Guiné-Bissau > Bissau > 2020 > Afribaba > Anúncio de venda de "Camião Volvo, de 20 toneladas, báscula para dois lados, com motor, arroçaria e caixa em muito bom estado". Preço: 9 100 000 CFA (cerca de 13 870 euros, ao câmbio de hoje, 1 euro = 655,96 CFA). Anunciante: Afribaba.(Reproduzido com a devida vénia...)
1. Mensagem de José Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, e manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década; está reformado como capitão inf do exército português; jurista, vive entre (i) Estocolmo, Suécia, (ii) nas imediações de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, já próximo da fronteira com a Finlândia, e (iii) Key-West, Florida, EUA; é o único régulo da tabanca de um homem só (, mas sempre bem acompanhado das suas renas, dos seus cães e dos seus ursos)
Data: sábado, 25/04, 20:16
Assunto: : "Eu destruí completamente um País" (*)
Luís: seguem as as declaracões de Patrik Engellau, um alto quadro do funcionalismo público sueco, sobre a Guiné-Bissau.. Junto foto dele, Patrik Engellau em artigo publicado no "Alla Skribenter", 27 dezembro de 2015. Faço uma tradução adaptada do artigo. Atenção aos muitos erros ortográficos na língua de Camões, por mim pouco usada há muitas décadas, a pedir benevolências extras quando escrita sobre o joelho nesta tradução do sueco original.
Ámen, J.Belo
2. Eu destrui um país [em sueco, "Jag har förstört ett helt land"]
"Alla Skribenter", 27 de dezembro de 2015.
por Patrik Engellau
Trabalhei durante cerca de 10 anos na ajuda económica ao Terceiro Mundo, primeiro nas Nações Unidas e depois na agência sueca para o a cooperação internacional e o desenvolvimento (SIDA - Swedish International Development Cooperation Agency), em países como o Brasil, Índia, Etiópia, e por último como chefe na embaixada sueca em Bissau.
Cheguei a Bissau em 1976, com 50 milhões de coroas suecas, no bolso, por ano, para apoio económico (,hoje equivalente a cerca de 250 milhões). Isto foi mais ou menos na mesma altura em que o novo governo guineense tomava posse após a queda do império português.
A Guiné-Bissau era um dos países favoritos da Suécia. Tanto a União Soviética como a Suécia tinham feito grandes doações ao PAIGC, o movimento de libertação de orientação socialista, agora no poder. Mas a Suécia era, então, de longe, o maior doador.
As nossas contribuições totalizavam uma soma muito superior ao Orçamento do Estado guineense. Sentia-me, então, como um dos elementos com maior influência no país. Tanto o Presidente [, Luís Cabral,] como os Ministros procuravam-me quase diariamente para obter as mais variadas coisas.
Mas os que julgam que tudo então se perdeu por os políticos terem aberto contas particulares em bancos suíços, estão enganados. Pelo menos no início, a líderança política eram constituída por gente honesta, bem intencionada, verdadeiros socialistas idealistas.
Queriam reformar e fazer progredir o país.
Obviamente que, ao olhar-se hoje [2015] retrospeticamente, não teria sido pior se a nossa ajuda económica tivesse terminado nas tais contas bancárias particulares.
A principal produção da Guiné-Bissau, além da agricutura de autosubsistência, era o arroz e o amendoim, os dois produtos de exportação,O comércio entre os produtores e o porto de Bissau estava nas mãos dos libaneses. Estes usavam carrinhas de marca Peugeot, em estradas lamacentas e com pouca manutenção, para transportarem para o interior produtos importados (, artigos de plástico, tecidos e outros), consumidos pelas populações, e no regresso a Bissau voltavam carregados com arroz e amendoim.
O governo não estava nada satisfeito com este sistema por considerar que os libaneses ganhavam demasiado com estes negócios de verdadeira exploração dos produtores locais. Considerava também que as pequenas quantidades transportadas não eram economicamente viáveis na perspetica da exportação em grande escala.
