Terceira e última parte.
Aceitando o repto do Tabanqueiro-mor Luís Graça, entendi apresentar algumas considerações sobre o tema.
Por ter cumprido 3 Comissões, por imposição, na Guiné (tenho a convicção que não haverá muitos militares nestas condições), eis a minha opinião resultante, fundamentalmente, das funções que desempenhei em cada um dessas comissões.
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Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 3
4.5 – REUNIÃO DE COMANDOS EM 15MAI73
Em 15MAI73, realizou-se, no Quartel-General do Comando Chefe em Bissau, uma reunião de Comandos, presidida pelo Sr. General Spínola, estando presentes o Sr. Comandante Adjunto Operacional, os Senhores Comandantes dos 3 Ramos das Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea), o Sr. Chefe do Estado-Maior do Comando Chefe e os Senhores Chefes das Repartições de Operações e Informações do Comando Chefe. Dessa importante reunião foi feita a respectiva ACTA, com 62 páginas. Tendo obtido uma fotocópia desta, no Arquivo Histórico Militar do Exército, vou fazer algumas transcrições da mesma. Este documento deveria ser objecto de uma análise e comentário mais alargados, que não cabem no âmbito deste texto. Oportunamente voltarei a este assunto.
4.5.1 – Intervenção inicial do Sr. Comandante-Chefe, Sr. General Spínola
O Sr. Comandante-Chefe, a iniciar os trabalhos, afirmou:
“...Encontramo-nos, indiscutivelmente, na entrada de um novo patamar de guerra, o que necessariamente impõe o reequacionamento do trinómio missão-inimigo-meios. Começaremos esta reunião pela consideração da análise da situação no T.O. face ao inimigo actual e à sua evolução futura, análise a apresentar pelo Chefe da Repartição de Informações a que se seguirá a apresentação do estudo das incidências da evolução do In na situação das NT, no seu potencial, capacidade de manobra, liberdade de acção e suficiência para o cumprimento da missão em termos de prosseguimento da manobra de contra-subversão. Apresentará esse estudo o Chefe da Repartição de Operações em cujo âmbito se projectam em pleno os condicionalismos actuais. Solicitarei, em seguida, aos Senhores Comandantes-Adjuntos a sua impressão sobre o In e a situação das Nossas Forças, bem como sobre o reflexo da situação actual e futura na sua esfera de responsabilidade; e ainda a definição das necessidades cuja carência se reflicta no cumprimento das respectivas missões.”…
4.5.2 – Intervenção do Sr. Comandante Adjunto Operacional, Sr. Brigadeiro Leitão Marques
Entre outras considerações, o Sr. Brigadeiro disse:
“...No mínimo, e disso não restam quaisquer dúvidas, o In está a preparar as necessárias condições para conquista e destruição de guarnições menos apoiadas por dificuldades de acesso (GUIDAGE, BURUNTUMA, GUILEJE, GADAMAEL, etc), a fim de obter os êxitos indispensáveis à sua propaganda internacional e manobra psicológica – isto está já ao alcance das suas possibilidades militares.
Quanto às vantagens para manobra psicológica In, não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros em número tal que possa constituir um elemento de pressão psicológica sobre a Nação Portuguesa. A dar-se este facto e aceitando que a orientação comunista prevalecerá, tal elemento será aproveitado ao máximo para desmobilizar a retaguarda e manter-se-á até serem atingidos os objectivos finais em todas as PU. Assisti ao pressionamento psicológico do povo americano por causa dos seus prisioneiros no Vietnam do Norte durante quatro anos; e senti em toda a sua profundidade o efeito desmoralizador desse pressionamento, o qual, em larga medida, juntamente com o elemento económico, levou à agitação interna das massas e à capitulação, apesar de todo o poderio militar americano.
O que acontecerá se tivermos de enfrentar situação semelhante? O In não perderá a oportunidade e tem experiência técnica para a aproveitar ao máximo. É aqui na Guiné onde o problema é mais agudo e o In sabe isso; o seu esforço será aqui realizado.”...
4.5.3 – Intervenção do Sr. Chefe da Repartição de Informações, Sr. Ten. Cor. de Inf.ª Baptista Beirão Da intervenção do Sr. Chefe da REP/INFO, transcreve-se:
“Esta actividade incidirá, mais provavelmente, nas guarnições de fronteira, em especial nas mais vulneráveis às acções com carros de combate, pelo que se consideram áreas de preocupação:
- o eixo NOVA LAMEGO-BURUNTUMA e em especial a guarnição de BURUNTUMA, particularmente ameaçada;
- a região de ALDEIA FORMOSA e, em especial, as guarnições de GADAMAEL e GUILEJE, expostas a uma acção de carros de combate irradiando da REP GUINÉ;
- a fronteira Norte da ZONA LESTE, com particular incidência para a faixa tradicional de infiltração (GUIDAGE/BIGENE/FARIM/CUNTIMA).
No imediato, julga-se que o IN:
- mantenha a actividade generalizada e dispersa de fixação e desgaste às NF em todo o T.O.;
- intensifique o seu esforço de implantação de um forte dispositivo militar no BOÉ, em ordem a materializar a sua ocupação, aliás já iniciada conforme se refere no decurso desta análise;
- mantenha a sua pressão sobre GUIDAGE/BIGENE/BINTA, continuando a concentrar sobre GUIDAGE violento potencial que imediatamente desviará para qualquer outro ponto menos protegido pelo nosso eventual reforço de GUIDAGE;
- passe à ofensiva no “Chão MANJACO” visando recuperar a área subtraída à subversão, através de acções violentas e sistemáticas contra as populações e NF em especial a Sul dos rios COSTA e BABOQUE;
- intensifique a sua actividade de resistência à reocupação do Sul pretendendo impedir o desenvolvimento da nossa manobra no CANTANHEZ e TOMBALI;
- intente uma acção tipo convencional com carros de combate contra GADAMAEL, GUILEJE e/ou BURUNTUMA, tirando partido da vulnerabilidade destes pontos a esse tipo de acções e visando o aniquilamento ou captura das guarnições;
- incremente a sua actividade contra meios navais, em especial a partir do momento em que disponha dos especialistas em preparação.
