O ribeiro de minha varanda…
Há um ribeiro sonoro
Que corre constante,
Debaixo da minha varanda.
Ramagens frondosas nas bermas,
Cascatas de carros,
Fluindo sem fim,
De dia e de noite.
Com passarinhos e corvos,
Grudados nos beirais dos vizinhos.
Em vez de peixinhos e barcos,
Andam e cirando,
Cortejos de rodas.
Chiam na estrada,
Seca ou molhada.
Apitam frenéticas,
Em contra-relógio.
Uns são maléficos,
Por vezes piratas,
Muitas bondosos,
Socorrem doentes.
Cerro-lhes as janelas e portas.
Atrevidos, ferem os tímpanos,
Mordem a alma.
Que bom que seria,
Se em vez doida carreira,
Houvesse um rio a valer,
Ou um canal de Veneza,
Com gôndolas ou
Os moliceiros de Aveiro,
Pintados às cores…
Berlim, 6 de Fevereiro de 2017
5h23m
Noite cerrada
Jlmg
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Minha casa de Inverno…
Virada ao mar,
Bate-lhe o sol,
Assim que ele nasce,
Uma casinha breve,
Toda em madeira,
Encosta suave,
Doce ladeira.
Ali passo meus dias,
Horas de Inverno.
Recebo amigos.
Se fala de tudo.
Oro e medito,
Feito eremita.
Semeio e cultivo
Flores todo o ano.
A ela acorro,
Fugindo do mundo.
Dou asas ao sonho,
Levito no espaço.
Derramo meus versos,
Atiço-lhes fogo.
Os lanço ao vento.
Corram o mundo.
Vinho maduro.
Seara de pão…
Berlim, 8 de Fevereiro de 2017
8h5m
Jlmg
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Branca capela…
Branca capela,
Em cima de pedra,
Batida de ondas,
No meio do mar.
Resistindo ao tempo,
Sacrário lá dentro,
É lugar de romagem,
À vista do mundo,
De crentes de longe.
Fazendo milagres
No mar e nas terras.
Semeando o divino
Neste deserto apagado.
Ainda bem que lá está.
Quem o fita da terra,
Só de o ver,
Fica melhor.
O Senhor da Pedra,
Cheio de bênçãos
É quem lá mora
À espera de nós…
Berlim, 11 de Fevereiro de 2017
8h28m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17023: Blogpoesia (492): "Diviso as galáxias..."; "Da sombria madrugada..." e "Horas magnéticas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
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