Ambos os problemas foram resolvidos com um plano que previa a nacionalização do comércio por grosso e a retalho e o transporte das mercadorias a realizar por camiões modernos.
Claro está que foi a Suécia quem, a meu pedido, veio a fornecer umas dúzias de moderníssimos camiões Volvo, desembarcados em Bissau em poucos meses.
Estes camiões último modelo,com ar condicionado, rádio estereofónico e confortável cabine para o condutor dormir, eram naves espaciais aos olhos da populção, e depressa se tornaram num instrumento de "engate" das belezas locais nas ruas de Bissau.
Durante uns tempos era mais importante esta "mercadoria" do que os tradicionais produtos de plástico e tecidos a serem transportados para o interior.
Se o problema tivesse sido só esse, as coisas näo teriam sido tão graves. Mas...quando os camionistas mais consciencios finalmente se puseram a caminho do interior (o que não deveriam ter feito!), concluiu-se que as estradas existentes [, "picadas",] não foram feitas para estes mastodontes ma sim para as carrinhas Peugeot.
Todos os tipos imagináveis de problemas surgiram, acabando por liquidar este tipo de transporte. Em menos de seis meses todos os camiões Volvo estavam parados.
Sendo as marcas de camiões Volvo e Scania as mais vendidas mundialmente, e utilizadas nas condições mais extremas, foi enviada a Bissau uma equipa de mecâncios para estudar o problema surgido.
Chegou-se à conclusão de que, para além dos problemas quanto ao peso que as estradas não suportavam, ambém tinham surgido pequenos problemas de manutenção das viaturas, do tipo: esqueceram-se de mudar o óleo, houve componentes dos motores que desaparecera, etc.
Com a falta de intermediários tradicionais, como os comerciantes libaneses, os camponeses não conseguiam escoar a sua produção, pelo que se voltaram a concentrar-se na produção para consumo local.
O arroz passou a não chegar para alimentar a população de Bissau. Aí a coisa tornou-se grave! O Presidente [, Luís Cabral,] justificou perante mim, que as coisas tinham-se agravado por razões climatéricas que teriam acarretado doenças para as plantas. Devido a isto, perguntou-me de imediato se seria possível um aumento da ajuda económica estipulada para estas situações de emegência.
Telegrafei de imediato para os escritórios centrais da SIDA (que são as iniciais ou o acrónimo da Agência Estatal Sueca para a ajuda aos países em vias de desenvolvimento) e, em muito curto espaço de tempo, tínhamos em Bissau um barco fretado, chinês, que transportava 3 mil toneladas de arroz para que a população não morresse de fome.
Estou a simplicar mas as coisas passaram-se basicamente assim.
História semelhante poderia ser aqui contada quanto ao enorme apoio económico sueco à indústria da pesca local.
São muitos os detalhes e sobre eles escrevi um romance publicado pela editora Atlantis. [Obs : Tenho em minha posse esses "detalhes"... Referência bibliográfica: Patrik Engellau - Genom Ekluten. Stockholm, Atlantis, 1980].
Pessoalmente acabei por me cansar destes contínuos fracassos na utilização de tão vastos recursos económicos, afastando-me de vez deste negócio escuro que é a assistência económica aos países pobres.(**)
Mas antes ainda de puxar a mim prórpio as orelhas, dei-me conta de que fui cúmplice no ato de destruição de um país.
Alguns anos depois, tanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros como a agência sueca para o a cooperação internacional e o desenvolvimento (SIDA) cansaran-se, decidindo terminar com estes apoios à Guiné-Bissau, com o argumento de que este país, afinal, não tinha o perfil adequado. Mas não podemos nem devemos "lavar as mäos" quanto ao processo e aos resultados.
Fomos nós, afinal, quem forneceu ao governo do PAIGC as ferramentas e as oprotuniades, para eles efectuarem as suas estúpidas experiências sociais...
Enquanto isto sucedia, nós estávamos ao lado deles e aplaudíamos este país heróico com os seus belos princípios sociais.
