Guiné > Região de Bafatá > Sector L2 > Geba > CART 1690 (1967/69) > Destacamentos e aquartelamentos > 1968 > A CART 1690, com sede em Geba, tinha vários destacamentos: Banjara, Cantacunda, Sare Banda, Sare Ganá... Os destacamentos não tinham luz eléctrica e as condições de segurança eram precárias. O IN tinha uma importante base em Sinchã Jobel, a oeste de Geba, a sul de Banjara, a sudeste de Mansabá. (*)
As instalações que se veem na foto pertenciam à antiga serração do empresário Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira,
um dos primeiros militantes comunistas a ser deportado para a Guiné, em 1925, dono de modernas serrações mecânicas aqui, em Fá Mandinga e em Bafatá, a partir de 1928, exportador de madeiras tropicais, colono próspero e figura respeitável na colónia em 1947, um dos primeiros a ter telefone em Bafatá, amigo de Amílcar Cabral, tendo inclusive ajudado o Luís Cabral a fugir para o Senegal, em 1960...
Guiné > Região de Bafatá > Sector L2 > Geba > CART 1690 (1967/69) > Destacamento de Banjara > 1968 > O abastecimento das NT era deficiente, pelo que se recorria aos "produtos naturais" da região...
Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Bafatá > Sare Banda > 2001 > Restos do antigo destacamento de Sare Banda > Na foto, o ex-presidente da Câmara Municipal de Chaves Altamiro Claro, membro da nossa Tabanca Grande, ex-alf mil op esp, CCAÇ 3548 / BCAÇ 3884 (Geba, 1972/74).
Foto (e legenda): © Altamiro Claro (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sinchã Jobel > 22 de abril de 2006 > Uma bomba da FAP (Força Aérea Portuguesa), das muitas que foram lançadas sobre a base do PAIGC, durante a guerra colonial, e que não chegaram a explodir. Na foto, o nosso amigo e camarada A. Marques Lopes. Em finais de 1967, Sinchã Jobel passou a ser uma ZLIFA (Zona Livre de Intervenção da Força Aérea). Ficava no regulado de Mansomine, entre Mansabá e Bafatá. A foto, histórica, é do organizador desta viagem, do Porto a Bissau, em abril de 2006, o Xico Allen [ex-1.º cabo at inf, CCAÇ 3566, Os Metralhas, Empada, 1972/74]. Levou o jipe, que lá ficaria para futuras viagens. O grupo regressaria depois de avião. Acompanhou, em 22 de abril de 2006, o A. Marques Lopes neste regresso, emocionante, à mítica Sinchã Jobel. (*)
Foto (e legenda): © Xico Allen (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Bafatá > Sare Banda > 2001 > Restos do antigo destacamento de Sare Banda > 22 de abril de 2006, "a caminho de Sinchã Jobel"
Fotos (e legenda): © A, Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
por A. Marques Lopes
(i) amigo e camarada, um histórico da nossa Tabanca Grande, com 240 referências no blogue;
(ii) lisboeta, filho de pais alentejanos, que vive em Matosinhos;
(iv) ferido em combate e evacuado para o Hospital Militar Principal, na Estrela, onde esteve em tratamento durante nove meses, voltando depois ao TO da Guiné para completar a sua comissão de serviço;
(v) em abril de 2006, (re)visitou Guiné-Bissau, num viagem de grupo organizada pelo Xico Allen;
(vi) autor de "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial" (Lisboa, Chiado Editora, 2015, 582 pp.)]
Sare Banda estava perto de Sinchã Jobel, e é natural que fosse atacada. O alferes morto foi o Carlos Alberto Trindade Peixoto, o meu segundo substituto [, o "Aznavour", por ser parecido com o Charles Aznavour, sendo natural de Moçamedes, Angola]. O outro morto foi o fur mil Raul Canadas Ferreira [, natural da metrópole]. Mas as circunstâncias da morte deles não estão devidamente relatadas. (**)
Foi assim: este, como todos os destacamentos da CART 1690, não tinham luz eléctrica, nem mesmo um miserável gerador. Eles estavam os dois numa tenda a jogar às cartas, com um petromax aceso. Para os guerrilheiros foi muito simples, foi só apontar o RPG.
