sábado, 8 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24208: Armamento do PAIGC (1): As polémicas viaturas blindadas BRDM-2 que teriam sido utilizadas contra Copá (7/1/1974) e Bedanda (31/3/1974)

Foto nº 1A


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Bissau >Fortaleza da Amura > Museu Militar da Luta de Libertação Nacional > "Viatura blindada,  de fabrico russo, que terá sido usado pelo PAIGC em 1974 contra Bedanda e Copá" (*).  A legenda é lacónica, o Patrício Ribeir0 deixou aos nossos especialistas de armamento a responsabilidade de identificar as peças museológicas... Podemos acrescentar que, salvo melhor opinião, esta viatura, da antiga União Soviética (1964), é conhecida pela designação BRDM-2 , mas também GAZ-41-08 e ainda BRT 40PB, BRT 40P-2.

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Foto nº 2 > Guiné > s/l > s/d (c. 1973/74) > "Guerrilheiros deslocando-se num carro blindado, Guiné-Bissau" (que não parece, vista da traseira, ser uma BRDM-2)

Foto do acervo documental de Mário Pinto de Andrade (1928-1990), dossiê do Arquivo e Biblioteca da Fundação Mário Soares. Estas viaturas, oriundas da base de Kandiafara, a sul de Guileje, na vizinha Guiné-Conacri, já estavam em em 1973 devidamente identificadas e referenciadas pelas autoridades militares portuguesas, contituindo um perigo potencial para as guarnições fronteiriças, tais como Guileje, Gadamael, Bedanda, Cacine ou Aldeia Formosa. É impossível, porém. saber se a viatura da foto está em território da então província portuguesa da Guiné ou em território da Guiné-Conacri. Ou se se trata apenas dc uma imagem de propaganda.

Foto (e legenda): Cortesia de © Fundação Mário Soares (2009). Direitos reservados



Foto nº 3 > Guiné  > Região de  Gabu > Bajocunda (ou Pirada?) > Pós-25 de Abril de 1974 >  "Esta viatura de origem russa é igual às três que atacavam Copá em Janeiro/Fevereiro de 74. É uma BRDM-2". 

Comentário de Amílcar Ventura ( ex-fur mil mec auto, 1ª CCAV / BCAV 8323(Pirada, Bajocunda, Copá, 1973/74), natural de (e residente em) Silves, membro da nossa Tabanca Grande desde 9 de maio de 2009; publicou a foto acima na nossa  na página do Facebook da Tabanca Grande Luís Graça, em 6/4/2023, 10;53.

Foto (e legenda): © Amílcar Ventura (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Foto nº 4 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Bajocunda (ou Pirada ?) > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Encontro das Altas Chefias de Pirada depois do 25 de Abril [de 1974]". (**) Não dá para perceber de que tipo de viatura se trata (BRDM-1 ou 2).

Foto (e legenda): © Amílcar Ventura (2009). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Publicámos há dias uma imagem de uma viatura blindada, existente no Museu Militar da Amura ("Museu Militar da Luta de Libertação Nacional") (vd. Foto nº 1, acima).  

E essa foto é a mesma que vai abrir este série sobre o armamento do PAIGC.  A existência ou não de "viaturas blindadas" ao serviço do PAIGC já deu origem aqui a alguma polémica (***)... O António Martins de Matos deu o  mote: "quem os viu de ver e não de ouvir?" (***). O António Graça de Abreu, nas suas memórias da Guiné,  dissse que sim, que já em 31 de março de 1974, foram utilizadas "viaturas blindadas" contra Bedanda (****), o que o alf mil António Rodrigues, da CCAÇ 5, vem confirmar, embora se refira a uma versão, a BTR 152, de que nunca ouvimos falar.

Os "bravos de Copá" já antes, em 7 de janeiro de 1974, tiveram que defrontar a BRDM-2, uma viatura blindada anfíbia, de reconhecimento e patrulhamento, de 7 toneladas, e uma tripulação de 4 elementos, estando equipada com duas metralhadoras (uma pesada, de 14,5 mm, e uma ligeira, de 7,62 mm).

Tanto em Copá como em Bedanda, a sua estreia parece terá sido desastrosa, para o lado do PAIGC.  Em Copá, morreu o Mamadú Cassamá, confirma o Bobo Keita (ou Queita), o "chfe dos blindados" ou "tanques anfíbios"(sic)...  Depois do 25 de Abril de 1974, o PAIGC passeou algumas destes "brinquedos" na fronteira Norte (Bajocunda, Pirada), conforme se pode ver nas fostos do Amílcar Ventura (Fotos nºs 3 e 4) (**).

Ficamos na dúvida sobre o "dono" das viaturas, o PAIGC ou o Sékou Touré...  E continmuamos a ter dúvidas sobre o tipo de viaturas, usadas contra Copá e Bedanda: BRDM.1 ou BRDM-2 ?

2. Em tempos escrevemos o seguinte comentário no poste P9375 (****), e não o vamos rever mesmo em face das fotos acima publicadas (a nº 1 é de facto de uma BRDM-2, mas não sabemos se é uma oferta da Guiné-Conacri para o museu militar da Amura...):

No Arquivo Amílcar Cabral, tratado e disponiblizado para o grande público pela Fundação Mário Sores, no portal Casa Comum, não há qualquer referência a viaturas blindadas entregues pelos russos no porto de Conacri... Estamos a falar de 10 mil documentos, que abrange todo o período da guerra de "libertação"...

Até finais de 1971, a ex-União Soviética só fornecia armas automáticas, RPG 7, munições, fardamento, medicamentos e coisas assim... E mesmo assim era preciso negociar com o "ciumento" Sekou Touré... que não perdoava a Amílcar Cabral o crescente prestígio e protaganismo a nível internacional e o leque de alianças e apoios (que ia da Suécia à China)...

