um antigo combatente, nosso camarada da Guiné, já falecido; 
é nvestigador independente em história militar ]



 2. O Início da guerra na Guiné (1961-1964 ) (José Matos, historiador) > II (e última) Parte

Revista Militar, nº 2553,novembro de 22015, pp. 937-950.


Por José Matos

(Continuação)


O relatório Deslandes

Um mês depois do relatório do Comadante-Chefe, chega à Guiné o Secretário-Geral da Defesa Nacional, o General Venâncio Deslandes, para analisar a situação militar no terreno produzindo depois um relatório para o ministro da tutela.

Augusto Venâncio Deslandes
(1909-1985), gen pilav, FAP
 Foto: cortesia de
Geneall
Este relatório é importante para percebermos qual era a situação militar, em meados de 1963. Na avaliação que faz, este oficial dá como grave a situação na província em que “cerca de uma quinta parte do território se mantem sublevada, com as populações na sua quase totalidade deslocadas (quase todo o Sector Sul e a área dos majaques a norte do rio Cacheu)” e alerta para a possibilidade de um ataque sobre Bissau que seria “fácil de executar, com todos os reflexos políticos que acarretaria”.

Deslandes identifica claramente a zona sul do território como a mais problemática e considera que a resolução da sublevação nessa zona é determinante na evolução futura do conflito (38). O general português propõe várias medidas de acção entre as quais a fusão do aparelho militar com o aparelho político-administrativo, que funcionavam de forma separada. Esta medida viria a ser a implementada no ano seguinte, com a nomeação de Arnaldo Schulz para o cargo de Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas na Guiné.

No entanto, a sugestão de Deslandes visava sobretudo resolver a incompatibilidade que já existia entre as chefias política e militar do território, protagonizadas por Vasco Rodrigues e Louro de Sousa, que não se entendiam na coordenação dos meios de defesa militares e civis (39).  Esta falta de coordenação impedia obviamente uma acção concertada dos diversos meios de defesa contra a guerrilha.

Deslandes defende também a existência de forças de intervenção com um grande grau de prontidão e de mobilidade táctica,  capazes de serem empenhadas rapidamente em qualquer ponto do território. Para isso, considera imprescindível a aquisição de helicópteros, fundamentais na luta anti-guerrilha. Por essa altura, a Força Aérea ainda não tinha helicópteros na Guiné, tendo recebido os primeiros três helicópteros Alouette II, em Setembro desse ano (40). No entanto, eram aparelhos muito limitados sendo usados unicamente em missões de observação, ligação e evacuação de feridos.





Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > O pessoal em operações militares: na foto, acima, transporte às costas de um ferido, evacuado para o HM 241, em Bissau, por um helicóptero Alouette II (versão anterior do Alouette III, que nos era mais familiar, sobretudo para aqueles que chegaram à Guiné a partir de 1968).

Foto: © Alberto Pires (Teco) / Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados.

Juntamente com o relatório principal há também um relatório do Tenente-Coronel Augusto Brito e Melo que descreve a situação no terreno e identifica os principais problemas que as forças portuguesas enfrentam na Guiné. Este oficial considera que a situação, em termos gerais, não é alarmante, mas que apresenta uma certa gravidade no sul da colónia, podendo vir agravar-se se não fossem tomadas rapidamente medidas de contenção da guerrilha.

Em tom optimista, Brito e Melo refere “que a resolução do problema da Guiné está perfeitamente dentro das nossas possibilidades, não exigindo meios exorbitantes, e pode conseguir-se dentro de um prazo relativamente curto” (41). No mesmo tom, considera ainda que “a eliminação do terrorismo na Guiné teria largas repercussões no país, levantando o moral da população e, em especial das Forças Armadas”, ao mesmo tempo que desencorajaria outros movimentos nacionalistas de passarem à luta armada nas restantes colónias, estando provavelmente a pensar em Moçambique, onde a guerra ainda não tinha começado (42).

Este militar confirma também no seu relatório a situação de conflito entre as chefias política e militar da colónia, referindo claramente que as autoridades administrativas, de uma forma geral, não cooperavam com as autoridades militares (43).


