Colecção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).
Anúncio da empresa, em nome individual, "Fausto da Silva Teixeira", dono de serração mecânica de madeiras, com sede em Bafatá, publicado em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2.
[Imagem digitalizada partir de cópia pessoal pertencente ao nosso saudoso camarada Mário Vasconcelos (1945-2017), ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74] (*)
I. O que sabemos mais, a partir de comentários ao poste P17447 (*), sobre o português Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, deportado para a Guiné em junho de 1925 por razões políticas, sem qualquer julgamento, e que irá, menos de três anos depois, construir uma moderna serração mecânica em Fá, perto de Bambadinca, e que duas décadas depois é um colono próspero e respeitado, ao ponto de receber a visita do representante do governo de Salazar e do próprio governador-geral Sarmento Rodrigues em 7 de fevereiro de 1947...
(1) Do depoimento do nosso camarada José Manuel Cancela, de Penafiel (ex-sold ap metr pesada, CCAÇ 2383, Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1968/70) apurámos o seguinte:
(i) conheceu-o pessoalmente, ao sr. Fausto Teixeira, em 1969 (quando o Spínola era já o governador geral e o comandante-chefe):
(ii) o empresário estava hospedado no Hotel Portugal (que era o melhor de Bissau);
(iii) tinha como companheira uma senhora de origem cabo-verdiana, chamada Agostinha;
(iv) com o casal vivia o filho mais novo do Fausto, o António, que na altura teria uns 21 anos, e que se tornou amigo do Zé Manel Cancela;
(v) na altura (1969), o sr. Fausto "já deveria estar próximo dos 80 anos" [a ser assim, teria nascido na última década de 1890, e estaria já próximo dos 30 anos quando foi deportado, em 1925, para a Guiné]:
(vi) o relacionamento com do nosso camarada Zé Manel Cancela com o filho António devia-se ao facto de um seu (dele, Zé Manel) conterrâneo, de Penafiel, ser o fiel guarda da madeira que chegava de Bafatá e ficava no Pijiguiti à espera de embarque;
(viii) resumindo, em 1969, o sr. Fausto Teixeira "continuava a ser um senhor de muitas posses, pois além das serrações em Bambadinca e Bafatá, tinha um barco para o transporte da madeira"...
(2) Do neto, Fausto Luís Teixeira, formador, e de pesquisas adicionais que fizemos na Net, ficámos a saber algo mais;
(i) o avô seria de (ou residiria em) Setúbal ou por aí perto;
(ii) não deveria ter 80 anos em 1969;
(iii) no pós-25 de Abril, era visita do Edmundo Pedro, nascido no Samouco, Alcochete, também margem sul do Tejo;
(iv) o Edmundo deveria ser (e é, uma vez que ainda é vivo...) mais novo que o avô: nasceu em 8/11/1918, portanto, fará 100 para o ano se lá chegar;
(v) o Edmundo esteve dez anos no Tarrafal, o campo de concentração na ilha de Santiago, Cabo Verde;
(vi) é nessa altura que rompe com o PCP, alegadamente por ter violado a disciplina do Partido, ao tentar, por sua conta e risco, uma fuga;
(vii) é hoje, como se sabe, um velho militante socialista,
(viii) não sabemos de onde nem quando vem se essa amizade (e convívio) com o Edmundo Pedro
(ix) apontamos o ano de nascimento do avô Fausto Teixeira para os primeiros anos do séc. XX, talvez 1905;
(x) a bater certo, ele é deportado para a Guiné com 20 anos;
(xi) seria,portanto, 13 anos mais velho do que o Edmundo Pedro;
(xii) em 1969, quando o Zé Manel Cancela o conheceu no Hotel Portugal ele não poderia, de facto, ter 80 anos, mas sim 64;
(xiii) provavelmente devia "parecer ser mais velho", com quase meio século de Guiné...
(xiv) o Fausto Teixeira é deportado para a Guiné em 1925, no final da I República, em tempos conturbados; em 1947 quando recebe a visita, na sua serração mecânica de Fá (Fá Mandinga, no nosso tempo, 1969/71), a escassos quilómetros de Bambadinca, do secretário de Estado das Colónias, do governador-geral Sarmento Rodrigues e comitiva, era um homem importante na Guiné;
(xiv) o Fausto Teixeira é deportado para a Guiné em 1925, no final da I República, em tempos conturbados; em 1947 quando recebe a visita, na sua serração mecânica de Fá (Fá Mandinga, no nosso tempo, 1969/71), a escassos quilómetros de Bambadinca, do secretário de Estado das Colónias, do governador-geral Sarmento Rodrigues e comitiva, era um homem importante na Guiné;
(xv) a imprensa dizia seu respeito, não que tinha sido deportado, mas sim que "se fixara" na colónia há cerca de 20 anos... (Em 1947, ainda a PIDE não estava instalada na Guiné, o que só acontecerá em 1954 ou 1957, não sabemos ao certo...).
(3) De qualquer modo, há "zonas de sombra" na vida de Fausto Teixeira que estão por esclarecer e que compete à família partilhar (ou não) connosco...
Por exemplo, essa história dos electrodomésticos... Será que o avô do nosso leitor chegou ter, depois do 25 de abril, depois do regresso da Guiné, um negócio de electrodomésticos, tal como o seu amigo Edmundo Pedro ? Ou as coisas que ele trazia para casa (rádios, gravadores. etc.) não seriam antes compradas na loja do Edmundo Pedro ? Ou até uma oferta do amigo ?...
