1. Mensagem de José Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, e manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década; está reformado como capitão inf do exército português; jurista, vive entre (i) Estocolmo, Suécia, (ii) nas imediações de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, já próximo da fronteira com a Finlândia, e (iii) Key-West, Florida, EUA; é o único régulo da tabanca de um homem só, a Tabanca a Lapónia (, mas sempre bem acompanhado das suas renas, dos seus cães e dos seus ursos)
Date: terça, 28/04/2020 à(s) 14:04
Subject: A propósito de ser fácil "bater" nos poetas.
Depois de a poesia ter sido ,quanto a mim, demasiado evocada em comentários a texto político sobre o 25 de Abril, aqui segue interessante análise feita pela escritora e poetisa [polaca] Wislawa Szymborska [ 1923 - 2012] em discurso aquando da aceitação do seu Prémio Nobel da Literatura [, em 1996]:
Burocratas, ou passageiros de autocarro, reagem com um toque de incredualidade (e alarme!) quando descobrem que estão a falar com um poeta. Creio que os filósofos enfrentam reações semelhantes.
Estão contudo em melhor posicão pois na maioria das vezes podem ornamentar o seu ofício com algum tipo de título universitário. Professor Doutor em Filosofia. Isso sim! Soa muito mais respeitável!
Mas não existem professores em poesia. Afinal de contas, isso significaria que a poesia é uma ocupação que requer um estudo especializado, exames regulares, ensaios teóricos com bibliografias e notas de rodapé anexadas e, por fim, diplomas concedidos com pompa! Isto significaria, em troca, que não basta encher páginas de poemas, mesmo os mais primorosos do mundo, para se tornar um poeta.
O factor decisivo seria um pedaço de papel com um selo oficial!
Não quero de modo algum afirmar ser esse o caso quanto ao seu texto, pois são as suas opiniões e como tal devem ser respeitadas. Não sendo as minhas, que me seja permitido frontalmente discordar.
Mas, e quanto ás razões originais do Movimento dos Capitäes, trata-se de factos e não de opinião .
Este Movimento surgiu das reivindicações de tipo "corporativo-militar" quanto ao conflito futuro a ser criado por promoções em quadro paralelo ao Quadro Permanente de Oficiais das Forças Armadas.
As restantes (!) reivindicações foram levadas por alguns, posteriormente(!), para o interior do Movimento.
Aproveitando este facto, alguns rapidamente compreenderam que, ao embrulharem-se em tais bandeiras, criavam uma imagem pública muito diferente e...conveniente para alguns políticos que pairavam nas sombras envolventes dos mais ingénuos,ou ignorantes.
Abr. J.Belo
(ii) Voltei a ler com a atenção merecida esta análise política do Abril de 74 (**).
Independentemente de todos os outros detalhes de circunstância (nos States chamaríamos de “Soun(d)bites”) escreve-se:
“O governo estava a estudar instituir uma União ou Confederação das províncias ultramarinas com a metrópole. As potencialidades desta fusão de interesses,respeitadores dos interesses nacionais eram enormes”.
Coloca-se a pergunta: Que governos está a referir? Do saloiísmo iluminado da ditadura de Salazar?
O mesmo que recusou as ofertas dos aliados mais próximos e da União Indiana de uma possível Confederação com uma Goa independente? A escolha entre esta possibilidade política e a triste total derrota militar foi evidente.
Alguns dos que, como eu, foram educados por detrás dos altos muros de jardins de recatadas vivendas da “Linha [do Estoril]", talvez se sintam “classificados” em ambos os sentidos do termo (classe social/preparação educacional) para aqui recordar como exemplo “confederativo “ uma interessante situação surgida na Guiné, piscina e bar de Oficiais de Santa Luzia, quando um bem conhecido e medalhado oficial guinéu dos Comandos Africanos se atreveu a convidar duas senhoras (também guineenses) a o acompanhar a tal local.
