quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24092: Álbum fotográfico de José Carvalho (4): A CCAÇ 2753, ”Os Barões”, em Mansabá (Parte I)

1. Mensagem do nosso camarada José Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72), com data de 20 de Fevereiro de 2023:

Caros Editores e Amigos Luís e Carlos,
Desejo que se encontrem bem.
Com o frio e a chuva permaneço mais tempo em casa, menos campo... e lembrei-me de tentar ampliar o meu reduzido e apelidado álbum fotográfico, no nosso blogue.

Selecionei algumas fotos (diapositivos digitalizados) de Mansabá, que pouco ou nada adiantam às fotografias já disponíveis no blogue, sendo somente o autor e a data das mesmas diferentes, mais propriamente obtidas no 2ºT de 1972, no curto período de permanência da CCaç 2753, neste local.
No entanto estas imagens, têm uma numeração que dada a minha pouca amistosa relação com as informáticas, não consigo eliminá-la. Espero que para especialistas não seja obstáculo maior... para o caso de admitirem algum interesse na sua publicação.

Fazendo força para que o objectivo do Luís se concretize e que o nº 900 seja atingido este ano, envio votos de boa saúde.
Abraço amigo do,
José Carvalho


Foto 10 - Placa toponímica de Mansabá, na entrada do lado de Mansoa e creio que a única existente à altura. Parece mais uma placa de final de localidade…
Foto 11 - Pequeno monumento situado logo a seguir à placa toponímica . Ainda uma pequena edificação “fortificada”, cuja utilização na altura não me recordo!
Foto 12 - Vista aérea parcial das instalações militares. Heliporto, quartos dos oficiais, edifício do comando, messe de oficiais e sargentos e enfermaria(?).
Foto 13 - Bomba de gasóleo, que pertencia a José Leal, proprietário da serração e madeireiro, perto de uma das entradas da tabanca. Era igualmente proprietário de uma “tasca” onde servia umas refeições bem apetitosas. Recordo que nesse local se registou um acidente com o rebentamento de uma granada de mão, que provocou alguns feridos.
Foto 13a - Bomba de combustível civil de Mansaba
Foto 14 - Edificações do aquartelamento.
Foto 15 - Abrigo, que dispunha de uma metralhadora pesada.
Foto 15a - Abrigo da pista(?) visto mais próximo
Foto 16 - Foto da antiga serração, situada a cerca de 2 kms de Mansabá, na estrada de Mansoa. Visualizam-se edificações em ruínas, viaturas ligeiras incendiadas, chassis de viaturas pesadas e sucata de maquinaria da serração, abandonada havia algum tempo, depois de atacada e destruída.
Foto 17 – Eu, no meu quarto cinco estrelas, partilhado algumas semanas com o Alf. Mil. Médico Vazão de Almeida e depois esporadicamente com oficiais em trânsito operacional, nomeadamente comandos africanos. As paredes do quarto estavam bem pintadas, com várias imagens do Pato Donald, desconhecendo a identificação do artista…

Fotos e Legendas: © Alf Mil Inf José Carvalho da CCAÇ 2753
Fotos 13a e 15a editadas e legendadas pelo editor

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2. Não é meu hábito comentar directamente nos postes que publico, não sendo de minha autoria, mas abro uma excepção já que me sinto "altamente qualificado" para o fazer.

- Foto 10 - Não sei se esta placa foi inaugurada pela CART 2732 ou se foi restaurada no nosso tempo. Esclareço o José Carvalho que o artista tentou fazer aquela diagonal com as cores verde e rubra da Bandeira da Nação, com as tintas que tinha à mão.

- Foto 11 - A fortificação que se vê à esquerda é o "castelo", um abrigo que tinha instalada uma Breda. Manga de tonco quando havia ataques ao aquartelamento.

- Foto 12 - Referindo-me ao meu tempo, que não diferiu muito do vosso, a Messe de Sargentos era lá muito ao fundo, no enfiamento da porta d'armas. Acho que não é visível. Quanto ao resto, tudo bem.

- Foto 13 - Aquele posto de abastecimento era o último grito em evolução técnica. Lembro-me bem dele.
- Chamar "tasca" à "charmosa sala de jantar" do senhor José Leal e da D. Olinda, é no mínimo falta de consideração. José Carvalho, lembras-te do empregado de mesa, o Agostinho?
- O caso da granada foi um lamentável episódio por se tratar de uma brincadeira estúpida com uma granada de mão ofensiva manipulada pelo homem errado, no local errado,na hora errada e no local errado, Passagem de ano 1971/72, de má memória. O caso passou-se dentro da sala de jantar do senhor José. Os 5 sinistrados foram levados em coluna auto, pelos seus camaradas, ao HM 241.

- Foto 14 - Mansabá era mesmo uma "nação". O que tinha de pior eram os vizinhos, que eram ns arruaceiros.


- Foto 15 - Se bem me lembro este abrigo estava colocado à esquerda, logo no início da pista. Lá ao fundo, consegue vislumbrar-se o abrigo do Moínho onde o nosso amigo Melim manejava como ninguém outra metralhadora pesada. Que será feito dele?

- Foto 16 - "Serração", a partir da qual já nos sentíamos em casa.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21708: Álbum fotográfico de José Carvalho (3): A CCAÇ 2753, ”Os Barões”, e o K3 (II e última Parte)

7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

As fotos do álbum do José Carvalho, meu vizinho do Bombarral, são sempre bem vindas. Para mim, tratando de imagens com boa qualidade (cinquenta anos depois!), obtidas a partir da digitalização de "slides", coisa que era um luxo, só permitido a alguns. Poucos tinham máquinas fotográficas e mais raros eram os que faziam "slides"... (Hoje tenho uma raiva enorme de não ter, na época, apetência e sensibilidade para a fotografia; só queria que a p... da guerra acabasse depressa!)

