1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau,
1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre
outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:
Frente ao mar
Sinto-me minúsculo frente a este mar sem fim.
Uma gotícula apenas deste universo, aparentemente, sem começo e, se calhar, sem fim.
Mas tenho a faculdade de reflectir.
Todas as questões que se põem:
- Donde? Porquê? Qual o fim?
Como eu, a humanidade se interroga, desde quando se viu como parte integrante deste mundo.
São tantas as teorias que o homem fabricou.
Desde a mais simples e elementar
- Que o mundo sempre existiu assim e existirá. Um composto de seres vivos e doutros, aparentemente inertes.
Aqueles brotaram destes e têm a faculdade de evoluirem.
Sua existência, sujeita à morte, está visceralmente dependente dos que lhe parecem inferiores.
Dos vivos, só a humanidade tem consciência dessa dependência.
Por isso, sofre e sente angústia.
Queria ser eterno, pelo menos, como o mundo.
Vê o terror do tempo que os devora.
Para a mitigar, com a ânsia de eternidade, inventou uma panóplia de religiões.
Ainda mais confundem.
- Será verdadeira aquela que crê num Ser Supremo. Criador de tudo quanto existe. Tudo sustenta e governa.
E que, há uns breves milhares de anos, se revelou ao homem, não só como seu princípio e fim, como é seu Deus e Pai...
Nela eu estou.
Roses, 13 de Junho de 2019
10h20m
Jlmg
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Estão em sentido rigoroso as casas e as janelas da cidade...
Estão em sentido rigoroso, aprumadas, as casas e as janelas do Porto, frente ao rio.
Se perfilaram, com todo o garbo, saudando sua visita e passagem para a foz.
Se engalanaram de cores vivas as paredes, as vielas e os recantos, em harmonia maviosa.
Telhados rubros e ameias.
À porfia.
Até a catedral, de provecta idade e curiosa, em homenagem, lá no alto, ergueu as suas torres.
O tempo passa. O rio corre.
Em correria milenar.
Morre a gente.
Se renova.
Fica a saudade.
A saudade morre.
E a cidade inteira,
Em reverente majestade, se rende ao Douro.
Faz parte dela.
Não é hóspede.
É da casa.
É bem verdade.
Roses, 14 de Junho de 2019
9h59m
Jlmg
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Espero-te, sol...
Espero-te, sol na tua imponência avassaladora.
Derrama luz em abundância.
Aquece os corpos transidos de dor pelos ventos da desgraça.
Sacia de pão os campos verdes.
Traz-nos, de novo, a fartura da paz e harmonia em cada lar.
Celebra connosco a festa fraternidade.
Acompanha de perto nossas passadas tímidas pelas veredas deste mundo.
Sê tu o rei deste reinado tão desgovernado.
Brilha e faz brilhar nas mentes as ideias puras e os sonhos que a Natureza delineou para nosso bem.
Acaba de vez a noite, sem estrelas nem luar que parece não ter mais fim...
Ouvindo Chopin - Nocturne op.9 No.2
Roses, 10 de Junho de 2019
9h33m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 9 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19873: Blogpoesia (624): "Aldeias suaves, serenas...", "Frescura do bosque" e "Subjectividade...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
Bela homenagem, poética, ao Porto ribeirinho!... Parabéns, Luís
Obrigado, Luís.
Um abraço
Joaquim
Luis Mendes, este poema vem hoje mesmo a propósito de mais uma investida fotográfica minha ao meu Porto ribeirinho, desde o Aleixo àté à Ponte da Arrábida, fiz 122 fotografias de sonho, em 3 horas caminhada e até subi 65 metros, 126 degraus, 18 andares, sob o cimbre da ponte, num exercicio fantástico. E ainda não acabei, pois há sempre tantos recantos por 'redescobrir'.
Um abraço e parabens por estes belos poemas.
Virgilio
Obrigado, Virgílio, pelo poema e pelas tuas fotos. Vais pô-las aqui...
Um abraço
Joaquim
Para já não em Postes, tenho de organizar tudo, legendar, numerar, datar, e não são só estas 122, já vou em quase 3000, e hoje de tarde parto para mais umas 3 horas agora pelo lado de Gaia, fotografando o Porto ribeirinho.
Mandei algumas ao Luís, mas por email.
Um a braço,
Virgilio
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