O Periquito-massarongo [, nome científico Poicephalus senegalus], não confundir com o Papagaio-Cinzento-de-Timeneh, em vias de extinção, nativo dos Bijagós.. Fonte: Guia das aves comuns da Guiné Bissau / Miguel Lecoq... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, ACE ; Guiné-Bissau : Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, 2017, p. 43- Ilustração: PF - Pedro Fernandes. (com a devida vénia...)
O papagaio embriagado...
O destacamento de Nova Sintra, no sector do Quínara, estava ocupado pela 2ª CART do BART 6520, companhia “baptizada” pelos “Os Mais de Nova Sintra”, tendo no seu crachá , a imponente figura do Obélix ,em destaque.
O destacamento de Nova Sintra, desde 1972 a 1974, foi alvo de flagelações, minas, emboscadas, patrulhamentos constantes, armadilhas mas os seus militares estiveram sempre à altura e responderam com afinco e eficácia, às investidas do inimigo. Eram soldados, como muitos outros disseminados pelos recantos da Guiné, com elevado índice de coragem, com grande espírito de sacrifício e muito empreendedores tanto na mata como dentro do arame farpado, nos diversos trabalhos que lhe eram incumbidos.
Fugindo um pouco à situação belicista em que vivíamos, com a minha memória, ainda um pouco refrescada, talvez pelo orvalho desta manhã, surge mais uma “estória” real que surgiu dos empreendimentos aventurosos dos nossos companheiros de Nova Sintra.
O 1º cabo Carlos Cripto (, o António Carlos de Jesus Ribeiro,) certo dia conseguiu apanhar um papagaio, que parecia mais um emplumado periquito. Andava com esta simpática e colorida, ave ao ombro pelo destacamento, o que despertava muita curiosidade e, provavelmente, uma certa inveja, aos seus companheiros de Nova Sintra.
Os furriéis Elias (.José Pereira da Silva Elias, mecânico auto) e Mendonça (,Jorge Manuel Santos C. Mendonça, transmissões) nos seus patrulhamentos dentro do destacamento, municiados com a sempre presente cerveja ou bebida similar, foram ter com o seu amigo Carlos Cripto para fazerem umas festinhas ao papagaio.
Esta dupla de furriéis, sempre empreendedores em aventuras, pegaram na avezinha ternurenta, abriram-lhe o bico e enfiaram-lhe “whisky” pela goela abaixo, apesar do “esbracejar” do periquito…A intenção dos furriéis era ver um periquito bêbado e observar o seu comportamento!
Naturalmente, passado algum tempo, a infeliz ave nunca mais se levantou, apesar dos esforços de reanimação que tentaram fazer e o óbito foi confirmado no local e, penso que a "certidão de óbito” foi passada pelo furriel enfermeiro Tavares (, José Manuel Dias Tavares), uma certidão de óbito, digamos, virtual!
O Carlos Cripto ficou desesperado e revoltado com a perda do seu amigo papagaio , encostou-se a um canto do edifício das transmissões, serenou e anestesiou o seu nervosismo e com o seu dedo indicador ameaçou mesmo os seus companheiros, com uma queixa ao capitão Cirne (, Armando Fonseca Cirne), que, mais tarde, soube deste incidente, achou-o engraçado e com muita piada !
Como, em Nova Sintra, não havia cemitério para os animais ou aves, fez-se um enterro “voador” já que o papagaio foi lançado pelos ares para o meio do ressequido capim que abundava nas circunscrições territoriais do destacamento.
Carlos Barros
(Ex- furriel Miliciano)
BART 6520 - 2ª CART
“Os Mais de Nova Sintra”
Esposende 10 de abril de 2021
C/ a colaboração de: António Carlos de Jesus Ribeiro-Operador Cripto | José Pereira Silva Elias-Furriel mecânico | Jorge Manuel Santos C. Mendonça-Furriel das Transmissões | José Manuel Dias Tavares - Furriel enfermeiro.
2. Comentário do editor LG:
Carlos, papagaio ou periquito ?
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Nota do editor:
Carlos, papagaio ou periquito ?