As fotografias de Sare Banda que mando tirei-as em Abril 2006, quando a caminho de Sinchã Jobel, passando por Geba, Sare Ganá e Sinchã Sutu.
8 de setembro de 1968 : desenrolar da ação
(i) Acção inicial do IN
Em 8 de setembro de 1968, às 20h21, um numeroso grupo IN, estimado em cerca de 100 elementos instalados em semi-círculo nas direcções NE-SW e SE-NW, atacou o destacamento de Sare Banda com o seguinte armamento:
- Canhão s/recuo- Morteiro 82
- Lança granadas RPG-2
- Lança granadas P-27 "Pancerovka"
- Metralhadoras pesadas
- Metralhadoras ligeiras
- Armas automáticas
- Armas semi-automáticas
O ataque foi iniciado com um tiro ao canhão S/R e dois Lança Granadas Foguete, dirigidos contra a cantina e depósitos de géneros que atingiram mortalmente o Alferes, Comandante do Destacamento e um furriel e provocaram ferimentos numa praça.
Estes tiros iniciais do IN atingiram e destruíram ainda o mastro da antena horizontal do rádio, ficando assim o destacamento de comunicações cortadas com toda a rede de Geba.
No seguimento da acção do IN atingiu com uma granada incendiária uma barraca coberta por 2 panos de lona de viaturas pesadas, onde costumavam dormir vários elementos das NT por não caberem todos nos abrigos, o que provocou a destruição de todo o material lá existente e iluminação das posições das NT.
(ii) Reação das NT
a) Das forças do destacamento
(ii) Reação das NT
a) Das forças do destacamento
Após a surpresa inicial, os elementos que se encontravam fora dos abrigos correram para os mesmos e reagiram imediatamente ao ataque IN. Não obstante terem ficado sem o seu Comandante e sem comunicações logo aos tiros iniciais, nunca perderam a calma e o moral, opondo tenaz resistência aos intentos do IN.
Refira-se que, logo no início da reacção, as NT atingiram com tiros de morteiro a guarnição IN do canhão s/r, calando-o definitivamente, e em determinada altura do ataque repeliram energicamente uma tentativa de penetração de elementos IN ao destacamento, que para o efeito haviam conseguido chegar junto da rede do arame farpado.
Essa reacção, feita só à base de tiros de espingarda G-3 e granadas de mão em virtude de se ter avariado o Lança Granadas Foguete (bazuca, 8.9), foi verdadeiramente eficaz e decisiva para o desenrolar dos acontecimentos, pois o IN foi obrigado a recuar deixando no terreno 3 mortos, além de armamento e arrastado consigo outros elementos feridos e mortos.
O IN sempre perseguido pelo fogo das NT recuou cerca de 200 metros, instalando-se entre Sare Banda e Sinchã Sutu, donde continuou a flagelar o destacamento até cerca das 22h30 (1 hora e 30 minutos depois do início do ataque), altura em que desistiu dos seus intentos retirando definitivamente.
b)Das forças de Geba (CART 1690)
Em virtude das péssimas condições atmosféricas não foram ouvidos em Geba os rebentamentos de forma a poderem ter sido localizados. Refira-se ainda que o facto do destacamento de Sare Banda ter ficado sem comunicações logo de início do ataque, só permitiu que em Geba se tivesse conhecimento do sucedido cerca das 09h02, do dia seguinte, de 9 de setembro de 1968, e através de 2 praças do destacamento que haviam vindo a pé voluntariamente comunicar a ocorrência.
Prontamente saiu de Geba uma coluna de socorro que, ao atingir Sare Banda às 017h45, fez um reconhecimento nos arredores seguido de batida de madrugada, mas já não conseguindo contactar com o IN, que havia retirado na direcção de Darsalame e se dirigindo para Sinchã Jobel.
(iii) Resultados obtidos:
Baixas sofridas pelo IN: 8 mortos confirmados. Muitos feridos sendo possível que hajam mais mortos devido aos rastos de sangue encontrados no carreiro de retirada do IN.
Material capturado ao IN:
- 1 Espingarda semi-automática SIMONOV cal. 7,62 mm
- 1 Espingarda automática G-3 / 7,62 mm
- 1 Granadas de canhão s/r
- 2 Granadas de lança-granadas foguete
- 1 Granadas de morteiro 82 mm
- 2 Granadas de mão ofensivas RG-4
- 8 Carregadores de Met. Lig.