O escândalo imediatamente criado entre algumas das mui dignas esposas de alguns respeitáveis Oficiais das altas repartições militares de Bissau, propagou-se como um fogo na mata seca.
Mais não será um exemplo real da tão poética Confederação entre este tipo de “Nós “ e os pretinhos africanos...medalhados ou não!?
Seria que, em finais dos anos sessenta, início dos anos setenta, os brancos de Angola e Moçambique (os com influências e poder económico) algo quereriam ter a ver com os brancos de Portugal?
Quando na sua análise política se refere a “névoas tendenciosas que toldam intencionalmente acontecimentos”, esqueceu-se de referir as palavras de ordem das bandeirolas empunhadas por brancos em manifestações moçambicanas,como por exemplo as da cidade da Beira. E repare que elas realizaram-se ANTES do Abril de 74.
Date: terça, 28/04/2020 à(s) 14:04
Subject: A propósito de ser fácil "bater" nos poetas.
Depois de a poesia ter sido ,quanto a mim, demasiado evocada em comentários a texto político sobre o 25 de Abril, aqui segue interessante análise feita pela escritora e poetisa [polaca] Wislawa Szymborska [ 1923 - 2012] em discurso aquando da aceitação do seu Prémio Nobel da Literatura [, em 1996]:
(...) quando preenchem documentos ou conversam com estranhos,ou seja, quando não podem deixar de revelar a sua profissão, os poetas preferem usar o termo genérico "escritor" ou substituir "poeta" pelo nome de qualquer outro trabalho que fenham, além de o de escrever.
Burocratas, ou passageiros de autocarro, reagem com um toque de incredualidade (e alarme!) quando descobrem que estão a falar com um poeta. Creio que os filósofos enfrentam reações semelhantes.
Estão contudo em melhor posicão pois na maioria das vezes podem ornamentar o seu ofício com algum tipo de título universitário. Professor Doutor em Filosofia. Isso sim! Soa muito mais respeitável!
Mas não existem professores em poesia. Afinal de contas, isso significaria que a poesia é uma ocupação que requer um estudo especializado, exames regulares, ensaios teóricos com bibliografias e notas de rodapé anexadas e, por fim, diplomas concedidos com pompa! Isto significaria, em troca, que não basta encher páginas de poemas, mesmo os mais primorosos do mundo, para se tornar um poeta.
O factor decisivo seria um pedaço de papel com um selo oficial!
Lembremos que Joseph Brodsky [1940-1996], orgulho da poesia russa e laureado com o Prémio Nobel [em 1987], foi um dia condenado ao exílio no seu próprio país, justamente com base nesta ideia. Chamaram-lhe "parasita" porque não possuía o certificado oficial que lhe assegurava o direito de...ser poeta!" (...)
Um abraço, J. Belo.
PS - Sendo admirador sincero dos teus poemas, e depois de toda a "porrada" (quanto a mim justa, mas..) levada por um camarada/poeta no blogue quanto à sua análise política-enevoada sobre o 25 de Abril )....atrevo-me a sentir quase teres a obrigação de publicar este texto quando o "ferro ainda está quente" (*).
2. Comentários anteriores do José Belo ao poste P20905 (**):
(i) Caro Mendes Gomes
A análise política "Sobre o Vinte Cinco De Abril" será a sua, assim como a de muitos. Outros tantos não farão análises semelhantes,nem tirarão as mesmas ilações.
A História sempre se escreveu, e certamente continuará a escrever-se,segundo as perspectivas dos
2. Comentários anteriores do José Belo ao poste P20905 (**):
(i) Caro Mendes Gomes
A análise política "Sobre o Vinte Cinco De Abril" será a sua, assim como a de muitos. Outros tantos não farão análises semelhantes,nem tirarão as mesmas ilações.
A História sempre se escreveu, e certamente continuará a escrever-se,segundo as perspectivas dos
historiadores. Felizmente que, fora das ditaduras, estas divergem.