A exposição no Conselho Superior Militar
Fernando Louro de Sousa,
cmdt do RI 13
(1962/53).
Foto: cortesia
do sítio do Exército.pt



No início de Setembro, Louro de Sousa vai a Lisboa fazer uma exposição da situação na colónia ao Conselho Superior Militar (CSM) (44). Na exposição que faz àquele órgão, Louro de Sousa confirma, mais uma vez, que é no sul do território que se vive a situação mais crítica, com as forças portuguesas a controlarem apenas os aquartelamentos onde estão instaladas.

Outra zona que também merece a preocupação de Louro de Sousa é o Oio, no norte do território, onde a guerrilha tinha tentando aliciar a população, sem sucesso, sendo aí necessário neutralizar o inimigo para não se cair na situação do sector sul. O chefe militar da Guiné reconhece que a acção subversiva da guerrilha é intensa com vista ao “controle de todas as populações fora das áreas restritas de ocupação militar” e que se enraizava cada vez mais no sul da província, sendo que, aí, a expectativa era apenas que o problema não se agravasse ainda mais (45).

Na opinião deste militar, o problema já vinha do passado, pois “deveria ter-se conseguido neutralizar a subversão antes dela ter surgido à luz do dia”. No fundo, as estruturas políticas e militares instaladas no terreno tinham falhado na conquista das populações. Louro de Sousa identifica claramente a falha ao referir o seguinte:

“Para isso, deveria ter-se concentrado o esforço da nossa defesa na acção psicológica e na acção social num trabalho de conquista de populações, para lhes ganhar a sua confiança. Seria obrigação de todos “prevenir para evitar” e agora encontramo-nos numa situação de mandar tropa e mais tropa para reprimir o talvez…irreprimível” (46).

Da mesma forma, enumera também uma série de problemas que dificultavam o esforço de contra-subversão, nomeadamente:

(i) a deficiente instrução das tropas e quadros;

(ii) o deficiente equipamento das unidades no terreno;

(iii) as faltas de pessoal e insuficiência de efectivos;

(iv) os problemas nos abastecimentos das unidades em material, munições, víveres e água;

(v) a falta de enquadramento e aproveitamento dos nativos em operações de segurança;

(vi) a falta de instalações adequadas para a instalação das forças terrestres;

(vii)  e o cansaço no seio da tropa no fim da comissão, que estava sempre ansiosa por acabar a comissão e voltar para a metrópole (47).

 Louro de Sousa reconhecia também que nem sempre as relações com o Governo local corriam bem e que havia falta de coordenação entre os meios de defesa civis e militares. O avanço permanente da guerrilha levava Louro de Sousa a admitir não saber quando seria possível normalizar a situação, pois a subversão estava longe de ser dominada e as forças militares, além de serem insuficientes, não estavam preparadas para uma luta eficaz contra a guerrilha (48).


O desagrado do Governo

Como é óbvio, esta exposição do Comandante-Chefe não agradou aos membros do Governo presentes na reunião. O Subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, Silva Cunha, relata, mais tarde, nas suas memórias, que Louro de Sousa começou a sua intervenção por dizer que não sabia o que estava a fazer na Guiné e foi depois desfiando uma série de queixas “contra o clima, a deficiência de instalações, a não preparação das tropas, a falta de meios e a combatividade do inimigo”, o que levou o ministro da Defesa a chamar-lhe à atenção quanto à sua missão na Guiné e à obrigação que tinha de defender “as populações, garantido a integridade do território, combatendo o inimigo com energia e fé”.

Silva Cunha saiu da reunião convencido que Louro de Sousa seria substituído a curto prazo no comando militar da Guiné, o que na verdade só aconteceu em 1964 (49). No entanto, o próprio Silva Cunha reconhece que a situação militar na Guiné, em finais de 1963, era difícil para as tropas portuguesas, que se mantinham numa posição defensiva dentro dos quartéis, não havendo forças de intervenção que pudessem reagir às ofensivas do PAIGC (50). 

