domingo, 31 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22675: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte VIII: O meu percurso militar (II): Depois da RMA, o CTIG: ao todo, 3 anos e 4 meses ao serviço da tropa


Doc 7 > Região Militar de Angola > Batalhão de Intendência de Angola >Quartel em Grafanil > Batalhão de Intendência > Companhia de Intendência > 11 de fevereiro de 1971 > #O documento mais valioso": a declaração da passagem à disponibilidade (ou à "peluda")



Doc 6 > Região Militar de Angola > Quartel General > Companhia de Comando e Serviços > Quartel em Luanda > 12 de agosto de 1968 > Recibo da Arrecadação do Material de Guerra, comprovativo da entrega pelo alf mil João Rodrigues Lobos de uma  G3, cimco carregadores, duas cartucheiras, um cinturão e... 100 cartuchos  7,62 mm m/962... 


Doc 8> Ministério do Exército > Direcção do Serviçpo de Pessoal > Repartição dos Oficiais > 2ª Secção > Lisboa, 28 de janeiro de 1978 > Declaração para efeitos de contagem do tempo de serviço.


Fotos (e legendas): © João Rodrigues Lobo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Segunda (e última) parte da mensagem de João Rodrigues Lobo [ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971): fez o 1º COM, em Angola, na EAMA, Nova Lisboa; vive em Torres Vedras onde trabalhou durante mais de 3 décadas como chefe dos serviços de aprovisionamento do respetivo hospital distrital; membro nº 841 da Tabanca Grande.]


Data - sexta, 29/10, 10:11 (há 1 dia)



Assunto - O meu percurso militar


(Continuação)

Quando me mobilizaram para a Guiné fui para o Depósito  de Adidos, em Luanda, onde esperei por um transporte para a Guiné, que nunca mais me arranjavam, ( dizendo até que provavelments tinha de ir primeiro para a Metrópole e dali para a Guiné) sendo que o tempo passava e a Comissão não começava. 

Consegui pessoalmente junto da Força Aérea que me arranjassem transporte num avião militar que vinha para Lisboa com escala em Cabo Verde. Chegado a Cabo Verde esperei por outro avião militar, de carga, que me levou até Bissalanca. Ali chegado, sem nunca antes ter sabido qual a Unidade em que estaria colocado, apanhei boleia num jipe que por acaso tinha ido levar alguém a Bissalanca e que por camaradagem, (não estando autorizado e não constar do boletim da viatura) me levou ao Quartel General em Bissau. Ali chegado, e com as malas á porta, lá entrei e só aí soube que estava colocado no BENG 447. Por gentileza lá me mandaram levar a Brá.

Conhecendo eu bem Angola, e, só havendo 5 Aspirantes Milicianos da Especialidade formados no 1º COM em Angola, sendo este número manifestamente insuficiente para as colunas de MVL, e estando eu no Quartel General a prestar o que julgo bom serviço, porque cargas de água fui mobilizado para a Guiné? 

A explicação dada na época foi “intercâmbio entre Provincias” sem direito a mais perguntas!  Seria só isso ? Por vezes especulo sobre várias hipóteses, mas sem conclusões. Talvez fale delas noutra altura pois são só especulações.

E, quando acabei a comissão na Guiné, para voltar para Luanda, onde fui mobilizado, queriam que viesse de navio fretado para Lisboa (quando houvesse) e de Lisboa para Luanda (quando houvesse). 

Lá se foi o resto do que tinha poupado e paguei as 2 viagens aéreas de Bissalanca para Lisboa e de Lisboa para Luanda, na TAP totalmente do meu bolso! Em 1968 e 1969 também tinha pago as 8 viagens aérias na TAP nos dois meses de férias que tive, para as passar em Luanda onde residia a minha namorada.

Quando em 1977 fiz concurso público para Chefe dos Serviços de Aprovisionamento do Hospital Distrital de Torres Vedras, precisava de documento onde constasse o Serviço Militar cumprido. 

Não sabendo onde o podia obter, fui ao Ministério do Exército, no Terreiro do Paço, em Lisboa, onde estava “estacionado” o meu processo, por não ter a data da passagem á disponibilidade!!! 

Por sorte, (mais uma vez) tinha guardado o papelinho da “peluda”, que apresentei, e lá me passaram uma declaração simples (, com um erro na data do inicio da Comissão no qual só mais tarde reparámos, ) mas que serviu o objectivo. 

