domingo, 5 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21142: O nosso livro de visitas (206): Carlos Barros, natural de Esposende, ex-fur mil at art, 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1973/74)

Carlos Barros, Esposende
1. Mensagem do nosso camarada Carlos Barros, natural de Esposende, professor refiormado, ex-fur mil 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1973/74) [, foto à esquerda, do Facebook]:


Date: quarta, 17/06/2020 à(s) 18:06
Subject: Bart 6520, 2ª Cart
Estimado amigo:


Brevemente irei escrever  algo sobre a minha/nossa vivência  em Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará..

Para iniciar, envio este sucinto texo para mim, histórico sobre a entrega ao PAIGC,  do nosso destacamento de Nova Sintra.

Um abraço e parabéns pelo seu trabalho. Carlos Barros, Esposende.

Quando os guerrilheiros entraram no destacamento de Nova Sintra, o Comandante, Capitão Machado e outros graduados, devidamente fardados com os seus camuflados de combate, receberam com dignidade os combatentes do PAIGC acompanhados com uma população civil que lhe era afeta.

Numa fase inicial, depois de contactos prévios com os Comandantes do PAIGC, foram autorizados a entrarem no aquartelamento e, por mera coincidência, os furriéis Barros (eu próprio) e o Ferreira tomaram a iniciativa de irem ao encontro dos guerrilheiro, abrindo-lhes o " portão" junto às bananeiras.

E não houve qualquer problema nessa convivência, embora numa fase inicial, existia um certa "receio", natural, porque algo poderia acontecer de menos bom, como aconteceu em Angola e Moçambique.

Estes são os factos para a história, entre muitos, da Guerra Colonial.


2. Resposta do nosso editor LG,  18 jun 2020 15h35:

Boa tarde, camarada Carlos. Obrigado pela tua mensagem. Registo e saúdo a tua vontade de partilhar, connosco, as tuas boas e más memórias do guerra do fim do império... É um período que precisa de ser melhor conhecido, até porque está carregado de muitas emoções....

Eu já lá não estava, regressei em março de 1971...Vejo que és de 1950, eu sou de 1947...Gostava de saber algo mais sobre ti para te poder apresentar à nossa Tabanca Grande que já reune quase um batalhão e meio de gente... Somos 808 [, agora já 810], entre vivos e mortos, os camaradas (e os amigos) da Guiné... Contigo seremos 809 [, agora 811]...Manga de pessoal!...Preciso apenas de 2 fotos tuas, uma antiga, outra mais atual...

No ficheiro que mandaste, não consigo abrir as imagens...Não seria possível mandá-las, de novo, mas à parte, em anexo, em formato jpg, com boa resolução ?

No teu anexo, só consigo ler as legendas das fotos (que devem ter interesse documental para a nossa história da Guiné):
  • Entrega do destacamento de Nova Sintra ao PAIGC dia 17 de Julho de 1974
  • Os guerrilheiros na entrada do quartel de Nova Sintra .
  • Destacamento de Nova Sintra- 1972/74
  • Visita voluntária ao destacamento S. João: final da Comissão. Eu não fui.  Rebentou uma mina anti-carro: feridos…Parece que adivinhava…
  • Nas tabancas de Nova Sintra: População nos seus afazeres dométicos…1973
  • Regresso a Bissau-Lisboa: Cais do Enxodé : 18 de Julho de 1974
  • Esplanada de Bissau 1973
  • O furriel Barros a almoçar: 1973
  • O convívio dos militares com a população guineense 1974
  • Campo de futebol de Nova Sintra 1973
  • O Barros e o Apolinário, furriéis “matando” a sede…(nunca morria…)
  • Equipa de futebol dos condutores e a dos graduados Junho de 1974
  • Equipa de futebol dos condutores e a dos graduados Junho de 1974.

Fico a aguardar mais notícias. Um alfabravo. LG

___________

7 comentários:

Valdemar Antunes disse...

ATENÇÃO O meu amigo, FurrielCarlos Barros pertenceu, tal como eu ao BART 6520/72 e não ao bart 6520/73.O crachá exposto está incorreto. Peço o favor de efetuarem a respetiva correção. Creiam que me incomoda imenso. Obrigado.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, "mea culpa", já corrigi, no melhor pano cai a nódoa... Mas, em boa verdade, o Carlos Barros fui sucinto de mais, na sua apresentação...

A verdade é que há dois batalhões com (quase) o mesmo némero: BART 6520/72 e 6520/73.

Peço desculpa ao Carlos Barros!... LG

Manuel Andrade disse...

Correcto: Eu ex furriel mil Manuel Andrade 3ª CART/BART 6520/73, o crachá está certo.
Houve 2 batalhões com o mesmo número.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Do BART 6520/73, que chegou ao CTIG já em 1974, em 3 de abril, de avião (TAM) são os nossos camaradas Joaquim Sabido e Manuel Sousa... Vd. aqui as andanças do Joaquim Sabido:


24 DE AGOSTO DE 2010

Guiné 63/74 - P6896: Tabanca Grande (238): Joaquim Sabido, ex-Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520/73 e CCAÇ 4641/72 (Guiné, 1974)

Antº Rosinha disse...