- 2 Fitas de Met. Lig.
- 2 Facas de mato
- 2 Bolsas p/transporte de munições
- 2 Cantis
- Diversas Munições de armas aut.
Material capturado ao IN:
- 1 Espingarda semi-automática SIMONOV cal. 7,62 mm
- 1 Espingarda automática G-3 / 7,62 mm
- 1 Granadas de canhão s/r
- 2 Granadas de lança-granadas foguete
- 1 Granadas de morteiro 82 mm
- 2 Granadas de mão ofensivas RG-4
- 8 Carregadores de Met. Lig.
- 2 Fitas de Met. Lig.
- 2 Facas de mato
- 2 Bolsas p/transporte de munições
- 2 Cantis
- Diversas Munições de armas aut.
Além de uma bolsa de medicamentos, com o seguinte material:
- 3 Streptomycin. Sulphite-ampolas de 5.000.000 (Frascos)
- 1 Éter (frasco)
- 1 Mercúrio cromo (frasco)
- 1 Bálsamo (frascos)
- 10 Injecções (desconhecidas em ampolas)
- 178 Aspirinas comprimidos (carteiras)
- 96 Madexposte em comprimidos
- 6 Chinim Sulfur (comp. emb. de 5)
- 5 Codemel (carteiras de 10 Comprimidos)
- 1 Adesivo (rolo)
- 1 Algodão cardado (maço)
- 1 Garrote
- 20 Ligaduras de gaze de 10 cm x 5cm
- 1 Seringa de plástico c/agulha
A. Marques Lopes
Alf Mil da CART 1690
[Revisão / fixação de texto: LG](***)
____________
Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
5 de outubro de 2015> Guiné 63/74 - P15202: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte V): a partir da Op Invisível, de 18-19/12/1967, passa a ser uma ZLIFA (Zona LIvre de Intervenção da Força Aérea)... O alf mil Fernando da Costa Fernandes, de Santo Tirso, é morto, não sendo possível resgatar o seu corpo, e o soldado Manuel Fragata Francisco, de Alpiarça, é gravemente ferido, aprisionado e levado para Ziguinchor onde é tratado pelo dr. Mário Pádua e mais tarde, em 15/3/1968, entregue à Cruz Vermelha Internacional
(**) Vd. poste de 3 de julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4632: Os bu... rakos em que vivemos (13): Sare Banda um dos bu…rakos em que morremos! (A. Marques Lopes)
(***) Último poste da série > 13 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19887: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (8): O soldado Machado, de etnia cigana: 'Ó Barrelas, pagas-me uma bejeca ?!'... Uma "estória" bem humorada do Mário Pinto (1945.2019)
8 comentários:
António Marques Lopes, ainda hoje é doloroso reavivar as memórias destes "bu...rakos" onde passámos (e alguns de nós morreram ou foram apanhados à unha)...
Ainda não descobri a terra da naturalidade do infortunado fur mil Raul Canadas Ferreira...
Será que alguém pode ajudar ?
Também o nosso escritor Alberto Branquinho andou por estes lugares, de trágica memória... Na altura era Alf Mil Op Esp da CART 1689 / BART 1914 (1967/69)...
1 DE FEVEREIRO DE 2011
Guiné 63/74 - P7702: Memória dos lugares (130): Banjara, destacamento a 45 km de Geba, CART 1690 / BART 1914, subunidade com um dos mais trágicos historiais do CTIG (1967/69) (A. Marques Lopes / Alfredo Reis)
Camarada A. Marques Lopes, não sei deva dar os parabens, estes artigos são peças para uma vida, devemos louvar esses bravos da CART1690/BCAR1914.
Realmente somos dos mesmos anos - 1967/1969, passamos mais ou menos pelos mesmos sitios, Bafata, Nova Lamego, Banbadinca, Geba, e finalmente Barro, Sector O1B, São Domingos.
Estes nomes todos destas localidades não me fica mais do que Bafata, Mansaba, sei onde ficavam e estive por lá.
O meu interesse, em particular, é saber a relação entre o BART1914, o BCAV1915 (que fomos render em Set67 em Nova Lamego.