No mesmo sentido vai a opinião de Hélio Felgas [, foto à direita], que serviu na Guiné nessa altura, ao referir que “ao findar o ano o PAIGC actuava com um certo à-vontade em grande parte do sul da Província, considerando mesmo algumas regiões como estando já libertadas (uma delas era a ilha do Como)” (51). Felgas salienta ainda o forte apoio logístico que o PAIGC recebia a partir da Guiné-Conakry, quer por terra quer por ar. “A presença de helicópteros inimigos foi confirmada numerosas vezes. E a Conakry chegavam navios comunistas que transportavam armas e munições destinadas ao PAIGC” (52). Ambas as apreciações são um sinal claro de que a situação na Guiné era preocupante, em finais de 1963.

Na penúltima directiva operacional que emite, em finais de 1963, o próprio Louro de Sousa reconhece, mais uma vez, as dificuldades já expostas em Lisboa ao CSM [Conselho Superior Militar] e admite de novo que a guerrilha do PAIGC dominava o sector sul da Guiné, à excepção das áreas restritas de ocupação militar, ou seja, os quartéis das forças portuguesas.

De igual modo, reconhece que, com a excepção das tropas especiais, o moral das forças portuguesas é baixo e que existe um fraco espírito ofensivo aliado a uma deficiente instrução, que provoca o uso de tácticas inadequadas e atitudes estáticas perante o inimigo. Louro de Sousa refere ainda que uma boa parte dos órgãos de Comando não fazem um planeamento cuidado das operações e não lhes dão a devida continuidade lógica (53).

Análise final

Em conclusão, podemos ver pelo quadro 1 que o contingente militar estacionado na Guiné não parou de aumentar nos anos iniciais da guerra. Se analisarmos a evolução das forças portuguesas constatamos que, no início de 1961, o número de militares presentes na Guiné rondava os 1.200 homens, enquanto na passagem para 1963 este número ascendia já a 5.650 militares, ou seja, um aumento de mais de 400 por cento dos efectivos nesse teatro de operações. Porém, o número não parou de subir, tendo atingido, em Março de 1964, os 12.066 militares (54).






Todavia, apesar deste aumento substancial do número de tropas, a Guiné continuava longe de estar pacificada e as substituições de Vasco Rodrigues e de Louro de Sousa eram assim, neste contexto, inevitáveis. Louro de Sousa ainda tentou mostrar alguma iniciativa militar lançando, em Janeiro de 1964, a maior operação jamais levada a cabo na Guiné – a Operação Tridente, no arquipélago do Como. Porém, o seu destino já estava traçado pelo poder político em Lisboa. Em Maio de 1964, era substituído por Arnaldo Schulz, que passaria a exercer as funções de Governador e de Comandante-Chefe, concentrando em si a acção política e militar, como já tinha acontecido no tempo de Peixoto Correia (55).



O autor agradece ao Arquivo da Defesa Nacional (ADN) o apoio dado a esta investigação.


 * Investigador independente em história militar,  tem feito investigação sobre as operações da Força Aérea na Guerra Colonial, principalmente na Guiné. É colaborador da revista Mais Alto da Força Aérea Portuguesa e tem publicado também o seu trabalho em revistas europeias, em França, Inglaterra e Itália.

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Notas do autor:


(38)  Relatório da visita à Guiné, Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Lisboa, 27 de Maio de 1963, ADN/F2/92/306/4.


(39) Cunha, Silva, O Ultramar, a Nação e o 25 de Abril, Atlântida Editora, Coimbra, 1977, pp.108-111.


(40)  Exposição feita pelo Comandante-Chefe das Forças Armadas na Guiné no CSM, 4 Setembro 1963, ADN/F2/92/306/4.


(41) Relatório da visita à Guiné, Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Lisboa, 27 de Maio de 1963, ADN/FG/SGDN Cx. 6862.5

(42) Ibidem.

(43) Ibidem.

(44)  Exposição feita pelo Comandante-Chefe das Forças Armadas na Guiné no CSM, 4 Setembro 1963, ADN/F2/92/306/4.


(45) Ibidem.


(46) Ibidem.


(47) Ibidem.


(48) Ibidem.


(49) Cunha, op. cit., pp. 112-113.


(50) Cunha, op. cit., p. 111.