Seria muito limitativo o considerarmos as nossas maneiras de analisar os acontecimentos como que quase "iluminada" frente ás opiniões e perspectivas de outros.
Não quero de modo algum afirmar ser esse o caso quanto ao seu texto, pois são as suas opiniões e como tal devem ser respeitadas. Não sendo as minhas, que me seja permitido frontalmente discordar.
Mas, e quanto ás razões originais do Movimento dos Capitäes, trata-se de factos e não de opinião .
Este Movimento surgiu das reivindicações de tipo "corporativo-militar" quanto ao conflito futuro a ser criado por promoções em quadro paralelo ao Quadro Permanente de Oficiais das Forças Armadas.
As restantes (!) reivindicações foram levadas por alguns, posteriormente(!), para o interior do Movimento.
Aproveitando este facto, alguns rapidamente compreenderam que, ao embrulharem-se em tais bandeiras, criavam uma imagem pública muito diferente e...conveniente para alguns políticos que pairavam nas sombras envolventes dos mais ingénuos,ou ignorantes.
Abr. J.Belo
(ii) Voltei a ler com a atenção merecida esta análise política do Abril de 74 (**).
Independentemente de todos os outros detalhes de circunstância (nos States chamaríamos de “Soun(d)bites”) escreve-se:
“O governo estava a estudar instituir uma União ou Confederação das províncias ultramarinas com a metrópole. As potencialidades desta fusão de interesses,respeitadores dos interesses nacionais eram enormes”.
Coloca-se a pergunta: Que governos está a referir? Do saloiísmo iluminado da ditadura de Salazar?
O mesmo que recusou as ofertas dos aliados mais próximos e da União Indiana de uma possível Confederação com uma Goa independente? A escolha entre esta possibilidade política e a triste total derrota militar foi evidente.
O governo da ditadura de Caetano? O mesmo Caetano que não permite a Spínola negociar com Amílcar Cabral soluções políticas que (então!) ainda poderiam salvaguardar interesses de ambas as partes?
Porque, quer se goste,ou não, da ideia,estes políticos de iluminismos saloios imbuídos, mais não eram que os representantes de uma”certa maneira de estar” de uma parte previlegiada da sociedade portuguesa de então.
Alguns dos que, como eu, foram educados por detrás dos altos muros de jardins de recatadas vivendas da “Linha [do Estoril]", talvez se sintam “classificados” em ambos os sentidos do termo (classe social/preparação educacional) para aqui recordar como exemplo “confederativo “ uma interessante situação surgida na Guiné, piscina e bar de Oficiais de Santa Luzia, quando um bem conhecido e medalhado oficial guinéu dos Comandos Africanos se atreveu a convidar duas senhoras (também guineenses) a o acompanhar a tal local.
O escândalo imediatamente criado entre algumas das mui dignas esposas de alguns respeitáveis Oficiais das altas repartições militares de Bissau, propagou-se como um fogo na mata seca.
Mais não será um exemplo real da tão poética Confederação entre este tipo de “Nós “ e os pretinhos africanos...medalhados ou não!?
Seria que, em finais dos anos sessenta, início dos anos setenta, os brancos de Angola e Moçambique (os com influências e poder económico) algo quereriam ter a ver com os brancos de Portugal?
Quando na sua análise política se refere a “névoas tendenciosas que toldam intencionalmente acontecimentos”, esqueceu-se de referir as palavras de ordem das bandeirolas empunhadas por brancos em manifestações moçambicanas,como por exemplo as da cidade da Beira. E repare que elas realizaram-se ANTES do Abril de 74.