Pel tua descrição, inclino-me, com toda a segurança, para a segunda hipótese... O periquito é que era vistoso, colorido... Deveria ser um Periquito-massarongo [, nome científico Poicephalus senegalus].
Originalmente, os militares que chegavam à Guiné eram chamados "maçaricos" (tal como em Angola, e "checas" em Moçambique). Mas o termo foi depois substituído, e com muito melhor propriedade", por "periquito" ou "pira" (e lê-se "p[i]riquito" (O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa ainda não grafou esta aceção do vocábulo, embora ela se use há mais de meio século por nós, antigos combatentes!)...
Segundo o guia das aves da Guiné-Bissau, este periquito é uma ave que tem 23 cm de comprimento, portanto mais pequeno que o papagaio-cinzento (que tem 33 cm)...
Segundo o guia das aves da Guiné-Bissau, este periquito é uma ave que tem 23 cm de comprimento, portanto mais pequeno que o papagaio-cinzento (que tem 33 cm)...
"O seu chamamento agudo ouve-se com frequência em zonas de savana arbórea e de floresta. Encontra-se também em zonas de cultivo com árvores e em cidades. Apesar de ser muito capturado para cativeiro, é ainda comum na maior parte do país. Observa-se aos casais ou em pequenos grupos em ramos expostos. Alimenta-se de frutos e de sementes." (Fonte: Guia das aves comuns da Guiné Bissau / Miguel Lecoq... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, ACE ; Guiné-Bissau : Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, 2017, p. 43. Com a devida vénia).
Sobre o papagaio-cinzento-de-Timneh, ver aqui, na mesma fonte e na mesma página (Ilustração também de Paulo Fernandes. Reproduzido com a devida vénia.)
Sobre o papagaio-cinzento-de-Timneh, ver aqui, na mesma fonte e na mesma página (Ilustração também de Paulo Fernandes. Reproduzido com a devida vénia.)
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Nota do editor:
Último poste da série > 1 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22055: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (23): Estorninhos e pardais, todos somos iguais
9 comentários:
Temos um ppste sobre esta "terminologia" de caserna militar...
14 DE OUTUBRO DE 2019
Guiné 61/74 - P20240: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (4): 2ª edição, revista e aumentada, Letras M, de Maçarico, P de Periquito e C de Checa... Qual a origem destas designações para "novato, inexperiente, militar que acaba de chegar ao teatro de operações" ?
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/10/guine-6174-p20240-pequeno-dicionario-da.html
Na tropa e na guerra (colonial), Maçarico era o "soldado que ainda não terminou a instrução militar", o recruta, o novato, o que acaba de chegar (ao teatro de operações) (*)...
O termo começou a ser usado em Angola, em 1961, depois estendeu-se à Guiné, sendo aqui substituído por "periquito" ou "pira"... Em Moçambique dizia-se "checa"... O termo aparece nas letras de canções do Cancioneiro do Niassa (**)
A razão de ser desta(s) designação (ões), não sei. O único vocábulo com esta aceção, da gíria militar, que vem grafado no dicionário, é "maçarico".
periquito | n. m.
pe·ri·qui·to
(espanhol periquito, alteração de perico, espécie de papagaio)
nome masculino
1. [Ornitologia] Designação dada a diversas aves da família dos psitacídeos, semelhantes ao papagaio, mas mais pequenas.
2. [Figurado] Topete.
3. [Brasil, Informal] Nódoa que fica na pele como resultado de extravasamento de sangue numa área onde alguém chupou. = CHUPÃO
4. [Brasil: Nordeste] Pequeno candeeiro de petróleo. = MEXERIQUEIRO
Ver também resposta à dúvida: pronúncia de periquito.
"periquito", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/periquito [consultado em 19-04-2021].
Ver a resposta aum dúvida sobre a pronúncia de "periquito":
https://www.flip.pt/Duvidas-Linguisticas/Duvida-Linguistica/DID/2094
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pronúncia de periquito [Fonética e Fonologia]
Gostaria de saber qual a pronúncia correcta de periquito?