Felizmente para nós, parte do armamento e das munições deviam ser "obsoletos"... São os próprios e "insuspeitos" cubanos que dizem que 40% das granadas lançadas contra Copá em janeiro de 1974 não rebentavam!... (As culpas tanto podiam ser dos fabricantes como, mais provável, das condições de transporte, armazenamento e operação).

BRDM-2 para o Amílcar Cabral? Devem ser fantasias dos burocratas da 2ª Rep, para justificar o seu ordenado ao fim do mês e as horas de tédio (e de algum cagufe) passadas em Bissau... A gente sabe como funcionava a nossa "inteligentsia" na Guiné, incluindo os "broncos" da PIDE/DGS... que tinham a 4.ª classe mal tirada...

O PAIGC nunca teve, ao que parece, este tipo de veículos... Os russos terão oferecido, em 1969, 10 BRDM-1 (5 toneladas e meia + 4 tripulantes e depósito de 150 litros de gasolina)... "Sucata" que o Sekou Touré poderá ter disponibilizado, depois da morte de Amílcar Cabral, aos homens do PAIGC... que ele precisava de controlar... Mas aquela viatura devia gastar 100 aos 100 !...

Como é que vocês queriam vê-la a passar o "arco de triunfo" em Bissau? Ou a passar a ferro as 3 fiadas de arame farpado de Jemberém?

Quanto às BRMD-2 (versão posterior, melhorada, 7 a 8 toneldadas!), era muito menos provável que os guerrilheiros do PAIGC alguma vez lhes tenham posto a vista em cima... a não ser, já reformados, em 1998, quando a Ucrânia ofereceu à Guiné-Bissau quatro veículos desses, se calhar a cair de pobres... Que até a caridade tem um preço!

Angola teve 50, mas já em plena guerra da chamada "2.ª independência"...

O BRMD-2 era um "besta" de 7 a 8 toneladas, com uma tripulação de 4 elementos (condutor, operador de rádio e observador, comandante e apontador de metralhadora pesada...) e um depósito de 290 litros de gasolina, 5,75 metros de comprido... Onde é que o PAIGC tinha gente com unhas para manobrar um "anfíbio" destes? E sobretudo logística? E depois era um alvo fácil para a nossa aviação...

(...) O BRDM-2 (Boyevaya Razvedyvatelnaya Dozornaya Mashina, Боевая Разведывательная Дозорная Машина, literally "Combat Reconnaissance/Patrol Vehicle"[5]) is an amphibious armoured patrol car used by Russia and the former Soviet Union. It was also known under the designations BTR-40PB, BTR-40P-2 and GAZ 41-08. This vehicle, like many other Soviet designs, has been exported extensively and is in use in at least 38 countries. It was intended to replace the earlier BRDM-1, compared to which it had improved amphibious capabilities and better armament. (...)

18 de julho de 2016 às 14:59
_____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 5 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24200: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (34): Visita ao "Museu Militar da Luta de Libertação Nacional", na fortaleza da Amura


(***) Vd. postes de: 

16 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16309: Controvérsias (131): Blindados do PAIGC ? Quem os viu de ver e não de ouvir ?... (António Martins de Matos, ex-tenente pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje ten gen pilav ref)


(***) Vd. poste de 16 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16309: Controvérsias (131): Blindados do PAIGC ? Quem os viu de ver e não de ouvir ?... (António Martins de Matos, ex-tenente pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje ten gen pilav ref)

(****) Vd. poste de 20 de  janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9375: Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (5): ): "Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda [, em 31 de março de 1974]"...

(Comentário de António Rodrigues:).

Caros camaradas: 
Estava colocado em Bedanda aquando do ataque com viaturas blindadas, onde era alferes miliciano.

As viaturas com que fomos atacados eram as BTR 152 (soviéticas), equipadas com metralhadoras.

A sua quase entrada no perímetro deveu-se ao facto de elas terem atacado a partir da zona onde se situavam as tabancas da população civil e isso impedir que quer as "Bazookas" quer os canhões sem recuo não poderem ripostar.

Abraços, António Rodrigues | 25 de novembro de 2012 às 17:25

38 comentários:

Valdemar Silva disse...

As viaturas blindadas que aparecem nas imagens, quer a do Museu ou a que aparece no encontro da NT e PAIGC, são BRDM-2.
A BRDM-1 é fácil de distinguir, por ser menos "robusta" e ter a frente mais prolongada entre janelas do condutor e o para-choques e a escotilha é menos elevada.
A imagem da viatura blindada, do PAIGC em marcha no mato vista de traseira, é de uma BRDM-2.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A questão essencial: não trouxeram nada de novo, de "valor acrescentado" à máquina de guerra do PAIGC, a não ser talvez no plano psicológico e da propaganda...

O vaidoso do Bobo Queita, promovido a "almirante" dos "tanques anfibios" (sic) em substituição do psicopata do Inocêncio Cani, ladrão e futuro matador do "pai da Pátria", fica deslumbrado com as BRDM-2 (seria esta versão em Bedanda e Copá ?) e deixa um dos seus homens matar-se com uma máquina que ele não domina!... Patéticas, estas cenas!...

Viu-se em Bedanda que o PAIGC ainda não tinha gente preparada para tirar bom partido destés "brinquedos de morte" fornecidos pela ex-URSS (restá
saber a quem e a que preço: ao Sekou Touré ou ao PAIGC pós-Amílcar Cabral ?...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não queria maçar o nosso querido ir mãozinho Cherno Baldé que está a cumprir os preceitos do Ramadão (que só acaba a 21 de Abril), mas ele um dia destes pode-nos explicar a graptidão que muitos africanos (e nao ao apenas guineenses, cabo-verdianos, angolanos e moçambicanos) sentem pela pátria de Lenine...