Em 1978 recebi um oficio onde, na disponibilidade, tinha sido colocado no Regimento de Engenharia nº 1 em Lisboa. E em 1983 recebi outro oficio,  dizendo que o meu processo estava no DRM  de Santarém. 

Em 2007 aquando da passagem á reforma, para obter a contagem do tempo, fui a Santarém e já não estava lá nada. Fui então ao Arquivo Geral do Exército, em Lisboa onde estava o meu processo, obtive a contagem do tempo e lá me deram 5 anos e 337 dias para a reforma ( tiraram alguns mesitos, talvez a recruta ou as férias). 

Esta “história” terá interesse?  Para mim tem,  dadas as bolandas em que andei, e, o tempo que perdi (ou ganhei) no Exécito Português.

Por onde passei tive e assisti a vários “episódios” alguns idênticos aos que outros camaradas descrevem , outros talvez um pouco diferentes. Tenho algumas situações,vividas pelos locais por onde estive, na memória, e tento recordar-me de outras para talvez as passar ao papel e vos enviar para o blog.

Resumindo, acabei por ter tanta sorte que passei quase ao lado da Guerra, estando bem perto da dureza e sofrimento que tantos camaradas, nas mesmas datas, passaram.

Até tive a sorte de , quase imberbe, deixar crescer o bigode, desde que aterrei na Guiné, bigode esse que foi crescendo sem nunca mo mandarem rapar, apesar de algumas bocas “superiores” e de alguns PM . O bigode, que aí começou, só o raparei quando a sorte que me acompanhou em Angola e na Guiné,  me fizer ganhar o Euromilhões!

Anexo vários “papéis” que guardei como recordação, em complemento do que já foi publicado no poste anterior (*)

Doc 6 – Documento de MVL – 1968

Doc 7 – O Documento mais valioso: a passagem à disponibilidade, em  1971

Doc 8 – A descoberta do meu processo – 1977 (1978)

Até breve.

João Rodrigues Lobo
_______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 30 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22671: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte VII: O meu percurso militar (I): Região Militar de Angola: EAMA, CICA, Companhia de Transportes nº 2560, QG-4ª Rep, Depósito de Adidos (1967/68)

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, realmente é obra, quase seis anos da vida de um homem...Os camaradas da Força Aérea faziam seis, os que eram voluntários, mas entravam logo aos 18 (creio eu) e passavam mais cedo (aos 24) à peluda...

Recordar as tuas andanças,de quartel em quartel, e de território em território, faz-te bem,a ti e a nós, e sobretudo àqueles de nós que já andam mais esquecidos... Vejo que és um tipo organizado e guardaste todos estes papéis da tropa, o que é uma raridade. Papéis que têm interesse documental para as nossas histórias de vida...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Quanto a mandaram os milicianos (e nomeadamente os oficiais), nascidos num província (Angola, por exemplo) para outro teatro de operações (Guiné, Moçambique...) faz algum sentido dentro da lógica daquela guerra: não podias garantir, às autoridades militares, que não tinhas "amigos do peito", colegas de liceu ou de trabalho, vizinhos, parentes, conhecidos, etc., nas fileiras do "inimigo" (os movimentos de libertação)... Sobretudo em Angola, ter havido bastantes casos...

João Rodrigues Lobo disse...

Boa tarde
A Arma entregue foi uma FN e não uma G3 (havia lá poucas).
Não passei os 6 anos na tropa, isso foi o que me deram para a reforma. Passei sim 3 anitos.
Não nasci em Angola ! Nasci em Óbidos, estudei no E.R.O. das Caldas da Rainha e no Liceu Salvador Correia em Luanda. Vivia em Luanda quando fui incorporado.
Realmente estudei com alguns colegas que estavam nas fileiras dos chamados "turras", aloás julgo que é veridico que alguns camaradas do meu COM que foram para os Comandos , em teatro de operações, chegaram a dialogar com os ex-colegas que estavam do outro lado.
A razão que o Luis apontou para a mobilização, pode ter sido essa. Embora possa especular sobre mais uma ou outra razão na origem da mobilização para a Guiné, que mais tarde desenvolverei. Abraço

Tabanca Grande Luís Graça disse...

No prefácio ao livro de Pedro Marquês de Sousa,"Os números da Guerra de África" (Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021), João Vieira Borges, major general, presidente da Comissão Portuguesa de História Militar considera-se um "filho da guerra": "nascido em Angola, acompanh(ei), de perto, a guerra até 5 de Outubro de 1975 (com familiares nos dois lados da contenda)" (pág. 11).