Num futuro próximo, prevê-se que o In, partindo do clima de denso agravamento que a sua actividade imediata proporcionará:
- tente a eliminação sistemática das guarnições mais expostas sobre a fronteira, em acções de tipo convencional;
- amplie progressivamente esta manobra da periferia para o interior;
- estabeleça no BOÉ a fisionomia de novo estado a proclamar conforme sua intenção declarada;
- consolide as bases de uma ulterior evolução do conflito para a fase convencional com directo empenhamento externo.
Resta referir, a finalizar, que o quadro dispersivo do largo potencial referenciado e a elevada capacidade de manobra do In não permitem, como se desejaria, uma melhor objectivação das zonas preferenciais de esforço do In atenta a fluidez com que se revelam e o quadro geral que se desenha; e apenas pode concluir-se por uma situação na qual todo o T.O., sem qualquer exclusão, acaba por constituir um vasta área de preocupação, na qual dificilmente se podem, no momento, visualizar priorizações.
Este quadro agravar-se á extraordinariamente caso venha a verificar-se a intervenção da OUA no conflito por iniciativa de SEKOU TOURÉ, que não se terá ainda materializada atenta a posição de não-alinhamento do SENEGAL, a todo o momento susceptível d ser alterada, como atrás se referiu.”
4.5.4 – Intervenção do Sr. Chefe da Repartição de Operações, Sr. Ten. Cor. do CEM Pinto de Almeida
O Sr. Chefe da REP/OPER disse, entre outras considerações:
“3. Se não forem concedidos os reforços solicitados e as armas que permitam às NF enfrentar o In actual, para lhe evitar, a breve prazo, a obtenção de êxitos de fácil exploração psicológica e graves efeitos tácticos da maior influência no moral das NT, julga-se que será necessário remodelar o dispositivo, reforçando guarnições que sob o ponto de vista militar se considere essenciais e que permitam, à luz de outras concepções da manobra, desencadear mais tarde acções ofensivas com forças de grande envergadura para recuperação das posições enfraquecidas, ou estruturar uma manobra de feição caracterizadamente defensiva baseada na implantação de um certo número de pontos de apoio a sustentar a todo o custo. Mas neste caso, as missões actualmente dadas às NF, em termos de protecção das populações e apoio ao esforço principal da manobra de contra-subversão centrado na manobra sócio-económica, teriam de ser revistas. E além disso, ficariam também altamente prejudicadas as missões de contra-penetração e de detenção do alastramento da subversão, comprometendo-se dessa maneira, a missão das Forças Armadas no TO.
4. A intenção do In de instalar-se fortemente no BOÉ, já em via de concretização, e de que resultam efeitos psicológicos desastrosos, impõe-nos a ocupação daquela região com Forças Terrestres caso o controlo não possa ser efectuado pela FA. Neste caso haveria que abrir estradas que permitissem a instalação e o reabastecimento das FT a implantar e a sua movimentação. No mínimo seriam necessários 2 Batalhões que, não podendo ser retirados do actual dispositivo do TO, pelas razões já arás indicadas, teriam que ser fornecidos pela Metrópole.
O esforço de Engenharia a desenvolver exigiria o reforço de, pelo menos, 1 Companhia de Engenharia equipada com material adequado.
Como apoio de fogos, tornar-se-ia necessário ainda o reforço com 1 Comando de Bataria de Artilharia e 3 Pelotões de Artilharia (14 cm). Para permitir a segurança das colunas de reabastecimento para e no BOÉ seria ainda conveniente o reforço de, pelo menos, 1 Esquadrão de Reconhecimento.
5. A ameaça de utilização, pelo In, de carros de combate, mesmo em acções de reduzida amplitude, em golpes-de-mão sobre as guarnições mais isoladas da fronteira, aconselha a, desde já, dotar, pelo menos as guarnições indicadas pela Repartição de Informações como mais susceptíveis de ataques deste tipo, de meios que permitam a sua defesa anti-carro. Com o armamento que possuem e com o pessoal treinado para o tipo de guerra que temos enfrentado até ao presente, as guarnições apresentam-se impotentes e inaptas para fazer face à nova ameaça. As necessidades em subunidades adaptadas à luta anti-carro são, como é óbvio, dependentes do tipo e eficiência do material com que forem equipadas.”…
4.5.5 – Intervenção do Sr. Comandante do CTIG, Sr. Brigadeiro Silva Banazol
Da intervenção do Sr. Comandante do CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné), transcreve-se:
“Se do que acabo de expor a V. Ex.ª me é permitida uma conclusão que tudo resuma, eu direi, como se faz nos estudos de situação:
- O CTIG está em condições, desde que reforçado, de apoiar logisticamente a manobra do Comandante-Chefe nas ZONAS LESTE e OESTE, com algumas limitações a N do RIO CACHEU e desde que assegurada a ligação, por meios navais, BISSAU-XIME, condição essencial que impõe sublinhar;
- O CTIG não está em condições de apoiar logisticamente a ZONA DO BOÉ;
- O CTIG depende totalmente dos meios navais para o apoio da ZONA SUL e não o poderá manter se aqueles meios se revelarem insuficientes ou não puderem operar.”
4.5.6 – Intervenção final do Sr. General Comandante-Chefe
Para terminar a reunião, o Sr. General Spínola afirmou:
“De tudo quanto aqui foi dito conclui-se, com clara evidência, que nos encontramos em nova fase de evolução da guerra, à qual temos que fazer face com um mínimo de afectação do curso normal da manobra de contra-subversão traçada...
Chega-se assim à conclusão da impossibilidade de economizar meios com recurso à manobra. E se na concepção inicial da nossa manobra foi possível desguarnecer áreas desabitadas cuja ocupação se não justificava, em ordem a recuperar meios em proveito do esforço que se impunha realizar nas zonas Oeste e Leste para deter o alastramento da guerrilha a áreas densamente povoadas, de forma alguma a situação actual admite semelhante balanceamento de meios, dado o facto de o Inimigo, invertendo a sua concepção face ao desequilíbrio das populações a nosso favor, visar agora a ocupação de uma área territorial com fins exclusivamente políticos.