Vejo que no atual conflito Rússia - Ucrânia o seu coração balança mais para um lado do que para o outro... Mesmo nas guerras o coração tem razões que a razão desconhece... E no entanto os russos (e os ucranianos, para não falar dos chineses) não eram netos racistas que os colonialistas ocidentais...

Santo Ramadão, Cherno. Reza por todos nós. Tabanca de Candoz, sábado de aleluia.Luis

antónio graça de abreu disse...

Eis o que escrevi a 3 de Abril de 1974, no meu Diário da Guiné. Eu não estava em Bedanda, mas a uns oito quilómetros de distância, em Cufar. Não vi viaturas blindadas do PAIGC, mas foi o pessoal de Bedanda que disse, após as flagelações, ter visto na picada as marcas do rodado das viaturas.Poderão ser marcas do rodado de camiões.

Cufar, 3 de Abril de 1974

A guerra está feia. Bedanda embrulhou durante todo o dia, um ataque tremendo, doze horas consecutivas de fogo. A festa só acabou à noite com uma espécie de cerco à povoação levado a cabo pelos homens do PAIGC.
Em Cufar, tão próximo, além de distinguirmos nitidamente as rajadas de metralhadora de mistura com os rebentamentos dos RPGs, foguetões e canhão, à noite viam-se as balas tracejantes e as explosões no ar. Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda. Existe uma estrada que vem da Guiné-Conacry, passa junto a Guileje – abandonada pela tropa portuguesa, – entra pela região do Cantanhez e termina em Bedanda. O IN está a utilizar esse percurso para deslocar camiões carregados com todo o tipo de armamento, em seguida é só despejar sobre os aquartelamentos portugueses mais expostos e fáceis de alcançar, como Chugué, Caboxanque, Cobumba, Bedanda, Cadique e Jemberém.
Bedanda é uma povoação grande, a maior do sul da Guiné depois de Catió. Terá uns cinco mil habitantes e ontem já se falava em abandonar o aquartelamento. A população africana saiu da vila, ficando por próximo.
Bedanda levou com mais de sessenta foguetões e centenas e centenas de granadas de RPG, morteiro e canhão sem recuo. Foi medonho, há muita coisa destruída, mas tiveram sorte, contam-se apenas dois feridos, um furriel e um negro que levou um tiro nas costas. A tropa passou mais de doze horas metida nas valas.
Espera-se novo ataque a Bedanda. As NT já foram remuniciadas e há promessa de se enviarem mais militares para defender a terra. Os guerrilheiros também devem ter ido descansar e reabastecer-se.
Todas estas flagelações, apesar de serem destinadas aos vizinhos do lado, deixam marcas em todos nós. São horas, dias, meses a ouvir continuamente o atroar dos canhões da guerra. Eu ando um bocado desconexo, excitado, “apanhado”. Quase não tenho dormido, são as sensações finais, o cansaço, o desamor à mistura com o alvoroço do regresso a casa.

António Graça de Abreu

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Em meados de 1974/75, estes blindados de origem soviética estavam distribuidos um pouco pelas regiões e, de vez em quando, faziam um 'tourné' pelos aquartelamentos talvez para impressionar, da mesma forma que o exército português fazia durante a guerra.

Mas, visto que no Blogue da TG os antigos combatentes querem fazer acreditar que eles nunca existiram do lado do PAIGC, então não vale a pena insistir muito nisso. Nesta mesma ordem de ideias, também seria bom acrescentar que os mísseis terra/ar também nunca existiram e ficamos bem da consciência.

Caro amigo Luís Graça, como podem compreender a nossa gratidão, pessoalmente falando, a gratidão do nosso povo para com a antiga URSS e a República de Cuba, sobretudo para com esta última é incomensurável, pois não há palavras que podem expressar cabalmente o nosso sentimento de dívida e de gratidão. Mas, ainda assim, não temos nada, nunca tivemos nada contra o povo português com o qual gostaríamos de poder manter excelentes relações de amizade que pudessem justificar a convivência, mesmo que irregular e em bases de respeito e consideração questionáveis, os contatos seculares entre os dois povos e hoje países soberanos. O paradigma findado por ACabral ainda mantém-se: "Não lutamos contra o povo português, mas sim contra o regime ditatorial e fascista português" que, também, dominava o seu próprio povo, limitando seriamente as suas mais profundas aspirações a liberdade e desenvolvimento económico e social.

Quanto a guerra da Ucrânia é uma questão fracturante que divide as opiniões. O país do meu coração é a Ucrânia, onde vivi e estudei durante 5 anos, convivendo com o seu bom e simpático povo. Mas, por razões geo-estratégicas eu não gostaria que a Rússia perdesse a guerra. Se durante a minha breve passagem por terras da Ucrânia (1986/90) defendia a sua autonomia integral como pais, hoje situado num contexto diferente e com a consciência e as lentes de um cidadão do terceiro mundo, nunca quereria a vitória do ocidente sobre a Rússia que, de certa forma, encarna a defesa e as aspirações dos povos fracos e oprimidos pela globalização imposta pelo ocidente.

Vamos rezar todos para que se encontre uma saída airosa para as partes em conflito e, para que o caldo não entorne e se alastre como é desejo de alguns vizinhos da região, nomeadamente a Polónia e alguns países bálticos apadrinhados por algumas grandes potências que, mais uma vez querem resolver velhas disputas geo-estratégicas a custa das vidas e o sangue dos mais pobres, vulneráveis e manipuláveis.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Caro Cherno

Louvo a tua honestidade ao expressares as tuas opiniões,mas fico estupefacto com as mesmas.
Onde é que a tua terra deve alguma coisa à antiga URRS, e a Cuba .
Vamos a factos; toda a ajuda que foi feita, nomeadamente em armamento foi pago com lingua de palmo, e tinha como objectivo pura e simplesmente um novo colonialismo muito mais grave que o nosso.Cuba era uma mera testa de ferro da URSS.

