Banho de chuveiro
Como a chuva escorre e lava
A mole dura dum penedo,
A catarata em fúria escorre
No ventre à mostra da escarpa.
O ribeiro astuto sulca o campo verde
Dum fio de água.
E a onda branca
Se espraia em espuma sobre a areia,
Assim, não tendo mar,
De corpo e alma
Me purifico,
Nos breves minutos dum chuveiro.
Berlim, 18 de Fevereiro de 2016
8h16m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
************
O terror das artrites
Passou a vida em lufa-lufa.
Primeiro, a correr a pé.
Depois bicicleta, a pedalar.
Só descansava nas descidas.
Depois, ao volante,
Desfazendo curvas
Desde o chão até às nuvens.
No comboio longo,
Furando túneis
E inundando campos
Com a verdura incandescente.
Atravessou o mar
Como um peixe leve
À tona d’água.
Experimentou alturas
Onde, sereno, reina o sol
Para lá das nuvens.
Por uns dias só,
Sentiu o cheiro acre
Da cama e fardas brancas
Dum hospital.
E viu a morte.
Foi em Coimbra.
Mas teve sorte.
Depois da alta.
Eis que a anca,
Sem saber a tinha,
Se queixou aflita.
Pela calada,
Fora atacada
Impiedosamente,
Artrite aguda.
Se recusa andar.
Só outra nova!...
Berlim, 14 de Fevereiro de 2016
8h2m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
____________
Nota do editor
Último poste da série de 17 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15762: Blogpoesia (437): "Quem Sou Eu?" (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)
3 comentários:
Caro Joaquim
Já tenho escrito que me falta o 'jeito' para a poesia mas acho interessante quem consegue transmitir dessa forma as suas ideias.
Li os dois poemas.
Fiquei preocupado, principalmente com o da "artrite"....
Mera figura literária ou anda por aí consequências do 'passar do tempo'?
Abraço
Hélder S.
"Artrites" consequências do "P.d.I."
Malvadamente...é uma artrose na anca que me agarrra ao chão...só com uma prótese.
Vou tratar disso.
Um abraço, amigo.
Enviar um comentário