quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17802: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (3): 2.º Dia: A cidade de Bissau - continuação (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (3) 

2.º DIA: 31 DE MARÇO DE 2017 – A CIDADE DE BISSAU

(Continuação)

Foto 14 - Bissau: Almoço no Restaurante “Porto”, situado na zona baixa da cidade. Reconhecem-se, da esquerda para a direita, os colegas: Angelino, Barbosa, Vitorino, Leite Rodrigues; os motoristas dos nossos jeeps: Jorge, Armando, Didji e Fernando e ainda o colega Moutinho [, régulo ou um dos régulos da Tabanca de Matosinhos...]

Concluído o almoço, decidimos fazer uma passeata a pé pelas ruas da zona central de Bissau, recordando algum do tempo em que por lá andámos, principalmente quando vínhamos ou íamos de férias em Portugal, ou quando se aguardava o embarque de regresso definitivo à nossa terra natal.

Com alguma saudade, passámos por ruas onde, antigamente, existiam algumas casas comerciais bem como áreas da restauração e de convívio, como cafés, restaurantes e cinemas e que agora já não se vêm, ou onde já só ruínas e edifícios abandonados nos aparecem e de que serão exemplo: a Casa Gouveia, a Casa Pintosinho, o Café Bento (mais conhecido por 5.ª Rep), o Café Tropical, o Grande Hotel e o cinema da UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau).

Curiosamente ainda encontrámos abertas a casa Correia e a casa Taukfik Saad.

Decidimos fazer ainda uma visita à antiga Messe de Oficiais, situada na Zona de Santa Luzia,  e onde se localiza actualmente o bonito e agradável Hotel Azaalai (ex-Hotel 24 de Setembro) e local onde um pouco “á sucapa” consegui tirar as duas fotos que numa das páginas seguintes se mostram.

Essas fotos, recordam-nos a antiga Messe de Oficiais, um dos melhores locais que a Guiné possuía e que proporcionava, à Classe dos Oficiais e seus convidados, uns momentos de repouso e de lazer, quando, em férias, ou no final da sua comissão de serviço militar que ali prestaram, aguardavam ordem de embarque para Portugal, encontrando-se actualmente bastante transformado e melhorado, com a exploração de todo o espaço a ser entregue a um grupo hoteleiro internacional.

Foi com alguma nostalgia dos bons momentos que ali passamos, em convívio com colegas que, tal como nós, deram alguns anos da sua vida por uma causa muito discutível e de justificação pouco clara, que agora lá estivemos, como ponto de visita quase obrigatória.

Infelizmente não pudemos fazer o mesmo em relação ao antigo Café Bento [, a 5ª Rep] , porque dele só resta o local onde o mesmo se situava, o mesmo acontecendo ao antigo posto de combustível da Galp, erguida mesmo ali ao lado.

Este café era um ex-libris de Bissau e todos nós que por lá passámos, gostávamos de o ter ainda a prestar o seu serviço de cafetaria, mas sobretudo para manter vivo um dos mais emblemáticos símbolos, daqueles que, como eu, foram obrigados a “dar o costado” por aquelas bandas ultramarinas.

Foto 15 - Bissau: Uma das alas de quartos do actual Hotel Azaalai (ex-Hotel 24 de Setembro) e que era a antiga Messe de Oficiais, em Santa Luzia, local onde eu pernoitei algumas vezes, quando vim e fui de férias e também antes de regressar definitivamente a Portugal, em Setembro de 1974. Agora está bem melhor que naquela época.

Voltando ao hotel, é na zona verde que lhe está envolvente, situa-se uma bela piscina que, embora mais pequena, na época, já existia no período da Guerra Colonial e servia para descansarmos e tomamos alguns refrescantes banhos.

Mesmo ao lado da piscina, existia, e continua igualmente a existir, um parque ao ar livre, onde,  no tempo seco e quente de Verão, se convivia e se assistia a alguns espectáculos de animação, ou se viam alguns filmes que projectavam num ecrã fixo ali construído.