Os cubanos em Angola até os autocarros roubaram e nem se deram ao trabalho de lhes retirarem as matriculas,ninguém me contou, vi eu em Cuba.

Neste momento na Rússia governa uma clique paranoica e ditatorial, que não tem nenhuma vergonha em violar o direito internacional.
Então os povos de todo o mundo não têm direito ao seu território e indepêndencia ?.

Neste momento a África é dominada pela China com a colaboração das elites africanas, é tão só um novo colonialismo muito pior que o nosso.

Sendo tu uma pessoa cultural e intelectualmennte superior, muito me surpreende a tua opinião.
Não quero fazer qualquer juízo de valor sobre a tua pessoa, mas lamento profundamente.

Pobre África.
A Suécia tem ajudado bastante mas infelizmente com pouco aproveitamento.

C.Martins

Anónimo disse...

COPA

Copa foi atacada com uma viatura blindada do tipo BRM que foi destruída com uma "bazucada", logo no inicio do ataque.Não voltaram a repetir a façanha.
Foi-me contado por dois conterrâneos meus, que aí se encontravam.

AB

C.Martins

Antº Rosinha disse...

Portugal em 1600 já se encontrou em circunstâncias semelhantes como a Ucrania nos dias de hoje.

Tal como na Ucrania hoje, há alguns ucranianos pró Putin, também naquele tempo em Portugal havia pró Filipes.

Os portugueses criaram o Dom João IV, os ucranianos criaram um tal Zelenski.

O mundo está complicado.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Cherno, nas suas crónicas sobre o seu passado estudantil na Ucrânia, é que nos relatou uma cena de racismo de que foi vítima. Estas experiencias pessoais são muito marcantes e podem ser traumatizantes. Sei do que falo: por usar barba, cabelo comprido e ser moreno, também fui vítima de discriminação pela policia e autoridades alfandegárias holandesas em 1990... Julgar as pessoas pelas aparências é muito frequente em toda a parte... O nosso blogue deve ajudar a combater o preconceito, a xenofobia, o racismo... Como ? Começando nestes comentários que devem ser serenos, assertivos, desapaixonados, e sobretudo sem ataques pessoais quando as opiniões são divergentes, para não dizer antagónicas... Agora, há um conjunto de valores sobre os quais temos de construir as bases para o diálogo: liberdade,justiça (ou equidade ?), verdade, honestidade intelectual, empatia... Não há diálogo se eu não consequir por-me na pele do outro... Boas e santas Páscoas... Bom e santo Ramadão. Paz para o povo russo e ucraniano. Paz e saúde para todos nós. Luís.

Valdemar Silva disse...

É isso, Luís Graça: Paz para o povo russo e ucraniano.
Mas, não será assim entendido por todos, por entenderem que a paz favorece sempre o inimigo. Estes são os gajos do negócio das guerras.
Na última ida ao Hospital e no regresso de ambulância, um bombeiro meteu conversa comigo sobre 'aquilo está ficar mau na Ucrânia', tá bem, tá bem a mim chegou dois anos de guerra na Guiné, respondi, e viemos calados até chegar a minha casa.

Do que o nosso amigo Cherno Baldé se havia de lembrar "...Cuba...não há palavras que podem expressar cabalmente o nosso sentimento de dívida e de gratidão".
Cherno Baldé guineense, que desde criança conhece os portugueses, fardados, e nos dedica uma grande amizade, anticolonialista, sabedor da História do seu país e dos acontecimentos após a independência, com bagagem académica/profissional e de religião muçulmana, tem a sua opinião formada sobre o passado e o presente. Ele terá as suas razões para considerar "... defesa e as aspirações dos povos fracos e oprimidos pela globalização imposta pelo ocidente".
E sobre Cuba, ele teria ficado confuso e, como eu, pensando em alguma carreira para Santiago, passando por Ferreira-Ermidas Sado, mas não, tratava-se de um autocarro-anfíbio ter furado o embargo dos USA e fazer carreira Luanda-Havana.

E em Dia de Páscoa, em Candoz, nada melhor que passar o Domingo feliz com a família.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caro C.Martins,

Sinto muito, mas eu já tinha avisado de que se trata de um assunto que não reúne consensos e, por isso mesmo fracturante. Infelizmente o nosso mundo também não é igual para todos de modo que cada um terá, necessariamente, de acordo com o contexto onde vive, no centro ou nas periférias, a sua própria visão e sentimentos. Assim sendo, os argumentos do mundo ocidental por mais justos que sejam não serão vistos e entendidos da mesma forma e não terão o mesmo valor para o resto do mundo, o que vale e é bom para o ocidente não o será, obrigatoriamente, para o resto do mundo, embora seja esse o desejo dos ocidentais que há séculos dominam a geo-politica mundial. Vemos o mesmo mundo, mas com lentes diferentes.

Um grande abraço,

Cherno Baldé

antonio graça de abreu disse...

Ai, Cherno, meu caro Cherno...
Dizes: "O país do meu coração é a Ucrânia, onde vivi e estudei durante 5 anos, convivendo com o seu bom e simpático povo. Mas, por razões geo-estratégicas eu não gostaria que a Rússia perdesse a guerra."
O país do teu coração, a gente boa é da Ucrânia. E afinal é essa gente boa, é o país do teu coração que queres que seja derrotada pelo Putin, o Medvedev. o Sergei Lavrov, os Wagner, o que de pior tem o imperialismo russo. E concluis que "a Rússia que, de certa forma, encarna a defesa e as aspirações dos povos fracos e oprimidos pela globalização imposta pelo ocidente."
A Rússia neocolonialista a injectar resmas de dinheiro nos governos corruptos do Mali, da República Centro Africana, na África do Sul, "esses povos fracos e oprimidos", sempre de mão estendida para russos, ou para ocidentais.