Aldina (Portugal)
Ao contrário da ortografia, que é regulada por textos legais (ver o texto do Acordo Ortográfico), não há critérios rigorosos de correcção linguística no que diz respeito à pronúncia, e, na maioria dos casos em que os falantes têm dúvidas quanto à pronúncia das palavras, não se trata de erros, mas de variações de pronúncia relacionadas com o dialecto, sociolecto ou mesmo idiolecto do falante. O que acontece é que alguns gramáticos preconizam determinadas indicações ortoépicas e algumas obras lexicográficas contêm indicações de pronúncia ou até transcrições fonéticas; estas indicações podem então funcionar como referência, o que não invalida outras opções que têm de ser aceites, desde que não colidam com as relações entre ortografia e fonética e não constituam entraves à comunicação.
A pronúncia que mais respeita a relação ortografia/fonética será p[i]riquito, correspondendo o símbolo [i] à vogal central fechada (denominada muitas vezes “e mudo”), presente, no português europeu, em de, saudade ou seminu. Esta é a opção de transcrição adoptada pelo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa e do Grande Dicionário Língua Portuguesa da Porto Editora. Há, no entanto, outro fenómeno que condiciona a pronúncia desta palavra, fazendo com que grande parte dos falantes pronuncie p[i]riquito, correspondendo o símbolo [i] à vogal anterior fechada, presente em si, minuta ou táxi. Trata-se da assimilação (fenómeno fonético que torna iguais ou semelhantes dois ou mais segmentos fonéticos diferentes) do som [i] de p[i]riquito pelo som [i] de per[i]qu[i]to.
A dissimilação, fenómeno mais frequente em português e inverso da assimilação, é tratada na resposta pronúncia de ridículo, ministro ou vizinho.
Ver também: pronúncia de ridículo, ministro ou vizinho, pronúncia de bolor
Helena Figueira, 06/11/2006
(Excertos)
Julgo que no caso do "periquito", assim chamados aos novatos chegados à Guiné, se deveu ao aparecimento dos primeiros com fardamento camuflado, que pelo seu colorido se assemelhava a um periquito.
Não percebo a necessidade do realce 'estiveram à altura'. Então houve situações de não terem estado à altura?
Valdemar Queiroz
A tua explicação, Valdemar, parece-me aceitável: a malta do caqui amarelo eram os macaricos, tal como em Angola. Com as primeiras fardas camufladas, na Guiné,//// os novatos passaram a periquitos (e não papagaios...). Falta uma explicação para o termo "checa" (Moçambique).
Na época o pássaro devia ser abundante nas já era capturado pelos naturais da Guiné. ...Talvez o Cherno nos possa explicar melhor.
Espero que em Portugal esteja na lista das espécies proibidas de compra e venda. Lembro-me de ver militares na Guiné com periquitos ao ombro. Hoje temos outra sensibilidade para ver estes casos.E muito mais informação e conhecimento sobre a fauna e a flora.
Luís, isso é que é: às 03,42 e agora 10,03 a entrar na Tabanca, calhando boa terapeuta para descontrair.
Parece que checa vem dum dialeto de Moçambique e quer dizer estar de caganeira, que também passou a ser utilizado para alcunhar um novato, ou alguém sem experiência, em qualquer actividade. Por isso, talvez também eram assim alcunhados os militares chegados a Moçambique.
Quanto aos periquitos no ombro dos soldados, ainda vá, que outros pássaros não tinham essa sorte. O Cândido Cunha bem chamava de assassinos a quem se entretinha com a G3 a apurar a pontaria com tudo o que fosse pássaro poisado no arame farpado. Em Guiro Bocari havia uns pássaros rabudos de penas bonitas e de voo curto, que eram os escolhidos como alvo por se colocarem mais a jeito. Coitados, com o arame farpado a uns trinta metros e sem haver grande proibição aos tiros sem razão, eram abatidos que nem tordos.
Força contigo
Valdemar Queiroz
Pois é, Valdemar, com esta história de ter de ir para o IPO, de manhã, "de reto limpo e cheia a bexiga", estou a tornar-me novamente mocho, como nos meus tempos de estudante e de militar...na Guiné. Ab, e obrigado pela dica sobre os "checas" de Moçambique, que desconhecia... Luís
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