Agora que Guiné-Bissau se tornou num "narco-estado", o estado ganha dinheiro com a ajuda ao tráfego de droga da América Latina para os mercados europeus.
E o que pode fazer o pobre do governo? Os camiões Volvo são agora sucata e os libaneses provavelmente foram-se embora!
Em defesa das ajudas deste tipo aos países pobre, é claro que pode-afirmar-se que geralmente o seu montante é tão pequeno em relação aos recursos próprios do país destinatário que o eventual insucesso não é assim tão importante.
Patrik Engellanm 27/12/2015.
Publicado no "Alla Skribenter"
[Reprodução com a devida vénia... Tradução, revisão e fixação de texto: JB. O editor LG cotejou o original em sueco, e a tradução livre do JB, com tradução automática,pelo Google Translate, em inglês e português].
______________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 20 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20878: Da Suécia com Saudade (68): por causa da tal pandemia, as minhas renas não podem agora andar em bicha de pirilau e muito menos em manada... (José Belo)
(**) Vd, postes de:
3 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13842: Da Suécia com saudade (40): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte I)... à Guiné-Bissau, de 1974 a 1995, foi de quase 270 milhões de euros... Depois os suecos fecharam a torneira... (José Belo)
4 de movembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13847: Da Suécia com saudade (41): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte II)... Um apoio estritamente civil, humanitário, não-militar, apesar das pressões a que estavam sujeitos os sociais-democratas, então no poder (José Belo)
5 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13849: Da Suécia com saudade (42): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte III)... Pragmatismos de Amílcar Cabral e do Governo Sueco, de Olaf Palme, que só reconheceu a Guiné-Bissau em 9 de agosto de 1974 (José Belo)
6 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13853: Da Suécia com saudade (43): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte IV): Rússia e Suécia, vizinhos e inimigos fidalgais, foram os dois países que mais auxiliaram o partido de Amílcar Cabral (José Belo)
7 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13859: Da Suécia com saudade (44): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte V): Quando se discutia, item a item, o que era ou não era ajuda humanitária: catanas, canetas, latas de sardinha de conserva... (José Belo)
9 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13865: Da Suécia com saudade (45): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VI): Para além de meios de transporte automóvel (camiões e outras viaturas Volvo, Gaz, Unimog, Land Rover, Peugeot, etc.), até uma estação de rádio completa, móvel, foi fornecida ao movimento de Amílcar Cabral, sempre para fins "não-militares"... (José Belo)
11 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13874: Da Suécia com saudade (46): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): Não deveria ter ficado surpreendido, com algumas reações... (José Belo)
17 comentários:
Em 1960 já os suecos tinham cometido um crime talvez maior do que esta ajuda a bárbaros dirigentes guineenses, que foi ajudar uns tantos bárbaros dirigentes zairenses vizinhos de Angola.
Que tal como na Guiné, que viam o povo a rapar uma fome danada, e continuavam a apoiar os políticos/algozes, no ex-congo belga os suecos divertiam-se em autêntico turismo africano a assistir e testemunhar a tiroteios e massacres durante ano e anos.
Até que alguem lhe matou o sueco Hammarskjold para aqueles lados.
Não conheci tão bem a acção perniciosa dos suecos no Zaire, como conheci na Guiné.
Mas deu para ver o procedimento deles em Noqui/Matadi uns meses que ali passei como cabo miliciano.
Enfim, já passou, mas a Europa vai pagar, está a pagar estas "demagogias" em África, porque os africanos estão sempre a lembrar.
O italianos, Alemães e Franceses, e até Portugal, também fizeram umas lindas figuras.
Só por este post de José Belo, valeu a pena não "deslargar" o luisgraca.
Poderemos dizer que a Suécia foi ingénua no auxílio à Guiné-Bissau pós independência? De boas intenções está o Inferno cheio, lá boa-fé eles tiveram, acordaram tarde, não fiscalizaram convenientemente as ajudas milionárias, que foram parar ao bolso de dirigentes corruptos e hoje é um narco-estado. Pobre povo guineense que não merece tais dirigentes!
