Lúcio
Vieira
[ex-fur mil, CCAV 788 / BCAV 790,
Bula e Ingoré, 1965/67;
natural de Alcanena;
vive em Torres Novas;
jornalista, poeta,
dramaturgo, encenador;
autor, entre outros, do livro "25 poemas de dores e amores", vencedor da primeira edição do Prémio Literário Médio Tejo Edições, 2017;
membro da Tabanca Grande, nº 794]
ALVORAR
era quase alvor a liberdade
era quase a vida quase a voz
era um rio em cheia quase foz
brandos ventos feitos tempestade
e foi alevantado este meu povo
gente viva, erguida, agigantada
era um tempo velho feito novo
tempo aceso luz na alvorada
assim nasceu esta ânsia de nascer
de novo neste chão por amanhar
chão regado a pranto e a sofrer
chão de medos, chão de tanto esperar
de novo neste chão por amanhar
chão regado a pranto e a sofrer
chão de medos, chão de tanto esperar
e das noites algemadas de morrer
e das horas avisadas de acordar
que eu sou do povo que então quis saber
quanto de si o povo sabe dar
e sou também desta terra feita
de cravos de soldados e canções
da pátria onde me deito e onde se deita
a gesta que moldou mil gerações
e sou o filho e sou também irmão
dessa gente que já vive na memória
sou da noite de escrever libertação
com a pena do poeta coração
e as musas de inventar a nova história
e das horas avisadas de acordar
que eu sou do povo que então quis saber
quanto de si o povo sabe dar
e sou também desta terra feita
de cravos de soldados e canções
da pátria onde me deito e onde se deita
a gesta que moldou mil gerações
e sou o filho e sou também irmão
dessa gente que já vive na memória
sou da noite de escrever libertação
com a pena do poeta coração
e as musas de inventar a nova história
e era assim o dia a madrugar
no sangue e no fio de uma espada
esperança tanto sonho embainhada
olhos tanta noite a vigiar
e as lágrimas que correram tanto mar
e as vozes que rasgaram tanta estrada
e as armas onde a flor se viu plantada
não eram já as armas de matar
que o povo tem no peito e na raiz
a seiva da floresta libertada
aqui e era Abril e era amar
estava a renascer o meu país
quando se alvorou a madrugada
António Lúcio Vieira
25-4-1999 - 25 anos
______________
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 1 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20114: Escritos do António Lúcio Vieira (4): À noite o silêncio pesa-me... [do livro "25 poemas de dores e amores", vencedor da primeira edição do Prémio Literário Médio Tejo Edições, 2017]
7 comentários:
Finalmente ALVORAR! Grande Poema com grande significado. Parabéns.
Carlos, todas as efemérides patrióticas que rimem com liberdade podem e devem ser comemoradas: 1389, 1640, 1820, 1910, 1974... Este era o último, dos textos por publicar, que o Lúcio me enviara em 26/5/20219, depois do nosso último encontro nacional em Monte Real... Estava à espera que ele me mandasse mais colaboração, e a tentar reservar este poema (que não é inédito...) para o 25 de Abril de 2020... Mas ainda vem longe.
O 1º de dezembro também é data bonito... Sempre a comemorei desde miúdo, na minha terra... Ia atrás da banda a cantar o hino da restauração, e o hino da Maria da Fonte e o hino nacional...
Com um "frio de rachar"... Abraço para ti e para o Lúcio.
Este ano falhei VIII Desfile Nacional das Bandas Filarmónicas no âmbito das Comemorações do 1º de Dezembro... Estava fora de Lisboa... Mas aqui fica o texto da Agenda Cultural de Lisboa:
https://agendalx.pt/events/event/viii-desfile-nacional-de-bandas-filarmonicas/
(...) A Avenida da Liberdade será palco do tradicional desfile comemorativo do 1.º de dezembro, contando com a participação de mais de 1600 músicos de 37 bandas filarmónicas e agrupamentos vindos de todo o país. O Grupo de Bombos de Atei (de Vila Real) e a Banda Sinfónica do Exército abrem este 8.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas que terá início junto à Estátua dos Combatentes da Grande Guerra, pelas 15h. Com 132 anos de história, a Sociedade Filarmónica União e Capricho Olivalense – a coletividade mais antiga da freguesia dos Olivais – é a banda convidada deste ano para representar Lisboa, a cidade anfitriã desta iniciativa.
Este desfile visa igualmente homenagear e divulgar uma prática musical com mais de 200 anos que, um pouco por todo o país, continua a desempenhar um importante papel na formação cívica e musical de crianças e jovens. Como habitualmente, o cortejo culmina na Praça dos Restauradores com a atuação de todos os grupos que irão interpretar, em simultâneo, o Hino da Maria da Fonte, o Hino da Restauração e o Hino Nacional, sob direção do maestro da Banda Sinfónica do Exército, Major Alexandre Coelho. Pela primeira vez, “A Portuguesa” será tocada integralmente pelas bandas participantes, às quais se junta o Coro do Orfeão de Castelo Branco. (...)
Ver página no Facebook do Movimento 1º de Dezembro e a sua fotogaleria:
https://www.facebook.com/1dezembro/
Carlos, eu queria dizer "1385" e não "1389": a 6 de abril de 1385, é aclamado João I, Rei de Portugal, primeiro da Dinastia de Avis...
https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_de_1383%E2%80%931385_em_Portugal
Grande poema.lido em dias cinzentos dá-nos a imagem clara dos anos com futuro que ansiamos .
Parabens
Um belo e exaltante poema contra o medo, a mordaça e as algemas. Gostei muito.
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