1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 14 de Outubro de 2016:
Queridos amigos,
Desenhar uma viagem num destes destinos que estão entre os mais caros do mundo tem muito que se diga. Atirem-me à empreitada de cabeça: low-cost em tudo, no avião, na dormida, bater as solas e reduzir os transportes públicos, pequenos almoços com o que se compra no supermercado, almoçar ligeiro e jantar com mais fantasia, gozar do privilégio dos assombrosos museus de Londres gratuitos, resistir estoicamente à compra de livros e da atrativa traquitana que se pode adquirir em inúmeras lojas de filantropia e de coisas em segunda mão.
Impossível ir à ópera, 140 libras, mesmo na English National Opera, um D. João de Mozart cantado em inglês custa 80 libras.
Aproveita-se o colorido das noites, os teatros iluminados, a sumptuosidade das avenidas e das praças, assim se enche o estômago com as belezas de Londres. E o contentamento é pleno.
Um abraço do
Mário
Central London, em viagem low-cost (1)
Beja Santos
Era uma pretensão clara, cabal e realizável: começar o passeio por Londres o mais low-cost possível. Um quarto de hotel frugalíssimo, daqueles que só dão uma toalha e um frasco de sabonete líquido, a exigência era ficar no centro para reduzir ao mínimo àquelas passeatas intermináveis no tube, sempre à procura das linhas Bakerloo, Central, Circle, District, Piccadilly ou Victoria, mas há mais. O low-cost, depois do avião, continuou no autocarro do National Express, lá se chegou a uma alfurja simpática em Old Street. Passeata de reconhecimento, compras para o pequeno-almoço e deita. O dia seguinte ao gosto do viajante, o importante cemitério de Bunhill Fields Burial Ground, cemitério do século XIX hoje desativado. Estão ali sepultados, entre outros, os muitos grandes William Blake, Daniel Defoe e John Bunyan. No meio da balbúrdia metropolitana, este cemitério é um oásis, está florido e pejado de esquilos. É o direito dos mortos continuarem a chamar à atenção dos vivos.
Finsbury Square é imponente, no passeio pedestre chama prontamente à atenção pela monumentalidade arquitetónica. Quem acompanha o viajante sabe da poda e alerta: o edifício foi severamente devastado num bombardeamento mas houve talento para pôr de pé a ruína, o que se vê à direita está bem harmonizado com o que ficou intocado pelas bombas. É bonito ver uma boa intervenção arquitetónica.
Falando de arquitetura, e se bem que não estejamos na City onde se acantonam os grandes prodígios arquitetónicos, por si só merecem um passeio cuidado, dando-se mesmo a curiosidade de haver lá dentro velhas igrejas com concertos gratuitos ao meio-dia, não é desprimoroso ver encravada na arquitetura clássica novas construções que primam pela altura e os vidros espelhados, as grandes artérias parecem ganhar leveza. Há quem não se dê bem com esta monumentalidade de paredes enegrecidas, é o preço da poluição, o viajante sente-se bem com estas misturas entre o moderno e o antigo, não faltam jardins e acontece que é dia de céu azul e nuvens muito brancas. Que melhor se podia esperar?
Primeiro surgiu a Eleanor Cross medieval, as guerras religiosas levaram à sua demolição, e quando, sinal da época, surgiu o monumental hotel de Charing Cross houve a boa ideia de trazer a réplica da Eleanor Cross. É uma história bonita, meteu amor. Eduardo I era casado com Leonor de Castela, a rainha morreu em Lincoln e por todas as localidades onde o féretro passou o monarca mandou construir um memorial. Quem pretenda saber mais sobre este desgosto de amor, aqui vai: https://www.wikiwand.com/en/Eleanor_cross.
E assim se chegou a Trafalgar Square, aqui se encontram dois importantíssimos museus gratuitos: a National Gallery e a National Portrait Gallery. E os acepipes que temos à espera. Cheguei cedo de mais, no dia 12 de Outubro começará a exposição opulenta dedicada ao grande Caravaggio, esta tela monumental do beijo de Judas que precede a prisão de Cristo é impressionante, data de 1602, Michelangelo Merisi da Caravaggio está no apogeu. Irei deleitar-me com outras coisas. Com a exposição de Fray Juan Bautista Maíno, com os mosaicos de Boris Anrep, com Michelangelo, Da Vinci. Tudo irá começar nos primitivos italianos até desembocar nos contemporâneos, pelo meio os olhos encharcam-se de Uccello, Pisanello, Ticiano, Canaletto, Monet, imagine-se que viajante vai descobrir um novo culto, a pintura de George Bellows. Tudo se conta mais tarde. Como o nome indica, na National Portrait Gallery aguardam o viajante centenas de retratos, que bela pançada. Mas antes de entrar na aventura museológica, como o céu está azul e a alvura das nuvens é impressionante, regista-se Trafalgar, com o pormenor da torre do Parlamento lá bem ao fundo e a outra imagem mostra uma escultura que está ali temporariamente, há quatro na praça, três são permanentes, aqui a exibição tem tempo marcado. O viajante confessa que fica bem impressionado com este dedo espetado para as alturas. Nada mais por hoje.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17032: Os nossos seres, saberes e lazeres (198): Lembranças de um passeio entre Batalha, Mira de Aire e Minde (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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