(51) Felgas, op. cit., p. 78.


(52) Felgas, op. cit., p. 79.


(53) Directiva n.º 7 do COMCHEFE Guiné, Bissau, 14 de Dezembro de 1963, ADN F2/58/319/1.


(54) Exposição da Situação Operacional na Província da Guiné (JAN 61/MAR 64), feita ao Curso de Altos Comandos, no IAEM, em 2 de Maio de 1964, Esquema nº. 13, ADN/F2/92/307/7.


(55) Verbete para o Gabinete do Ministro da Defesa Nacional com Portaria da Presidência do Conselho, 13 de Maio de 1964, F2/93/311/1.

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Nota do editor_


Vd.poste anterior:

25 de fevereito de 2016 > Guiné 63/74 - P15795: O Início da guerra na Guiné (1961-1964 ) (José Matos, historiador) > Parte I


15 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Leio:

Da mesma forma, enumera também uma série de problemas que dificultavam o esforço de contra-subversão, nomeadamente:

(i) a deficiente instrução das tropas e quadros;

(ii) o deficiente equipamento das unidades no terreno;

(iii) as faltas de pessoal e insuficiência de efectivos;

(iv) os problemas nos abastecimentos das unidades em material, munições, víveres e água;

(v) a falta de enquadramento e aproveitamento dos nativos em operações de segurança;

(vi) a falta de instalações adequadas para a instalação das forças terrestres;

(vii) e o cansaço no seio da tropa no fim da comissão, que estava sempre ansiosa por acabar a comissão e voltar para a metrópole (47).


Sempre a mesma conversa,a partir de dificuldades reais, o denegrir constante do poder e sofrimento das Forças Armadas portuguesas em terras da Guiné.
Questiono apenas, como foi possível aguentar, entre tanta dor e sofrimento, treze anos de luta na Guiné? Claro que a guerra estava errada, como todas as guerras, mas
fomos capazes de ultrapassar mil limitações e dificuldades, fomos um grande povo, digno de um passado de cinco séculos, digno da admiração e respeito dos nossos filhos e dos nossos netos.
De modo algum defendo o colonialismo que existiu, e que tal como as lutas de libertação, pertencia à necessidade, para citar Marx "de rasgar as algemas do tempo."
Com os resultados que conhecemos hoje.
Eu, António Graça de Abreu, vivi nove anos fora de Portugal. Amo muito esta nossa terra, um dos mais fabulosos reinos ou impérios,(será bom comparar-mo-nos com o país dos outros!)alguma vez construído, e destruído debaixo do céu.
Ainda não perceberam porque é que este blogue, que faz parte do nosso exaltante quotidiano de combatentes da Guiné, tantas vezes me entristece?

Abraço,

António Graça de Abreu





Luís Graça disse...

"(..) Uma série de problemas que dificultavam o esforço de contra-subversão, nomeadamente:

(i) a deficiente instrução das tropas e quadros;

(ii) o deficiente equipamento das unidades no terreno;

(iii) as faltas de pessoal e insuficiência de efectivos;

(iv) os problemas nos abastecimentos das unidades em material, munições, víveres e água;

(v) a falta de enquadramento e aproveitamento dos nativos em operações de segurança;

(vi) a falta de instalações adequadas para a instalação das forças terrestres;

(vii) e o cansaço no seio da tropa no fim da comissão, que estava sempre ansiosa por acabar a comissão e voltar para a metrópole (...)

Meu caro Zé Matos, o teu pai, se fosse vivo, diria: "meu filho, estes eram os problemas que eu já enfrantava no meu tempo, e que os meus camaradas a seguir enfrentaram, até ao fim da guerra"...

Se "elogio em boca própria não fosse vitupério" [impropério, ultraje, injúria...], eu diria que nós, na Guiné, se não fomos heróis, fomos santos... Fomos bons, de resto, "Deus manda ser bom, não manda ser parvo" [, a frase é de Marcelo... Caetano].LG

antonio graça de abreu disse...

Estamos entendidos,meu caro Luís.

Como sempre, um abraço amigo.

António Graça de Abreu

antonio graça de abreu disse...


