[Foto à esquerda, Angola, 1961
(i) acaba de ultrapssasr as 100 referência no blogue, este beirão;
(ii) é um dos nossos 'mais velhos';
(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;
(iv) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62;
(v) diz que foi 'colon' até 1974;
(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';
(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;
(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';
(ix) pelo seu bom senso, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, mesmo quando as nossas opiniões podem divergir;
(x) Ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]
Data: 16 de fevereiro de 2017 às 21:54
Assunto: Pelo mundo, ninguém aprecia os nossos Generais, só os nossos Santos.
Grandes africanistas portugueses, principalmente militares, eternizaram os seus nomes em vilas e cidades, baias e promontórios e fortalezas. pelas várias colónias portuguesas.
Penso que foi errado porque essa eternização foi errada…não foi eterna, teve um fim.
Teve um fim porque os militares não eram santos.
Se fossem usados nomes de Santos como se fazia antigamente, ainda hoje tínhamos muitos santos espalhados pelo mundo.
Por exemplo na Guiné, já não há Teixeira Pinto,(Canchungo) mas ainda temos bairro de Santa Luzia, jangada de São Vicente.
Até mesmo cá, se a ponte de Lisboa, se fosse ponte Santo António de Lisboa, não seria preciso arrancar a placa do outro António.
Dá a ideia que só se começou a usar nomes militares em vez de santos, com o aparecimento de Pombal e a maçonaria e a independência do Brasil.
No Brasil ainda hoje temos lá desde a Baia de todos os Santos, São Salvador, São Sebastião do Rio de Janeiro, Santos do Pélé, São Paulo, São Bernado, Santo André, São Caetano, Santa Cruz (várias), São Januário, Estado do Espírito Santo, etc. etc.
Conheço várias cidades brasileiras, não vi nenhuma cidade ou rua Pedro Alvares Cabral, nem Padre António Vieira.
Então no Cao de Angola quetirando a Vila Salazar que caíu este porque não era santo e ficou Dalatando, e nem era africanista nem lá pôs os pés, e a cidade de Carmona, que hoje é Uige, todos os outros nomes foram em geral militares e grandes africanistas. E com um grande espírito colonialista.
Mas já não há nenhum desses nomes porque nenhum era santo. Ele era Vila Pereira d'Eça, (N'Giva), vila Roçadas, (Humbe), Vila Henrique Carvalho, (Saurimo), cidade Serpa Pinto, (Menongue), Vila Paiva Couceiro, (?) e para ficar por aqui termino com a vila geograficamente mais central de Angola, Vila General Machado que ficou com o nome indígena Camacupa..
Nesta Vila General Machado (Camacupa) há, ou havia, no fim da guerra MPLA/UNITA, nunca se sabe o que sobrou, um marco geodésico que é considerado o centro de Angola.
José Joaquim Machado [Lagos, 1847 - Lisboa, 1925], bisavô materno do escritor e nosso camarada António Lobo Antunes Fonte:Cortesia de Wikipédia |
E é por causa desta Vila de Camacupa, ex- General Machado, que para mim é muito célebre, como outros generais que deram nomes a outras vilas, mas este especialmente, é que me deu na cabeça para escrever sobre esta dos nomes de generais espalhados pelas colónias.
Então não é que este homem que dedicou parte da sua vida colonial no comboio que levaria um pouco de modernidade às terras do fim do mundo aos "Cus de Judas", é um dos avós de António Lobo Antunes, o nosso escritor que várias vezes já foi referido nesta tertúlia?
Fiquei surpreendido e inspirado para este post, ao ler a revista Visão desta semana que termina [vd. crónica de António Lobo Antunes, "A minha família^", Visão, nº 1250, de 16/2 a 22/2/2017, pp. 6-7)
Luís Graça, se houver espaço e tenha interesse fica ao teu dispor.
Boa noite e um abraço,
Antº Rosinha
2. Comentário do editor CV:
E os topónimos, Rosinha, os nomes das nossas terras (do "Puto"...) que levámos para as terras de além-mar ? Na Guiné, não havia muitos, mas lembro-me de alguns (onde nunca estive); Nova Lamego, Nova Sintra... Já em Angola, que tu conheceste bem, eram mais, a começar por Nova Lisboa (hoje Huambo)...Mas isso aconteceu em todo o lado: veja-se o Brasil, veja-se a América, que foram grandes colónias... Os europeus chamavam Novo Mundo às terras que estavam do outro lado do Atlântico: por exemplo, New York / Nova Iorque, Também havia uma Nova Lamego (em Angola) e uma Nova Sintra (em Cabo Verde)...Há um município de Santarém, no Pará (Brasil)... E por aí fora.
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Nota do editor:
Últimos poste da série, do ano de 2016 > :
12 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16079: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (45): A brutal emboscada do dia 22/3/1974, na estrada (alcatroada, construida pela TECNIL ) Piche-Nova Lamego: só por negligência, propositada ou intencional ou casual, estes casos podiam acontecer... É coincidência apenas, ou as Forças Armadas só já estavam preocupadas com outros valores?...
