Botão-flor da primeira folha verde
Há uma mulher de alvor azul com um fio de azeite nos lábios finos e uma gota de água no canto dos olhos secos.
Os lábios foram carnudos e vermelhos de sangue e os olhos eram verdes como o sol quando o sol era verde.
Tem o rosto sumido na sombra descaída ao longo dos braços, como vela despregada de navegar.
Outrora, o mar encapelado e nu brilhava-lhe nos olhos, cobrindo de espuma branca as alamedas do desejo.
Havia uma cidade entre os lábios, envolta em lagos de montanha, com peixes verdes voando entre os pinheiros.
Não havia qualquer pomba branca caída no chão da cidade morta nas ruínas da ilusão.
Um edifício branco e muito alto, assente nas paredes do deserto, rompia o céu de nuvens negras.
No vão da noite que acolhe os sonhos, o botão-flor da primeira folha verde inverteu a vida entre o real e o imaginário, nas dobras do tempo, em universal dilema.
Há uma mulher de alvor azul com um fio de azeite nos lábios roxos e uma gota de água gelada no canto dos olhos.
E cedo se fez tarde a madrugada, sem tempo para morrer na vida de um poema.
adão cruz
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Nota do editor
Último poste da série de 18 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23626: Blogpoesia (786): "O meu poema azul", poema ilustrado por e da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Poemas com o ritmo das palavras e das cores.
Obrigado pela partilha Dr. Adão Cruz.
Abraço
Eduardo Estrela
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