Leitor anónimo... É norma nossa assinar os comentários... De quallquer modo, obrigado.
Hoje não há diplomacia sem diplomacia económica... Sempre foi assim... E será até repensarmos os interesses da humannidade como um todo e o planeta como um todo...
O mais cínico dos professores de economia dirá, nas suas aulas de economia política, que não há "almoços grátis", e que toda a cooperação (seja sueca, chinesa pu portugiesa) não é "desinteressada"...
Até a caridade não é gratuita, seja católica, cristã evangélica, luterana ou calvinista... Ou chama-se outros nomes comforme a confissão religiosa de cada um... budista ou muçulmano. Ou simplesmente ateu...
Há um provérbio português de que gosto muito: "Dar aos pobres é emprestar a Deus"... Deus, bom banqueiro, paga-te depois com juros e dividendos...
Adora a "candura" deste texto: Eu destruí um país... È muito para um home só...LG
Rosinha, ainda bem que, em tempo de "confinamento" (, estamos sempre a arranjar palavrões!) não "deslargas" o nosso blogue... Felizmente que não precisas de ser co(n)vidado, és um camarada de pleno direito, e de boa saúde, membro sénior da Tabanca Grande, o "nosso mais velho" (como dizem os nossos irmãozinhos africanos)... A nossa decana, a nossa mais velha, era a mãe do Pepito, a Clara Schwarz, agora és tu, foste promovido a "decano", mesmo sem eu nunca ter visto o teu bilhete de identidade...
Bem sabes como eu aprecio a tua companhia e a tua sabedoria. Como diz o provérbio africano, o velho (, que somos nós,) vê mais longe sentado no chão da sua morança, do que o "djubi", empoleirado no alto do poilão...
Em que tabanca é que está a fazer o "confinamento" ?... Se calhar não estás longe de mim... Não "deslargues", vai dando notícias... Um alfabravo, Luís
Só um pequeno pormenor
Antes da independência a Suécia dava dinheiro ao paigc para estes comprarem medicamentos.
A URSS vendia o armamento ao paigc, conclusão... isso que estão a pensar.
Em 2006 visitei a Guiné e na pensão Coimbra onde estava hospedado cruzei-me com uma jovem Sueca lindíssima acompanhada por um Sr.sueco,na breve troca de palavras verifiquei que eram da cooperação sueca,foram simpáticos q.b....o problema foi quando perceberam que eu era português, ela fuzilou-me com o olhar e ele terminou imediatamente a conversa.
ab
C.Martins
Caro C.Martins.
Em completo acordo quanto aos “enviezados” caminhos seguidos por algumas ajudas econômicas suecas ao PAIGC.
Quanto a ter-se cruzado,na pensão Coimbra de Bissau,com uma jovem sueca lindíssima pergunto-me:
O que seria o Universo sem as lindíssimas jovens suecas?
(Com mais de 40 anos de experiência local quase me atrevo a acrescentar : Lindissimasr e....muito dadas !”
Um abraço do J.Belo
Bem, pelo menos ficamos a saber que os viquingues, normandos (ou homens do Norte) também chegaram à Guiné... Os chineses e os russos, que vêm de mais longe, também lá chegaram...
Pelo menos, as granadas de RPG e de canhão sem recuo e morteiro, ou os Strelas, não tinham caracteres "viquingues"... As que matavam os nossos camaradas tinham caracteres chineses ou cirílicos...
C. Martins, o que é querias da jovem loira lindíssima sueca, sempre sempre ao lado do povo heróico da Guiné-Bissau ?... Se ainda fosses um desertor... Mas tu não passavas de um rele soldado colonial-facista!... Nessa época, o mundo ainda era a preto e branco, mas as suecas eram louras e povoavam os nossos sonhos cor de rosa (, porra, nem sequer eram verde-rubros!), nas noites palúdicas da Guin+e...
Martins, o que é querias podias esperar da jovem loira lindíssima sueca, sempre sempre ao lado do povo heróico da Guiné-Bissau ?...