3 de maio 2016 > Guiné 63/74 - P16044: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (44): Os desentendimentos constantes entre alguns PALOP e Portugal... A luta continua.!...
30 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15913: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (43): Os receios europeus de um antigo colonialista português, gen Norton de Matos, em dezembro de 1943
22 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15781: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (42): A unidade que os cabo-verdianos ajudaram a criar
5 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15748: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (42): As riquezas das matéria primas africanas e as fantasias criadas
16 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15623: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (41): o que foi mais devastador para o PAIGC foi precisamente a campanha psicológica spinolista por uma "Guiné Melhor"
8 comentários:
Obrigado, Rosinha, pela "dica"... Se não fosses tu, lá me escapava a leitura da crónica do nosso camarada António Lobo Antunes na revista "Visão"... A minha mulher é assinante da revista, e sou sempre eu que a recebo, no meu endereço profissional, e a trago para casa, às quintas feiras... Quando a recebíamos em casa, a entrega não era regular, não conseguimos apurar de quem era a culpa... Havia semamas em lá recebíamos a "Visão" em triplicado (a dessa semana e das duas semanas anteriores)... O serviço de entrega ao domicílio era, portanto, deficiente... Agora não falham, recebo-a direitinha no meu gabinete com o resto da correspondência...
Já fui leitor dedicadíssimo da "Visão" e demais imprensa escrita ("Público", "Expresso", etc.) mas há meses e meses que não a abro... Tenho andado "autista" e indiferente ao que se passa no mundo... Talvez amuado ou zangado com o mundo, o que não me adianta absolutamente nada, que o mundo está-se c... para as minhas zangas, amuos, angústias, depressões... Reconheço que é um mau sinal: um dia destes acabo no consultório de um psi, como o Lobo Antunes... E em casa já tenho que chegue, tenho dois "psis"... E é costumo dizer-se, seguramente com exagero, que "uma vez no psis, ficas no psis para o resto da vida"...
Mas ainda bem, Rosinha, que tu estás atento e, com o teu olho clínico, não deixaste escapar esta, aparentemente insólita, ou no mínimo inesperaa, ligação (familiar) do nosso próximo prémio Nobel da Literatura a um homem que marcou a história e a geografia de Angola, a tua, a nossa Angola do coração, o capitão, o major, o conselheiro, o general Machado, o engenheiro militar que construiu o caminho de ferro de Angola!!!... E que fez mais do que os políticos e geógrafos que desenharam o mapa cor de rosa: foi que fez verdadeiramente a "Angola, de costa a contracosta", unindo Benguela à Beira...
("By the way", foi pena que os nossos amigos angolanos, os jovens revolucionários do MPLA não soubessem desta história, na sua fúria iconoclasta - doença infanto-juvenil de todos os nacionalismos, de esquerda e de direita -, acabando por deitar a água do banho fora juntamente com a criancinha, o mesmo é dizer, a história e o livro de história de Angola e de África... O colonialismo existiu, tal como existiu o esclavagismo, não adianta "fazer batota" , negando ou fingindo que nunca existiram, que foram um pesadelo, um sonho mau...).
(Continua)
(Continuação)
Aqui vai, em troca, como forma de apreço e gratidão pelo teu texto, um excerto da crónica do António Lobo Antunes, que tu citas ("A minha família", Visão, nº 1250, de 16/2 a 22/2/2017, pp. 6-7)... Com a devida vénia ao autor e editor:
(...) "Eu tenho o maior orgulho no meu sangue. Quer do lado da minha mãe quer do lado do meu pai venho de camponeses muito pobres e o meu brasão só tem enxadas. Do lado da minha mãe do Algarve, perto de Lagos, onde o meu trisavô trabalhava no campo e o patrão dele achou que o filho era esperto e resolveu pagar-lhe os estudos. O meu bisavô, que se chamava Joaquim José Machado, conseguiu, sabe Deus com que dificuldades, matricular-se na Escola de Guerra e tornar-se oficial de Engenharia. Daí em diante a sua carreira foi extraordinária: construiu o Caminho de Ferro de Benguela, ainda jovem capitão, que uniu uma costa de África à outra, terminando na Beira, onde a minha avó (…) nasceu, foi mandando ir os irmãos e pagando-lhes os estudos, foi feito Sir pela Rainha Vitória, foi governador de Moçambique, foi governador da Índia, foi Alto Comissário, etc., etc., no fim da guerra dos boers acolheu em sua casa o Presidente Kruger, recusando-se a entregá-lo aos ingleses. (…)
"Recebeu todas as condecorações possíveis e imagináveis, desde a Torre & Espada às mais altas honras chinesas pela sua intervenção na Questão de Macau, foi feito Sir pela Rainha Vitória, deixou cidades com o seu nome em Angola, Moçambique e África do Sul, pelo menos foi uma figura importantíssima no nosso país e tenho pena de não ter fixado melhor o que a minha Avó contava do pai" (…).