Foram momentos ainda que curtos, mas muito agradáveis e de algum conforto que ali passávamos, não só porque, temporariamente, esquecíamos o “stress” em que, constantemente, vivíamos no interior das nossas companhias militares espalhadas pelo mato, mas porque fundamentalmente também convivíamos com outros colegas que.  tendo, muitas vezes, os mesmos problemas que os nossos, em conjunto, dialogando e bebendo um copo, os conseguíamos ultrapassar aliviando, ainda que por breve trecho de tempo, as preocupações que tínhamos sobre as nossas cabeças.

Aqui um apontamento de muito respeito e homenagem a todos aqueles que perderam a sua vida numa luta inglória e para muitos dos quais o agradecimento do País foi nulo, pois, tal como o pudemos verificar e confirmar, em alguns cemitérios da Guiné-Bissau e noutros locais muito pouco dignos, que visitámos, esses militares mereciam uma sepultura digna nas suas terras natais e nunca ficar abandonados em locais perdidos da Guiné-Bissau, longe das suas famílias, que não tiveram meios financeiros para trazer os seus corpos para junto de si, obrigação que deveria ter sido assumida pelos sucessivos governos portugueses, mas que infelizmente nada fizeram.

Aceitem e acreditem que a tarefa não era nada fácil, mas creio que nossa juventude, nos teria dado a força mental e física, para ajudar a ultrapassar e a vencer estas agruras a que a vida nos sujeitou, nesse período algo negro para todos nós. Tal como em todo o percurso da nossa vida, teremos que estar preparados para conseguir ultrapassar os obstáculos que nos vão aparecendo pela frente, porque, sem uma forte vontade de vencer e um orgulho próprio, nada se conseguirá de positivo.

Como complemento do que vinha sendo por mim narrado, acrescentaria que,  para além desta unidade hoteleira, encontrámos espalhadas por Bissau e por outra cidades e vilas do interior do território, algumas outras unidades ligadas à indústria do turismo, sentindo que o actual índice de ocupação parece demonstrar uma certa apetência e vontade dos europeus por este destino.

Nem tudo que encontrámos no território da Guiné-Bissau é mau, pois, pelo menos, em todos os locais que visitámos e mesmo com enormes dificuldades, encontrámos a paz e a segurança que em muitos países europeus passou a deixar de existir.

Creio que, por aquilo que encontrámos, o futuro da Guiné-Bissau poderá ser bem melhor, pois potencialidades não lhe faltam, sendo porém necessário que os seus governantes saibam aproveitar as oportunidades que lhe surgirem, no futuro, pela frente. Oxalá não as desperdicem!

Foto 16 - Bissau: Foto da piscina do actual Hotel Azaalai (ex-Hotel 24 de Setembro) e que era a antiga Messe de Oficiais que existiu até finais de 1974 e que naquela época era mais pequena

Foto 17 - Bissau: Na parte baixa da antiga Avenida do Império localizava-se o antigo Café Bento (mais conhecido como antiga 5.ª Rep.), mesmo ao lado do antigo posto de abastecimento da Galp. Actualmente já nada disto existe.
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné

Ainda antes de regressarmos ao Aparthotel Machado, onde estávamos alojados, passámos pelo grande e muito frequentado Mercado de Bandim e pelo moderno edifício denominado Palácio das Colinas do Boé, onde funciona a Assembleia Nacional Popular, bem como pelo belo edifício do Palácio do Governo e pela frente de alguns hotéis, tendo ainda tempo para irmos com dia até à zona envolvente ao edifício do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, situado a escassas centenas de metros do nosso Aparthotel.

Da enorme rotunda frontal ao Aeroporto e tal como já atrás indiquei, partem três estradas: uma para Safim que conduz a todo o território da Guiné; outra, a via que nos leva à bonita zona de Quinhamel, famosa pelas suas ostras, que naquela zona se apanham; e a terceira, a via dupla e rápida que nos conduz à zona central e histórica da cidade de Bissau e que atravessa várias áreas de novos empreendimentos habitacionais, educacionais e turísticos, bem como edifícios das embaixadas de países estrangeiros, algumas unidades hoteleiras e zonas residenciais, bem como muitos estabelecimentos e áreas comerciais.

