terça-feira, 3 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16044: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (44): Os desentendimentos constantes entre alguns PALOP e Portugal... A luta continua.!...

1. Mensagem de António Rosinha;

[um dos nossos 'mais velhos', que andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado... Fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62, diz que foi 'colon' até 1974... 'Retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'; é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho']

Data: 22 de abril de 2016 às 22:32

Assunto: Os desentendimentos constantes entre alguns PALOP e Portugal... A luta continua!


Lembramo-nos há uns anos no Estádio do Sporting do encontro "amigável" da Selecção Portuguesa e da Angolana com as canelas do Figo e do João Pinto e Cia, de um lado e do outro, Mantorras e as canelas dos "Meninos do Huambo".

Aquilo deu para o torto, e já não havia mais bola, só havia canelas.

Isto é um exemplo para se  tentar compreender  porquê, tantos desentendimentos entre nós e eles/eles e nós.

Podemos afirmar à partida, que é difícil vencer  complexos  e  melindres.

E os piores complexos, são provocados pelo facto de os políticos portugueses só falarem português, não sabem falar nem quimbundo, nem balanta nem landim, daí não entenderem nada de nada, mesmo com 500 anos  a ir e a vir.

E  os políticos desses países africanos, todos falam português mais os próprios idiomas, portanto têm  muito mais acuidade para dar a volta aos acontecimentos e defender e usar qualquer tipo de verdades  que entenderem, mesmo que sejam demagogias puras.

Já houve atritos e dificuldades de entendimento diplomático com Angola, com a Guiné e com Moçambique por várias vezes, desde as independências até hoje.

Aparecem os casos mais incríveis, que até parece  que nos damos todos "irmamente como inimigos"

Sendo que o relacionamento com Angola, o mais intenso com Portugal, é o mais notório.

Exemplos imensos, foram casos para resolver a devolução da Barragem Cabora Bassa aos Moçambicanos, vários anos e vários governos com avanços e recuos  intermináveis e montes de prejuízo para quem tinha os custos da manutenção da barragem (Portugal)

Com a Guiné também problemas múltiplos (Por amor a L. Cabral, contra Nino, zanga por M. Soares reclamar contra os fuzilamentos, tensões com a Guiiné/ Senegal em 1998,  e ainda há dois ou três anos, por causa de Cadogo, quase de relações cortadas).

Com Angola, é um caso mais bicudo, porque quanto maior a nau, maior a tormenta. Se durante a guerra angolana, algum político português apoiava um dos  lados, o outro reclamava que os portugueses ainda se " julgam"  imperialistas, racistas e colonialistas, e vice-versa, vira  o disco e toca a mesma.

Veio a paz, e agora, se não é o BESA  é outro banco qualquer, e se não é o Bloco é o Luaty, e se não é a Isabel  são os Espanhóis,  e se não houver mais nada para  discutir, põe-se em cima da mesa o racismo tuga, se este seria melhor ou pior que o apartheid dos outros colonialistas.

Este eterno complexo da " incipiente" colonização/exploração portuguesa que deixa complexados colonialistas e colonizadores, que nalguns casos nem  sabemos bem quem é que esteve de um lado ou do outro, quem é que explorou quem,  se   o preto ou o branco em África se o brasuca ou o portuga no Brasil, e é tal o complexo, que no fim de cada melindre diplomático fica-se sempre naquela do "pergunta o roto ao nu" porque não te vestes tu?

É muito difícil aos governos portugueses, uns a traz dos outros, evitares estes e outros constantes atritos com os governos do MPLA, PAIGC, e FRELIMO,  e ninguém se questiona porquê.

Quando as respostas seriam simples, muito simples, sendo que a principal é a falta de saber falar de igual para igual, quer de um lado quer do outro.

Mas a maior dificuldade está do lado português porque a maioria dos políticos portugueses, sem sentirem, estão muito virados para a Europa e de costas para os nossos 500 anos de Ultramar.

Esta minha conversa é conversa de RETORNADO, que voltarei ao tema , se interessar ao blogue, pois há muitas desmistificações a fazer com as demagogias dos anti-colonialismos demagógicos que baralharam todas as partes.

Até à próxima se o assunto interessar para a história da guerra da Guiné, porque "a luta continua" e está para durar.

Cumprimentos

Antº Rosinha

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