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 28 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20917: (Ex)citações (367): Contributos para uma análise crítica do poema (panfletário) "Sobre o 25 de Abril", de J. L. Mendes Gomes, o autor de "Baladas de Berlim" (2013) - Parte I: António J. Pereira Costa (cor art ref)
(*) Último poste da série > 28 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20917: (Ex)citações (367): Contributos para uma análise crítica do poema (panfletário) "Sobre o 25 de Abril", de J. L. Mendes Gomes, o autor de "Baladas de Berlim" (2013) - Parte I: António J. Pereira Costa (cor art ref)
(**) Vd. poste de 25 de abril de 2020 > "Guiné 61/74 - P20905: Blogpoesia (674): "Sobre o Vinte e Cinco de Abril", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728"
3 comentários:
Uma pequena,mas rápida(!),correccäo ao segundo texto.
Rápida porquê?.....para ser efectuada antes que o meu Amigo e Camarada Alberto Branquinho lá chegue!
Onde se lê "Sounbites" deveria estar "Soun(d)bites".
Um grande pedido de desculpas aos Amigos do CNN.
Um abraco respeitoso, como quase sempre, do J.Belo.
Uma sugestão de leitura:
https://www.opendemocracy.net/pt/democraciaabierta-pt/sophia-de-mello-breyner-quando-arte-n-o-livre-as-pess/
Sophia de Mello Breyner: quando a arte não é livre, as pessoas não são livres
A poesia é uma forma de resistência contra a indignidade. A obrigação do escritor não é apenas interpretar a vida, mas também moldar a forma como habitamos as nossas sociedades.
Manuel Nunes Ramires Serrano
14 February 2019
PS - Sendo admirador sincero dos teus poemas, e depois de toda a "porrada" (quanto a mim justa, mas..) levada por um camarada/poeta no blogue quanto à sua análise política-enevoada sobre o 25 de Abril )....atrevo-me a sentir quase teres a obrigação de publicar este texto quando o "ferro ainda está quente" (*).
- Ao autor destas linhas:
traduzem uma mente complexada perante alguém que saíu deste país e foi dar ao polo norte...donde se alardeia a mandar "bocas"...
Voltei a ler com a atenção merecida esta análise política do Abril de 74 (**).
Independentemente de todos os outros detalhes de circunstância (nos States chamaríamos de “Soun(d)bites”) escreve-se:
“O governo estava a estudar instituir uma União ou Confederação das províncias ultramarinas com a metrópole. As potencialidades desta fusão de interesses,respeitadores dos interesses nacionais eram enormes”.
Coloca-se a pergunta: Que governos está a referir? Do saloiísmo iluminado da ditadura de Salazar?
O mesmo que recusou as ofertas dos aliados mais próximos e da União Indiana de uma possível Confederação com uma Goa independente? A escolha entre esta possibilidade política e a triste total derrota militar foi evidente.
O governo da ditadura de Caetano? O mesmo Caetano que não permite a Spínola negociar com Amílcar Cabral soluções políticas que (então!) ainda poderiam salvaguardar interesses de ambas as partes?
Porque, quer se goste,ou não, da ideia,estes políticos de iluminismos saloios imbuídos, mais não eram que os representantes de uma”certa maneira de estar” de uma parte previlegiada da sociedade portuguesa de então.
Nas linhas seguintes entrevê-se a explicação para as saloias críticas que J.Belo faz ao texto do 25 de Abril:
-Snobismo e novo-riquismo da "linha do Estoril" -
"Alguns dos que, como eu, foram educados por detrás dos altos muros de jardins de recatadas vivendas da “Linha [do Estoril]", talvez se sintam “classificados” em ambos os sentidos do termo (classe social/preparação educacional) para aqui recordar como exemplo “confederativo “ uma interessante situação surgida na Guiné, piscina e bar de Oficiais de Santa Luzia, quando um bem conhecido e medalhado oficial guinéu dos Comandos Africanos se atreveu a convidar duas senhoras (também guineenses) a o acompanhar a tal local."
O escândalo imediatamente criado entre algumas das mui dignas esposas de alguns respeitáveis Oficiais das altas repartições militares de Bissau, propagou-se como um fogo na mata seca.
Mais não será um exemplo real da tão poética Confederação entre este tipo de “Nós “ e os pretinhos africanos...medalhados ou não!?
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