Cais do Xime
Foto: © José Nascimento
1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 3 de Fevereiro de 2017:
Amigo Carlos
Como sempre, faço votos para que a saúde seja uma das tuas companhias, hoje envio-te um texto que fala da minha primeira ida ao Xime.
Recebe um abraço
António Eduardo Ferreira
PEDAÇOS DE UM TEMPO
14 - A MINHA IDA AO XIME
Estava a minha companhia há pouco tempo em Mansambo quando foi chamada a participar numa operação que teve lugar na zona do Xime, creio que com dois grupos de combate, calhou-me a mim ser um dos condutores que conduziu uma das viaturas que transportou o pessoal. Nesse dia, era já tarde quando lá chegámos, ficámos junto às instalações do Xime o regresso foi ao fim da tarde dia seguinte, durante a noite eu dormi ”no hotel estrela” junto a um pavilhão.
No dia seguinte, enquanto os meus camaradas andaram no mato, aproveitei o tempo para conhecer um pouco da tabanca, encontrei lá um camarada que tinha conhecido na Figueira da Foz que era quase meu vizinho mas que antes eu não conhecia, era apontador de obus 10,5. Fui com ele, estávamos a ver um local junto a umas bananeiras onde funcionava a escola, segundo ele me disse, mas aí a visita foi interrompida, ouviram-se rebentamentos na zona onde estava a decorrer a operação e o Nogueira desatou em grande correria para junto do obus.
Durante algum tempo, enquanto decorria a operação, a área foi sobrevoada por um DO. Como as coisas mudaram, ainda não se ouvia falar nos Strela. Também tive oportunidade de ver os Fiats bombardearem relativamente perto da estrada Xime-Bambadinca. Aí as coisas também mudaram muito, nesse dia ”picaram” quase até chegar à copa das árvores, mais tarde já em Cobumba, vi-os bombardear mas a uma altura que nada tinha a ver com o que o que aconteceu então no Xime.
Tive também oportunidade de ir até à ponte onde estava pessoal a fazer segurança, depois aproveitei a boleia e fui com três camaradas do Xime até ao cais onde pude ver o movimento que ali havia e também um enorme buraco que tinha sido feito pelo rebentamento de um foguetão, arma de que eu ainda não tinha ouvido falar, mas aí as coisas complicaram-se, a viatura que nos tinha levado, enquanto nós estávamos a olhar o Geba, abalou e deixou-nos lá, alguns dos que tinham ido comigo não gostámos de lá ter ficado mas fazia parte do grupo um colega sempre bem disposto, sempre a rir, vendo que alguns ficámos algo perturbados, continuando a rir disse: - Não há problema, se for preciso até se mija-se na cama e diz-se à mulher que estamos a transpirar.
Disseram-me depois que ele era sempre assim, bem disposto, até lhe chamavam o cavalo que ri.
Em Mansambo viajámos muito, mas tal não significa que corrêssemos mais riscos, durante treze meses apenas uma das nossas viaturas acionou uma mina. Em Cobumba tínhamos cerca de um quilómetro para percorrer, levámos quatro viaturas, acionaram uma cada…
Quando éramos periquitos, gostávamos de saber mais, ver o que até há pouco tempo era para a maioria de nós desconhecido, mesmo tendo ouvido falar daquelas paragens a camaradas que antes por lá tinham passado. Talvez por isso tenha ficado gravado na nossa memória, que mesmo a esta distância no tempo, continua a estar bem presente.
António Eduardo Ferreira
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Nota do editor
Último poste da série de 28 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16997: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (13): O dia mais triste...
1 comentário:
Bela fotografia, caro Ferreira.
Quando cheguei ao Xime em Fev1969,o Cais não tinha este aspeto, quase bucólico, da foto. Era um Cais com muita confusão, que a todos nós fez grande preocupação por causa de eventuais ataques. Depois passamos pelo centro da tabanca, com as casas
esburacadas, e sem vislumbrarmos o Quartel seguimos com um forte dispositivo de segurança da milícia e da tropa quase até Bambadinca.
Inesquecível.
Abraço
Valdemar Queiroz
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