Abraço,

António Graça de Abreu


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Durante a II Guerra Mundial os portugueses (que viviam num país neutral e sob uma ditadura que estava próxima, do ponto de vista político e ideológico, das potências do Eixo ) também se dividiram em germanófilos e anglófilos...

Grande parte da nossa elite (incluindo os militares) não escondia as suas simpatias por Hitler e Mussolini....Muito também em função dos avanços e recuos das tropas em confronto no Leste Europeu (e de que a Ucrânia foi um dos palcos mais sangrentos)...

No final da guerra todos eram "democratas" e renderam-se aos encantos do "American way of life"... Eu nasci em 1947. E sou culpado de quê?

PS - O que teria acontecido se os alemães não tivessem parado os seusuários tanques nos Pirineus ? Se calhar hoje eu estaria a escrever alemão...

Anónimo disse...

Caro AGA,

Não sei se estão a acompanhar, mas na Europa, alguns países têm a sua própria opinião, aqueles que a podem ter, é certo.

No regresso da sua recente viagem a China, o Presidente Francês emitiu uma recomendação segundo a qual "a Europa deve estabelecer a sua própria estratégia de autonomia, fora do padrão estabelecido pelos Estados Unidos e a China, para evitar ser arrastada pelas tensões crescentes entre as duas potências.

"-Porque deveríamos ir ao ritmo escolhido por outros? Questiona E. Macron. E continua "em algum momento devemos perguntar-nos quais são os nossos próprios interesses" afirmou, "porque no dia em ficarmos sem margem de manobra em questões vitais como energia, defesa, redes sociais ou IA, ficaremos fora do ritmo da história" concluiu. Para mim, está devia ser a postura da Europa em relação ao conflito na Ucrânia e não o seguidismo cego e irreflectido que estamos a assistir e que pode arrastar a Europa e o mundo para o abismo de uma nova guerra mundial.

Mas, certamente que a França é a França, um país que se pode dar ao luxo de pensar e sobretudo de expressar sua opinião.

Abraço amigo,

Cherno Baldé

Eduardo J.M. Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tabanca Grande Luís Graça disse...

Eduardo, quem te ler e não te conhecer, vai acreditar no que dizes... Claro que estás a ser irónico... E depois a BRDM-2 náo é um "carro de combate"... Um abraço, Luís.

Anónimo disse...

Caro Cherno

O que aqui se discute ,não são posições geo-estratégicas, para as quais me estou completamente nas tintas, mas sim a justiça e humanismo.

Um país invadiu outro quebrando o mais elementar do direito internacional.Não só invadiu como está a cometer um genocídio e a destruir todas as infraestruturas.
Aqui na minha região há muitos ucranianos que para aqui emigraram.Na sua maioria são gente trabalhadora e honesta e que se integraram plenamente na sociedade portuguesa.
Muitos deles regressaram para defender a sua terra, deixando aqui mulher e filhos.Tenho uma grande estima e consideração por todos eles, pela sua coragem e resiliência são um povo extraordinário.

AB

C.Martins

Anónimo disse...

Caro C. Martins,

Se invadir, bombardear, ocupar e matar os seus cidadãos fosse caso de justiça ou injustiça para o ocidente, o que dizer da invasão do Vietname, do Afeganistão, do Iraque, do Sudão, da Líbia entre outros ?!?!?!... O que dizer da Palestina e seu povo martirizado !?!?!?!...

Cherno AB

paulo santiago disse...

Concordo,em absoluto,com os comentários do Cherno Baldé,principalmente com o último.
Invocar "o mais elementar do direito internacional" no caso da Ucrânia,esquecendo Afeganistão,Iraque,Líbia,Síria,é uma posição extremamente sectária,até poderia chamar-lhe racista.

Santiago

Anónimo disse...

Essa agora !!!!

Agora sou racista.!!!!!
Onde é que eu disse que as invasões eram legais e justas.

Quando é que a Líbia,Vietnam,e Síria foram invadidos?

O Iraque foi invadido pelos U.S.A, França,Arábia Saudita,Inglaterra, etc..com justificações falsas mas com a aprovação das N.U.e se mais não fosse derrubaram esse grande paladino da democracia chamado sadam hussein.

O Afeganistão foi invadido duas vezes e por quem ??? USA, e URSS.
Quanto à Palestina, Israel ocupa alguns territórios, mas os Palestinianos não são nenhuns santos.Venha o diabo e escolha.

Não vou voltar a este assunto.

AB

C.Martins

antónio graça de abreu disse...

Gente boa do blogue! A utilizar as sacanices de uns para justificar, defender e apoiar as sacanices dos outros. Assim se faz o mundo.

António Graça de Abreu

paulo santiago disse...

"...os Palestinianos não são nenhuns santos"e,sendo assim,está justificada a ocupação de "alguns territórios" da Palestina pelos judeus.
Claro que o Saddam Hussein não era "grande paladino da democracia",mas não havia,no Iraque, DAESH,as mulheres não usavam burka,
Também no comentário de C.Martins,diz que a Líbia não foi invadida...o que chamar aos bombardeamentos franceses de 2011 que iniciaram o caos naquele país?
Há uma verdade no comentário...o Afeganistão foi invadido pelos USA e URSS.

