domingo, 16 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19895: Blogpoesia (625): "Frente ao mar", "Estão em sentido rigoroso as casas e as janelas da cidade..." e "Espero-te, sol...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Frente ao mar

Sinto-me minúsculo frente a este mar sem fim.
Uma gotícula apenas deste universo, aparentemente, sem começo e, se calhar, sem fim.
Mas tenho a faculdade de reflectir.
Todas as questões que se põem:
- Donde? Porquê? Qual o fim?
Como eu, a humanidade se interroga, desde quando se viu como parte integrante deste mundo.
São tantas as teorias que o homem fabricou.
Desde a mais simples e elementar
- Que o mundo sempre existiu assim e existirá. Um composto de seres vivos e doutros, aparentemente inertes.
Aqueles brotaram destes e têm a faculdade de evoluirem.
Sua existência, sujeita à morte, está visceralmente dependente dos que lhe parecem inferiores.
Dos vivos, só a humanidade tem consciência dessa dependência.
Por isso, sofre e sente angústia.
Queria ser eterno, pelo menos, como o mundo.
Vê o terror do tempo que os devora.
Para a mitigar, com a ânsia de eternidade, inventou uma panóplia de religiões.
Ainda mais confundem.
- Será verdadeira aquela que crê num Ser Supremo. Criador de tudo quanto existe. Tudo sustenta e governa.
E que, há uns breves milhares de anos, se revelou ao homem, não só como seu princípio e fim, como é seu Deus e Pai...
Nela eu estou.

Roses, 13 de Junho de 2019
10h20m
Jlmg

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Estão em sentido rigoroso as casas e as janelas da cidade...

Estão em sentido rigoroso, aprumadas, as casas e as janelas do Porto, frente ao rio.
Se perfilaram, com todo o garbo, saudando sua visita e passagem para a foz.
Se engalanaram de cores vivas as paredes, as vielas e os recantos, em harmonia maviosa.
Telhados rubros e ameias.
À porfia.
Até a catedral, de provecta idade e curiosa, em homenagem, lá no alto, ergueu as suas torres.
O tempo passa. O rio corre.
Em correria milenar.
Morre a gente.
Se renova.
Fica a saudade.
A saudade morre.
E a cidade inteira,
Em reverente majestade, se rende ao Douro.
Faz parte dela.
Não é hóspede.
É da casa.
É bem verdade.

Roses, 14 de Junho de 2019
9h59m
Jlmg

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Espero-te, sol...

Espero-te, sol na tua imponência avassaladora.
Derrama luz em abundância.
Aquece os corpos transidos de dor pelos ventos da desgraça.
Sacia de pão os campos verdes.
Traz-nos, de novo, a fartura da paz e harmonia em cada lar.

Celebra connosco a festa fraternidade.
Acompanha de perto nossas passadas tímidas pelas veredas deste mundo.
Sê tu o rei deste reinado tão desgovernado.
Brilha e faz brilhar nas mentes as ideias puras e os sonhos que a Natureza delineou para nosso bem.

Acaba de vez a noite, sem estrelas nem luar que parece não ter mais fim...

Ouvindo Chopin - Nocturne op.9 No.2

Roses, 10 de Junho de 2019
9h33m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19873: Blogpoesia (624): "Aldeias suaves, serenas...", "Frescura do bosque" e "Subjectividade...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Bela homenagem, poética, ao Porto ribeirinho!... Parabéns, Luís

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Obrigado, Luís.
Um abraço
Joaquim

Anónimo disse...

Luis Mendes, este poema vem hoje mesmo a propósito de mais uma investida fotográfica minha ao meu Porto ribeirinho, desde o Aleixo àté à Ponte da Arrábida, fiz 122 fotografias de sonho, em 3 horas caminhada e até subi 65 metros, 126 degraus, 18 andares, sob o cimbre da ponte, num exercicio fantástico. E ainda não acabei, pois há sempre tantos recantos por 'redescobrir'.
Um abraço e parabens por estes belos poemas.
Virgilio

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Obrigado, Virgílio, pelo poema e pelas tuas fotos. Vais pô-las aqui...
Um abraço
Joaquim

Anónimo disse...

Para já não em Postes, tenho de organizar tudo, legendar, numerar, datar, e não são só estas 122, já vou em quase 3000, e hoje de tarde parto para mais umas 3 horas agora pelo lado de Gaia, fotografando o Porto ribeirinho.
Mandei algumas ao Luís, mas por email.

Um a braço,
Virgilio