A NETA DE XALÁ BALDÉ
por Joaquim Jorge
Estávamos ainda há muito pouco tempo em Empada. Eu, como Alferes mais antigo, estava a comandar a Companhia em virtude de ainda não ter sido nomeado um capitão para esse efeito.
Em certa manhã de Abril de 1964 fui procurado no quartel por Xalá Baldé, o “ Homem Grande” (Chefe), da etnia Fula, residente em Empada. Vinha acompanhado de uma das suas netas, uma formosa bajuda como são todas as jovens da sua etnia. Bajuda, no conceito e linguagem dos nativos guineenses, é uma jovem rapariga virgem ou solteira.
Nesta altura eu não conhecia nem uma palavra de linguagem fula e de “crioulo” também pouco ou nada sabia por isso estava com alguma dificuldade em perceber a razão da sua visita e quais as suas pretensões. Perante esta situação e para que nos entendêssemos bem, mandei chamar Mamadi Sambu para intermediar a nossa conversa, pois ele falava bem o português e dominava as diversas línguas nativas. Mamadi Sambu era o Homem Grande dos Beafadas, o maior dos Homens Grandes das etnias residentes em Empada. Respeitado por todos e de toda a nossa confiança. Seguidor de Alá, Homem simples mas muito experiente, sensato e fiel foi um excecional nosso colaborador. Antes de agir consultava-o em quase todas as circunstâncias.
A que vinha então Xalá Baldé falar comigo? Dei-lhe a palavra para iniciarmos a nossa conversa. Veio apresentar “Mantenhas” (cumprimentos em crioulo) de boas vindas à nossa Companhia em representação dos Fulas e prestar-nos vassalagem, prometendo colaboração e fidelidade da sua parte e da sua etnia.
Senti-me deveras sensibilizado! Agradeci-lhe efusiva e elogiosamente a sua atitude. Aproveitei e fiz-lhe, de imediato, os primeiros pedidos que foram: a sua colaboração na formação de uma Companhia de voluntários nativos e na reorganização defensiva de Empada e do quartel. Ficou radiante com a ideia. Abraçámo-nos com amizade. Até parecia que já nos conhecíamos há muito tempo. A seguir ao Mamadi foi o segundo grande amigo que arranjei em Empada.
Pensava eu que, por aquele dia, estava encerrada a nossa conversa, mas, afinal, Xalá Baldé trazia mais outra intenção, intenção essa que me deixou perplexo e que, de imediato, quase sem saber o que lhe havia de responder com medo de o ofender ou de ele julgar que a minha atitude revelava um sentimento de racismo, de repúdio ou de desprezo.
Xalá Baldé, seguindo uma tradição fula como ele me disse, vinha também oferecer-me “para todo o serviço” aquela sua neta bajuda, jovem e bonita que o acompanhava. Tentei explicar-lhe a minha atitude de forma que ele não ficasse magoado com a minha recusa.
Respondi-lhe que era casado, que amava e respeitava a minha mulher, que a minha religião não permitia isso, que, como comandante de Companhia, não devia nem podia dar esse exemplo aos meus subordinados… Enfim arranjei todos os argumentos possíveis para que saísse airosamente deste imbróglio e para que, simultaneamente, ele ficasse de bem comigo…
E assim aconteceu… e o Mamadi Sambu também contribuiu para isso com as suas sábias e coerentes intervenções. Pelas suas atitudes posteriores fiquei convencido de que Xalá Baldé aceitou de bom grado e valorizou a minha opção. Ficámos grandes amigos por toda a comissão e no último dia lá estava ele no porto de Empada para despedir-nos. Abraçámo-nos e, abraçados, chorámos os dois.
Em certa manhã de Abril de 1964 fui procurado no quartel por Xalá Baldé, o “ Homem Grande” (Chefe), da etnia Fula, residente em Empada. Vinha acompanhado de uma das suas netas, uma formosa bajuda como são todas as jovens da sua etnia. Bajuda, no conceito e linguagem dos nativos guineenses, é uma jovem rapariga virgem ou solteira.
Nesta altura eu não conhecia nem uma palavra de linguagem fula e de “crioulo” também pouco ou nada sabia por isso estava com alguma dificuldade em perceber a razão da sua visita e quais as suas pretensões. Perante esta situação e para que nos entendêssemos bem, mandei chamar Mamadi Sambu para intermediar a nossa conversa, pois ele falava bem o português e dominava as diversas línguas nativas. Mamadi Sambu era o Homem Grande dos Beafadas, o maior dos Homens Grandes das etnias residentes em Empada. Respeitado por todos e de toda a nossa confiança. Seguidor de Alá, Homem simples mas muito experiente, sensato e fiel foi um excecional nosso colaborador. Antes de agir consultava-o em quase todas as circunstâncias.