P.Santiago

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Por alguma razão as regras do blogue determinam que nos abstenhamos de trazer para aqui a "atualidade"... Religião, política e futebol, nem no céu estaremos de acordo uns com os outros... Claro que pegarei em armas para defender a minha casa e a minha gente... E eu não tenho dúvidas que o Cherno o fará se o seu páis, a pátria de Cabral, for atacado... Memso que ele nunca tenha gostado do Cabral e dos seus rapazes... treinados na China e na URSS.

antónio graça de abreu disse...

Um grande abraço de admiração e amizade aos C. Martins.
E mais não digo. Este blogue também dá para nos conhecermos melhor, ou seja, as diferentes faces do vento.

Abraço,

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

Que chatice a curiosidade em saber de que lado vem o vento e andamos todos estes anos a bater na tecla da politica, religião e futebol, e até nos esquecemos:
......
E nós, os miúdos lá da escola
Perguntávamos à vovó Chica
Qual era a razão daquela pobreza
Daquele nosso sofrimento.
Xê, menino, não fala política
(Não fala política) não fala política (xê, menino)
Xê, menino, não fala política
(Não fala política) não fala política
.......
(Valdemar Bastos)

E o Augusto não foi de modas, entrou à bruta casa do vizinho e escavacou a telefonia que teimosamente com a música em altos berros o incomodava.
Isso não se faz e agora está com problemas com o vizinho que diz que na sua casa faz o que lhe apetece e já tem amigos a oferecer telefonias e gira-discos com colunas stéreo que estavam quase esquecidos e voltaram à produção.
E toca a música, mesmo que seja com alguns discos riscados.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Grande amigo Valdemar Embaló,

Saúde da boa..."Não fala política"!

Sabias que no Leste da Guiné, aliás em todo o território, é a época da Farroba (Nerê em fula), frutos da Farrobeira cujos frutos em cachos, nesta época, aparecem em toda a zona da savana, numa linda cor acastanhada que, retirada a a sua casca aparecem seus belos frutos de cor amarelo carregado.

O que antes (anos 60/70) era comida de animais (macacos e chimpanzés) e de pastores no mato, é hoje um sumo indispensável nos restaurantes e bares de toda a nossa sub-região. Sumo de Farroba, um sinal dos tempos que andam.

Um grande abraço,

Cherno AB

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Eu sei que náo podemos (nem devemos) tapar os olhos, os ouvidos e a boca à "política"... como fazíamos no passado (a grande maioria dos portugueses nascidos no Estado Novo)... Mas este não é o sítio (mais) indicado para trazermos para o debate as grandezas e as misérias da política, nacional e internacional... A paixão (tal como no futebol e na religião) iria inquinar os nossos comentários e sobretudo as nossas relações enquanto antigos camaradas de armas...

Este blogue, como é sabido de todos, tem um "enfoque": a guerra que fizemos juntos, na Guiné, nos 60 e 70 do século passado... e as memórias que guardamos desse tempo e lugar, e que queremos partilhar uns com os outros, com equidade, verdade, serenidade, generosidade...

Como sociólogo, sou tentado a aceitar que "tudo é política" na nossa vida na cidade ou em sociedade... Mas a frase também é perigosa, como o eucalipto que tende a secar tudo à volta: há mais vida para além da política (entenda-se: atualidade político-partidária). como há mais desporto para além do clubismo futebolístico, e mais espiritualidade para além das grandes religiões, das suas igrejas e dos seus ministros (que se arrogam o privilégio ou até o monopólio da ligação com o mundo sobrenatural...).

Fiquem bem e em paz. LG

Valdemar Silva disse...

Caro Cherno Baldé
Tenho uma vaga ideia do sumo de farroba ser bom contra o paludismo, mas não lembro bem como eram os frutos.
Por cá, temos na região do Algarve farrobeiras, da família das alfarrobeiras que dá o fruto alfarroba. A alfarroba, uma vagem castanha escuro altamente calórica, era alimento dos cavalos e não só, também das pessoas que faziam farinha e depois uma espécie de pão, mas não tem semelhança com a farrobeira da Guiné.
No post P10243 aparecem referências a vários frutos secos da Guiné, incluindo o celebre sumo de cabaceira Pó di Pila.
Mas, no blog AFRIC-ANA, de 25-07-2009, aparecem vários sumos de frutos da Guiné entre os quais o sumo de farrobeira.

Bons sumos

Valdemar Queiroz Embaló

Anónimo disse...

Caros amigos,

Nas imagens que acompanham esta publicaçao ha um pormenor digno de mencionar, trata-se da presença do famigerado Comandante Quemo Mané que aparece nas imagens ao lado do Comandante das tropas portuguesas em Pirada ou Bajocunda. O que pode significar, provavelmente que, na altura do 25 Abril, seria ele o Comandante ou um dos Comandantes da zona Leste. Um caso digno de registo.

Cherno AB

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sim, o Quemo Mané, já aqui denunciado por ti (e um amigo teu, cuja identidade quiseste ocultar e bem). Esse comandante do PAIGC hoje seria acusado de crimes de guerra... ou contra a humanidade...

Mas, infelizmente, como tantos outros por esse mundo fora, terá morrido em paz na cama e é hoje um dos heróis da liberdade da Pátria...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno, foi corajosa, na altura, a tua denúncia (tua e do teu amigo)... Há segredos, como estes, que vão na sua garnde maioria (99% dis casos) para a sepultura com o "dono" ou "guardador"...

Mas a nossa consciència moral, como homens livres, agiganta-se quando os tornamos públicos... Todavia, os teus amigo não podem esquecer-se que vives e trabalhas na Guiné-Bissau, tens mulher e quatro filhos...