O crescente potencial do In conjugado com as nossas limitações; as restrições no apoio de fogo da Força Aérea resultante do aparecimento dos mísseis terra-ar; a necessidade de empenhamento de mais meios e mais forças na protecção dos fluxos de reabastecimento, que aqui foi bem claramente acentuado; e o imperativo de defesa e enquadramento das populações que se desequilibrarão em favor do In perante a constatação de qualquer abrandamento na protecção que lhes é dada ou na política de protecção em curso – todos estes factores obrigam, taxativamente, não só à manutenção do actual dispositivo em superfície como até ao seu reforço. Além disso, as intenções do In em relação a áreas pretensamente libertadas obriga ainda ao substancial reforço dos meios de intervenção do Comando-Chefe, ampliado pelas limitações impostas à liberdade de acção aérea. Deste modo afiguram-se-nos manifestamente insuficientes os meios actuais face à evolução verificada, pois considero demonstrada à evidência a impossibilidade de alterar a manobra para economizar meios, sem grave compromisso da missão. Salienta-se que a ocupação do Sul só foi possível à custa do enfraquecimento do dispositivo das Nossas Tropas no Oeste e no Leste, com todos os graves riscos inerentes.
[...]
Neste quadro geral impõe-se tomar medidas em dois planos distintos: o interno, com reflexo imediato nas adaptações aos novos condicionalismos determinados pela nossa quebra no potencial relativo de combate, e o externo, que se traduz no reforço de meios, equipamento e armamento a obter para o prosseguimento da missão.
Quanto ao primeiro plano, já foram tomadas medidas parcelares que vão ser reunidas numa directiva operacional a difundir imediatamente.
Quanto ao segundo, devem os Senhores Comandantes-Adjuntos estudar e apresentar-me, dentro de 48 horas, uma estimativa dos meios necessários ao cumprimento das respectivas missões para serem enviadas ao Escalão Superior, juntamente com a Acta desta reunião.
As implicações resultantes da carência de meios para enfrentar a presente ofensiva do In e o previsível agravamento da situação, conduzem a opções que ultrapassam a minha esfera de responsabilidade, pelo que serão expostas superiormente em ordem a uma tomada de posição de que oportunamente os Senhores Comandantes-Adjuntos tomarão conhecimento.”
Comentário
Esta Reunião de Comandos foi realizada no dia 15MAI73, como consequência do aparecimento e utilização, por parte do IN, de uma nova arma – os mísseis terra-ar STRELA, de fabrico soviético.
O Sr. General Comandante-Chefe concluiu que:
”… nos encontramos em nova fase de evolução da guerra, à qual temos que fazer face com um mínimo de afectação do curso normal da manobra de contra-subversão traçada.”
Outra das suas conclusões foi:
“ Deste modo afigura-se-nos manifestamente insuficientes os meios actuais face à evolução verificada, pois considero demonstrada à evidência a impossibilidade de alterar a manobra para economizar meios, sem grave comprometimento da missão.”
A Acta desta Reunião de Comandos, acompanhada das estimativas, apresentadas pelos Senhores Comandantes Adjuntos, dos meios necessários ao cumprimento das respectivas missões, foi enviada ao Escalão Superior (leia-se Governo de Lisboa).
A propósito dos reforços necessários, refiro como exemplo (Anexo D à acta da reunião) o que o Sr. Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné apresentou como meios aéreos e de defesa aérea necessários:
- 8 aviões SKYVAN, para substituir os DO-27 (transporte ligeiro);
- 5 helicópteros equipados com armamento axial, para substituir os AL-III armados;
- 12 aviões MIRAGE, ou de tipo semelhante, para substituir os T-6 e FIAT G-91;
- Radar de detenção, planimétrico e altimétrico, de longo alcance (não existente);
- Mísseis terra-ar do tipo REDEYE (não existentes).
Mesmo que houvesse meios financeiros suficientes (e muito provavelmente não havia), para adquirir estes meios aéreos, bem como o armamento e equipamento apresentados pelos Senhores Comandantes Adjuntos, o Governo Português, teria grande dificuldade em encontrar quem os fornecesse. Estou convicto que, quer o Sr. General Spínola, quer os participantes nesta Reunião, estavam cientes da dificuldade ou mesmo impossibilidade da obtenção, em tempo oportuno, dos reforços solicitados.
As transcrições do Sr. Comandante Adjunto Operacional, Senhores Chefes das Repartições de Informações e Operações e do Sr. Comandante do CTIG, levam-me às seguintes conclusões:
- Ocupação do BOÉ
Para esta ocupação, de acordo com a intervenção do Sr. Chefe da REP/OER, eram necessários os seguintes meios de reforço, vindos da Metrópole:
- 2 Batalhões
- 1 Companhia de Engenharia
- 1 Comando de Bataria de Artilharia
- 3 Pelotões de Artilharia (14 cm)
- 1 Esquadrão de Reconhecimento
O Sr. Brigadeiro Silva Banazol, na sua intervenção, declarou:
“ O CTIG não está em condições de apoiar logisticamente a ZONA do BOÉ.”
A ocupação do BOÉ, não se realizou.
Recordo que o Sr. General Spínola, no início do seu mandato, mandou retirar as NT da região do BOÉ: 1 Companhia em Madina do Boé e 1 destacamento em Beli. Faça-se a comparação entre estes efectivos e os necessários para a ocupação, apresentados em 15 MAI 73.
- Guileje
Refiro que a acção em força do IN sobre Guidage teve início em 8 MAI e o ataque a Guileje começou em 18 MAI; isto significa que a Reunião de Comandos (15 MAI), teve lugar entre aquelas duas acções inimigas.