Se ainda fosses um desertor... Mas tu não passavas de um antigo reles soldado colonial-fascista!...
Nessa época, a da guerra colonial, o mundo ainda era a preto e branco, mas as suecas já eram louras e povoavam os nossos sonhos cor de rosa (, porra, nem sequer eram verde-rubros!), nas noites palúdicas da Guiné...
Sonhos ?... Qual sonhos!... Na Guiné um gajo só tinha pesadelos... Confesso que, lá em baixo, não me lembro de ter tido sonhos, e muito menos com suecas louras...
Meu Caro Senhor Editor
Se estamos “numa” de etnografias lá me sinto obrigado a usar os meus pergaminhos de experiências feitos.
Na província sueca da Varmland que se situa mais ou menos no centro oeste do país, e faz fronteira com a Noruega,houve na Idade Média um numeroso grupo de Valões Belgas que ,sendo especialistas a trabalhar o metal por lá existente em grande quantidade,ali se fixaram formando família com as indígenas locais.
Surgiram desde então nesta área grupos familiares em que as meninas hoje em dia dispõem de bonita cabeleira escura completado por incríveis olhos verdes-azulados.
Daí ,não serem só as típicas “lourinhas “ locais que são LINDAS!
(Idades +vírus+Laponia = a isto! )
Um abraço do J.Belo
Ps/ E a propósito de não haver nada melhor que uma gargalhada para matar todos os vírus,não resisto a aqui reproduzir mais ou menos comentário por mim recebido no meu E-Mail da parte de um muito estimado Amigo.
Comentário a propósito da frase do sueco que assume a responsabilidade quanto a destruir a Guiné.
Segundo ele....esta afirmacao sera a seu modo exagerada pois os guineus fazem-no bem sozinhos!
Caros amigos,
Gostaria de poder sossegar ao Patrik Engellau que nao foi ele que destruiu o pais a que se referiu, mas que, como diz a sabedoria popular «nao se pode mostrar o caminho aquele que nao sabe para onde vai».
Colonialsimos e colonialistas a parte, na Europa nem todos sao ou foram mal intencionados em relaçao a Africa e suas gentes. O Francés René Dumont foi o primeiro europeu e cooperante a chamar a atençao, nos anos 60, sobre as vias tortuosas que Africa estava a seguir, almejando, de uma forma utopica, um desenvolvimento rapido, baseado numa industrializaçao acelerada quando ainda nem estavam criadas as bases de uma agricultura e economia sustentaveis. Ninguém o ouviu, nem o Oriente nem o ocidente e muito menos os proprios africanos, foi como pregar no deserto.
Ainda, para dizer ao Patrik Engellau que, como disse um filosofo Dinamarqués do séc. XIX “A vida nao é um problema a ser resolvido, mas uma realidade a ser experimentada” e, certamente, desitiram no exacto momento, em que ja deveriam começar a mudar, com base nos conhecimentos que possuiam dos problemas reais da sociedade onde estavam a preoceder suas experiéncias de ajuda ao desenvolvimento. Mas, nem sempre ha tempo suficiente para avaliaçoes rigorosas, porque é preciso mostrar resultados.
Como o proprio explicita no seu texto, nao acredito que verbas suecas tenham ido parar em contas bancarias dos dirigentes na altura, pois ainda nao tinhamos chegado a esse ponto, simplesmente havia boa vontade, haviam recursos financeiros, mas faltava o mais importante que era o conhecimento da realidade, um planeamento das necessidades acompanhado de estudos adequados de viabilidade dos investimentos. Nem acredito que essas mesmas verbas tivessem servido para comprar as armas dos Soviéticos, simplesmente porque o fornecimento era feito em produtos, nesse caso medicamentos.