Meu caro Luís

Último aprofundamento reflexivo.
Em termos de guerra de guerrilha, de conflito armado com populações de permeio,
oiço, leio os problemas da tropa portuguesa. Reverto, por completo, o entendimento para a situação real dos guerrilheiros do PAIGC, logo no início da guerra. Vê lá se bate ou não bate certo, com a verdadeira situação do inimigo, nosso amigo:

(iii) as faltas de pessoal e insuficiência de efectivos;

(iv) os problemas nos abastecimentos das unidades em material, munições, víveres e água;

(v) a falta de enquadramento e aproveitamento dos nativos em operações de segurança;

(vi) a falta de instalações adequadas para a instalação das forças terrestres;


Pois é, mas temos hoje uma chusma de historiadores(?) conhecedores(?), escrevinhadores, a congeminar a nossa História,ou melhor a engendrar falsificações da nossa História comum, povos de Portugal e da Guiné-Bissau. Com o beneplácito de algumas boas almas do nosso blogue.
Desculpa, Luís, mas tenho o coração ao pé da boca, aos 68 anos, com uma guerra 72/74 atravessada na minha existência, com os caminhos posteriores pelo fluir dos anos, e vivências extremadas por quatro continentes, não sou dono de nenhuma verdade excepto a minha dignidade portuguesa de existir.

Abraço,

António Graça de Abreu

Antº Rosinha disse...

Estamos a falar do início da Guerra na Guiné do tempo da Lienfield e da nossa tradicional desorganização.

Escrevo mais para que António Graça de Abreu não desista.

Há muita gente que já desistiu de por aqui andar por razões contrárias àquelas que AGA se sente frustrado.

Ninguem devia desistir, até que tudo seja bem esmiuçado e todos contarem aquilo que viveram, e simultaneamente ouvindo os outros.

Talvez muito pior do que aqui José Matos relata foi o início em Angola em que se viam capitães a chorar e sargentos barrigudos a implorar para os milicianos irmos no lugar deles que nós ainda não tínhamos filhos.

AGA, nós ganhámos a guerra, limpinho, limpinho, mas nós e os povos todos juntos estavamos em minoria em NY na ONU.

Tínhamos o povo e mais Amílcares e Agostinhos do nosso lado que o IN.

Venham mais de José Matos, porque estas coisas é que ajudam a explicar que tinha que haver outras armas mais fortes que os canhões de Conacry e do Senegal e as Kalash e os votos na ONU, porque não se aguentam 13 anos sem algumas boas armas.

Essa foi a nossa grande arma, que Luís Cabral, e Nino nunca tiveram até morrer, o povo.

AGA, e agora que sabemos que o «feitiço se virou contra os neocolonialistas», mais de consciência tranquila ficamos para a história como colonialistas teimosos.

AGA, eramos um desastre, no meu caso nem nunca consegui aguentar aquela boina castanha com tanto calor naquela Luanda a escorrer de suor.

Aprendi a fazer fogo com um canhão com recuo, que em 1961 só havia um em toda a Angola que era da II grande guerra para a instrução do CSM.

Já nem se fabricavam munições daquilo.

AGA, eramos bons, não para a guerra, eramos bons para a paz, se não eu não tinha aguentado 18 anos em Angola e 13 anos na Guiné.

Uma característica dos tugas que chegavam à Guiné, como eu, que os guineenses indagavam era se eramos antigos "colon" ou se tinhamos sido "tugas",tropa.

Se eramos uma das coisas estavamos em casa.

Abraço

Manuel Luís Lomba disse...

Transparece uma verdade:os soldados portugueses não perderam a Guerra da Guiné. Quem foi?
Ab.

Anónimo disse...

Carlos Silva
26 fev 2016 20h38


Luís

O José Matos em minha opinião não trás nada de novo
Um abraço


Carlos Silva

Luís Graça disse...

mail enviado pelço correio interno da Tabanca Grande

Assunto: OPINIÃO: LISTA DE PROBLEMAS NO CTIG LOGO EM 1963 (LOURO DE SOUSA)...VOTA NOS QUE CONCORDARES [Resposta múltipla]
Para:

Camaradas e amigos/as:

Há um artigo do José Matos (historiador, filho de um camarada nosso já falecido), sobre o início da guerra na Guiné, que não devem perder:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2016/02/guine-6374-p15796-o-inicio-da-guerra-na.html

Em setembro de 1963, o Com-chefe Louro de Sousa fez uma exposição ao poder (político e militar) em Lisboa... Apontou uma série de problemas que na já altura se punham, dificultando a nossa resposta militar...