Na sua intervenção, o Sr. Comandante Adjunto Operacional (Sr. Brigadeiro Leitão Marques), declarou:
“…No mínimo, e disso não restam quaisquer dúvidas, o In está a preparar as necessárias condições para conquista e destruições de guarnições... GUILEJE... isto está já ao alcance das suas possibilidades militares.”
O Sr. Chefe da REP/INFO referiu:
“...Esta actividade incidirá, mais provavelmente, nas guarnições de fronteira, em especial as mais vulneráveis às acções com carros de combate, pelo que se consideram áreas de preocupação:
- ...
-...e, em especial, as guarnições de... GUILEJE...
No imediato, julga-se que o In:
- ...
- intente uma acção tipo convencional com carros de combate contra...GUILEJE...e visando o aniquilamento ou captura das Guarnições...
Num futuro próximo, prevê-se que o In...
- tente a eliminação sistemática das guarnições mais expostas sobre a fronteira, em acções isoladas de tipo convencional”…
O Sr. Chefe da REP/OPER, na sua intervenção, declarou:
“ 3. Se não forem concedidos os reforços solicitados e as armas... julga-se que será necessário remodelar o dispositivo, reforçando guarnições que sob o ponto de vista se considerem essenciais” ...
Atendendo às transcrições anteriores:
- O Sr. Comandante Adjunto Operacional considerou que já estava das possibilidades militares do IN, a conquista e destruição da guarnição de Guileje.
- O Sr. Chefe da REP/INFO afirmou julgar que, no imediato, o In levaria a efeito uma acção com carros de combate contra Guileje e num futuro próximo, tentaria a eliminação sistemática das guarnições mais expostas sobre a fronteira.
- O Sr. Chefe da REP/OPER, considerou que seria necessário remodelar o dispositivo, reforçando guarnições essenciais. É de supor que Guileje seria uma delas.
Conjugando as 3 considerações supra, penso que é lícito poder concluir que, em coerência, o Sr. Chefe da Repartição de Operações, deveria, no final da Reunião, propor o REFORÇO IMEDIATO da guarnição de Guileje, impedindo a sua conquista e destruição pelo IN, como declarou o Sr. Comandante Adjunto Operacional.
Continua por desvendar o MISTÉRIO que foi a não atribuição de qualquer reforço a Guileje, muitíssimo mais difícil de explicar, face ao que foi referido na Reunião de Comandos de 15MAI73. Quando tomei a decisão de efectuar a retirada - 22MAI, mal sabia eu que, 7 dias antes – 15MAI, ao mais alto nível, em Bissau, tinha sido debatido o assunto, exaustivamente, e as conclusões acabaram por ser, por mais inverosímil que pareça, o sancionamento à minha decisão.
O Sr. Brigadeiro Leitão Marques, na sua intervenção (reunião de 15 MAI), afirmou:
“Quanto às vantagens para manobra psicológica In, não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros tal que possa constituir um elemento de pressão sobre a Nação Portuguesa. A dar-se este facto... tal elemento será aproveitado ao máximo para desmoralizar a retaguarda...”
O mesmo Sr. Brigadeiro, quando me interrogou, em 31 MAI (isto é, 16 dias mais tarde), no âmbito do processo que me foi instaurado, fez-me a seguinte:
“25ª. Pergunta: Quando decidiu retirar tinha ponderado os altos prejuízos para a Nação resultantes desse procedimento?”
Confrontando aquela afirmação e esta interrogação: estamos perante um bom exemplo de HIPOCRISIA.
4.6 – Fim de mandato do Sr. General Spínola
Em 72, o Sr. General Spínola participou em algumas reuniões na Rep. do Senegal, a última das quais teve lugar em 18MAI72, em Cap Skiring, na qual esteve presente o Sr. Presidente Senghor. Estas reuniões tinham a finalidade de tentar uma outra saída para a guerra, baseada no diálogo. Tais encontros foram interrompidos por ordem do Sr. Primeiro-Ministro de Portugal, Sr. Prof. Marcelo Caetano, que terá dito que era preferível um desaire militar na Guiné do que estabelecer conversações com o inimigo.
Entretanto, em 25MAR73, foi abatido, na região de Guileje, por um míssil terra-ar STRELA, o primeiro Avião FIAF G-91 da nossa Força Aérea, tendo o respectivo Piloto conseguido ejectar-se e recolhido pelas NT. O aparecimento destes mísseis provocou grandes condicionamentos à actuação da nossa Força Aérea, com prejuízo flagrante ao apoio às Forças Terrestres e Marítimas.
Em MAI73 o PAIGC, modificando radicalmente a sua maneira de actuar, levou a efeito operações de grande envergadura, empenhando grandes efectivos, apoiados por poderosas bases de fogos. Fez ataques em força, sucessivamente contra Guidage (fronteira Norte), Guileje e Gadamael, com início em 08MAI, 18MAI e 31MAI, respectivamente.
Para descrever a última parte do mandato do Sr. General Spínola, como Comandante-Chefe das Foças Armadas da Guiné, socorro-me do livro “MARECHAL COSTA GOMES – No centro das tempestades” (A Esfera dos Livros – 1ª. Edição: Março de2008), da autoria de Luís Nuno Rodrigues. Nas páginas 101 a 103, pode ler-se:
“...Foi neste contexto que, em Junho de 1973, o CEMGFA Francisco da Costa Gomes se deslocou à Guiné. Ao chegar ao território, presidiu, de imediato, a uma reunião com os principais comandos militares com o objectivo de proceder a uma “profunda análise da situação”. A posição de Costa Gomes relativamente à situação no teatro de operações da Guiné era bastante clara. Na sua opinião, “o desenvolvimento da manobra em curso” e a “manutenção do actual dispositivo” só seria possível mediante a “disponibilidade de volumosos meios adicionais que permitissem o reforço adequado das guarnições de fronteira”. Nisso concordava com Spínola. No entanto, nas condições existentes em Portugal, tanto humanas como materiais, a Guiné não poderia contar com o “reforço adequado de meios por absoluta impossibilidade de os fornecer actualmente”. A solução, sob o ponto de vista militar, passaria pela “ adopção de uma manobra visando o encurtamento de área efectivamente ocupada, evitando-se desse modo a contingência de aniquilamento das guarnições de fronteira que se impõe a todo o transe evitar, atentas as repercussões militares e políticas externas e internas”
[...]
