[foto acima: João Crisóstomo, luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque]
Meus caros camaradas da Guiné,
Tanto quanto posso, sigo, umas vezes com assiduidade outras menos, dependendo das circunstâncias , mas agora sempre com interesse, este fabuloso blogue.
E, de vez em quando, não posso deixar de sentir que devo meter a minha colherada também. Não me sentiria bem se o deixasse de fazer. Como sucedeu hoje ao ler este grande trabalho do Luís Lomba. E o oportuno comentário do Valdemar Silva, cujas palavras ["Grande trabalheira. A esta hora estarão alguns PIDES a coçar a cabeça, os Serviços Secretos Franceses e a CIA a reverem todo o seu 'material' secreto ao saberem haver alguém conhecedor de todos estes segredos2...] me fizeram sorrir. Oxalá assim suceda…
E este levou-me pensar que devo "dar a minha mão à palmatória”:
A luta pela “descolonização” das nossas “províncias ultramarinas” no contexto do movimento de libertação já com muito sucesso de colónias de outros países, levou-me a seguir uma posição pessoal que me pareceu a mais pragmática, sem ilusões.
Acreditava que, mais cedo ou mais tarde, Portugal, a bem ou a mal, teria mesmo de encontrar uma solução diferente da que o governo de então preconizava: não tinha ilusões de que Portugal pudesse nem sonhar com esta solução diferente de todos os outros países de um Portugal espalhado pelo mundo.
O que eu, na minha ingenuidade, ainda acreditava e tinha esperanças era de que ainda seria possível chegar a um entendimento que permitisse - o que veio a acontecer muito mais tarde depois de muita tragédia e sofrimento - a formação de uma associação nos moldes da CPLP que existe agora, mas com muito mais coesão e eficiência e resultados do que sucede.
Foi com esta mentalidade que fiz o meu tempo de serviço militar. E não atribuo o facto de até me terem dado uma "cruz de guerra” ao meu “patriotismo”: apenas sucedeu porque em dada altura a única escolha possível era salvar a minha pele e dos que estavam comigo e para o fazer tive de desprezar medos: se naquele momento a única saída era a morte, minha e dos nossos, ou dos que estavam no outro lado … então que fossem os outros a morrer e não eu e os meus soldados…
Mas, na verdade, por mim, nunca nem antes nem depois tive sequer interesse (, mea culpa, mea culpa!, ) em ter melhores conhecimentos do que se estava a passar e do que se passou.
E este levou-me pensar que devo "dar a minha mão à palmatória”:
A luta pela “descolonização” das nossas “províncias ultramarinas” no contexto do movimento de libertação já com muito sucesso de colónias de outros países, levou-me a seguir uma posição pessoal que me pareceu a mais pragmática, sem ilusões.
Acreditava que, mais cedo ou mais tarde, Portugal, a bem ou a mal, teria mesmo de encontrar uma solução diferente da que o governo de então preconizava: não tinha ilusões de que Portugal pudesse nem sonhar com esta solução diferente de todos os outros países de um Portugal espalhado pelo mundo.
O que eu, na minha ingenuidade, ainda acreditava e tinha esperanças era de que ainda seria possível chegar a um entendimento que permitisse - o que veio a acontecer muito mais tarde depois de muita tragédia e sofrimento - a formação de uma associação nos moldes da CPLP que existe agora, mas com muito mais coesão e eficiência e resultados do que sucede.
Foi com esta mentalidade que fiz o meu tempo de serviço militar. E não atribuo o facto de até me terem dado uma "cruz de guerra” ao meu “patriotismo”: apenas sucedeu porque em dada altura a única escolha possível era salvar a minha pele e dos que estavam comigo e para o fazer tive de desprezar medos: se naquele momento a única saída era a morte, minha e dos nossos, ou dos que estavam no outro lado … então que fossem os outros a morrer e não eu e os meus soldados…
Mas, na verdade, por mim, nunca nem antes nem depois tive sequer interesse (, mea culpa, mea culpa!, ) em ter melhores conhecimentos do que se estava a passar e do que se passou.
Mas admiro agora, muito mesmo, o interesse do Luís Graça, Beja Santos, Luís Lomba e tantos outros que com muito valor e mérito explicam o que se passou para benefício da história e da realidade.
É mesmo impressionante. Não só pelo “conhecimento” em si, senão pelos muitos benefícios que este interesse, conhecimento e consciência contribuíram e continuar a contribuir em geral para a história e para cada um de nós. Bem hajam!