E, a propósito, é um livro de consulta obrigatória para quem se interessa pela história da(s) guerra(s) em que estivemos envolvidos, em Angola, Guiné e Moçambique, entre 1961 e 1975.

João Rodrigues Lobo disse...

Vou lendo aos poucos, os posts e comentários do Blog.
Cada vez mais informado.
Em apreço os comentários de António Rosinha, e de outros camaradas,
No comentário acima e vos que enviei para o blog, já disse um pouco por onde andei.
Posso dizer que fui para Angola com 7 anos de idade. Estudei em Luanda, Lisboa e Caldas da Rainha. Em 1961 estava em Luanda, bem como em 1974. Também me consideraram retornado.
Como militar conheci Angola de Luanda ao Ambrizete, como civil de Cabinda ao Namibe, por , após a tropa, ter sido Agente de Navegação Internacional e também por "turismo.
Na Guiné além de Brá, desloquei-me em colunas de transporte para algumas obras e reordenamentos.
Com o BLOG cada vez surgem mais recordações. Vou lendo.

Manuel Carvalho disse...


Caro camarada Rodrigues Lobo

Tive alguns colegas de estudo aqui no Porto, Angolanos e até Moçambicanos, que quando se aproximava o tempo de cumprir o serviço militar eles regressavam a Angola para serem lá incorporados e não aqui. Já não me lembro muito bem mas eles falavam nalgumas vantagens tais como ficarem num quartel na cidade donde eram naturais, etc, etc. Sabes alguma coisa sobre isto e confirmas? Desde já muito obrigado.

Manuel Carvalho

João Rodrigues Lobo disse...

Não tive conhecimento dessas situações pois já residia em Luanda quando fui incorporado. E estando no QG fui mesmo assim mobilizado para a Guiné. Aliás a maior parte do nosso COM não ficou nas cidades mas nas unidades de comandos.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Temos vários exemplos no blogue de camaradas, nascidos ou criados numa província e que fizeram a tropa e/ou a guerra noutra. Lembro-me, assim de repente, de:

(i) António Estácio, nascido em 1947, em Bissau, no "chão de papel", foi parar a Angola como alferes miliciano; tendo estudado no liceu Honório Barreto, teve vários colegas, simpatisantes ou militantes do PAIGC;

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/05/guine-6374-p6432-tabanca-grande-220.html

(ii) Rui Alexandrino Ferreira: natural de Sá da Bandeira, nascido em 1943, vive hoje em Viseu; fez o COM em Mafra em 1964; em duas comissões na Guiné, primeiro como Alferes Miliciano (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) e depois como Capitão Miliciano (CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72). Fez ainda uma comissão em Angola, como capitão. Publicou em 2000 a sua primeira obra literária, "Rumo a Fulacunda" (2ª ed, Palimage, Viseu, 2003).

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/08/guine-6374-p6823-parabens-voce-136.html

(iii) O mítico capitão 'comando' Maurício Saraiva, natural de Angola, que se notabilizou no TO da Guiné;

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2013/04/guine-6374-p1145-o-mundo-e-pequeno-e.html

(iv) O Mário Sasso, um dos "palmeirins de Catió", natural de Moçambique, alferes miliciano, CCAÇ 728, que encontrou a morte no Cantanhez;

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/03/guin-6374-p1634-crnica-de-palmeirim-de.html

(v) e tantos mais, como Alpoim Calvão que, embora transmontano de nascimento, passou a infânica, adolescência e juventude em Moçambique...

Manuel Carvalho disse...

Pois é disso que eu falo eles iam residir para lá eu julgo que ainda antes da inspeção e tinham benefícios nisso embora eu já não me lembro muito bem quais. é claro que cada um arranja a sua vida como pode e contra isso nada. Por vezes estamos num lugar bom e vamos para um mau e o contrario também acontece.E quando nos parece que estamos muito bem pode não ser assim.

Manuel Carvalho

Manuel Carvalho disse...

Meu caro amigo Luís há sempre casos que fogem á regra. Eu estou a falar de conversas que tive com colegas de estudo quando tinha 15/16/17 anos e já andava a pensar como me poderia safar daquilo que não me dizia nada e ouvia colegas meus que tinham lá toda a sua vida a procurar passar pela sombra, o que é humano mas imagina com que vontade eu fui para lá dar o corpo ás balas. Também não sei o que aconteceu com estes meus colegas podem ter ido parar á Guiné como o João Rodrigues Lobo eu, tu e muitos outros.Um abraço e muita saúde.

Manuel Carvalho