Carlos Barros é mais um raro testemunho, neste enorme blog, a relatar a "entrega pacífica" do seu quartel,ao PAIGC.

São pouquinhos estes testemunhos, no Luís Graça & Camaradas da Guiné, pouquinhos penso eu, o que acho estranho, em virtude de terem sido os últimos, portanto os mais novos de todos, com a memória mais fresca, e gente mais moderna adaptável às "novas tecnologias".

Tão poucos porquê? Poderiam ser centenas a apresentar o seu "sentimento de despedida", porque havia lá milhares nesse momento histórico de 1974, hoje jovens de 66, 67, 68, 69 aninhos, ainda em idade de reprodução.

Penso que os responsáveis do blog, poderiam fazer uma contagem destes testemunhos, e alguém tentar arranjar uma explicação, tanto histórica, como psicológica, até como política, para não aparecerem em catadupa, estes testemunhos.

Cumprimentos

Valdemar Silva disse...

Esta ideia do nosso mais velho é muito bem lembrada.
Sei do caso que se passou, em Paunca, com os soldados africanos (fulas) da CCAÇ.11, muitos deles pertencentes à minha CART11 quatro anos antes.
Julgo que já foi contada, aqui no blogue, a 'rendição' (render passar a outros) muito complicada por os soldados africanos não quererem que isso acontecesse. Um vizinho meu, que por coincidência foi também furriel na CCAÇ.11, nessa altura, contou-me que os soldados pegaram em armas, prenderam os metropolitanos e defenderam-se para não se entregar. Não sei como tudo acabou, mas sabemos todos o que sofreram muitos dos ex-nossos soldados principalmente os fulas.
Agora, venham mais testemunhos doutras situações que aconteceram nesse tempo do fim da guerra.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Estou desejoso que o Carlos Barros me mande as prometidas fotos do seu tempo de último soldado do império...A primeira remessa foi um insucesso... Esperemos que a 2ª via funcione...

Quanto ao comentário do Antº Rosinha...Esta rapaziada está agora a chegar aos 70.. Pode ser que, ao olhar para trás, ao ver o filme da vida em retrospetiva, se faça luz sobre os "últimos seis meses da nossa guerra" (de abril a setembro de 1974)...

Mesmo os que chegaram ao CTIG depois do 25 de Abril, não estavam preparados para o processo de "paz", de retração do dispositivo militar e da entrega dos quartéis ao PAIGC... Foram treinados para a guerra, não para fazer o espólio... E os nossos camaradas guineenses, do recrutamento local, pior ainda: daí revoltas como a CCAÇ 11, da CCAÇ 21, etc.

Se calhar, em muitos deles, "periquitos", martelavam nas cabeças as palavras de ordem dos grupelhos trotskistas e marxistas-leninistas-maoistas, "Nem mais um soldado para as colónias"... E quem lá estava, em fim de comissão, ou já em meia comissão, estava com o fogo no rabo para regressar a casa...(que podia estar a arder: havia uma revolução em curso na sua terra...).

Por isso, estes últimos seis meses da Guiné precisam de ser mais e melhor documentados no nosso blogue, antes que a nossa geração desapareça... Creio que há ainda receios, inibições, pudor, culpa, recalcamentos, merdas na cabeça... A maioria dos nossos camaradadas que passaram pela Guiné, pura e simplesmente, querem esquecer este "tempo perdido (e inglório) das suas vidas"...

Também é preciso que no nosso blogue haja um clima de bom acolhimento destes novos camaradas, "periquitos", que chegam à Tabanca Grande com vontade de falar, partilhar, contar histórias...

Infelizmente, estamos todos já cansados da guerra (e do blogue)...Escasseiam as palavras de boas vindas, de mantenhas, de carinho da velhice pelos "periquitos"... Falo de acolhimento proativo e não meramente ritualístico, como nos "parabéns a você"... ou nas "sentidas condolências à família" por morte de alguém...

Em suma, Rosinha, estás cansado (, mesmo assim, mereces as nossas palmas!), eu estou cansado, estamos todos cansados... Até porque a idade não perdoa... A puta da velhice nunca vem sozinho, com ela vem um ror de mazelas... E até a maldita da COVID-19!... Camaradas, faltava-nos esta!... Vamos exigir que o Exército averbe na caderneta militar mais estes meses todos de pandemia e de confinamento sem arame farpado!

Acho que este blogue, enquanto formato digital ou plataforma de registo e partilha de memórias da "nossa" guerra, está esgotado ou a está prestes a esgotar-se. Temos que o reinventar?!... Ideias precisam-se. E sobretudo precisamos de "transfusões de sangue"...