Apesar da oposição de Spínola, Costa Gomes transmitiu a sua ideia a Marcelo Caetano uma vez regressado a Lisboa. Na opinião, a Guiné era “defensável” caso o “dispositivo” fosse modificado, retirando para o interior as guarnições militares que estavam a defender as povoações localizadas junto à fronteira.
Conhecida a posição de Costa Gomes, Spínola escreveu ainda uma carta ao ministro do Ultramar, Silva Cunha, manifestando-se crítico em relação às propostas avançadas pelo CEMGFA. Na sua opinião, “a redução do espaço efectivamente ocupado com vista à concentração de meios que permita aumentar a capacidade de resistência das nossas forças, evitando paralelamente a contingência do total aniquilamento das guarnições de fronteira” era uma manobra que obrigava a abandonar áreas geográficas e, o que é bem pior, a entregar à sua sorte populações a que não podemos fornecer meios adequados de defesa. Ou seja, um conjunto de medidas que “frontalmente se opõem à linha política a que me vinculei, criando-se assim uma situação incompatível com os compromissos que claramente assumi perante as populações”. Ora Spínola não estava disposto a “abandonar áreas e as correspondentes populações em cuja protecção, justa administração e desenvolvimento socioeconómico” se tinha empenhado “pessoalmente”. Apesar de, enquanto comandante-chefe, considerar “absolutamente necessária” a referida manobra, não se mostrava disposto a efectuá-la, uma vez que tal lançaria o “rótulo amargo de demagogia” sobre a sua acção na Guiné até ao momento. Por isso solicitava a sua substituição “ a tempo de possibilitar a alteração do dispositivo militar que é mister fazer”. Spínola regressa a Lisboa no início de Agosto, inicialmente em licença de férias, mas já não voltaria ao território onde granjeara fama.”
O Sr. General Spínola regressou a Lisboa em 6 de Agosto de 1973, terminando assim o seu mandato.
Sr. General Bettencourt Rodrigues (1973/74)
O Sr General Bettencourt Rodrigues iniciou as funções de Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, em 21 SET 73. Regressou a Lisboa pouco depois de 25 de Abril de 1974.
Quando o Sr. General Bettencourt Rodrigues chegou a Bissau, estava eu preso preventivamente; regressei a Lisboa em 12MAI74. Sem acesso a qualquer informação, naquela situação, não me sinto confortável para fazer qualquer consideração sobre a actuação deste Sr. Comandante-Chefe. O Sr. General Bettencourt Rodrigues não teve nenhuma intervenção no auto de corpo de delito que me foi instaurado, como consequência da minha decisão de retirar de Guileje, que já estava em fase adiantada quando o Sr General chegou à Guiné.
Nota – Os elementos sobre Gandembel, foram recolhidos do livro “ A CCAÇ 2317, NA GUERRA DA GUINÉ - GANDEMBEL/PONTE BALANA” da autoria de Idálio Reis (Edição do Autor), que foi Alferes Miliciano da CCAÇ 2317, a única Companhia que ocupou as guarnições de Gandembel/Ponte Balana.
Lisboa, 5 de Fevereiro de 2016
Alexandre da Costa Coutinho e Lima
(Cor. de Art.ª, Reformado)
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Nota do editor
Postes anteriores de:
17 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15759: (In)citações (84): Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 1 (Coutinho e Lima, Cor Art Ref)
e
19 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15768: (In)citações (85): Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 2 (Coutinho e Lima, Cor Art Ref)
19 comentários:
Está aqui um homem que julgo saber do que fala, uma vez que os conheceu de perto e foi obrigado a tomar decisões difíceis devido à situação que lhe foi imposta.
Andei lá, e penso que se o Guileje não tivesse sido abandonado, talvez tivesse ficado lá mais um cemitério das nossas tropas.
Para quem esteve e está de fora, é facil falar e opinar.
Por aqui me quedo.
Um abraço
A. Dâmaso
Assunto mais que estafado.
Fiquei sem perceber qual a intenção, se este “Recall” tem a ver com as ideias repetidas e repetidas e repetidas do sr, Major Coutinho e Lima ou se, à falta de novos temas, é uma manobra do blogue para tentar “ANIMAR A MALTA”.
Se é para animar a malta… muito bem, lá voltam a aparecer os famosos TEPONs (técnicos de porra nenhuma) a explicarem de tudo, desde a maneira como a artilharia só vai à guerra depois de regulada ou como os aviões apoiam a tropa no chão, baixinho e rasteirinho, certamente nunca viram, nem ouviram, nem sentiram o que são bombas de 750 libras a deflagrar a 500 metros das nossas tropas.
Se é apenas mais um devaneio do sr. Major Coutinho e Lima, …
Que falta de senso, comentar a actuação de militares de alta craveira e que tiveram um comportamento distinto em terras da Guiné.
Melhor seria olhar para o umbigo, ou por outras palavras, seguir o conselho de um ilustre que gritou…POR QUE NO TE CALLAS?
Cumprimentos
AMM
Oh António! Karago, pá!
Eu só falo de aviões na perspectiva do utilizador.
É nessa perspectiva que comparo o apoio do cap. Jesus Vasquez, em 1968, a voar tão baixinho que se viam os rebites (será assim que se chamam? dos aviões, com o apoio à coluna Bissau-Farim em JUL73 a 6.000 pés de altitude. Tem que haver diferença. Qual? Sabes melhor do que eu...
De artilharia falo na perspectiva de quem, modéstia à parte, sabe do assunto, por teoria e prática. Claro que há os que falam na perspectiva do observador. Aproveito para esclarecer que a artilharia vai à guerra sempre, mas, se fizer fogo às cegas, é como os aviões e despejar bombas de 750 Lb num lugar qualquer da Guiné profunda...