Quanto às legendas do Carlos Vinhal, são a cereja no bolo. Os nossos editores são todos antigos combatentes na Guiné. Tem, por isso, todas as perrogativas. Para mais, o Carlos é "cidadão honorário" de Mansabá, terra aonde nunca fui, tal como ele, também nunca passou por sítios onde eu passei... E eu, pessoalmente, tenho curiosidade em saber o que era, como era, etc., Mansabá, porta de entrada no Oio, tal como Bissorã. São terras da Guiné que fazem parte das nossas geografias emocionais...

Obrigado aos dois "mansabenses"! Luís

Valdemar Silva disse...

Belas fotografias.
Pode-se ver um Quartel com instalações a sério, mas fáceis de serem atingidas pelo IN, como aconteceu visto em fotografias de outro poste.
Não percebo se a "torre" defensiva da metralhadora Breda era isolada do resto do sector defensivo: vala e abrigos. Num ataque devia ser tiro ao alvo por parte dos apontadores de RPG do IN.
A bomba do gasóleo era uma pérola, havia uma semelhante em Sonaco na rua principal da tabanca
A não ser uns dias de passagem por Piche, nunca estive instalado num Quartel a sério como esse. Em Nova Lamego estávamos (oficiais e sargentos, messe e secretaria)instalados na parte (traseiras) do grande edifício do Chefe de Posto, e os soldados num antigo celeiro de mancarra. Em Canquelifá e Paúnca em casas da população, com pernoita nos abrigos/vala até às 23 horas. Em Paúnca os soldados também estavam instalados num antigo armazém de mancarra, os soldados europeus, os fulas que não estavam de serviço nas valas ficavam com as mulheres e filhos na tabanca. Em Guiro Iero Bocari estávamos junto da população, mas numas queridas tendas de campanha junto da vala.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Carlos Vinhal disse...

Caro Valdemar,
O quartel de Mansabá tinha excelentes condições porque em tempo terá sido sede de Batalhão, e no meu tempo sede de um COP, no caso o COP-6. Até tínhamos água encanada, vinda de um depósito que se vê na foto 12, sito junto ao edifício do comando, alimentado por bomba eléctrica instalada num furo. Beber água em Mansabá era um gesto tão simples como na nossa casa. Ainda por cima tinha poucos mosquitos. Nunca na vida tive um mosquiteiro.
Aquela torre que vês, a que chamávamos "castelo", estava completamente isolada. Estava edificada na bifurcação da estrada que, vinda de Mansoa, seguia directamente até à porta d'armas do quartel e de uma circular que, pela esquerda, levava o imenso trânsito diário até Farim. Era ali que começava a tabanca de Mansabá. O herói da metralhadora era o soldado Freitas, coadjuvado por camaradas que asseguravam a vigilância e defesa a sul. Se bem me lembro, aquele até nem era um local muito crítico porque havia um pouco a sul uma bolanha e um pequeno curso de água, afluente do rio Manjampoto, que corria todo o ano.
Para ti e demais camaradas e amigos, os votos de boa saúde e bom fim de semana.
Abraço
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A foto nº 16, a antiga serração do José Leal, nas imediações de Mansabá, destruída com a guerra, leva-me a pensar que na região do Oio haveria mais algumas... Já aqui falámos da serração (mecânica) do Fausto da Silva Teixeira, um antigo deportado política, que também tinha uma, em Banjara, na estrada de Mansabá-Bafatá... A estrada ficou interdita, a serração deve ter sido abandonada... O "madeireiro" era amigo (ou pelo menos era conhecido) do Amílcar Cabral e do irmão Luís Cabral, tendo feito alguns "favores" ao PAIGC... Mas na guerra não há gratidão...

Anónimo disse...

Caro Amigo Luis,
Na realidade a minha máquina fotográfica na altura era muito razoável (Canon QL 19) que ainda funciona e que tive oportunidade de a poder adquirir na base aérea das Lajes, depois de obter a indispensável autorização do Comandante do BI 17, pois custava mais que o pré de Aspirante. Custou cerca de 2 mil escudos e quando pessoalmente fui à presença do dito Comandante para solicitar a dita autorização, com grande surpresa minha ele, tirou duas ou três novas de uma gaveta e disse-me que eram mais baratas e boas! Eram Olympus e ele transacionava-as aos militares ... Levei a minha intenção avante e lá consegui a autorização! Interessante esta veia comercial...
Quanto aos diapositivos eram algo mais caros mas tinham uma logística interessante, porque os rolos eram adquiridos com um envelope endereçado à Kodak ou à Agfa, enviados para a Alemanha e depois de revelados devolvidos para o endereço dos meus pais, o que lhes permitia vê-los. Grande abraço e boa saúde.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé: engenhoso (e seguro) o teu esquema de endereçar os "slides" aos teus pais... Só os vistes nas férias ou no regresso definitivo a casa... Manda mais... Um abraço e votos de bom ano para a pera rocha (o ano que passou foi uma desgraça!)...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caro Zé, já agora ficas a saber que a tua máquina, comprada em 1970 por cerca de 2 mil escudos, a preços de hoje valeria 643 euros!... Tinha que ser boa... a tua Canon QL 19.