Diário de Lisboa (diretor: Joaquim Manso), sexta-feira, 18 de julho de 1941, p. 5, Cortesia da Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos.
Citação: (1941), "Diário de Lisboa", nº 6700, Ano 21, Sexta, 18 de Julho de 1941, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_24851 (2017-8-29)
Ilha da Madeira > Funchal > s/d [c. 1941] > "O Paquete Mouzinho. Oferecido pelo meu amigo [e conterrâneo, da Lourinhã] José B[oaventura] Lourenço [Horta] no dia em que o fui visitar ao Hospital em São Vicente. 26 de Julho de 1942."
É provável que o José Boaventura Horta tivesse adquirido a foto a bordo. E, se não erro, o amigo do meu pai, meu conterrâneo e meu vizinho (no tempo em que vivi na Lourinhã, menino e moço) era da arma de artilharia (6ª Bateria Antiaérea do Grupo de Artilharia Contra Aeronaves).
O "Colonial" e o "Mouzinho" eram paquetes gémeos, adquiridos pela Companhia Colonial de Navegação (CCN) no final da década de 1920. Faziam a carreira de África. Foi no T/T "Mouzinho" que o 1º cabo inf Luís Henriques (Lourinhã, 1920-Lourinhã, 2012) e outros expedicionários do 1º batalhão do RI 5, das Caldas da Rainha, rumaram para Cabo Verde, ilha de São Vicente, em 18 de julho de 1941, conforme notícia do "Diário de Lisboa", acima reproduzida.
A viagens dos nossos navios de transporte de tropas, para as diferentes partes do "império", não eram isentas de risco... O oceano Atlântico foi palco de sangrentas batalhas durante a II Guerra Mundial. Países neutrais como Portugal tinham de pintar os seus navios de pesca e da marinha mercante com gigantescas bandeiras e o nome do país nos cascos das embarcações. Onze navios, sob bandeira portuguesa, foram afundados, durante a II Guerra Mundial, não obstante as embarcações estarem claramente identificadas como sendo oriundas de Portugal, "país neutral"...
Fotos (e legendas): © Luís Henriques (1920-2014) / Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17658: Historiografia da presença portuguesa em África (86): Quando até os padres, católicos, apostólicos, romanos, do PIME (Pontifício Instituto para as Missões Exteriores), eram acusados de "subversão": o caso de Mario Faccioli (1922-2015), que esteve em Catió
4 comentários:
Esta foi a partida do Batalhão do RI 5 (Caldas da Rainha), uma vez que o relatório do Comandante do Batalhão do RI 7 (Leiria) está assinado com data de 23 de Maio de 1941 e cuja saída tambem teve a presença do então Primeiro Ministro.
Depreende-se, da leitura da notícia,que já anteriormente tinham seguido para Cabo Verde outras forças expedicionárias (m caso do RI 7, de Leiria, como nos informa o Zé Martins(... Não se faz menção ao batalhão ou batalhões que seguiram no "Mouzinho" em 18/7/1941. Possivelmenete foi só o 1º batalhão do RI 5 (Caldas da Rainha), onde se integraba o "meu pai, meu velho, meu camarada",,, O "Mouzinho tinha um araqueação bruta de menos de 8400 toneladas e capacidde até 700 passageiros.
Como no nosso tempo, o pessoal do RI 5 foi como sardinha enlatada... E se o navio da Companhi Colonuial de Navegação tivesse ido ao fundo, tprpeado por submarinos alemães ou ingleses, nessa viagem, eu muito provavelmente não estaria aqui a escrever este comentário...
O "Mouzinho" (ou "Mouzinho"= esteve ao serviço de 1929 a 1954... Entre os muitos passageiros que nele viajaram, civis e militares, conta-se o nosso Zeca Afonso:
(...) "Em 1930 os pais foram para Angola, onde o pai tinha sido colocado como delegado do Procurador da República em Silva Porto. José Afonso permanece em Aveiro, na casa da Fonte das Cinco Bicas, por razões de saúde, confiado à tia Gegé e ao tio Xico, um «republicano anticlerical e anti-sidonista».