A que vinha então Xalá Baldé falar comigo? Dei-lhe a palavra para iniciarmos a nossa conversa. Veio apresentar “Mantenhas” (cumprimentos em crioulo) de boas vindas à nossa Companhia em representação dos Fulas e prestar-nos vassalagem, prometendo colaboração e fidelidade da sua parte e da sua etnia.
Senti-me deveras sensibilizado! Agradeci-lhe efusiva e elogiosamente a sua atitude. Aproveitei e fiz-lhe, de imediato, os primeiros pedidos que foram: a sua colaboração na formação de uma Companhia de voluntários nativos e na reorganização defensiva de Empada e do quartel. Ficou radiante com a ideia. Abraçámo-nos com amizade. Até parecia que já nos conhecíamos há muito tempo. A seguir ao Mamadi foi o segundo grande amigo que arranjei em Empada.
Pensava eu que, por aquele dia, estava encerrada a nossa conversa, mas, afinal, Xalá Baldé trazia mais outra intenção, intenção essa que me deixou perplexo e que, de imediato, quase sem saber o que lhe havia de responder com medo de o ofender ou de ele julgar que a minha atitude revelava um sentimento de racismo, de repúdio ou de desprezo.
Xalá Baldé, seguindo uma tradição fula como ele me disse, vinha também oferecer-me “para todo o serviço” aquela sua neta bajuda, jovem e bonita que o acompanhava. Tentei explicar-lhe a minha atitude de forma que ele não ficasse magoado com a minha recusa.
Respondi-lhe que era casado, que amava e respeitava a minha mulher, que a minha religião não permitia isso, que, como comandante de Companhia, não devia nem podia dar esse exemplo aos meus subordinados… Enfim arranjei todos os argumentos possíveis para que saísse airosamente deste imbróglio e para que, simultaneamente, ele ficasse de bem comigo…
E assim aconteceu… e o Mamadi Sambu também contribuiu para isso com as suas sábias e coerentes intervenções. Pelas suas atitudes posteriores fiquei convencido de que Xalá Baldé aceitou de bom grado e valorizou a minha opção. Ficámos grandes amigos por toda a comissão e no último dia lá estava ele no porto de Empada para despedir-nos. Abraçámo-nos e, abraçados, chorámos os dois.
10 comentários:
É de louvar a atitude do camarigo Joaquim Jorge a quem presto desde já a minha homenagem.
No entanto, (não sendo eu um puritano), julgo que este tipo de histórias envolvendo terceiros identificados, não deveriam ser publicadas.
Sabemos, ao que julgo, que o nosso blogue chega à Guiné e como tal, embora considere que haverá uma remota hipótese de tal história vir a ser conhecida naquela região, dever-se-ia evitar que uma publicação destas possa envergonhar os identificados ou seus familiares hoje em dia.
Reitero a minha admiração pela atitude do camarigo Joaquim Jorge.
Um abraço do
Joaquim Mexia Alves
Joaquim, estamos ambos, de acordo, no apreço que nos merece o Joaquim Jorge, homem de princípios, valores e carácter.
Permito-me discordar de ti quanto ao resto. A situação aqui descrita não é inédita no nosso blogue e não pode ser vista à luz dos critérios actuais de reserva da intimidade ou de protecção legal de menores nas refed sociais.
Estávamos numa situação de guerra,e a guerra em toda a parte é "pública"... Por isso é que denunciamos e julgamos crimes de guerra. ..Famílias inteiras em Empada ficaram divididas pela guerra, uns de um lado, outros do outro... O Ze Teixeira pode falar disso melhor do que eu, esteve em Empada... Quatro ou cinco depois.
Por outro lado, não se fala no nome da bajuda. O Xala Balde teria muitas mais... Não vejo aqui uma eventual situação de escravatura sexual, a de um chefe de um grupo sacrificando uma mulher do clã (para mais sua neta) ao chefe dos "tugas" que vem instalar-se na Tabanca para garantir a paz e a protecção de toda a população...
Há aqui questões culturais muito importantes (e delicadas) a ter em conta, mesmo que possamos discordar delas, ontem e hoje.. Veja-se os escrúpulos do Joaquim Jorge, em relação a um não redondo...