Sobre o Edmundo Pedro, ver aqui esta entrada na Wikipédia.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Edmundo_Pedro
Por outro lado, não se percebe bem o que o neto escreveu:
Sobre o Edmundo Pedro, ver aqui esta entrada na Wikipédia.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Edmundo_Pedro
Por outro lado, não se percebe bem o que o neto escreveu:
"Estou em crer que em determinada altura se terá dedicado ao comércio, tanto pelas prendas que trazia (gravadores, rádios,...), como por uma vez ter perguntado a alguém(?) que conhecia bem a Guiné, se ele conhecia algum madeireiro chamado Fausto e ele só se lembrar de um comerciante em Bafatá com esse nome"...
A minha leitura é a seguinte:
(i) o seu avô encontrou alguém que conhecia a Guiné (talvez um ex-militar);
A minha leitura é a seguinte:
(i) o seu avô encontrou alguém que conhecia a Guiné (talvez um ex-militar);
(ii) perguntou-lhe se conhecia algum madeiro, de nome Fausto (que era ele);
(iii) esse alguém lembrava-se de um comerciante em Bafatá com esse nome... (Só podia ser o Fausto da Silva Teixeira);
(iv) o negócio principal do Fausto era exploração e exportação de madeira, mas é possível que também tivesse uma loja de comércio a retalho em Bafatá, onde tinha a sede da sua empresa de serração...
(v) enfim, ele quis testar os conhecimentos dessa pessoa que encontrou...provavelmente um ex-militar que, como muitos de nós, conheceu Bafatá...
Nessa altura (anos 60) Bafatá, onde de resto o resto nasceu, tinha a um ar próspero, e havia bastante casas de comércio... Era conhecida como a "princesa do Geba"... Há uitas fotos de Bafatá: pesquisar no Google Imagens= Bafatá.
Por outro lado, e esta é outra questão eventualmente delicada para a família... O avô Fausto Teixeira devia ter boas relações com o PAIGC, com o Luís Cabral, futuro presidente da República (que ele ajudou a sair da Guiné, para o Senegal, em 1959, a seguir aos acontecimentos do Pijiguiti, quando o Luís Cabral estava na iminência de ser detido pelo PIDE)...
Pergunta-se: por que é que não ficou na Guiné, depois da independência ? Por causa dos filhos e netos ?
O Zé Manel Cancela esclareceu este ponto, acrescentando:
(i) não creio que ele se desse muito bem com PAIGC porque o barco que transportava as madeiras foi atacado e encendiado no Geba numa viagem para Bissau;
(ii) o barco foi depois reparado num estaleiro que havia na altura no ilhéu do Rei:
(iii) cheguei a ir lá com o António Teixeira numa altura que o pai dele veio a Portugal;
(iv) até cheguei a saber quanto custava a reparação, noventa contos, que era uma pequena fortuna para a época; [em 1970, 90 mil escudos na metrópole equivaleriam hoje a 25.798,94 €, segundo o conversor da Pordata; se se tratar de escudos da Guiné, há que ter em conta uma desvalorização de 10% em relação ao escudo da metrópole]
(v) também soube, através do meu conterrâneo [o guarda da madeira que chegava de Bafatá e ficava no Pijiguiti à espera de embarque], que o António foi parar a Angola como furriel, isto em 71;
(vi) outra coisa: a família tinha casa em Palmela... (**)
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(**) Último poste da série > 14 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17467: (De) Caras (82): "Contrabando de ternura": os tentáculos da minha rede não chegavam ao mato, funcionavam entre Moscavide e Bissalanca... graças a um amigo piloto da TAP... (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)
2 comentários:
José Cancela
Caro Luis:
É curioso.O Antonio Teixeira nunca me falou de um sobrinho nascido em Bafatá.
Falava-me de um irmão mais velho que vivia em Palmela,tal como ele e o Pai
o sr.Fausto.
Quanto à idade deste senhor,ouvi dizer na altura que se aproximava dos oitenta.
não sei se haveria exagero (...).
Quanto ás relações dele com o PAIGC, parece-me que não seriam as melhores,porque o barco, como é já disse, que fazia o transporte da madeira,foi atacado e encendiado no Geba. Ficou quase destruído.Lembra-me de ir ao ilheu do Rei com o António ver a reparação,havia lá um estaleiro. Na altura ,segundo ele me disse ficava por noventa contos,a reparação,uma pequena fortuna para a época.
Estou certo que o negócio das madeiras acabou após o 25 de Abril,pois foi nessa altura que o meu conterrâneo voltou para cá. Mais alguma coisa, diz....Um abração.
Meu caro Jorge Cabral:
Ao telefone disseste-me que conhecias o Edmundo Pedro (n. 1918), estranhando a sua ligação com o Fausto Teixeira... Acontece que o Fausto e o pai do Edmundo, o não menos lendário Gabriel Pedro, vão juntos para a Guiné, deportados... Isso pode explicar a relação do Edmundo com o Fausto, no pós-25 de Abril...
O Gabriel e o Fausto seriam, alegadamente membros da famigerada "Legião Vermelha", de ideologia mal definida: para uns seria anarcossindicalista, para outros seria bolchevique (e, como tal, próxima do PCP)...
Ab, LG
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