Guatemala, Antigua Guatemala, 2016
Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2021) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo", da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74. (*)
António Graça de Abreu
Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem já três centenas de referências no blogue.
Antigua Guatemala, Guatemala, 2016
por António Graça de Abreu
Texto e fotos recebidos em 23/10/2021
Nesta América Central, 2016, venho por aí acima, 130 quilómetros desde o Oceano Pacífico, subindo montes, por estradas rasgadas nas encostas de montanhas vulcânicas que se elevam até aos 4.000 metros. Só no caminho, aqui à volta, passamos por quatro vulcões, o Pacaya, o Água, o Fuego e o Acatenango.
A Guatemala tem a particularidade de contar com trinta e um vulcões, quatro deles activos. É, por isso, um país ciclicamente sujeito às calamidades naturais, tremores de terra, erupções vulcânicas com a lava escorrendo por penhascos e desfiladeiros, devorando, ao avançar, terras férteis, vilas e aldeias.
Para além de todos os desvairos da natureza, os guatemaltecos estão igualmente sujeitos às infindáveis loucuras dos homens. Entre 1960 e 1996 a Guatemala, maior do que Portugal com 190 mil quilómetros quadrados de superfície, viveu tempos de quase permanente guerra civil, em lutas fratricidas por efémeros poderes que se calcula terem provocado 200 mil mortos.
A cidade de Antigua, conhecida localmente como La Antigua, foi fundada por colonizadores espanhóis em 1543, como escrevi encravada entre vulcões. Foi a primeira capital do país, quase totalmente destruída por um terramoto, seguido de grandes inundações, em 1773. Nessa altura construíu-se uma nova capital, a actual cidade de Guatemala, na planura de um vale, mais segura e de mais fáceis acessos, a 50 quilómetros de distância.
Parto à descoberta da Antígua Guatemala, património Mundial pela Unesco. Uma urbe colonial traçada em quadrícula, ruas pavimentadas com um velhíssimo empedrado, casas térreas com pátios interiores quadrados, à moda andaluza, jardins com buganvílias, água a correr, espaços frescos para viver e habitar. Duas dezenas de igrejas e capelas, treze conventos, tudo edificado há três ou quatro séculos, algumas construções já muito arruinadas. É o testemunho dos tempos de Espanha e da fé cristã assumida pelo povo desta terra onde a morte precoce e inesperada espreitava a cada esquina. Implorava-se a protecção de Cristo ou da Virgem Maria, pedia-se um pouco de felicidade em vidas breves, ansiava-se por um descanso eterno. Ingratos, sinuosos, inesperados os caminhos do Céu.
A cidade de Antigua, conhecida localmente como La Antigua, foi fundada por colonizadores espanhóis em 1543, como escrevi encravada entre vulcões. Foi a primeira capital do país, quase totalmente destruída por um terramoto, seguido de grandes inundações, em 1773. Nessa altura construíu-se uma nova capital, a actual cidade de Guatemala, na planura de um vale, mais segura e de mais fáceis acessos, a 50 quilómetros de distância.
Parto à descoberta da Antígua Guatemala, património Mundial pela Unesco. Uma urbe colonial traçada em quadrícula, ruas pavimentadas com um velhíssimo empedrado, casas térreas com pátios interiores quadrados, à moda andaluza, jardins com buganvílias, água a correr, espaços frescos para viver e habitar. Duas dezenas de igrejas e capelas, treze conventos, tudo edificado há três ou quatro séculos, algumas construções já muito arruinadas. É o testemunho dos tempos de Espanha e da fé cristã assumida pelo povo desta terra onde a morte precoce e inesperada espreitava a cada esquina. Implorava-se a protecção de Cristo ou da Virgem Maria, pedia-se um pouco de felicidade em vidas breves, ansiava-se por um descanso eterno. Ingratos, sinuosos, inesperados os caminhos do Céu.
Na Antigua Guatemala metade da população é constituída por pessoas da etnia maia e os traços identitários de cada um saltam à vista. Não contaminados por sangue espanhol, ou europeu, os maias têm a pele mais escura, o cabelo muito negro e liso, os narizes aquilinos, os olhos grandes, encovados que me pareceram sempre tristes. Vestem, no entanto, roupas coloridas em trabalhados entrançados de lã. São a gente mais pobre e desfavorecida da Guatemala, um país onde me dizem que uma dúzia de famílias muito ricas controlam quase toda a produção de açúcar, café, bananas e borracha, as principais exportações do país. Será mesmo assim?
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 24 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22935: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXV: Berlim, Alemanha, 1969
4 comentários:
De facto (, não dá jeito escrever "de fato", como no Brasil...), a natureza e a história têm sido cruéis para muitos povos. Obrigado, António, pela partilha. Seguramente que nunca irei a Antiqua Guatemala, pelo menos nesta incarnação...E para a outra não sei como vou renascer: com ou sem muletas... Alfabravo. Luís
Por que diabo é que haverias de escrever "de fato"?!!! "De facto" é que é! O Acordo Ortográfico não nos obriga a falar "brasileiro". Era só o que faltava! O Acordo Ortográfico obriga-nos a escrever como falamos. Como nós dizemos "de facto", então é "de facto" que devemos escrever, segundo o AO.
Abreu, de facto é assim.
A riqueza da Guatemala é o agronegócio, que está nas mãos dumas dezenas de empresas nacionais e estrangeiras.
É o país da América Latina com a menor carga fiscal, mas é o país do continente americano que não consegue reduzir a pobreza, pelo contrário antes tem aumentado.
A primeira fotografia é espectacular, como que a cruz a abençoar a não erupção do vulcão.
Jã não estaremos nesta encarnação, mas leva a crer que as erupções vulcânicas vão fazer desaparecer a américa central, que tem vindo a estreitar ao longo dos milhões de anos por esse facto.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Fernando, aqui também podemos gracejar... Em bom português a gente se entende, como é norma do blogue (que, no entanto, dá liberdade, nesta matéria, aos editores, colaboradores, autores e comentadores...).
Eu aplico o AO, fui professor do ensino superior universitário até ao fim ano letivo de 2016/2017...Reformei-me em 2017.
Recorde-se que o Conselho de Ministros determinou a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no sistema educativo no ano letivo de 2011/2012. E a partir do dia 1 de janeiro de 2012, passou a ser também aplicado ao Governo e a todos os serviços e organismos dele dependentes, assim como à publicação do Diário da República...
O que diz o AO sobre as "consoantes mudas"...
(i) as letras c e p e continuam a escrever-se nas palavras cuja pronúncia obriga a que essas letras sejam proferidas (opção, pacto);
(ii) devem omitir-se as letras c e p nas palavras cuja pronúncia não as profira (ator, fator);
(iii) as letras c e p podem manter-se ou omitir-se dependendo da pronúncia culta do país (facto - Portugal; fato - Brasil);
(iv) se numa palavra as letras c ou p, antes de serem omitidas, forem seguidas de m, assim que suprimidas, o m passa a n (assumpção > assunção);
(v) dependendo da pronúncia culta, a letra b, quando seguida de d ou t, pode ou não desaparecer (súbdito - Portugal; súdito - Brasil); o mesmo acontece com a letra m sempre que seguida de n (omnipotente - Portugal; onipotente - Brasil)...
https://www.apportugal.com/novo-acordo-ortografico/perguntas-frequentes/
http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?action=acordo&version=1990b
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