sábado, 3 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16796: Blogoterapia (284): De Lisboa a Gaia para levar um abraço ao Zé Ferreira da Silva, autor das "Memórias Boas da Minha Guerra" (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto, CCS/BCAÇ 3772, Galomaro, 1971/74)



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 25 de Novembro de 2016, falando da sua vinda a Vila Nova de Gaia para assistir ao lançamento do livro, da autoria do outro nosso camarada José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra".

Juvenal Amado
Levantei-me e tomei um comprimido para a tensão arterial (coisas da idade) enquanto preparava o pequeno almoço. Estava excitado e algo preocupado pela jornada que se aproximava. Sou um provinciano e tomar os transportes públicos em Lisboa ou arredores, ainda é confuso para mim.

Tinha resolvido ir ao lançamento do livro do José Ferreira de comboio e, para isso, começava por apanhar o metropolitano na Reboleira, que me levará a Santa Apolónia, para seguidamente no Alfa Pendular rumar até às Devesa, em Gaia.

Pelas 8 e 10 depois de carregar o cartão (uma modernice) que me dá o direito a viajar no Metro, tomo lugar no mesmo. Não tem ainda muita gente, facto que vem a acontecer duas paragens após, onde a composição ficou a abarrotar, a ponto de ficarem dezenas de utentes no cais sem terem lugar. Tinham assim que esperar por outro ou outros comboios. A Jornada de trabalho começa cedo e acaba bem para lá da hora de expediente, se contarmos o tempo despendido em transportes.

Aproveitei para apreciar o ambiente, onde se comprimia gente de todas idades cores. Haverá sempre quem usa os inconvenientes para se divertir, às tantas, uma jovem com cabelo à Angela Davis (activista negra pelos direitos cívicos dos negros americanos dos anos 60) dando largas a um humor muito urbano, diz alto e bom som: “dispam-se já todos para arranjarmos lugar para mais um”. Íamos todos tão comprimidos que, só facto de tirarmos a roupa se arranjaria mais um lugar. Alguns riram-se, outros mantiveram o rosto fechado, pois entenderam que a situação não tinha graça nenhuma, ou que era hora imprópria para boa disposição.

Após os Restauradores, foi notória a diminuição do fluxo de utentes e, depois da Praça do Comércio, já só ia uma dúzia, se tanto, de pessoas que saíram comigo na estação. Subi o mais rapidamente as escadas e dirigi-me às bilheteiras. Fui recebido por uma jovem e simpática funcionária, com um sorriso a lembrar outros tempos, que para além de vender o dito bilhete, me explicou como devia proceder para fazer a ligação para a estação do Oriente, pois só lá é que tomaria o bendito Alfa.

Correu tudo como previsto. Duas horas e meia depois desembarcava em Gaia. Estava um dia maravilhoso com uma leve aragem fresca, que não incomodava, e rapidamente cheguei à rampa do Mosteiro da Virgem do Pilar, do lado do miradouro, que não conhecia embora tenha estado no RI6 aquando do meu serviço militar.

Fiquei maravilhado com o Douro e as duas margens, os barcos de turismo, o trânsito na ponte Luís I e o jardim circundante onde “rapazes da minha idade” jogavam às cartas em vários grupos. Razão tem a canção onde o Rui Veloso canta as palavras de Carlos Tê, pois depara-se com um cenário grandioso e majestoso.

Porto Sentido

Quem vem e atravessa o rio 
 junto à serra do Pilar,  
vê um velho casario 
que se estende até ao mar.

Quem te vê ao vir da ponte,
és cascata, são-joanina,
dirigida sobre um monte 
no meio da neblina.

Mas eu não estava ali só para apreciar as vistas. O tempo voou.

Acabei por dar de caras com os irmão Carvalho (o António o Manuel) e o Francisco Baptista, que depois dos abraços do costume, fizemo-nos ao caminho para no quartel assistir à cerimónia, dar um abraço ao José Ferreira e felicitá-lo pelas suas estórias de que sou incondicional admirador.