Como curiosidade, o facto de verificarmos a existência de inúmeros “táxis” que circulam por toda a parte, naturalmente com maior intensidade no interior de Bissau, entrando e saindo da cidade, bem como a de muitas pequenas e típicas carrinhas de transporte público de pessoas, fenómeno que constatámos posteriormente, existir em quase todo o território da Guiné-Bissau.

Depois de recordados estes espaços que para nós já eram conhecidos, regressámos ao Aparthotel Machado, não sem que antes passássemos pela zona de Antula, uma área nova e onde começam a ser evidentes algumas novas áreas comerciais, bem como novas moradias que fomos observando ao longo do percurso, viajando através de uma nova variante que, pela parte norte, contorna a cidade de Bissau.

Claro que,  além do Mercado de Bandim, não podemos esquecer o antigo e muito popular Mercado do Cupilom [ou Pição], espaços muito interessantes e muito visitados, mas em qualquer deles, sempre com muita precaução e havendo o cuidado de as deslocações a esses dois locais serem sempre feitas em grupo.

No aspecto urbanístico, podemos afirmar que, em muitas das suas zonas, a cidade de Bissau se apresenta com uma cara mais bonita, mas na vertente rodoviária e com excepção das novas avenidas recentemente construídas, casos da Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria e da variante de Antula, a maioria dos restantes eixos mostra pouco asfalto e muitas covas.

Outra área que também deixa muito a desejar, relaciona-se com a falta de uma rede de saneamento básico, acontecendo até que, em muitas das suas ruas, os esgotos correm a céu aberto, realidade que pode transformar Bissau num rápido e grave foco de Saúde Pública, não só para as populações que ali vivem, mas também para os turistas que cada vez mais a visitarão, urgindo solucionar o problema antes que possa ser tarde demais.

Em minha opinião, é uma região muito bonita e onde valerá a pena as entidades do País investirem em equipamentos que possam ultrapassar estas actuais carências, pois com adopção de medidas de fundo terão, em compensação o desenvolvimento turístico do País, aproveitando o facto de alguns empresários europeus e de outras partes do Mundo, terem começado a investir na Guiné-Bissau.
Resumindo, atrever-me-ia a afirmar que em áreas como a do turismo e da restauração, Bissau está francamente melhor, mas em termos urbanísticos há ainda muita coisa a fazer.

Chegados ao nosso local de alojamento e antes de jantar, convivíamos, quase todos os dias e durante alguns minutos, em amena conversa e convívio com outros clientes que ali se encontravam hospedados, uns ligados a algumas empresas que prestavam serviço em território guineense e a outros ligados e apaixonados da caça (sobretudo de rolas) e que para a Guiné se deslocavam, em diferentes épocas do ano, a fim de “satisfazer esse vício”.

Dado o calor que se fazia ainda sentir e como habitualmente assim procedíamos depois do jantar, fazíamos os habituais e obrigatórios telefonemas para os nossos familiares, permanecendo depois, mais algum tempo nesta sala, vendo a televisão ou continuando o habitual convívio com os nossos colegas que se tinham deslocado a locais diferentes dos nossos e dos quais ouvíamos a sua opinião sobre essas terras, bem como com alguns dos outros hóspedes, nunca indo para a cama antes da meia-noite.

Numa dessas noites e correspondendo a um convite de alguns dos colegas que já lá tinham ido várias vezes, tivemos a agradável visita do General Cassamá, do actual Exército da Guiné-Bissau e que tinha sido quadro do antigo PAIGC, durante o designado período colonial, ainda que com patente inferior e com o qual abordámos variados temas e trocámos opiniões pessoais sobre esse já longínquo tempo da antiga “guerra colonial”.