Por outro lado, pode ter havido aqui questões também delicadas de comunicação... O que se podia entender pela expressão "para todo o serviço", aplicada a uma rapariga ("menor") ? "Criada para todo o serviço" é uma expressão nossa, machista e misógina. Não e uma expressão fula...
É verdade que a bajuda ter-se-a aperce bido do destino cruel que lhe podia ter sido reservado pelo avô e pelo "tuga", mesmo que ela nunca se pudesse casar, naquela época, por amor... Ainda hoje persistem, na Guine-Bissau, denúncias de "casamento forçado"... Mas aqui bem se trataria disso... Seria preciso, para entendermos esta história, conhecer melhor os "usos e costumes" dos fulas nestas situações de guerra e aliança...
Caros amigos,
O Sector de Empada, na regiao administrativa de Quinara, é habitada maioritariamente por Biafadas, contando com uma presença negligenciavel de outras etnias como Fulas, Manjacos e Pepel. De referir que esta localidade deu alguns comandantes dignos de registo ao movimento da libertaçao.
Quanto ao caso em apreço, como é habitual no contacto entre europeus (portugueses) e africanos, na minha opiniao, deve haver um "grande" mal entendido, derivado da diferença de culturas e da deficiente comunicaçao entre os comunicantes de parte a parte, pois que, em meados de 1964 o nivel de percepçao e entendimento correcto da lingua portuguesa a nivel de todo o territorio nao devia ultrapassar os 2% do total da populaçao. E numa localidade como Empada, no inicio da guerra, devia ainda ser muito inferior e o Ex-Alf. Joaquim Jorge fala de dois homens grandes que, na melhor das hipoteses, nem o Crioulo dominavam. Qual podia ser o dialogo possivel entre um Alferes metropolitano que nao conhecia uma unica palavra dos locais e dois homens grandes que nem sequer falavam o Crioulo ?...Certamente um Enigma.
E de mais a mais, em nenhuma sociedade conhecida do mundo, seja ela "civilizada" ou "arcaica" um(a) avo poderia atribui-se a si a prerrogativa de dar a outrem, seja em que condiçoes fossem a sua neta para ser usada "para todos os serviços". Isto nao pode existir senao na cabeça de alguém que desconhece completamente a cultura dos fulas.
Na verdade, em Empada, existia e penso que ainda continua a existir uma pequena comunidade de fulas dispersos pela zona e que, com o inicio da guerra, poderiam concentrar-se em Empada por razoes de segurança, mas habitando fora do seu Chao de origem, nao estariam organizados colectivamente de modo a ter uma chefia, de modo que o homem grande em questao deveriua estar a agir por sua conta e risco e nao representava ninguém em particular a nao ser que a isso fosse impelido por força da guerra e pela presença intimidante da tropa.
Em Africa, foram registados e sao bem conhecidos os casos de ofertas de serviços (inclusive sexuais) a certas personalidades estrangeiras e nao so como forma de hospitalidade em contextos variados e que vinham de periodos anteriores a colonizaçao, mas que, todavia, nao era uma particularidade unicamente africana, pois antes da chegada dos europeus a Africa ja mantinha relaçoes seculares com os povos do mediterraneo Sul e do medio oriente.
Nao é a primeira vez que leio estorias semelhantes vindas de portugueses (metropolitanos) que, se bem que possa haver alguns casos veridicos, na maior parte sao fruto de uma interpretaçao errada dos factos e/ou de pura imaginaçao ligada a preconceitos tipicos do periodo do estado novo.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
PS: O nome indicado como sendo do homem grande (Xala) nao existe na nomenclatura da lingua e cultura fula. E eu vejo nisso mais um indicio da fraqueza do facto testemunhado.
Luís essa é a tua opinião que respeito.
A minha é outra e é aquela que exprimi.
Seja em que contexto for as pessoas devem ser preservadas, sobretudo terceiros.
Amigos & Camaradas
Não sei se era costume ou não os pais oferecerem os filhos, mas creio que ainda hoje existe essa tradição por entre várias sociedades quando os pais estabelecem acordos relativamente aos filhos/filhas, embora na Guiné nos dias de hoje a verificar-se tal caso será pouco vulgar.
Contudo acrescento que no meu tempo de tropa não tive conhecimento relativamente a casos semelhantes ao aqui relatado, mas comigo passou-se um caso igual em 1995 e não foi um avô, mas um pai que me veio oferecer a sua filha, isto é, veio pedir-me para eu trazer a filha comigo.