A minha/nossa estima e admiraçáo por ti aumentou nessa altura. Mantenhas. LG
___________________


21 DE FEVEREIRO DE 2022
Guiné 61/74 - P23012: O segredo de... (37): Demburri Seidi: demorou mais de dois anos para sair da sua boca o testemunho sobre os trágicos acontecimentos de Cuntima, em novembro de 1976, devido em parte ao medo que sentia e a manifesta dificuldade em falar sobre a "justiça revolucionária" praticada pelos vencedores contra os vencidos (Cherno Baldé)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2022/02/guine-6174-p223012-o-segredo-de-37.html


(...) Em 2013, quando publicámos o relato de Cherno Baldé sobre os acontecimentos em Cuntima, no norte da Guiné-Bissau (...) , estávamos perante a revelação de um duplo segredo: (i) o de Demburri Seidi (nome fictício, por razões de segurança) de quem foi obrigado a assistir às execuções públicas, da inteira e única responsabilidade do comandante das FARP Quemo Mané (c.1932-1985); (ii) mas também do Cherno Baldé, que levou o seu tempo (dois anos) a recolher e a traduzir esse depoimento... e mais uns tantos até decidir publicá-lo no nosso blogue...

Daí fazer todo o sentido publicar um comentário do Cherno Baldé ao poste P11762 (...), transformando-o em poste desta série "O segredo de...". Passados mais de 8 anos não temos conhecimento de mais nenhuma outra versão sobre estes acontecimentos que, de resto, são do domínio público na Guiné-Bissau, mas que o tempo já fez esquecer. Infelizmente Cuntima não foi exceção, nos primeiros anos que se seguiram à independência.(...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno, na altura explicaste-nos as evidentes dificuldades em trazer este caso a público:

(....) "O Demburri Seidi (nome ficticio) é Oinca (da regiao do Oio, sector de Cuntima) que viveu alguns anos refugiado no Senegal (Casamansa) durante a guerra colonial. Fula de origem, mas mandinga de educaçao e cultura, um pouco como todos os fulas do Norte, pela longa convivencia num meio de maioria mandinga, nesta regiao em concreto. Ele domina ambas as linguas desses grupos. A traduçao foi de fula para o portugués, mas o mais dificil, primeiro, foi convencé-lo a depor e depois, foi preciso esperar que ele pudesse se recompor e ultrapassar a evidente dificuldade de falar sobre um acontecimento que o tinha profundamente traumatizado, pelo que, algumas vezes, tivemos que interromper por varios dias/semanas/meses, porque cada vez que revia aquelas cenas macabras consumia-se num choro convulsivo e nao conseguia continuar a narrativa porque ainda se ressentia do efeito, passados que eram mais de 35 anos sobre os acontecimentos. Foi preciso muita paciencia e alguma insistencia da minha parte, pois como dizem na Guiné "Quem teve a amarga experiencia com um Cankuran, tem medo do Baga-Baga", porque ambos sao da mesma cor de terra vermelha.

A localidade de Candjabel ou Gan-Djabelia (em Biafada) que consta no documento sobre Quemo Mané, esta situada no troço que liga Fulacunda a Nova Sintra, onde foi sepultudo, mesmo a beira da estrada do lado direito, no sentido Fulacunda/Nova Sintra.

Abraços,

Cherno Baldé
21 de fevereiro de 2022 às 14:39" (...)

O famigerado Quemo Mané, comandante das FARP, já morreu, em 1985, escapando à justiça dos homens... Que a terra lhe seja pesada... LG

Anónimo disse...

Caro Amigo Luís Graça,

Quem me vê tomar partido da Rússia pode ser levado a pensar que é por ter sofrido uma lavagem cerebral, mas não é nada disso, eu sempre fui um "livre pensador". Ainda criança os meus pais não queriam que frequentasse o quartel e aos brancos, fiz o inverso, não por vontade de contrariar, mas porque já nessa altura queria pensar com a minha cabeça. Não queriam que frequentasse o Bairro mandinga de Moricunda, desertava por vários dias e convivia com os meus colegas mandingas vadiando pela savana em busca de aventuras. Já adulto e tendo terminado o ensino secundário preferiam que fosse estudar para um país do ocidente, Portugal ou França, eu escolhi a URSS. Chegado a este país queriam que aderisse aos estereótipos dogmáticos do marxismo de pacotilha do sim senhor Vladimir Ilitch Lénine, mas eu queria ler e interpretar os livros originais e não as citações paradas nas águas pantanosas do Stalinismo. Na política guineense não consegui nenhum alinhamento digno de menção porque sou rebelde e lido muito mal com a hipocrisia na política, a idolatria para com os líderes e a bajulação infame para conseguir um lugar de destaque. Mas, apesar de tudo ainda sobrevivi. A minha geração, os mais velhos assim como os mais novos, todos aspiram ter a residência portuguesa quando não a nacionalidade europeia, enquanto isso eu que sou filho e descendente de colaboradores dos colonialistas "Tugas" do Tenente Geraldes ao Cap. Teixeira Pinto, não me canso de questionar ao pessoal do partido dos libertadores, porque raio lutaram tanto, ceifando vidas e destruindo bens se hoje todos querem fugir para a Europa, abandonando a sua miserável Guiné-Bissau que libertaram do jugo colonial. E sabem o quê, quase ninguém me ouve e muito poucos me compreendem porque, entretanto, já se passou tanto tempo que o patriotismo já se esgotou e a pouca vergonha está na moda no ritmo incessante do vaivém entre Bissau e Lisboa e vice-versa, todos filhos de antigos combatentes da liberdade da pátria, do grupo imaculado dos que eram os melhores filhos do povo de Amilcar Lopes Cabral e que vieram das colinas verdejantes do Lugajol e Madina de Boé.

