1. Mensagem do António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, nosso camarada, ex-alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 170 referências:
Data: 4 maio 2016, 22:02
Assunto: Lançamento do livro "Haikus do Japão e do Mundo", de António Graça de Abreu | 10 Maio 18h30
Meu caro Luís;
É o meu livro novíssimo [, edição da Gradiva, Lisboa, vd. aqui página do Facebook].
Parece não ter nada a ver com a nossa Guiné mas em 540 mini-poemas estão lá cerca de vinte haikus meus sobre nós, na nossa guerra na Guiné.
Acho que já foram publicados no blogue, em blogpoesia aí há um ano (*), mas até nos haikus do Japão a Guiné aparece.
Agradeço-te a divulgação. Gostava de ter lá alguns camaradas da Guiné, e de ler dois ou três haikus sobre a nossa guerra. (**)
Para que as outras pessoas não esqueçam.
Forte abraço amigo.
António Graça de Abreu
_______________
Notas do editor:
´(*) Último poste da série > 8 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14332: Blogpoesia (402): Um haiku à moda do Japão, em Dia Internacional da Mulher (António Graça de Abreu)
(...)
Envelhecemos.
Meio século após a Guiné,
beber os últimos prazeres da vida.
Nem derrotas, nem vitórias,
o fluir sinuoso das vontades dos homens
por dentro das lágrimas do tempo.
Nem flores do verde pino
nem o ondular das florestas.
Apenas bolanhas a ferro e fogo.
A menina mandinga
veio comer à minha mesa,
os olhos raiados de tristeza.
No Morés, laranjeiras rubras em flor
ou serão flores da guerra,
desabrochando em sangue, em calor?
Sangue e morte em Cufar,
a demência por dentro da noite.
Abraço a minha espada de guerra.
Guerra e paz em Mansoa,
nós, o coração esfarrapado,
no sonho breve, adiado,
do regresso a Lisboa.
Uma íbis negra na foz do Cumbijã,
sacode as asas na névoa da pólvora
e esvoaça no horizonte azul.
Varri o chão, perfumei o leito,
mas a bajuda não veio.
Eu sou branco e feio.
Na humidade quente dos dias da guerra,
no leito de ferro,
no colchão de borracha enegrecida,
recordo o perfume faiscante
das dobras do teu corpo,
menina de seios de linho e alabastro.
Adormeci abraçado a ti.
Ao acordar,
apenas o rumor cálido
da ausência e do vazio. (...)
Meio século após a Guiné,
beber os últimos prazeres da vida.
Nem derrotas, nem vitórias,
o fluir sinuoso das vontades dos homens
por dentro das lágrimas do tempo.
Nem flores do verde pino
nem o ondular das florestas.
Apenas bolanhas a ferro e fogo.
A menina mandinga
veio comer à minha mesa,
os olhos raiados de tristeza.
No Morés, laranjeiras rubras em flor
ou serão flores da guerra,
desabrochando em sangue, em calor?
Sangue e morte em Cufar,
a demência por dentro da noite.
Abraço a minha espada de guerra.
Guerra e paz em Mansoa,
nós, o coração esfarrapado,
no sonho breve, adiado,
do regresso a Lisboa.
Uma íbis negra na foz do Cumbijã,
sacode as asas na névoa da pólvora
e esvoaça no horizonte azul.
Varri o chão, perfumei o leito,
mas a bajuda não veio.
Eu sou branco e feio.
Na humidade quente dos dias da guerra,
no leito de ferro,
no colchão de borracha enegrecida,
recordo o perfume faiscante
das dobras do teu corpo,
menina de seios de linho e alabastro.
Adormeci abraçado a ti.
Ao acordar,
apenas o rumor cálido
da ausência e do vazio. (...)
(**) Último poste da série > 29 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P16030: Agenda cultural (477): Ciclo de conferências 2016: "A censura na Ditadura Militar e no Estado Novo (1926-1974)": Museu Bernardino Machado, V. N. Famalicão, hoje, às 21h30, entrada gratuita
4 comentários:
Dos 900 anos de Portugal, metade desse tempo foi navegando, principalmente para sul, como faz António Graça de Abreu.
