quarta-feira, 28 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22410: Tabanca do Atira-te Ao Mar (8): "Círio" à Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche, 13/7/2021 - Parte III: Quando o Menino Jesus, ao oitavo dia, foi levado ao templo para a festa da Circuncisão (ou "fanado", como se dizia em crioulo, no nosso tempo, no CTIG)


 

Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > Painel de azulejos no lado do Evangelho > Pormenor: "Circuncisão do Menino Jesus"... Na cartela pode ler-se: "Vocatum est nomem eius Iesus" ("Então era esse o nome de Jesus").

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem, com data de 18 do corrente, enviada pelo régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Joaquim Pinto Carvalho, a quem pedimos ajuda para identificar uma cena da vida da Virgem Maria, retratada nos painéis de azulejos da capela da Senhora dos Remédios, em Peniche (*)
 
 
Obrigado pela partilha!

Já regressámos do calor alentejano sem ver bácoro (exilaram para terras mais frescas, mas prometeram voltar!).

Agora na Artvilla [, no Cadaval,] já te posso responder e aproveito para dar uma dica sobre o retábulo de azulejo duvidoso.

Quer pela composição da cena quer pelo texto da legenda, tudo indica que se trate da "circuncisão" (também designada por festividade do "santo nome de Jesus" – sempre fica mais sagrado do que falar dessas coisas de pilinha!).

A frase é retirada do Evangelho de Lucas, 2:21 que assim reza, em tradução livre:

"E, cumpridos os oito dias para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido."

Pronto, já fiz a minha "oração" dominical!

Hoje vamos dormir ao mar 
[, Porto das Barcas, Lourinhã, sede da Tabanca do Atira-te ao Mar]. Se der para um pôr do sol no "Atira-te…", logo nos comunicaremos!

Até breve
Pinto Carvalho



Baião > Ancede > Mosteiro de Santo André de Ancede > Mosteiro, masculino, cuja origem remonta aos primórdios da nacionalidade,,, Vale a pena uma visita,,, Está em restauro, com projeto de Siza Vieira... São quase mil anos de história que nos contemplam e nos confrontam ...  Tem também uma capela, octognal, do séc. XVIII, chamada do "bom despacho" que merece uma visita especialmemte guiada...  Foi lá encontrámos outras  peças da arte barroca popular, sob a forma de cenas de teatro, relativas aos mistériso da vida de Cristo, esta delícia: a cena da circuncisão do menino Jesus...  Repare-se na figura do "cirurgião" (, em hebraico, o "mohel"), de "bisturi" na mão, e óculos (!).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Joaquim, é mais que óbvio, mas de início não me ocorreu, não me dei o trabalho sequer de ampliar a imagem, como costumo fazer. Há muito que não leio o Evangelho, e muito menos o de Lucas que, curiosamente, era um "asclepíades", médico grego, que será depois companheiro de Paulo, ou seja, um dos primeiros discípulos dos Apóstolos de Jesus Cristo..

Como bom judeu, ou filho de Judeus, também Jesus, sendo do género masculino,  foi submetido, oito dias depois de nascer,  ao "Brit milah", o ritual judaico que quer dizer, em hebraico, a  "aliança da circuncisão" (, inposta por Deus aos filhos de Abraão...).  E foi nesse dia que lhe foi dado o nome de Jesus. 

A "circuncisão" (do latim circumcisio, -onis, do verbo circumcidere), uma micro-operação cirúrgica que consiste na excisão do prepúcio)... 

A "circuncisão de  Jesus" começou a ser mais representada na arte cristã a partir do séc. XV, se bem que  o tema, logo nos primórdios do cristianismo, se tenha tornado polémico.  Os seguidores de Cristo abandonaram a prática do "Brit milah" judeu...

A circuncisão masculina, tanto entre muçulmanos como animistas, era prática corrente no nosso tempo, na Guiné.  Era a festa do "fanado". Temos vinte e tal referências a este descritor. E mais de trinta à "Mutilação Genital Feminina", prática hoje criminalizada pelo Direito Penal da Guiné-Bissau...

Calcula-se que um em cada três homens em todo o mundo é  "fanado", por razões religiosas, culturais ou profiláticas:  em Israel, na diáspora judia, na maior parte dos países muçulmanos, mas também nos Estados Unidos, etc. 

Os soldados da tua CCAÇ 6 (Bedanda) e os meus da CCAÇ 12 (Bambadinca)  eram "fanados". 

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Acaba por ser, a circuncisão, tanto masculina como sobretudo feminina, altamente fracturante...

Fernando Ribeiro disse...

Os meus soldados angolanos, que se diziam cristãos, também eram circuncisados. Segundo as tradições bantus, a circuncisão em Angola era realizada no início da adolescência, como fazendo parte dos rituais de passagem à idade adulta, que em várias etnias angolanas se chamam "mukanda". Só os Cuanhamas (que também são bantus) se não circuncisam, tendo abandonado esta prática há cento e cinquenta anos ou mais.

Mesmo os angolanos das cidades se faziam circuncisar, recorrendo, neste caso, aos hospitais, onde esta operação era feita com todas as condições de higiene. Pelo menos em Luanda, pelo que sei, a circuncisão era feita gratuitamente no Hospital de S. Paulo. Bastava ir lá e pedir, que a circuncisão era feita na hora por um enfermeiro.

Por outro lado, a mutilação genital feminina entre as angolanas é zero vírgula zero. Não existe. A pouca mutilação genital feminina existente em Angola ocorre entre imigrantes, uma vez que vive uma comunidade maliana relativamente numerosa em Angola no presente.