A sessão foi o que se esperava com a devida pompa e circunstância, o Zé no uso da palavra, acabou por nos fazer rir com pequenas estórias ao falar dos intervenientes a que ele deu vida nas páginas do seu livro e que passam por isso a co-autores.

Foi um dia bem passado e, de regresso à Reboleira,  já passava da meia-noite, estava cansado, mas valeu a pena ir de Lisboa a Gaia, só para levar um abraço ao Zé.

Quanto ao livro é para saborear.

No dia 17 de Dezembro vai haver festa novamente, pois os livros são sempre uma festa, e o do Zé é de arromba.

Um abraço para todos
JA






Fotos: © Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16773: Blogoterapia (283): Memórias que me acompanham (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493)

7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É de mouro, Juvenal, é de mouro!.. De ir de Lisboa (Santa Apolónia) a Gaia (Devesas(m de cu tremido, no Alfa Pendular,, para dar um abraço a um amigo e camarada,. de armas e agora de letras, o Zé Ferreira!

... E a verdade é que não saíste da "mouraria"... Portugal começa no Porto, na margem direita do rio Douro e acaba na margem esquerda do Rio Minho... O resto é o Sará!...

És filho de monge alcobacense (todos os alcobacenses são descendentes dos monges de Cister, grandes senhores feudais, com privilégios como o "jus fodendi", ou seja, o direito de dormir na primeira noite de núpcias com as filhas dos seus servos...)... Filho de monge alcobacense, que vivia até há pouco à sombra da azinhera de N. Sra. de Fátima, e que se vê agora desterrado para as terras saloias da Reboleira, Amadora... Enfim, não ouviste, por certo, contar o que os tripeiros dizem da Gaia, que ficava do outro lado do rio: "Mais vale meio Porto que a Gaia toda!"...

Pois é, Juvenal, da Serra do Pilar bê-se a Inbicta!... Põe-te em sentido e fica um minuto sem respirar!... E agora rebobina o filme do brutal cerco do Porto (entre julho de 1832 e agosto de 1833), com os miguelistas, em braço de ferro e fogo contra os bravos liberais que defendiam o Porto, até à última gota de sangue, e o reduto da Serra do Pilar (!).. Dizer Porto e Serra do Pilar é dizer Liberdade!... Portugal não seria o mesmo se os sitiados capitulassem nesses anos da graça de 1832/33...

Das nossas "guerras civis", esta terá sido uma das mais brutais!... Todas essas pedras que pisaste estão cerregadas de história, e que história!...A Liberdade tem um preço, e quase sempre muito alto!

Independentemente da história, estiveste num dos sítios mais belos, cinematograficamente falando, do nosso país e da Europa...

Um abraço festivo e natalício para os nossos dois camaradas e escritores, o Juvenal Amado e o Zé Ferreira da Silva!... tenho pena de não pdoer chjegar a tempo à festa do dia 17, em Crestuma, mas sei que o Carlos Vinhal representar-nos-á a todos muito bem!... LG

Carlos Vinhal disse...

Também se diz que vale mais uma rua do Porto "ca" Gaia toda.
Carlos Vinhal

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Carlos, essa é que é a frase correta: "Vale mais uma rua do Porto ca Gaia toda"... Já não faz sentido hoje, mas ainda se usa... Rivalidades de vizinhos... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não foi um mouro, foi por certo um morcão o autor desse "dito sentencioso"...Hoje Gaia é uam cidade e um concelho pujantes, e é impensável "pensar" o Porto sem Gaia e vice verso... Os concelhos ribeirinhos e vizinhos são irmãos siameses... Apesar dos seus erros de planeamento urbano, gosto de Gaia onde passo o Natal e veio com alguma frequência durante o ano...

Esse preconceito de antigamento era o dos citadinos em relação aos vizinhos rurais... Lisboa também tratava assim as terras vizinhas, dos "saloios"... Almada, do outro lado do rio, só era conhecida pela "universidade de Cacilhas"... Enfin, "ideias feitas" que só revelavam desconhecimento, sobranceria, desprezo pelo "outro", o nosso viznho... e irmão.

