sexta-feira, 10 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24133: S(C)em Comentários (7): Ouvi um alto dirigente do MPLA, já depois da independência, dizer que o governo angolano deveria agradecer às Forças Armadas Portuguesas o facto de existir uma consciência nacional em Angola, em vez de uma pertença tribal somente (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte do Zádi, 1972/74)


1. Comentário (ao poste P24128) (*), assinado pelo Fernando de Sousa Ribeiro, que integra a nossa Tabanca Grande desde 11/11/2018; foi alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880 (Angola, 1972 / 74):

Fernando de Sousa
Ribeiro
Alguns anos depois da independência de Angola, ouvi um alto dirigente do MPLA dizer que o governo angolano deveria agradecer às Forças Armadas Portuguesas o facto de existir uma consciência nacional em Angola, em vez de uma pertença tribal somente. 

Explicou ele que, no serviço militar prestado nas fileiras das Forças Armadas Portuguesas, foram postos em contacto angolanos das mais diversas etnias e origens geográficas, o que os levou a descobrir que o que os unia era mais do que o que os separava.

Em Angola não havia "pelotões nativos", "comandos africanos" ou "companhias indígenas", cujos membros pertenceriam, na sua maioria ou mesmo na sua totalidade, à etnia A ou à etnia B. Havia apenas militares regulares, que eram jovens como nós, cumpriam o serviço militar obrigatório como nós e no fim passavam à "peluda" como nós. 

Assim como nas companhias e pelotões metropolitanos eram indiferenciadamente incorporados minhotos, alentejanos e transmontanos, também nas companhias e pelotões angolanos eram incorporados, sem distinção, ovimbundos, bacongos e quiocos. 

Nos últimos anos da guerra, esta mistura foi levada ainda mais longe, com a incorporação de militares angolanos em unidades e subunidades metropolitanas, que saíam de cá incompletas. Foi o que se passou com o meu batalhão, que teve alfacinhas, tripeiros e beirões misturados com luandenses, malanjinos e beguelenses. Tudo misturado. 

O resultado foi francamente positivo, na minha opinião.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano da C.Caç. 3535, B.Caç. 3880


2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Temos de reconhecer que, de um lado (PAIGC) e do outro (NT, nomeadamente sob o comando de Spinola, 1968/73), parece ter havido um lamentável aproveitamento das velhas rivalidades (para não dizer ódios) étnicas ou tribais na "nossa" Guiné: fulas contra mandingas e balantas, muçulmanos contra animistas, "guinéus" contra cabo-verdianos... Spínola apostou no fator etnico na formação da sua "nova força africana": as CCaç 11 e 12 eram "fulas", a CCaç 13 era sobretudo balanta, a CCaç 14 mista, com malta mandinga, a CCaç 15 manjaca, se não erro... E por aí fora...

Amílcar Cabral sempresa ignorou ou escamoteou a conflitualidade latente, históricá, entre a Guiné e Cabo-Verde, o que foi fatal para o seu megalómano projeto político da "grande" Guiné - Cabo Verde.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

AO que julgo saber tanto a FNLA como a UNITA tinha uma base "tribal" ou étnica, se calhar não tão evidente no MPLA.