Luís, na Wikipédia de onde sacaste a foto do General Machado vem lá um falha de informação, que para aqui não tem importância, mas só para esclarecer, eles erradamente dizem que o General trabalhou na construção do Caminho de ferro de Moçâmedes ao Bié.
Ora essa linha não existe.
Havia e há três linhas em Angola Luanda-Malange, Moçâmedes-Serpa Pinto e Lobito Teixeira de Souza (Dilolo) e segue para o Katanga e minas da Zâmbia.
E é nesta última que o General Machado entra e retoma das mãos de um Engenheiro Inglês Robert Williams que deu o nome europeu à vila de Caála, perto de Nova Lisboa, e seguiu pelo Bié, e seguiu para Leste.
Todas as linhas de Angola foram trabalhos de uma grandeza descomunal.
Claro que estas obras em África tornam-se (hoje)mais um empecilho do que uma mais valia.
Talvez um dia...e o pior é que os (milhões) de africanos sabem que esse dia vai tardar.
Só os Boers e Mandela é que foram a excepção à regra, em toda a África sub-sariana.
Nós tentámos, mas cada um é como cada qual!
Cumprimentos.
Deve haver mais informação sobre este português das Arábias!...E, para mais, filho de um Zé Ninguém, como (quase) todos nós!...
Gostava de saber mais alargavio, filho de camponês que chega a herói nacional, e que viveu numa época apaixonante, em que o caminho de ferro criou os mercados nacionais e depois internacionais, sem os quais o apitalismo industrial nunca se poderia ter desenvolvido...Conheceu po liberalismo, sob a monarquia constitucional e depois sob a República,,,
augusto mota
18 fev 2017 00:39
Um abraço, caríssimo Luís Graça.
Sem polémica e tampouco crítica, quero colocar algumas reticências no artigo de nosso confrade ANTONIO ROSINHA:
Tem, sim. No Brasil, tem muitas ruas com o nome de Pedro Álvares Cabral. Pelo menos conheço quatro. Uma delas vizinha à minha, Olinda-Jardim Atlântico-Pernambuco; em Guarulhos-São Paulo; Campina Grande-Paraíba; Nilópolis-Rio de Janeiro.
Um abraço para todos!
Obrigado Augusto Mota pelo reparo das ruas, e o facto de ser em português que o fazes nesse mundo imenso, já é porreiro e o suficiente para ser respeitada a memória de «seu Cabrau».
Eu apenas disse: "Conheço várias cidades brasileiras, não vi nenhuma cidade ou rua Pedro Alvares Cabral, nem Padre António Vieira".
Fui ao Google Earth e também fui encontrar uma rua mesmo na cidade de São Paulo que percorri noutros tempos um pouco, uma transversal com 150 metros para os lados do Jardim da Luz.
Em zonas nobres e pontos turísticos não vi mesmo qualquer rua avenida ou praça ou monumento nem a Cabral nem a António Vieira.
De Vieira nem no Google se encontram ruas e avenidas no Rio nem em São Paulo e penso que nem em Salvador, em que também trabalhei, onde Vieira foi criado e estudou.
António Vieira, além dos sermões que não conheço, só oiço falar, dedicou a vida dele a colonizar os indios, os escravos e o Brasil e a lutar contra os Filipes e os Holandeses e contra a presença de uns e outros no Brasil e em Portugal, que se lê bastante documentado.
Este homem é quase desconhecido pelo povão, e ignorado política e historicamente em todo o Brasil.
E foi ele um dos principais obreiros para evitar o esquartejamento fronteiriço por Holandeses e Franceses, o que merecia ser estudado pelos brasileiros na escola, e que não é.
Talvez por isso os brasileiros não o apreciem muito, que continuam ainda hoje a pensar em Holandeses e até Espanhóis e mesmo americanos, que seriam melhor colonizados.
Muitos guineenses também dizem que tiveram azar de não serem colonizados pela França.
Augusto Mota, espero que te sintas bem nesse mundo maravilhoso, também apreciei muito os quase 5 anos que aí passei.
Só vim embora quando ouvi aos militares em 1979 (Geisel) dizer que a ditadura ia acabar...dei corda aos sapatos, eu e muitos milhares de brasileiros que vieram atras de mim.
Um abraço
Rosinha! Por acaso, conheceste, o meu primo, Luís Cabral Gonçalves, topógrafo em Angola e que foi furriel miliciano, na mesma altura que tu. Depois também passou pelo Brasil. Abraço J.Cabral
Penso que estou a falar com o nosso alfero, esse nome exactamente não o localizo, havia dois ou três Gonçalves na Junta Autónoma de Estradas e talvez dois nos Geográfico e Cadastrais, lugares onde trabalhei.
Mas havia vários organismos e Câmaras com imensos topógrafos.
A maioria dos Gonçalves que conheci eram transmontanos, embora houvesse já angolanos com esse nome.
Eu sou da incorporação de 1959 de Angola, Nova Lisboa, ele era também de lá?
Vou aos almoços anuais da minha incorporação de Nova Lisboa, dá mais algum tópico se tiveres.
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