Estes pontos são um pretexto para o inquérito de opinião desta semana... Temos ideia que os problemas de 1963, não eram muitos diferentes dos de 1968, 1974... Vejam o questionário, podem dar mais do que uma resposta... (No blogue, "on line", no canto superior esquerdo).

Bom fim de semana... E mandam fotos, por favor!, com histórias e legendas!...

Abraço dos editores
_____________


OPINIÃO: LISTA DE PROBLEMAS NO CTIG LOGO EM 1963 (LOURO DE SOUSA)...VOTA NOS QUE CONCORDARES [Resposta múltipla]


1. Deficiente instrução das tropas e quadros

2. Deficiente equipamento das unidades no terreno

3. Falta de pessoal / insuficiência de efetivos

4. Abastecimento (material, munições, víveres e água)

5. Falta de enquadramento / aproveitamento militar dos guineenses

6. Instalações inadequadas

7. Cansaço das NT, sempre ansiosas por acabar a comissão e voltar para a metrópole

8. Outros problemas não referidos acima

Luís Graça disse...

Camaradas:

A historiografia da "nossa" guerra está por fazer... Todas as pesquisas de arquivo são louváveis... O José Matos merece o nosso apreço, vai juntando "peças", e tem acesso a arquivos e outras fontes que não estão ao alcance de todos...

Eu sei que o Carlos Silva é um grande estudioso da história da Guiné, é um camarada bem documentado, mas a generalidade dos nossos leitores não tem tempo nem se pode dar ao luxo de ser um "rato de biblioteca"... O José Matos tem o perfil do historiógrafo, são precisas muitas horas para escrever um artigo, aparentemente simples, como aquele que acabámos de publicar... Sei do que falo, por que também me interesso pela história (da saúde e das profissões de saúde)...

Valdemar Silva disse...

Pois é, ou foi.
Gostava ver Mapas da Guiné 1960 e outros Guiné 1973/4, abrangendo as mesmas
áreas.
Gostava de saber quantas localidades/tabancas, incluindo as mais dispersas,
com população residente existiam em 1960 nessas áreas e, destas, quantas foram abandonadas e desapareceram por causa da guerra até 1973/4, mesmo as que, posteriormente, tiveram guarnição militar.
Não tenho conhecimento desse facto, mas gostava de saber.
Depois, a análise vai ser outra quanto ao quem ganhou ou perdeu a guerra até àquela
data, já que quanto tempo poderia durar, nem vale a pena falar.
Valdemar Queiroz

Unknown disse...

Prezado Dr. José Matos,
Cordiais saudações.
Agradeço a sua generosidade ao dividir com este bog de ex-combatentes, o seu brilhante (e paciente) trabalho de pesquisa.
Como Bairradino (da diáspora) é com grande alegria que vejo a "jovem" Universidade de Aveiro(eu sou "filho da Academia Coimbrã), produzir um sério trabalho de pesquisa.
Por favor continue "comendo o pó dos arquivos"!
Forte abraço.
VP

Jose Matos disse...

Caros amigos

Agradeço os comentários sobre o meu trabalho. Tentei trazer à luz do dia alguns documentos e relatórios que ajudam a compreender a fase inicial da guerra na Guiné. Foi essa a minha abordagem. É uma linha de investigação que pretendo seguir no futuro relativamente a outros períodos da guerra na Guiné….

Ab

José Matos

Anónimo disse...

Luís

Quando em resposta ao teu mail disse que "O José Matos em minha opinião não trás nada de novo" o que reitero, referia-me ao artigo que enviaste e não estava a menosprezar o trabalho do JM e nem sequer para sugerir que não fosse publicado, que já estava.
Claro que todos os trabalhos de investigação têm interesse e trazem perspectivas diferentes. Constitui sempre um auxiliar de pesquisa para qualquer um de nós.
Um abraço
Carlos Silva

Mário Vitorino Gaspar disse...