Indivíduo bem conhecedor das realidades existentes no período anterior ao ano de 1974 e das actuais, procurou, com alguma diplomacia, expressar a sua opinião pessoal sobre esse já longínquo tempo, sem minimizar qualquer uma das partes envolvidas no conflito militar, mas antes explicando o seu ponto de vista sobre o desfecho da luta inglória travada entre dois povos irmãos, que defendiam o mesmo ideal e que sempre se respeitaram e mantiveram boas relações de convívio e amizade, repetindo porém a já estafada opinião de que a luta não foi contra o povo português e os seus militares, mas sim contra um regime fascista e opressor!!

No período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974 (cerca de uma semana depois), fui nomeado, pelo Comando do Batalhão de Cavalaria 8320/72, sediado em Bula, do qual eu, na qualidade de Comandante da Companhia de Caçadores 17 (CCAÇ 17), sediada em Binar, dependia administrativa e disciplinarmente, para acompanhar elementos da hierarquia de comando do PAIGC, que pretendiam levar a efeito acções de natureza psicológica junto das populações que viviam em tabancas junto dos aquartelamentos militares e teoricamente, mais difíceis de controlar por aquele Partido, dada a sua já grande relação de proximidades com as nossas tropas.

Sobre esta nada fácil missão, de que fui incumbido, pois para mim era “passar a jogar um pouco no escuro” e a acompanhar elementos que até há pouco tempo hostis, mas sobre a qual e por dever superiormente imposto, me procurei dedicar, colaborar e aplicar o melhor possível, face aquilo que, pelo menos para mim, era, era até então matéria desconhecida.

Durante esse período, tive a oportunidade de estabelecer um bom relacionamento com o já referido Major Dick Daring, pessoa bastante comunicativa e que também estaria a cumprir ordens superiores.
Relembro, porém, e deixo aqui expressas algumas das afirmações que me foram dadas, verbalmente, pelo responsável máximo do PAIGC, na zona norte, Major Dick Daring, em resposta a algumas questões que lhe fui colocando no decurso dos dias, em que o acompanhei durante cerca de um mês, em acções de índole psicológica, nas diversas visitas que ele quis fazer a diversas unidades militares das nossas tropas, sediadas nas zonas norte e leste da Guiné e quase todas direccionadas para os quartéis, onde a maioria dos militares eram guineenses, como era o caso da Companhia de Caçadores 17 (CCAÇ 17), que eu comandava em Binar, e que integrava 144 elementos da Guiné, pois gostava de, com a nossa colaboração e anuência, ter um contacto mais directo com as populações e militares, que até ali tinham estado sob nosso controlo:

a) “Os militares guineenses que combateram do lado português serão integrados no futuro Exército da Guiné-Bissau”!!;
b) “As populações locais serão apoiadas para melhor poderem desenvolver as suas actividades, principalmente nas áreas agrícolas e comerciais”!!;
c) “Ninguém será incriminado, porque o nosso País precisa de todos”!!.

Como viemos a saber, poucos meses depois, a maioria dos graduados e responsáveis que actuaram do lado português, bem como muitos antigos nossos soldados, foram fuzilados no Cumeré e na Fortaleza de S. José da Amura, esta situada em pleno centro da cidade de Bissau e que até hoje se mantém com visitas proibidas ao seu interior?!

a) Porquê esta terrível tomada de posição?!
b) Que procuram esconder, se prometeram integrá-los no novo Exército do PAIGC?!
c) Porquê a proibição de entrada no interior da Fortaleza de S. José da Amura?!

Mesmo assim, foram para nós momentos de recordação daquela época da nossa juventude, que nos vieram avivar a velha questão: “E valeu a pena”? São realidades duras como estas que nos levam a questionar:

a) Como foi possível esta autêntica barbaridade?!
b) Merecerá alguma credibilidade a Guiné-Bissau, se continuar a ter dirigentes deste calibre?!
c) Poder-se-à esquecer este autêntico genocídio?!

Sentindo muita mágoa pelas bárbaras e cobardes atitudes como as atrás descritas, tomadas por gente sem quaisquer escrúpulos, e só pela simples e aparente razão desses elementos fuzilados terem servido no exército português, procurando obter um melhor nível de vida para si próprios e famílias, mesmo assim foram para nós momentos de recordação daquela época da nossa juventude, que nos vieram avivar a velha questão: “E terá valido a pena este esforço e sacrifício?”
Naturalmente que pensamos que não, mas as ambições levam muitas vezes a perder-se a razão e a passarmos a actuar como seres irracionais!