Foram vidas com sentimentos muito especiais, para quem ficou, para quem regressou, e para quem nunca parou.
Cumprimentos
A.Abreu
Dizer que me identifico totalmente com esta poesia, não chega.
Que ao lê-la sinto um arrepio e que a emoção me deixa os sentidos em pé, é pouco.
Não tenho palavras que consigam explicar o que sinto ao ler algo que causa saudade, sentimento de perca e dor ao mesmo tempo.
Dia 10 gostava de lá estar. Vou tentar
Um abraço
Com a devida vénia ao portal Infopedia - Dicionários Porto Editora
Chegada dos Portugueses ao Japão
Os Portugueses chegaram ao Japão em 1543. O Japão era conhecido desde o tempo de Marco Polo, que lhe chamou Cipango. Mas foram efetivamente os portugueses os primeiros europeus a chegar ao Japão. Põe-se ainda hoje a questão de saber quem foram esses primeiros portugueses: se Fernão Mendes Pinto (autor de Peregrinação) fazia parte deles, ou se foram António Peixoto, António da Mota e Francisco Zeimoto. O que é certo é que comerciantes portugueses desde logo começaram a negociar com o Japão. A partir de 1550, o comércio com o Japão passou a ser um monopólio, sob chefia de um capitão-mor. Como em 1557 os portugueses se estabeleceram em Macau, na China, isso vai ajudar o comércio com o Japão, principalmente de prata.
Os missionários desde o início vão entrar também no Japão. É em 1549 que chegam os primeiros, entre eles São Francisco Xavier, que progressivamente vão penetrando pelo Japão, chegando a Nagasáqui em 1569, que foi doada aos Jesuítas em 1580. E entre 1582 e 1590 realiza-se a primeira embaixada do Japão à Europa. Em 1587 dá-se uma reviravolta na posição de proteção aos missionários, sendo os Jesuítas expulsos.
O contacto entre as duas civilizações deixou marcas duradouras. A língua portuguesa foi, no início, o meio de comunicação dos estrangeiros com o Japão. Ainda hoje há inúmeros vocábulos de origem portuguesa. Foi com os portugueses que entrou no Japão a imprensa de tipos metálicos, sendo um missionário português quem escreveu a primeira gramática da língua japonesa. Foram também os portugueses que introduziram no Japão as armas de fogo, além de novos conhecimentos nos domínios da medicina, astronomia, matemática, além de ensinarem a arte da navegação dos portugueses.
In Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2016. [consult. 2016-05-05 13:25:17]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/$chegada-dos-portugueses-ao-japao
Mais uma amostra da minha mini-poesia para as grandes mulheres, as fadas das nossas vidas.
Vem tudo, a lascividade perfumada e muito mais neste meu livro novo.
Abraço, e amem as mulheres que nos merecem tudo.
António Graça de Abreu
296
As minhas mãos nos teus seios,
montículos de seda cor de rosa,
tépidos flocos de neve.
297
Perfeitíssimos
os teus seios.
E duas framboesas.
298
A seda dos teus seios
no molde dos meus dedos.
Hoje não vou lavar as mãos.
299
Entro no teu jardim.
Aberta para mim,
uma flor de marfim.
300
A tua roupa
esconde a música do céu.
Dispo-te.
301
Beijos, carícias rendadas
dos meus lábios,
música sumptuosa no teu corpo.
302
Nua. Com os lábios teço,
na perfeição do teu corpo,
um vestido de ternura.
303
Partir-te ao meio,
embrulhando cada metade em mim.
Comer-te.
304
É sexo, é amor,
é poesia.
Todo o teu corpo é magia.
310
Uma flor na névoa.
O teu pequeno pavilhão de cereja
abre-se para mim, como um livro.
311
Sou um hífen à solta
pousado
no mel do teu ventre.
333
No duplo jade do teu corpo,
teus seios de fruta e avelã.
Meus lábios em viagem.
334
Para eu viajar em ti
entreabres a flor
adormecida no teu ventre.
335
Acaricio
o teu monte de jade,
fresco como musgo verdejante.
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