Abraço,

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

Caro Cherno Baldé
Há tempos que ando para perguntar o que é a língua/dialeto PULAAR.
Com uma crescente imigração de brasileiros para várias regiões de Portugal, têm sido criadas muitas igrejas evangélicas por pessoas vindas do Brasil.
Devido a esse aumento das igrejas evangélicas tem havido necessidade de traduções de textos para as pessoas de vários países com se encontram em Portugal.
Desde o inglês, francês, romeno, alemão, espanhol, aparece a língua pulaar.
Até foi dicionarizada como língua falada pelos fulas do ramo ocidental do grupo nigeriano-congolês, fula, fulamio.
E eu convencido que os fulas eram muçulmanos, afinal também há fulas cristãos protestantes/evangélicos.
Aguardamos a tua sempre instrutiva opinião.

Abraço
Valdemar Queiroz Embaló

Anónimo disse...

Caro Valdemar,

Al-Pulaar, Pulaar ou Fulfuldé é a língua do grupo etno+linguistico fula, fulani ou relata.

Os especialistas pensam que o seu número pode estar a volta de 60/70 milhões de indivíduos que se identificam como tal, estando distribuídos em mais de 20 países na África Ocidental (quase todos os países) Central (Tchad, Camarões e RCA) Oriental (Etiópia, Sudão e Quénia).

Com um número tão expressivo e tão dispersos no continente, não seria de estranhar que houvesse um pouco de tudo em termos de religião, usos e costumes.

Não obstante, a grande maioria reside na região ocidental com importantes concentrações e peso politico na Nigéria, Senegal, Mali e Guiné-Conacri. A grande maioria é da confissão muçulmana que em alguns países pode chegar aos 90% do total.

Em Portugal a esmagadora maioria dos Al-pulaar residentes são originários das duas Guinés e do Senegal sendo quase todos muçulmanos. O investimento e a aposta dos evangelistas tem a ver com o futuro, pois as próximas gerações serão mais vulneráveis aos seus cantos de sereia, principalmente se sua integração social e nível de formação não foram bem sucedidas, sendo altamente prováveis se tudo continuar como está hoje.

Um grande abraço,

Cherno AB

Cherno disse...

Errata: onde está "relata" devia ser "felatas/falatas", nome pelo que também são conhecidos na Etiópia e algumas zonas do Sudão.

Cherno

Valdemar Silva disse...

Obrigado, caro Cherno Baldé
Apanhei a notícia na consulta de um blog de critica/novidades/calinadas da língua portuguesa, e novas palavras que são dicionarizadas.
A minha confusão, quanto a religião, é por ser em Portugal e que os fulas residentes serão todos, diria, de origem da Guiné-Bissau e como tal muçulmanos.
Então, por necessidade de livros religiosos em língua pulaar, serão já em número razoável. Não estou a ver os fulas da Guiné-Bissau a pagarem o dízimo que é a receita para manter essas igrejas evangélicas, muitas vezes num armazém ou arrecadação alugado. Aqui na região próximo de minha casa já vi "nascer" e fechar várias igrejas evangélicas, brasileiras, em lojas anteriormente padarias ou talhos, que entretanto têm de fechar por a queixas dos inquilinos dos prédios devido ao barulho dos cânticos.
Quanto eu sei, parece que no Gabu também está a haver uma grande proliferação de igrejas evangélicas.
Já tive um casal vizinho que eram "pastores" brasileiros numa igreja aberta num antigo armazém. Um dia visitaram-me, tentaram visitar, sabendo do meu problema viver sozinho e doente. A intensão deles até era boa, com orações até podia ter melhoras. Eu que sou pouco católico não gosto dessas tretas, e disse-lhes que o meu problema era mais para consultas de pneumologia e que propriamente os salmos de Marcos ou de Isaías não serviam como concentrador/garrafa de oxigênio diário. Estiveram por cá pouco tempo por não conseguirem pagar a renda do andar.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Boaventura de Sena Martins Santos disse...

"[...] nunca quereria a vitória do ocidente sobre a Rússia que, de certa forma, encarna a defesa e as aspirações dos povos fracos e oprimidos pela globalização imposta pelo ocidente. [...]"


AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! A descolonização a fazer neste nosso século XXI é mesmo na cabeça de quem acredita nisto.

Todos sabemos das atrocidades e aleivosias dos EUA e lacaios no Iraque e no Médio Oriente (só para falar de tempos recentes, já nem se fala do embargo a Cuba), todas elas passíveis de meter muito boa (salvo seja) gente da Casa Branca, Pentágono, Departamento de Estado e Langley em Haia, mas ignorar a psicopatia histórica russa e achar que aquele lixo genocida cobarde defende os oprimidos é um atentado à inteligência e, sobretudo, uma enorme cegueira política.
Defender o imperialismo russo, tão de rapina quanto os demais, contra um lado do Mundo onde, com todos os seus defeitos (que não são poucos), ainda há liberdades que não há na Rússia (nem na China, nem em Cuba) é mesmo uma pedrada na lógica, um insulto à inteligência e um monumento à ignorância. Os Xis e Putins agradecem e riem-se enquanto roubam, violam, matam e arranjam mais uns Estados falhados pelo caminho, como boa escumalha imperialista que são.

É descolonizar a cabeça e aprender sobre a linda factura que o Grupo Wagner deixou em Moçambique ou que a Nova Rota da Seda está a deixar em países como o Paquistão ou o Sri Lanka. Não, só o Ocidente tem defeitos, os outros são uns santos. Ou uns califas bem guiados, vá.
Enquanto isso, a Guiné transforma-se inexorável e lamentavelmente num Estado falhado, para tristeza de quem gosta dela. Cadê os russos, os chineses e os cubanos, entretanto? Vão a caminho para salvar o país, perderam-se no caminho ou os horríveis opressores ocidentais não deixam que lá cheguem? E será que deixam que se emigre para lá? Ficam as questões.

Repulsa. Muita.

Primeira e última participação num blog lido há década e meia, mais coisa, menos coisa. A paciência esgotou-se.