As experiencias com as ajudas ao desenvoilvimento mostraram que, sempre que se tenta fazer o bem, no fim, sao as forças do mal que prevalecem, porque a realidade do mundo nao se muda de um dia para o outro e, as hienas estao sempre a procura de oportunidades. O Grosso desses financiamentos, se acreditarmos no depoimento do Flinto Barros, antigo ministro de economia da época, voltaram para a Europa e, designadamente, para a propria Suécia que condicionava o local, o equipamento e as condiçoes das compras a fazer.
Estava em Bissau aquando da mudança do regime do Luis Cabral (1980) e assisti as enormes dificuldades que tiveram para incitar as populaçoes ao auto sustento mas, em abono da verdade, os citadinos de Bissau e outras cidades ja estavam mal habituados durante o periodo da politica « por uma Guiné melhor » do Gen. Spinola e outros, pelo que ninguém queria voltar ao campo para se auto-sustentar e, como resultado, havia fome, muita fome.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Complemento 4 Paragrafo:
Como o proprio explicita no seu texto, nao acredito que verbas suecas tenham ido parar em contas bancarias, pois ainda nao tinhamos chegado a esse ponto, simplesmente havia boa vontade, haviam recursos financeiros, mas faltava o mais importante que era o conhecimento da realidade, um planeamento das necessidades acompanhado de estudos adequados de viabilidade dos investimentos. Nem acredito que essas mesmas verbas tivessem servido para comprar as armas dos Soviéticos, simplesmente porque o fornecimento era feito em produtos, nesse caso medicamentos.
Cherno Baldé
António Ramalho (por email)
28 abril 17:25
Assunto - Camiões Volvo na Guiné
Caro Luís Graça boa tarde.
Cada dia louvo mais a tua iniciativa da criação deste excelente blogue!
Ao visitá-lo preenche-me o tempo e confirma aquilo com que muitos de nós nos questionamos:
O que fomos lá fazer?Os políticos não aproveitaram a nossa presença, nada fizeram os nativos muito menos, o resultado está bem à vista!
Vá lá que a Suécia só enviou Volvos para trabalhar, ainda bem que não enviou também Suecas para os conduzir!
O que será feito do navio/escola de pesca NORUEGA, último grito da tecnologia à época, assim se dizia, que este país para lá enviou após 1974, tens algumas notícias?
Na mesma linha conheço uma pessoa ligada ao fornecimento de geradores, instalação, conservação e reparação dos mesmos. Este ano fez uma instalação para um hotel, recomendando que o cabo deveria ser enterrado, protegido, sinalizado e coberto com areia.
Muito bem, estava aterrando de regresso a Lisboa, recebeu a notícia de que o cabo e o quadro tinham ardido, todos adivinhamos a razão, total desprezo pelas recomendações sugeridas.
Além da interrupção do fornecimento de energia, e os transtornos que provocou os custos foram elevadíssimos, e assim continua aquele país para o qual nós contribuímos com o nosso esforço e abnegação em várias ocasiões, é no mínimo lamentável!
Outro amigo ligado ao descasque e branqueamento de arroz, com uma unidade móvel, viu-se e desejou-se para progredir e libertar-se de um emaranhado de situações, deixando lá uma mão cheia de dólares!
Um dia que passe por Oliveira de Azeméis terei todo o gosto em ir visitar a barbearia do Simão que ostenta um nome pomposíssimo, não consegui fixá-lo, irei levar-lhe um bife de Carne Alentejana para oferecer ao "seu" Alferes!
Não dou como tempo perdido e aprecio os camaradas que têm a coragem de lá voltar em visita, não consigo apesar de algumas boas recordações e bons momentos de sã camaradagem, não consigo ver destruído aquilo que construí ou tentei ajudar a construir!
Qualquer ONG, com o patrocínio da ONU ou outra, deveria encarar e preocupar-se com aquele país em total consonância com as entidades locais, ser entreposto para negócios ilícitos poucos lucram, tanta mancarra, caju e bianda que haverá para produzir!
Continuação de uma excelente quarentena para todos, temos que nos cuidar!
Um forte abraço
António Fernando Rouqueiro Ramalho
Caro Cherno Baldé
O Eng.Amilcar Cabral poderia,para alguns dos seus inimigos internos e externos, ter muitos defeitos mas...estúpido näo era.
