sábado, 22 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19910: Os nossos seres, saberes e lazeres (333): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
Com a visita à exposição da coleção Wolfers pôs-se termo ao primeiro dia em Bruxelas, seguiu-se um belo passeio nos jardins da comuna de Watermael-Boitsfort, um grande amigo octogenário anda com as forças derribadas, decidiu ir viver para uma residência, receia dar tombos em casa. Não deixa de ser uma opção dolorosa, confidencia ao viandante.
E na manhã seguinte, esse mesmo viandante parte por sua conta e risco para andarilhar no bairro popular de Bruxelas, Marolles, sobretudo a Feira da Ladra, mas passear-se por lugares icónicos, que lhe são muito familiares, como a Rue Haute, Rue des Minimes, Rue des Tanneurs, será aqui que irá almoçar num tasquinho económico, ajoujado de alguma tralha adquirida no mercado. E como se verá adiante, mesmo ajoujado não resistiu a investir nas livrarias de obras em segunda mão, para ele uma espécie de paraíso na terra.

Um abraço do
Mário


Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (2)

Beja Santos

O viandante anda pela exposição dedicada à joalharia dos irmãos Wolfers em deslumbramento, talvez mesmo em transe hipnótico, são artes decorativas de valor excecional, sempre que visita em Lisboa o Museu Gulbenkian demora-se no espaço reservado as artes decorativas de outro génio, René Lalique, Philippe Wolfers foi contemporâneo de Lalique. Mas o viandante não só se enamora da ourivesaria e objetos decorativos, compraz-se com a articulação do mobiliário concebido por outro génio, o arquiteto Victor Horta, alguém que deixou edifícios públicos e privados sem paralelo, pode bem acontecer a todos aqueles que vão a reuniões a Bruxelas que não saibam que a Gare Central é projeto de Victor Horta, como o Palácio das Belas-Artes, como a celebérrima Maison du Peuple, criminosamente deitada abaixo. E noutra oportunidade já aqui se enalteceu o Museu Horta, situado na Comuna de Saint-Gilles, em Bruxelas, a casa e ateliê do génio, figura de proa do vanguardismo arquitetónico mundial.




O viandante não está interessado em fatigar o leitor, deixam-se aqui algumas imagens destes tesouros, pode dar-se o caso de o leitor um dia visitar Bruxelas, pode vir até ao Museu do Cinquentenário e usufruir destas belezas, algumas delas fazem parte da coleção permanente do museu.






O segundo dia, o viandante continua em Bruxelas, é dia de semana, a Place du Jeu de Balle, onde se situa a Feira da Ladra de Bruxelas, está entregue a pequenos comerciantes árabes que compram os recheios das casas, tudo se encontra, desde restos da casa de banho, caixas com fotografias, vestuário da avó, as mais inconcebíveis tralhas de sótão, e livros, discos compactos, quadros, esta praça é uma exposição pública de cavernas de Ali Babá de interiores muito incómodos para os herdeiros que tudo despejam a pataco, atenda-se ao que se vê nestas imagens.






Manhã trabalhosa para o viandante, trabalhosa e rendosa, sai daqui com uma caixa de leques completa, um prato de Companhia das Índias com cabelo, um lenço de pescoço de senhora da casa Dior, do final dos anos 50, pedaços de rendas, uma edição encadernada de Balzac, com belas ilustrações, segue agora para o almoço e a penalizar-se da sua falta de juízo, os voos low cost são implacáveis, não pode andar com esta traquitana avulsa em exibição. Agora é tarde, as compras estão feitas e a verdade é que dias depois embarca com uma caixa de leques a tiracolo e este imenso saco de tralha, que não lhe dá mais saúde à sua tão maltratada coluna. Paciência, é o preço de ser um acumulador desenfreado.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19891: Os nossos seres, saberes e lazeres (332): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (1) (Mário Beja Santos)

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