Por insistência da mãe, em 1933 Zeca segue para Angola, com três anos e meio, no vapor Mouzinho, acompanhado por um tio advogado em lua-de-mel. Um missionário é a companhia de José Afonso que permanece três anos em Angola, onde inicia os estudos da instrução primária." (...)
http://www.aja.pt/biografia/
Ou noutra versão:
(...) 1933 - Vapor Mouzinho - A caminho de Angola. O pai é procurador da República na Comarca de Silva Porto
"Havia uma chaminé, uma amurada e um convés.
Era um barco a vapor, está bem de ver. Ronceiro, ainda a cheirar à revolução industrial. Adornava, da proa à ré, consoante a vaga. Tropicalizava-se o Atlântico, a cada milha navegada. A carreira do costume, da metrópole às colónias, nos anos trinta. A bordo, seguia um miúdo de calções. Zeca Afonso, a roçar os 3 anos. Sozinho, naquele lençol oceânico, que cobria, sabe-se lá, que assombros, que mostrengos. Instalada em Angola, a família mandara-o vir de Aveiro. Retirado do aconchego caseiro de primas e tias maternas, embarcou neste seu baptismo naval, entregue a um tio afastado, recém-casado, mais atento aos recolhimentos da lua-de-mel do que ao puto de calções. Com tanto de aflito como de desamparo, ancorou-se na mão de um velho missionário, o "homem das barbas brancas", de quem nunca mais se há-de esquecer (Prosema II) .
«Por razões de saúde, diz Zeca Afonso, meus pais que estavam em Aveiro, deixaram-me ao cuidado do tio Chico (republicano e anticlerical) e da tia Gigé ali numa casa situada na Fonte das Sete Bicas (...). A minha mãe pediu ou exigiu que eu fosse enviado para África ao cuidado de um tio-advogado que seguia para Angola. Eu tinha três anos e meio. O tio ia em lua-de-mel, não me ligou nenhuma e desapareceu. Encontrei-me no barco - o "Mouzinho" - abandonado e, durante toda a viagem agarrei-me a um missionário, que ainda hoje recordo nos meus sonhos e foi praticamente a única pessoa que me prestou atenção» (...)
http://tributozecaafonso.blogspot.pt/2014/09/
Recordo-me do meu pai, Luís Henriques )1920-2012) me falar de 3 coisas, sobre esta viagem do T/T "Mouzinho", em 18 de julho de 1941, a caminho do Mindelo, São Vicente, Cabo Verde;
(i) o medo dos "torpedos" dos submarinos alemães;
(ii) as vagas que varriam o convés do "Mouzinho" no mar entre os Açores e as Canárias;
(iii) oa golfinhos e depois os tubarões, mais próximo da costa de África...
Claro, inesquecível o desfile das tropas na av 24 de julho, em Lisboa... e o tacão da bota cardada que ele perdeu, antes de embarcar, preso na calha do elétrico ou do combio... Não, nunca me falou da presença do Salazar na cerimónia do desfile e embarque das tropas... mas de uma amiga que foi despedir-se dele, ao cais da Rocha Conde de Óbidos... Ouviu, pela última vez, a sua voz, no meio da multidão: "Luís, Luís!!!...", enquanto marchava a caminho do Cais da Rocha Conde de Óbidos, ele e os seus camaradas da 3ª companhia do 1º batalhão do RI 5...
A sua amiguinha Fernandinha fez questão de vir despedir-se dele e dos demais "soldados que iam para a guerra"... Mas desencontraram-se e. quando ele regressou, 30 meses depois, a Fernandinha já tinha morrido... de turberculose.
Pequenas histórias que deviam caber na História com H Grande, da nossa Pátria...
Contrariamente ao "caudillo" Francisco Franco, ao "duce" Benito Mussolini, ao "führer" Adolf Hitler e ao nosso "com-chefe" Spínola..., vê-se, até por esta foto, que o nosso Salazar, "salvador da Pátria", não tinha jeito nenhum para lidar com a tropa...
Nem sei se ele fez tropa. Detestava multidões, tinha uma voz de cana rachada, não saía do seu buraco, as mulheres (e alguns homens) adoravam-no... Soube sobretudo ser temido, como todos os ditadores... Amigo íntimo do cardeal Cerejeira, desprezava-o por ser um "fraco" e não ter mão nos "católicos progressistas", saídos do Vaticano II... E no entanto permitiu, em vida, que outros lhe fizessem o culto da personalidade...e o considerassem "um português predestinado por Deus"...
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