Há muitos ditos destes, alguns com humor, outros completamente idiotas, comparando terras umas com as outras... Ou depreciando umas em relação a outras... "Tu julgas que eu sou da Lourinhã?", era uma delas, vulgarizou-se nhos anos 30 do séc. XX... Eu sou da Lourinhã (="terra dos parvos")... "Amigo de Peniche" é também um "insulto"...

Juvenal Amado disse...

Os bairrismos e as rivalidades entre os ditos e até ruas é uma coisa que se foi esbatendo embora nem sempre.
Por altura da expo 98, a esposa de casal amigo dos arredores do Porto, queixava-se de não ter lá ido ver a exposição porque o marido não aceitava sequer o cheiro de Lisboa. Dizia ela, que o Nelo até quando ia para o Algarve, passava logo na ponde de Vila Franca de Xira para não pisar chão de Lisboa. Mas isto era a sério.
O regionalismo estendeu-se aos clubes de futebol ou foi também por causa deles. Quem não ouviu falar do antagonismo já de tempos passados entre o Salgueiros, o Porto ou o Boavista ou na versão mais ao Sul do Sporting, Benfica, Oriental ou Belenenses?
Em Alcobaça haviam dois clubes de futebol amadores, que seriam o Comércio e Industria e o Ginásio e segundo me contaram era eu criança, a rivalidade era terrível.
Quando fizeram um referendo sobre a regionalização, onde nomes sonantes apareciam a defender essa mesma divisão, o medo dessas rivalidades deve ter pesado no voto de muita gente.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Felizmente que não temos, em Portugal, as divisões, as tensões e os conflitos das "regiões", como acontece com a Espanha, a Itália, a Bélgica, a Grã-Bretanha e outros países europeus... Viu-se, ainda recentemente, o que pode acontecer com uma "diabólica caixinha de Pandora" como a antiga Jogoslávia...

Afinal, somos, Portugal uma velha nação... Há quem nos tranquilize com isso... Estas "tricas" entre nortistas e sulistas, ou melhor, entre "morcões" e "mouros" são fantasmas do passado que, de vez em quando, dá jeito ressuscistar por alguns senhores que gostam de ter tempo de antena, no Porto e em Lisboa...

Em boa verdade, a rivalidade entre as duas cidades mais importantes do país não é assim tão antiga quanto se pensa, remonta aos finais do séc. XIX: revolta (republicana) de 31 de janeiro de 1891 e o surto de peste bubónica no 2º semeste de 1899, que levou ao estúpido cerco (sanitário) do Porto, inmposto pelo governo de Lisboa, chefiado por José Luciano de Castro ...Penso que o ódio (às vezes patológico) aos "mouros" de Lisboa vem, sobretudo dessa época, embora tenha raízes históricas. O Porto foi sempre uma cidade "burguesa", liberal mas conservadora, ciosa dos seus privilégos e reativa às t6entativas da igreja, da nobreza, da coroa ou do estado centralizador em lhe pôr a pata em cima...

Rivalidades entre vizinhos ? Temos Braga e Guimarães, Coimbra e Figueira da Foz... A nível local, concelhio, poderíamos encontra muitos exemplos mais...Rivalidade entre concelhos, freguesias, vilas, aldeias, bairros, ruas, associações...

O "Homo Sapiens Sapiens" é estupidamente um "animal predador" territorial e social...Temos que marcar, química, fisica e simbolicamente, o nosso "território"... A gente estamos sempre a esquecer que somos "bestas", animais, mamíferos, primatas, agressivos, propensos ao conflito e à guerra...

Antes fossemos, Juvenal, "criaturas de Deus"!... Como obra-prima de Deus (ou dos deuses...) teríamos a obrigação de ser perfeitos... Essa história da serpente e da mação, contada p0elos mais velhos aos jovens hebreus, não me convence...

Unknown disse...

Foi um prazer ter a tua companhia e dar-te um abraço, Juvenal.
Acabou por ser uma tarde em grande.
Se tivesses ficado no Porto ou Gaia para descansares, jantarias connosco.