No geral concordo com a abordagem do Cor. Coutinho e Lima, quer tenha sido feita para "animar o blog", quer tenha sido por outra razão. É uma abordagem aos factos mais relevantes que globalmente determinaram a situação que se viveu durante os últimos meses da guerra.
Por mim, sei que as opções de um ComChefe são as que são e para isso é que tem uma Carta de Comando do tamanho de uma folha A4 escrita com grandes caracteres e todas as opções tácticas ou estratégicas que tomar são boas se resultaram. Se não... lá vem da julgamento da História que começa logo que os resultados são conhecidos e não devemos inibir-nos de criticar só porque são "distintos oficiais generais".
Não sou nenhum TEPON seja isso o que for, mas não prescindo das ideias que cimentei ao longo de vários anos de experiência profissional.
Também não posso aceitar que "se não nos puséssemos a pau ainda ganhávamos aquilo"...
Um Ab. do
António
Pelo que percebi do comentário de António Martins de Matos, neste blogue tem que continuar a vigorar a lógica do quartel, segundo a qual os superiores hierárquicos têm sempre razão, e como tal, digo eu, qualquer subordinado que ouse criticar o comportamento sempre distinto dos nossos oficiais generais deve ser gravemente punido mesmo que já seja civil ou reformado. Será que de há cinquenta e tal anos a esta parte, depois das transformações, que apesar de tudo, tem havido na sociedade civil e religiosa muitos militares não tenham democratizado a sua forma autoritária de pensar e não tenham percebido que já nem a própria Igreja apregoa a infalibilidade dos papas.
Cumprimentos. Francisco Baptista
Que tristeza, a abordagem completamente falsa e enviesada! Não sou dono de nenhuma verdade,cada um pode dizer o que lhe aprouver, mas dói-me o denegrir constante do esforço, da resistência, do comprometimento quotidiano de 40.000 homens na fase final(73-74) de uma guerra dura e violenta, que não iríamos naturalmente vencer, mas na qual fomos tudo menos derrotados. Spínola a fazer chantagem com o governo de Marcelo Caetano em Lisboa, na Guiné a situação difícil, claro, mas o cagaço,o medo de uns tantos comandantes militares. Com os resultados que conhecemos.
Com esta gente, este blogue está cada vez mais triste.
Abraço,
António Graça de Abreu
Caros camaradas
Tenho andado um tanto arredado dos comentários mais extensos do que aqueles que faço (e nem sempre) para dar os parabéns aos aniversariantes (e com esse pequeno gesto dizer-lhes que fico contente com a sua - e minha - prova de vida).
Deve-se isso a vários factores de ordem profissional, familiar e de saúde (nenhuma doença grave, por enquanto, que caiba no inquérito) que me fazem 'não ter tempo' e muitas vezes, disposição, para grandes considerações.
Desta vez atrevo-me a intervir porque me pareceu haver um 'remoque', aqui neste 'post', ao que Coutinho e Lima escreveu, levando isso à conta de "recall" de temas já 'estafados' (já se sabe que os 3 G's são fracturantes, como agora se diz...) e se, "à falta de novos temas, é uma manobra do blogue para tentar “ANIMAR A MALTA”, o que não parece ser problema mas sim o (re)aparecimento dos "famosos TEPONs (técnicos de porra nenhuma) a explicarem de tudo"...
Ora bem, na introdução do escrito do Sr. Cor. Coutinho e Lima está bem expresso o motivo do mesmo, que é longo, cobrindo as suas três Comissões precisamente porque o texto tem por fim (cor)responder ao que tinha sido solicitado (isso sim, um incentivo a 'novos temas') para dar-mos a nossa opinião sobre os desempenhos dos diversos Com-Chefe.
Claro que opinar sobre isso é muito subjectivo, pelo menos para a maior parte de nós, que só apanhámos 1 e eventualmente 2, e mesmo assim com base muito pouco sustentável a não ser por 'sentimentos de impulso' já que não lidámos de perto com as personalidades em causa, excepto um ou outro fugaz 'encontro de 1º grau'. Deste modo é difícil fazer uma 'apreciação' comparativa e distanciada das personagens em questão.
Portanto, para a questão que AMMatos levantou, acho que a justificação/explicação da 'comunicação' de Coutinho e Lima estará dada.
Sobre o seu conteúdo propriamente dito, não me pronuncio. Leio, faço reflexão sobre ele e aguardo 'novos desenvolvimentos'. Admito perfeitamente que se possa não concordar com o seu relato, com a sua 'visão' dos acontecimentos, dos desempenhos, mas não tenho elementos para corroborar nem desmentir, pelo que fico como disse.
Relativamente aos "TEPONs", para além de achar engraçada a designação, não acho mais nada, já que as 'visões' (ou entendimentos) de cada um depende sempre muito de onde se colocam para formular os seus 'pontos de vista'. A experiência diz-me que a "verdade" não está apenas num lado.
Hélder S.
O Coronel Coutinho Lima,assumiu a integral responsabilidade de uma difícil decisão solitária.
"Todo o mundo" se acha no direito de julgá-lo,mesmo vilipendiá-lo.
Então o homem não tem direito ao contraditório?
Forte abraço.
VP
Já depois de ter enviado o meu comentário reparei que há uma nova investida enviesada do António Graça de Abreu.
Que o António tenha uma 'pendência' com o Beja Santos já todos percebemos e até sabemos que entre outras coisas menos claras há pelo menos uma de transcendência insuperável que é o facto do António achar que mais ninguém pode ter tido alguma vez um "diário" a não ser ele.
Já escrevi várias vezes e repito: foi graças ao seu "Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura" que cheguei até este grupo. Que esse livro me foi útil para relembrar alguns factos de que já só tinha uma vaga ideia. Que entendi que o livro, escrito em jeito de 'apontamentos diários' com reflexões a propósito, era um bom reflexo do que então se vivia. Embrenhando-me no livro, segui a pista de comentários que lhe fizeram na internet, alguns deles bastante canalhas e torpes, por parte dos 'patrioteiros' que já nessa altura, 2007/2008, se empertigavam e afadigavam bastante para inverter o sentido do entendimento e 'leitura' que havia dos acontecimentos e que o António apontava "a quente" e com os conceitos e preconceitos que então tinha. Compreendo que se possa mudar de conceitos. Compreendo que se possa mudar de 'visão'. Tenho muita dificuldade, para não dizer impossibilidade, para 'compreender outras coisas'.