João Crisóstomo, Nova Iorque
João Crisóstomo, Nova Iorque
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 22 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21283: (In)citações (166): Da Guerra da Guiné, sem branquear nem reescrever a história: há 60 anos, as ideias Negritude, Nacionalismo, Libertação e Descolonização ou vírus da pandemia que matou a portugalização africana - Parte II (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 22 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21283: (In)citações (166): Da Guerra da Guiné, sem branquear nem reescrever a história: há 60 anos, as ideias Negritude, Nacionalismo, Libertação e Descolonização ou vírus da pandemia que matou a portugalização africana - Parte II (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)
4 comentários:
João, aprecio a tua sinceridade...Mas, voltando à Guiné e aos nossos verdes anos, acho que muito poucos de nós tinham uma ideia de qual seria o desfecho daquela guerra...mesmo os mais 2politizados"...Não havia debate sobre a "guerra do ulltramar", na retaguarda e muito menos na frente...
Aliás, não havia debate público sobre nada, desde as cheias na área metropolitana de Lisboa de 1967 que mataram cerca de 700 pessoas, ou sobre o drama da emigração clandestina, os bairros de lata em Lisboa, as "ilhas" no Porto, os "bidonvilles" de Paris (mais de uma centena, o mais conhecido de todos o de Champigny, que terá albergado mais de 150 mil portugueses clandestinos, e que só começoua a ser desmantelado por volta de 1972)...
Não havia "opinião pública", não havia liberdade de expressão, vivíamos numa ditadura... E muitos portugueses, a grande maioria silenciosa nem se interrogava sobre isso... E no entanto estamos a passar por "brutais mudanças", demográficas, económicas, sociais, culturais, etc., e um fim de ciclo há muito se anunciava, por sinais pouco ou nada evidentes para o comum dos cidadãos...
A guerra do Ultramar ?... É preciso ir ? Lá teremos que ir... E se Deus quiser haveremos de voltar...E depois logo se vê...
João, não tens que dar a mão à palmatória...Afinal, o Salazar morreu na cama...Portugal está cheio de "antifascistas" e "anticolonialistas" do 26 de Abril de 1974... Não houve nenhuma resistência em massa contra a "guerra colonial", mesmo que um em cada cinco mancebos em idade militar tenha faltado aos seus deveres com a Pátria... Durante anos e anos os navios e depois os aviões levaram centenas e centenas de milhares de homens paraa Índia, Angola, Guiné e Moçambique e outros territórios ultramarinos que faziam parte do mítico Portugal do Minho a Timor...Nunca houve revoltas bordo...nem na frente de batalha...
E no entanto houve resistências individuais... Mas até o Manuel Alegre fez a guerra colonial!... Não podemos, pois, por mor da verdade histórica, fazer batota e engrandecer a "epopeia antifascista e anticolonialista"...
Afinal, o Estado Novo caiu de podre... E muitos, como tu, "votaram com os pés", procurando, antes e depois da tropa, melhor vida no estrangeiro... mesmo mantendo o "cordão umbilical" com a santa terrinha de todos nós...
Atenção: falo de resistªencias individuais... contra a guerra.
Mas, durante a Ditadura Militar e o Estado Novo (1926-1974), houve altos e baixos na luta pela liberdade... Houve revoltas (inclundo militares), greves, manifestações, conflitos, abaixos assinados, ações organizadas, clandestinas e legais, etc.
Aproveitou-se a escassa liberdade das campanhas eleitorais... Houve resistência(s), em fabricas, escolas, quartéis, igrejas... Houve gente que foi presa, foi morta, foi deportada, foi despedida da função pública e das empresas, foi perseguida, etc.
Não podemos ignorar ou escamotear isto!...Mas a grande maioria do povo português aceitou a canga como o boi: infelizmente essa é que foi a verdade... O que também não admira: até finais de 1950 vivia-se no campo, agarrado à enxada e à charrua...
Quando fazemos, retrospetivamente, o balanço do passado, seja de uma guerra, de um regime político, ou até de uma vida, temos tendência para carregar nas tintas; ou é tudo a preto e branco, é tudo cor de rosa... Não há lugar para as cores do "arco-íris"... para as nuances.
Dizia-me há tempos um amigo alemã, a descupar as gerações que cresceram, viveram e morreram com o nazismo na Alemanha: "Fomos todos nazis"... Queria ele dizer: num estado totalitário, não há lugar para o indivíduo e a resistência individual...
O Estado Novo era uma ditadura, sendo difícil todavia catalogá-lo, de acordo com os manuais da ciência pol+itica, como "estado totalitário"...E a verdade é que nem todos os portugueses eram salazaristas... Eu, por exemplo, não era, desde os meus 15 anos...
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