Claro que eu vi e compreendi a situação dele ao solicitar-me para trazer comigo a rapariga, pois a minha interpretação não poderia ser outra, que tal pedido caso eu anuísse seria que a filha viria a ter uma vida melhor e só poderia ser esse o sentido e não outro, embora se possa retirar daqui outras ilações. Como não poderia deixar de ser, respondi ao nosso amigo que não poderia levar comigo/trazer para Portugal a miúda porquanto teríamos de cumprir leis guineenses e portuguesas, pelo que estava fora de causa eu aceder ao seu pedido. Esta situação passou-se em Capé, Bafatá. Para mim esta situação com a qual me vi confrontado, claro que tinha subjacente a situação económica precária em que viviam e no pensar do pobre homem, a filha de qualquer modo viria a ter uma situação melhor, donde maneira alguma se pode inferir que seria uma oferta pura e simples.
Abraço
CARLOS SILVA
Gostava que mais camaradas, com formação jurídica como o Carlos Silva, se pronunciassem sobre esta história. Os factos reportam-se a mais de 50 anos. Se estivessem em arquivo, passavam a ser do domínio público (como os arquivos de Salazar ou da PIDE).
De qualquer modo, parece-me praticamente impossível identificar a neta do tal Xala (que não é nome fulá
, como diz o Cherno).
Mesmo assim, temos de ter cuidado e garantir o sigilo ou o anonimato de pessoas em situações de melindre como estas. E foi o que fez o nosso Joaquim Jorge, que de resto também é avô e homem sábio.
Nos meus dois anos de comissão na Guiné, salvo um breve contacto de duas semanas com balantas, nos Nhabijões, só estive em regiões onde os fulas eram, sem exceção, a etnia dominante. E, pelo que me foi dado observar ao longo do tempo (e eu lidava muito com as populações), não havia, nem de longe nem de perto, situações como a descrita pelo nosso camarada Joaquim Jorge, ou seja, não havia, pura e simplesmente, casos de favores sexuais prestados por responsáveis nativos a quem quer que fosse. Aliás, acompanhei a rendição de uma por outra unidade ao longo de todo o período de sobreposição e não só ninguém veio propriamente prestar vassalagem aos vindouros como os nossos anfitriões se mantiveram sempre à distância até o comandante da nova companhia lhes ser apresentado. Os fulas eram muito "senhores do seu nariz" e, para além disso, sabiam "dar-se ao respeito", comportando-se com uma dignidade que eu sempre admirei. Por isso me inclino para a tese do nosso camarada Cherno Balde, justificando a confusão que se gerou na cabeça do novel e imaturo comandante (que me perdoe a piada o nosso camarigo Joaquim Jorge, que muito prezo)com uma incorreta tradução dos serviços a prestar (de lavadeira, não mais que isso)por parte do inabilitado intérprete, ele próprio traído, se calhar, pela tal expressão da "criada/lavadeira para todo o serviço" muito utilizada, com a costumeira fanfarronice, por alguns militares menos discretos.
Agora, relações sexuais deste com aquela e daquela com este, independentemente de favorecimentos,isso é óbvio que acontecia com a naturalidade que acontece ainda hoje em qualquer parte do mundo.
E, já agora, quanto à nomeação dos atores em presença, o bom senso ditará sobre a sua inconveniência ou não, tendo em atenção os usos e costumes, ao tempo, de cada grupo étnico.
Um grande abraço para todos,
Mário Migueis
Caro amigo Carlos Silva,
Ainda há poucos meses, no Afeganistão, vimos pais darem seus filhos à soldados americanos que não conheciam de lado nenhum, nesses casos é o natural e humano e não só, instinto de sobrevivência que fala e podia acontecer em outras latitudes geográficas em iguais circunstâncias de medo e desespero. Na Guiné-Bissau a ausência de perspectivas para uma vida melhor aliada a uma percepção errada de que na Europa há soluções milagrosas, resultado da brutal informação globalizada e globalizante, conduz impiedosamente as pessoas a esse estado de desorientação lastimosa. Não há nenhuma dúvida, sobre esta tua narrativa que é de hoje e não de há 50/60 anos atrás. Eu acredito. O homem guineense de há 50 anos não tem quase nada
a ver com o guineense de hoje, maltratado, desorientado e abandonado num mundo em crises permanentes. Mesmo eu se tivesse alguém em quem pudesse confiar, entregava um dos meus filhos para uma aventura na Europa, para não ficarmos todos aqui enterrados neste pantanal sem futuro a vista. Aqueles que pensam assim, entre nós, são os mais inteligentes, certamente.