"Diários", tenho para mim, que muitos os fizeram. Eu não fiz, mas não me custa nada aceitar que outros o tenham feito. Aliás, para além dos "pecaminosos e plagiantes Diários" do Beja Santos, outros já surgiram por aí. Sinceramente acho que isto é uma falsa questão, cada livro deve impor-se por si mesmo, pelo seu valor, intrínseco, documental, literário, seja pelo que for e a eventual existência de outros com títulos parecidos não lhe fará mossa.
Agora temos também esta 'pendência' com Coutinho e Lima.
O tema é a questão de Guileje. O meio de ataque é o de insinuar cobardia e fraqueza do então responsável pelas decisões que se conhecem. Uma táctica subjacente a isso é a de procurar colar os militares em geral para o combate a quem não tem os seus (dele António e afins) pontos de vista, espicaçando-lhes os brios com a questão da 'coragem': "então andam para aí a dizer que vocês, lutadores corajosos, indomáveis e invencíveis, foram derrotados"? "Acham bem"? Não há a hombridade de perceber que nunca se ouviu dizer que o Joaquim, o António, o Manuel, etc., foram 'derrotados'?
Isto não parece ser um bocado obsessivo?
Hélder S.
Meu caro Hélder
Quais derrotas, quais vitórias, quais diários, quais contra diários?
É simplesmente a nossa História, Guiné73/73. Os factos, a análise, tanto quanto possível justa e correcta, do que realmente aconteceu.
É assim tão difícil de entender?
Abraço,
António Graça de Abreu
Queria dizer Guiné 73/74.
Considerando que fora imposto a Coutinho e Lima a sua 3ª comissão na Guiné, em Guileje, a última sempre pior que a anterior, acabava de sofrer a despromoção pelo gen. Spínola, por ter ido pedir-lhe reforços, sujeitando-o ao vexame de o manter no mesmo palco, tivera de mendigar uma escolta para regressar ao mesmo comando e exercê-lo na condição de despromoção anunciada e, em acrescento a tamanho isolamento e solidão, vir encontrar a posição isolada, com as transmissões desmanteladas, será justa a compreensão da sua decisão da retirada de Guileje, num contexto de desgaste físico e como sujeito de tremenda pressão factual e psicológica, como humanamente genuína e militarmente consciente das consequências para a sua pessoa, apenas com algum défice de consciência do favorecimento que concederia ao In.
Quer se queira quer não, nem Guilele era as Termópilas nem CL foi Leónidas.
Ao trazer à colação a acta da reunião dos senhores da guerra da Guiné, em 18 de Maio de 73, CL presta um estimável ao blogue, salvo erro ou omissão. Voltarei ao tema.
Ab.
...e era tão fácil ao então Major Coutinho e Lima simular uma doença e conseguir uma baixa ao HM 241, mas optou por desobedecer ao Com-Chefe e retirar. Ninguém o pode julgar, quando muito, quem com ele estava em Guileje pode ter uma opinião favorável, ou não, dependendo do seu ponto de vista. Quanto a nós, quem está de fora racha lenha.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Quanto à estafada estória de se ter perdido ou não a guerra, vamos combinar uma coisa.
Os portugueses retiraram, certo? Não perdemos a guerra, pois não? Então perdemos a causa. Que andamos a fazer pela Guiné tantos anos para ao fim de tantos mortos e estropiados virmos embora como se de uma romaria fosse? É ver o contentamento dos últimos guerreiros do império. Daí para cá só temos copinhos de leite, perdão de shots.
O PAIGC não ganhou a guerra, pois não? Então ganhou a causa.
Não sabemos nós que os militares (e os civis armados) fazem a guerra até que os políticos se entendam? Foi o que aconteceu.
Não preferiria Marcelo Caetano sofrer uma derrota militar na Guiné porque isso não implicaria negociações nas outras Províncias Ultramarinas? Por que é que Spínola, de repente se veio embora da Guiné?
Tantas interrogações para as quais se pode ter várias respostas.
Quanto aos célebres diários, semanários, "mensários" e outros registos esporádicos, haja compreensão, ninguém plagiou ninguém, desde os títulos aos conteúdos.
Abraço
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Mesmo sem tempo para grandes considerações, não posso deixar de ter em conta o que o António (Graça de Abreu) escreveu, com a gentileza de, aparentemente, me interpelar.
Ora bem, meu caro António, quando escreves que o que está em causa "É simplesmente a nossa História, Guiné73/74. Os factos, a análise, tanto quanto possível justa e correcta, do que realmente aconteceu", não posso deixar de estar de acordo contigo.
É isso mesmo, "factos" e "análises" (tanto quanto possível... justas e correctas, do que realmente aconteceu.
E é precisamente por isso que normalmente reajo quando procuram impedir que sejam feitas "análises", recorrendo a "factos", exigindo que a "justeza e correcção" dos mesmos seja, apenas e só, fundamentada e à luz da "justeza e correcção" suportada pelos pontos de vista e conceitos e preconceitos de quem critica.
O que "realmente aconteceu"....
E o que foi que realmente aconteceu? A "realidade" é um espelho? Não será antes 'multifacetada'? Não será ela resultado da observação de condições 'objectivas' e sofrendo inevitavelmente influência de 'subjectividades'?
Como homem que lida com à-vontade com a História não me parece 'justo e correcto' que omitas o "processo histórico" e reduzas a História à observação de um acontecimento ou mesmo de um período (73/74). E para "aqueles acontecimentos", o Processo Histórico (ou seja o desenvolvimento encadeado de vários acontecimentos e situações) concorreu fortemente.