Ele sabia melhor que ninguém adaptar as situacöes (neste caso a ajuda financeira sueca) ás realidades envolventes e ás suas possíveis evolucöes.
Deu, nas suas visitas à Suécia, inúmeras provas de saber ser um eficiente manipulador quando isso se tornava necessário para os interêsses e esforco da guerra.
Exímio diplomata sabia sempre com quem falava e, consoante o interlecutor,"representava" com facilidade o melhor papel que se adaptava ao que procurava obter.
Bem estudadas pausas "meditativas" em plena conversa com políticos importantes do Partido Social Democrata Sueco conseguiam muitas das vezes melhores resultados que acalorada argumentacäo.
Näo sria por acaso que os seus camaradas partidários o enviavam a Estocolmo quando os assuntos a tratar e os rsultados a obter eram importantes para a luta na Guiné.
Como um bom exemplo da sua maneira de em silëncio "argumentar" contaram-me em 1981 dois dos partecipantes nessas reuniöes, ainda num passado relativamente próximo no tempo.
O PAIGC desejava que a Suécia enviasse uns milhares de sapatilhas para uso da populacäo nas regiöes libertadas a somarem-se nessa mesma encomenda, a uma grande quantidade de material escolar,e a algum bem caro matrial clínico.
Depois de alguns dos elementos suecos sentados à volta da mesa terem procurado argumentar que as referidas sapatilhas iriam ser utilizadas pela guerrilha,Cabral explicou calma e sensatamente os problemas das mulheres necessitavam de cobrir grandes distäncias na busca de água e pesada lenha para cozinhar nas suas Tabancas,as criancas que descalcas também tinham grandes deslocacöes para as escolas no mato e,pouco a pouco as sapatilhas lá acabaram por ser aprovadas.
Até aqui nada de especial.
A soma em dinheiro de toda esta variada "encomenda" tornáva-se muito elevada devido principalmente ao caro matrial hospitalar a ser incluído na mesma.
Os representes suecos decidiram entäo que o material escolar seria enviado ocasiäo posterior.
Enquanto as conversas continuavam animadamente à volta da mesa,Amilcar Cabral, em concentrado silêncio,olhava atentamente para a esferogafica que tinha na mäo.
Como o seu silëncio se prolongava alguém acabou por perguntar-lhe o que estaria a pensar olhando täo atentamente para a caneta?
Respondeu :"Alguém terá dito que é mais fácil vencer guerras com canetas do que com armas nas maös,,,que pena que as criancas da Guiná näo väo receber estas canetas!"
Escusado será dizer que o material escolar da encomenda inicial foi ali mesmo aumentado à lista.
Está mais do que demonstrado que a Suécia nunca forneceu material militar ao PAIGC.
Mas as verbas que os auxílios suecos permitiam libertar näo seriam difíceis de "orientar" para outros domínios.
E,mais uma vez.....Amilcar Cabral,entre outros,näo era estúpido.
Um abraco do J.Belo
Já muito foi dito, através do que o autor escreveu e também dos vários comentários que aqui foram colocados.
Apenas acho que não se deve ver "com os olhos de hoje" os acontecimentos e os respectivos enquadramentos nos tempos em que ocorreram.
Havia uma má intenção, "manhosa", por parte da Suécia?
Seria uma ajuda genuinamente impulsionada pelos valores de solidariedade da social-democracia de então?
Os principais dirigentes governamentais guineenses do imediato pós-independência já eram como os modernos dirigentes (a nível geral) com "gostos particulares" ou ainda procuravam a prática de "servir o povo"?
Hoje é comummente aceite que, para além da boa vontade (para os que querem acreditar nisso) em encontrar formas de desenvolvimento do novel país havia uma gritante impreparação para tal e que isso se reflectiu de forma drástica e quase irreversível no que veio a acontecer e que ainda hoje (talvez até em alguns aspectos mais agravados) se manifesta.
Hélder Sousa
Enviar um comentário