Pelos numeros das unidades, é assim:
Ficaram sob o comando do BCAÇ1933, entre muitas outras unidades, a CCAÇ1623 (Batalhão?); As CCAV 1651 e CCAV1662, umas destas devia pertencer ao BCAV1915, e a outra?
Fiocamos também com a CART1742 do Batalhão ???.
Pertencem a um Batalhão que chegou pouco antes do nosso.
Sara Banda e outros nomes estranhos, não conheci nunca, e Geba, só mesmo por ficar nas margens do Rio Geba. Significa que quando passei pelo Rio Geba, para baixo e para cima, terei passado perto da sede da CART1690 no Geba?
O Batalhão 1914 e 1915, foram de certeza no mesmo barco, em meados de 67, certo?
Tal como os BatCaç 1933 (o meu) e o 1932 que foi para Farim, fomos juntos no mesmo barco.
E fomos render o 1914 e 1915, que vieram em meados de 69, e nessa altura passou o meu batalhão a ser o mais antigo na Guiné, até Agosto de 69
Em São Domingos tinhamos a CCAÇ3 com um destacamento em Barro, mas eu nunca lá fui, as estradas eram intransitáveis, mas o meu comandante de Batalhão foi lá algumas vezes, ou de DO, ou talvez no Sintex, não sei se tinha rio e cais de atracagem, sei que está na historia da unidade.
Estes momentos, vividos pelas NT em situações tão básicas, sem instalações dignas, sem luz, devem ter sido terriveis, já o eram para os outros que tinham luz, energia electrica, bebidas geladas, gelo para o uisque, estas coisas que eram básicas naqueles cenários, não estou a imaginar-me numa situação destas, mas que as houve, é verdade, e aqui estão as provas.
Agora sim, muitos parabens por este legado para a posteridade, já que para nós já não vamos usufruir de nada deste legado, apenas as memórias, que nunca saem do cerebro.
Virgilio Teixeira
Virgílio, Geba, presídio nos finais do séc. XIX, ficava na margem direita do Rio Geba Estreito, já perto de Bafatá... Passaste na estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá, mas Geba não se via da estrada... Vê aqui a carta de Bambadinca:
https://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial17_mapa_Bambadinca.html
"Mortos confirmados"?...A malta tinha tendência para inflacionar o número de mortos infligidos aos IN nestes ataques... Se morressem logo cinco ou seis de cada vez que há havia um ataque contra as nossas posições, a guerra teria acabado cedo por falta de carne para canhão...
Olá Camarada
Para evitar o surto inflacionário do número de mortos a dada altura saiu uma directiva que só considerava como mortos aqueles que "lá" ficavam.
Às vezes só no dia seguinte se sabia quantos lá tinham ficado. Tive um caso em Cameconde e sei de um outro na estrada Cútia - Mansoa na 5.ª feira após a coluna das 4.ª feiras.
Quanto aos feridos era permitida uma certa especulação...
Não estive lá, mas falo de uma posição na mesma estrada e com as mesmas características de Sare Banda.
Um Ab.
António J. P. Costa
Luís
Como tu dizes, também "andei por aqui", mais propriamente por Banjara (pelo norte de Banjara, saindo de Banjara), por duas vezes. A primeira operação foi um "flop", mas a repetição (INQUIETAR II) foi um sucesso que fez com que a CART 1689 tivesse sido galardoada.
No entanto, uma correcção: a minha CART 1689 era a última companhia do BART 1913 e a CART 1690 , que aqui é referida, é que era do BART 1914 e também esteve lá nessas operações, em zona que, afinal, era a sua. Nós é que estávamos a operar na casa deles.
Abraço
Alberto Branquinho
Luís, não consigo abrir este link,
https://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial17_mapa_Bambadinca.html
mas também já tinha percebido que não passei por Geba, fui por estrada, sim alcatroada até Bafatá, e Geba é realmente noutra banda.
Um presidio em sentido figurado?
Um abraço, e bom casório.
Amanhã tenho a primeira comunhão do meu neto mais novo, de 9 anos, filho do meu filho.
Já tive de escrever umas palavras, mas não me saíam em poema, por isso foi mesmo prosa.
Virgilio Teixeira
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