terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17048: Recortes de imprensa (85): O nosso camarada Armor Pires Mota no lançamento do livro da investigadora Sílvia Torres ("O jornaliismo português e a guerra colonial", Lisboa, Guerra & Paz, 2016, 432 pp.) na sua terra natal: Anadia, 2 de julho de 2016 (Excerto do "Correio do Vouga")




Anadia > Biblioteca Municipal > 2 de julho de 2016 > Da esquerda para a direita, Jorge Ribeiro, Sílvia Torres, Teresa Cardoso e Armor Pires Mota (Cortesia de Correio do Vouga)


1. Excerto do Correio do Vouga,semanário da diocese de Aveiro, com a devida vénia (*):

O livro “O jornalismo português e a guerra colonial”, da autoria de Sílvia Torres, foi apresentado na Biblioteca Municipal de Anadia, no dia 2 de julho [de 2016], e contou com a intervenção de dois jornalistas antigos combatentes na guerra colonial: Jorge Ribeiro e Armor Pires Mota, para além da autora e da presidente da autarquia anadiense, Teresa Cardoso. (...)

(...) Armor Pires Mota, que foi combatente na Guiné, de 1963 a 1965 e chefe de redação do “Jornal da Bairrada” (de Oliveira do Bairro), recordou a sua experiência pessoal no conflito, realçando que durante a sua estada no conflito foi escrevendo uma “espécie de diário”, publicando algumas dessas crónicas naquele jornal bairradino. Nessas crónicas, numa linguagem “nua e crua”, em jeito de “repórter de guerra, relatava as vivências por que passava na frente de combate, tendo sido alertado que essas publicações lhe poderiam provocar dissabores. No entanto, após regressar da guerra, resolveu reunir essas crónicas e publicá-las no livro “Tarrafo”, o qual suscitou, de imediato, a intervenção da censura, que apreendeu praticamente todos os livros, motivando que Armor Pires Mota fosse interrogado pela PIDE (a polícia política de então), o mesmo se passando com o diretor daquele jornal, o advogado Granjeia (com escritório em Aveiro).

Para Armor Pires Mota, muito do que foi escrito sobre a guerra colonial foi por pessoas que nunca lá estiveram e, pior ainda, com profundas mentiras sobre o que realmente se passou no conflito. “Quem lá esteve ficou bloqueado” e só a partir da década de 1980 começaram a publicar as suas memórias sobre o conflito.

Por causa da censura, Armor Pires Mota afirmou que “os jornalistas publicavam aquilo que podiam e eram autorizados”, realçando ainda que “os próprios jornalistas, no terreno, autocensuravam-se, não dando notícias nuas e cruas do conflito”, tanto mais que o regime impôs regras rígidas sobre a cobertura jornalística do conflito. Ressalvou que, no entanto, a censura existe em todas as guerras.

Cardoso Ferreira

2.  Comentário do editor:
Sílvia Torres,
nascida na Anadia, em 1982


A Silvía Torres, filha de antigo combatente da guerra colonial, doutoranda em ciências da comunicação, aceitou o nosso convite para integrar a nossa Tabanca Grande. Tem-se dedicado, enquanto investigadora, ao tema do jornalismo e a guerra colonial. Lançopi em maio de 2016 o livro "O jornalismo português e a guerra colonial" (Lisboa, Guerra & Paz, 2016, 432 pp.).

Entre os entrevistados para  a feituar deste livro, encontram-se nomes de jornalistas como Agostinho Azevedo, Armor Pires Mota, Baptista Bastos, Cesário Borga, David Borges, Fernando Dacosta, Fernando Correia, Francisco Pinto Balsemão, Joaquim Letria, José Manuel Barroso ou Maria Helena Saltão, O livro contém igualmente depoimentos escritos de académicos, como Francisco Rui Cádima, Alberto Arons de Carvalho ou José Manuel Tengarrinha, de militares, como Otelo Saraiva de Carvalho, Fontes Ramos e Aniceto Afonso, e de jornalistas como Avelino Rodrigues, Joaquim Furtado ou Rodrigues Vaz.

A Sílvia Torres, que vai ser apresenrtada à nossa Tabnaca Grande, pediu-nos entretanto contactos para  entrevistar pessoas que tenham trabalhado na imprensa da Guiné Portuguesa; O Arauto, Notícias da Guiné e/ou A Voz da Guiné - durante a Guerra do Ultramar (*ª).


3. Ficha técnica e sinopse da obra, editada pela Guerra & Paz, com sede em Lisboa:

Título: O jornalisnmo português e a guerra colonial
Autor: Sílvia Torres
Género: Não Ficção/Jornalismo
Ano de Edição: 2016
Formato: 15x23
Nº de Páginas: 432
Peso: 426
ISBN: 978-989-702-203-6
Preço de capa: 17,5 €

Sinopse: 

Armor Pires Mota conseguiu relatar a guerra da Guiné, com pormenores manchados de sangue e lágrimas, através de um jornal regional ao qual a censura não deu importância. Fernando Gonçalves criou o «Zé Povinho da Guerra Colonial» em Angola e pintou humoristicamente o conflito. Em Moçambique, Jorge Ribeiro gravou as mensagens de Natal dos soldados, que, por vezes, desejavam «Boas Festas para a esposa e para a noiva» ou «um Ano Novo cheio de propriedades». Fernando Correia, ao serviço da Emissora Nacional, não contou a verdade sobre a guerra porque não o deixaram. Estas e outras memórias das décadas de 60 e 70 do século XX, sobre Portugal, Angola, Guiné e Moçambique, preenchem este livro, «um exterminador implacável de lugares comuns e de ideias feitas sobre a Guerra Colonial e também, por arrastamento, sobre o jornalismo em geral e o jornalismo de guerra em particular», na opinião do ex-combatente Carlos de Matos Gomes.

(Fonte: Guerra & Paz, Editores) (com, a devida vénia)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 11 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16943: Recortes de imprensa (84): Na morte de Fidel Castro, o apoio de Cuba ao PAIGC é relembrado por Fernando Delfim Silva e Oscar Oramas ("Nô Pintcha", Bissau, 1 de dezembro de 2016) - Parte II

2 comentários:

Antº Rosinha disse...

De todos os entrevistados aprecio particularmente Fernando Dacosta, autor de "As Máscaras de Salazar" que já deve ir em mais de 20 edições.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Luís Graça
14 fev 2017 14:26


Obrigado, Sílvia e bom trabalho!.

Irei apresentá-la à Tabanca Grande, como membro nº 736... Mas gostava de saber um pouco mais sobre a sua relação com a Guiné (mas também com a FAP; temos vários camaradas da FAP, incluindo um tenente general que foi um bravo "pilav" do Fiat G-91, em 1972/74, António Martins Matos).

O seu pai foi lá combatente, no TO da Guiné ? Se sim, em que ano, em que companhia, por onde passou... Enfim, pode ser que tenha aqui, no nosso blogue, camaradas de armas do seu tempo e da sua companhia.

Como sabe, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné é essencialmente um espaço de partilha de memórias (e de afetos)... Embora centrado na Guiné, o blogue fala de outros territórios que são teatros de operações da guerra colonial ou onde marcámos presença enquanto
portugueses...

Se quiser escrever um pequeno texto de "autoapresentação", melhor... Termos também um "livro de estilo".

Um beijinho do Luís Graça (... não lhe bato a pala, em dia de são Valentim!)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/07/guine-6374-p8588-excitacoes-143.html


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2017/02/guine-6174-p17048-recortes-de-imprensa.html