E depois, com erros, com imprecisões, com lacunas, mas também com muita e interessante informação, depoimentos e memórias, temos vindo a fazer aqui (não só, mas principalmente) um esforço para melhor nos aproximar-mos de "entender o que é difícil entender".
Perguntas também "Quais derrotas, quais vitórias, quais diários, quais contra diários?". São perguntas pertinentes mas, em verdade, serão mais perguntas minhas, não achas?
Só para terminar, partilho do que o Carlos V relembra, quanto à possibilidade de CeL poder ter optado por uma 'saída airosa' em vez de se expor ao opróbrio, como aconteceu na altura e alguns (sem se perceber porquê tanta raiva, tanta sanha) ainda hoje persistem em continuar.
Também digo que secundo o comentário do Manuel Lomba (há outras ocasiões, comentários, pontos de vista e opiniões em que isso não sucede, mas uma coisa de cada vez...) pois é numa posição idêntica à que ele escreve que eu me coloco perante os 'acontecimentos de Guileje', lendo, ouvindo e reservando-me pois "não estava lá" (nem 'perto'...).
Abraço
Hélder Sousa
Ilustríssimo AGA,
Cordiais saudações.
Penso que a pergunta dirigida ao Camarada HV,não é privada, por isso tomo a liberdade de responder, se assim não for me perdoe.
"Data maxima venia", fica (muito) difícil de entender, como alguns de nós,apesar de sexagenários (septuagenários),ainda não entendemos, que cada um vê os factos como mais lhe convem, ou os dogmas o permitem.
Então, na interpretação dos ditos factos,podemos viajar à vontade...
Quanto ao Coronel Coutinho Lima, é mimh opinião,que mais que qualquer outro, tem todo o direito de se pronunciar.
Forte abraço.
VP
Olá "cambada de marretas"
Sempre que este tema vem à tona..extremam-se posições e pontos de vista e argumentos e muitos muitos "achismos".
Porque será que quem viveu os acontecimentos é normalmente criticado nas suas opiniões.
Porque é que o então major Coutinho e Lima não foi julgado...!!!
Porque é que as informações sobre o IN eram inexistentes ou no mínimo surrealistas...essa de o IN ir implementar posições na região do Boé só podia vir de quem não conhecia a região e apenas olhava para as cartas militares...
Um cordial alfa bravo do marreta-mor
C.Martins
O Blogue está vivo, e congratulo-me!
Foi longa a leitura das 3 publicações de Coutinho Lima, que me sugeriram o aconchego da inocência, face aos argumentos de "prova" que revelaram o laxismo das repartições que falavam baixinho aos ouvidos do ComChefe. Fiquei até com a impressão de o então Comandante do COT seria a pessoa mais interessada em defender Guilege. Por isso arriscou tudo, ou seja, a própria carreira profissional e a estabilidade familiar. Seria a troco da paz que se vivia nas prisões?
Guilege contraria os princípios da autonomia defensiva das praças medievais dotadas com cisterna. Será que nenhum responsável pensou no assunto, ou não acreditaram que o IN pudesse manifestar-se tão fortemente, apesar de fustigado por bombas?
Aquele Comando foi preenchido por 3 ou 4 oficiais num curto espaço de tempo pós-CL, o que indicia algum grau de perturbação das repartições (e do Com-Chefe), que devem ter repetido várias vezes a sua perplexidade pelo des-arranjinho criado por CL. Para aumentar a confusão nos corredores frescos de Bissau, rebentou logo nova frente no norte - Guidage, e transferiu-se a bronca de Guilege para Gadamael.
Daí à urgência de um inesperado dogma (daqueles que nos desresponsabilizam de pensar) das NT com vista ao regresso aos lares metropolitanos, foi um instante inflamado, pois já faltava a paciência para tanta confusão instalada. Se ainda hoje, que a guerra acabou, o pessoal (que não a viveu naqueles lugares remotos ou de exílio) não se entende!!!
Araços faternos
JD
Há poucas coisas mais frustrantes do que ver alguém argumentar de maneira fraca, algumas posições.
O problema com essa linha de raciocínio é que ela evita que se lide com a questão real.
Essa falácia toma a forma de um apelo à emoção. Em vez de aproveitar a oportunidade para se retratar, continua agarrado a velhas versões e omissões.
Excepto os sociopatas, todos são afectados pela emoção, por isso apelos à emoção são uma táctica de argumentação muito comum e pouco edificante.
Ao exagerar, desvirtuar ou simplesmente inverter um argumento, fica mais fácil apresentar a sua posição como razoável ou valida este tipo de desonestidade.
É importante dizer que às vezes argumentos logicamente coerentes podem inspirar emoções, mas o problema e a falácia acontecem quando a emoção é usada no lugar de um argumento lógico.
É geralmente bem fácil encontrar motivos para acreditar em algo que nos favorece, e é necessário uma boa dose de integridade e honestidade genuína, consigo mesmo, para sustentar as suas próprias crenças e motivações sem cair na armadilha das auto-justificações.
As falácias não são apenas um apelo às emoções e aos enganos, mas também reformatam as discussões de forma enganosa.
Ao longo dos anos, o cor. Coutinho de Lima, tem tentado moldar os argumentos de forma enganosa e, obscurece o debate racional e honesto.
"O meio caminho entre uma verdade e uma mentira continua sendo uma mentira"
Cumprimentos,
Constantino Costa
CCavª. 8350
Ainda não li o conteúdo desse 'post' nem de outros correlacionados, nem os respectivos comentários.
No entanto, ao rolar até final destes recentes, aqui ficam já os meus cumprimentos ao camarada-d'armas e amigo Constantino Costa, pela feliz síntese contida no seu último parágrafo, que inteiramente subscrevo, também pelo conhecimento que detenho sobre o assunto: «Ao longo dos anos, o cor. Coutinho de Lima, tem tentado moldar os argumentos de forma enganosa e, obscurece o debate racional e honesto.»
E atrevo-me a relembrar, uma vez mais, um dito de Ésquilo:
– «Na guerra, a primeira vítima é a verdade».
Um abraço.
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