Caro Camarada Luís

Se embarcarmos pela "deficiente instrução das tropas e quadros, deficiente equipamento, abastecimento de material bélico e alimentar", estarei totalmente de acordo com a parte que diz respeito ao abastecimento tanto bélico como alimentar. Quanto ao não aproveitamento e enquadramento dos Caçadores Nativos e das Tropas "U" deixaria, neste breve nota, para o fim. As instalações começaram por ser melhoradas em 1967/68. O cansaço era evidente...
Mas um tão nsignificante Furriel diria, tipo afirmação julgo que no livro "Soldadó": - "Pergunta ao Furriel"!
Este Furriel - e sendo directo quanto possível diria que o Soldado não necessitava de instrução, as altas esferas é que teriam de mudar. Montei minas e armadilhas em zonas, mas não as coloquei. Como ia sozinho, a segurança estava longe, fumava o meu cigarrro - isto a partir de um determinado momento, certo é que o PAIGC não atacava por ali. Em Gadamael não atacavam poucas vezes, Ganturé era sacrificado. Como Sangonhá. Teria sido atacado desde o início da guerra até ao final e vezes. Resolveria, mas quem sou eu numa guerrilha, quem somos nós. Enquanto existir um guerrilheiro a guerra não termina. Caiu atrás de mim uma granada de uma roquetada, no CORREDOR DA MORTE, mas o guerrilheiro do PAIGC estava mal instruído...
A verdade é que o PAIGC conhecia, e bem, a localização de minas... de tudo ela tinha conhecimento; a população entrava e de pequenos aquartelamentos nasceram cidades.
A solução seria resolvida - e isto só para não sairmos de cócoras como veio a acontecer.
1.º- População a entrar nenhuma, nada de VINDE A NÓS. Portanto uma política contrária
2.º- A população que estava no terreno só podia percorrer os percursos normais, caso contrário estavam sujeitos.
3.º - As minas seriam colocadas no terreno sem a presença dos Caçadores Nativos e Praças "U", não é que desconfiasse de todos mas que existiam aqueles que jogavam com um pau de dois bicos... era verdade. (o régulo Abibo Injasso ficava fulo quando não sabia onde elas estavam - as minas claro).
4.º A questão de instalações não se colocava porque elas foram verdadeiramente melhoradas, só infestadas com a invasão daqueles que vieram por força da bondade e vontade de trazer a nos... Quem?
O cansaço e a falta de tudo foi evidente. Sofremos, ouvi da boca do Spínola: NÃO VENHO PROMETER NADA, PROMETO SACRIFÍCIOS!
A questão da Instrução podia beneficiar com Comissões de 18 meses e Oficiais e Sargentos terminarem o Serviço Militar a ministrar Instução já cá. Ensinando, dando umas luzes aos que partiam, não ficarem como nós, entregues aos bichos.
Não disse tudo, mas no fim resume-se a uma ideia de não entrar população, nem sequer andarem solta a população civil e a tal instrução de 3 meses dos Oficiais e Sargentos Milicianos. Para sofrer estava aquele GRANDE SOLDADO PORTUGUÊS.

Sei que é polémico. Agarrem na batata e força...

Um abraço

Mário Vitorino Gaspar

Mário Vitorino Gaspar disse...



Escrevi que EM GADAMAEL NÃO ATACAVAM POUCAS VEZES, mas queria dizer que Gadamael era atacado poucas vezes, isto em 1967/1968. Ao contrário, Ganturé foi cruxificada. O Soldado Silva morreu a 26 de Março de 68 - PENSO TER SIDO ESSA A DATA, e dentro do abrigo que o nosso Camarada no Canadá Luís Guerreiro bem conhece,
Devia ter juízo, não são horas de um indivíduo que teve a confirmação há poucas horas ter a doença do parkinson estar a escrever e sem rascunhos e ASSUNTO DE RESPONSABILIDADE.

Abraços.

Mario Vitorino Gaspar