Por mera curiosidade e no decorrer de uma visita de cortesia que o General Cassamá, do actual Exército da Guiné-Bissau, nos fez ao Aparthotel Machado, a convite de alguns nossos colegas que já lá tinham estado em anos anteriores e já o conheciam, e em resposta a uma questão que eu próprio lhe coloquei, fiquei a saber que o Major Dick Daring, seu companheiro de formação no PAIGC e considerado, por ele, um bom estratega militar, tinha falecido no ano de 2000, vítima de doença prolongada.

Foto 19 - Bissau (Guiné-Bissau): Os colegas Moutinho, Isidro, Vitorino, Cancela e Barbosa, na companhia do Sr. Manuel Machado (sentado e de frente) e da esposa D. Teresa (de pé), na zona do restaurante do Aparthotel Machado.

Foto 20 - Bissau (Guiné-Bissau): Palácio Colinas do Boé – Edifício da Assembleia Nacional Popular
Foto: Com a devida vénia a Wikimedia Commons

Foto 21 - Bissau: Imagem da Catedral de Bissau, com o colega Isidro, em pose, junto à porta principal

Foto 22 - Bissau: Outra foto junto à porta da Catedral da cidade, onde aparece o amigo Rodrigo e eu próprio

Fotos: © A. Acílio Azevedo

(Continua)
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Nota do editor

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1 comentário:

Anónimo disse...

O meu comentário já vem com um ano de atraso, só agora vi esta excelente reportagem. Conheço todos esses locais, Bissau conheço palmo a palmo, percorri nos anos de 67/69 com a minha motorizada e fiz loucuras que não vou contar. Hospedava-me quando vinha a Bissau todos os meses, ou no Biafra, vulgo o Clube de Oficiais de Santa Luzia, e passei muitas vezes por aquela piscina, que já está diferente. Também era hospede muitas vezes no Grande Hotel, o melhor local na época em que jantava no mesmo salão, com Spin ola e outros. Depois foi piorando. Andei pela Amura onde ainda cheguei a ser servido no Bar pelo nosso camarada Marco Paulo, era o cabo do Bar, eu já o conhecia do Porto. Conheço o Pilão, ou Cupilão, como outros chamam, muito bem, passei lá momentos inesquecíveis, dormia lá nas Tabancas e deixava a motorizada na porta!
Enfim, para não falar das minhas loucuras de fazer as viagens de motorizada aos domingos, até Safim e Nhacra, onde frequentei as piscinas. Depois outro dia resolvi que tinha de ir sozinho até Mansoa e Mansaba, mas fui mandado parar e voltar para traz pois os militares que por ali passavam disseram que era perigoso, eu não ligava a nada, a idade da rebeldia nem nos deixava pensar direito, não contando com o calor, a humidade, os copos, etc... e as ostras, as malditas ostras que tive de voltar a comer, 15 anos depois.
Voltei lá em 1984 e 1985, mais 4 vezes, foi uma desilusão total, não havia nada disto que me mostram agora. Cheguei e fui logo marcar a viagem de regresso, ainda se vendia na Avenida do Império, água ao copo e mancarra, não havia mais nada. Instalei-me no 24 de Setembro, mas não havia quase nada de comer, enfim foi para esquecer. Regressei novamente e já fui até Quinhamel comprar as tais ostras, foi um dia inteiro a comer este petisco e galinha de chabéu. Fui finalmente até onde queria, Nova Lamego, onde tinha estado de Set67 a Fev68. Já havia estrada, aliás auto estrada, pois tínhamos que pagar portagem...

Voltarei aqui mais tarde caso tenha mais algum comentário dessa vossa visita. Mas não esqueçam que eu fui sozinho, sem programa sem nada, só para matar os fantasmas...

O Camarada
Virgílio Teixeira
Ex-Alferes miliciano do BC1933