Abraços,
Cherno AB
A colonização actual dos jovens africanos é mais violenta e feroz e insistente hoje, do que foi há 50 ou 60 anos.
Há 50 ou 60 anos, eram respeitados o mínimo dos mínimos, os usos e costumes do "indígena", no caso dos países como a Guiné que ainda viviam debaixo do governo colonial português, mas que era mais ou menos o que se passava com toda a África sub-sariana.
Hoje, com as televisões e meios de comunicação que invadem África em que só é vangloriado tudo o que vem da Europa, (músicos, atletas, futebolistas e médicos...pretos só com sucesso, nenhum falha), e também com a invasão de empresas e cooperantes estrangeiros, os "usos e costumes africanos" tornaram-se algo para esquecer, e as pessoas, principalmente os jovens ficaram totalmente desorientados (palavra do Cherno, e que é fácil constatar essa realidade)
Essa invasão maciça de tudo o que é estranho, é que é uma enorme colonização.
Quando o Cherno Baldé fala do Guineense de hoje maltratado e desorientado...podemos dizer que não é na Guiné Bissau o caso mais grave africano.
Apesar dos governantes da Guiné andarem sempre em questiúnculas e não se entenderem bem.
O Cherno tem razão absoluta quando fala no guineense desorientado.
E que facilmente os pais Guineenses poderiam dar um filho a alguém que lho levassem para a Europa.
Mas não é a Guiné o caso mais grave, quando vemos com enorme frequência as canoas superlotadas com jovens e crianças que dão às Canárias, também lá vai um ou outro guineense, mas a maioria é dos países vizinhos.
A colonização é uma coisa terrível para quem a sofre.
Toda a América do Sul e Central (moderna, sem índios)sofreu uma enorme e violenta "colonização" vinda dos EUA, que lhe fez muito mal onde há países em piores condições do que os jovens países africanos.
No caso do Brasil, houve uma altura em que os nomes mais usuais dados às crianças iam desde Washington, primeiro presidente norte americano até ao Kenedy, passando por Uilson ou Vilson ou Wilson, ou Rony, Ronie, que era Ronald Regan, etc. etc.
Não se devia colonizar, relacionar e comerciar sim, colonizar, dominar jamais.
Como enfermeiro lidei de perto com a população da Guiné, nomeadamente da etnia Fula em Aldeia Formosa, Buba, Mampatá e Empada. A visão com que fiquei é que havia um modus vivendi de respeito pela mulher. Por sua vez, as jovens bajudas (lavadeiras) tinham um comportamento de defesa perante a investida natural dos nossos jovens, por exemplo, não entravam sozinhas dentro do quartel a levar a roupa dos soldados.
Em Empada havia várias etnias cada uma com modus vivendi próprias; Manjacos, balantas Pepéis e fulas, umas mais abertas à relação pessoal e eventualmente sexual que outras -estive lá cinco ou seis anos depois da guerra começar na Região -
É uma região muito rica na agricultura (arroz e mancarra, sobretudo) e explorada no tempo do antes da guerra pelos grandes comerciantes brancos que pululavam na Guiné.
A história diz-nos que antes da guerra havia pequenas tabancas na Região que foram absorvidas pelo PAIGC ou se recolheram a Empada. Naturalmente que poderia haver um domínio da mais forte e as menos poderosas viram na sua ligação ao exército a sua defesa. Todavia, no tempo em que eu lá estive havia uma boa relação entre as etnias, mas nunca me apercebi de situações do género que o Camarada Joaquim Jorge descreve. SEndo Fula, o tal avozinho e só falando o seu dialeto talvez viesse oferecer a sua neta para Servir o Alferes comandante, como lavadeira, até porque quem tem poder sobre as bajudas é o pai e não o avô.
Esta minha relação pessoal com as gentes Fula foi extremamente importante para mim e já lá voltei cinco vezes para aprofundar amizades que nunca esqueci porque gostei da sua forma de ser e estar em sociedade - Homems e mulheres jovens e bajudas e com eles muito aprendi.
Creio que o Joaquim Mexia Alves tem alguma razão. Questões como estas devem merecer algum cuidado e respeito.
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