Queridos amigos,
Ninguém me mandou vir até Malines às cegas, nem me dei ao trabalho de consultar um dos guias que sempre me fazem companhia, mas confesso que cheguei, vi e lavei a alma com tanta beleza, meti-me em exposições e no programa das igrejas históricas ao alcance de agradáveis passeios pedestres. Confesso que o que mais me toca é o gótico, a generalidade do barroco (arquitetónico, pictórico e escultórico) é de tal modo maciço, imponente, pronto e disposto para uma leitura óbvia que o evito, claro que há exceções, como a igreja de S. Roque, nos seus detalhes e na sua cenografia de grande espetáculo. Mas tendo começado por uma exposição sobre obras-primas produzidas por gente de Malines, senti-me cativado pela cidade, onde encontrei uma sábia combinação entre a preservação do antigo e um moderno que não desfigura o passado, lá mergulhei neste oceano de barroco, aqui e acolá me deixei estarrecer por obras magníficas, caso do tríptico A Pesca Milagrosa, tema do Novo Testamento tratado genialmente por Rubens, como espero contar-vos na próxima semana.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (112):
Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (3)
Mário Beja Santos
Aqui prossegue o desafio de andar com roteiros das oito igrejas históricas que se podem percorrer a pé, dentro desta belíssima Malines. Desconhecia inteiramente que a cidade fora antiga capital dos Países-Baixos Burgúndios, um dos pontos importantes da Flandres. Não foi por acaso que organizaram a exposição sobre as joias escondidas, cem obras-primas elaboradas por gente talentosa de Malines. Por ali passa um rio, o Dyle, bem curioso fiquei quando vi a existência de uma igreja para lá do Dyle. Estive para começar a viagem pela catedral de S. Rumoldo, mas já que ia numa avenida que nasce na estação ferroviária, deixei-me seguir, senti-me atraído por esta fachada, agora que estava a organizar as imagens com exteriores e interiores das igrejas e praças senti um calafrio, não estou absolutamente seguro de que se trata da Igreja de Nossa Senhora do Vale de Lys, mas o interior é barroco, vem a seguir à imagem da fachada, juro que não estou aqui para enganar ninguém, da fachada gosto muito, quanto à pompa do interior, é fausto que não me deslumbra.
Guardei a imagem de que se trata da Igreja de Nossa Senhora do Vale do Lys, igreja conventual barroca, realização de um arquiteto da terra, com renome, Lucas Faydherbe. Passou a ser igreja dos jesuítas em 1900.
Palácio ao lado do Hôtel de Ville, estamos na Grand Place de Malines, ao fundo já se avista a catedral, a tal que tem a torre gótica mais visitada da Bélgica, 42 mil toneladas, quase 100 metros de altura, o sino maior pesa 8 toneladas, para chegar ao alto da torre é só subir 538 degraus.
Duas imagens que nos deixam ver as belas proporções da praça e o zelo e cuidado por tão valioso património.
À cautela, para que o leitor não se sinta defraudado, já que se falou em 100 metros de altura e porque a torre é património da humanidade conferido pela UNESCO, e dado que a rua é bem apertada, juntam-se duas imagens complementares. Agora é só entrar, não falta a arte funerária, retábulos medievais e um admirável Cristo na cruz de Anton van Dyck, mas há muito mais para ver.É a maior igreja gótica de Malines, o pequeno guia recomenda que se veja atentamente as sepulturas dos arcebispos e a riqueza das estátuas. O nome desta imponente catedral decorre do nome do missionário escocês Rumoldus, falecido na cidade e seu santo padroeiro. Esta catedral é do século XIII, teve a felicidade de resistir a incêndios, guerras e violências de toda a espécie, numa folha posta à disposição da entrada da catedral recomenda-se a obra de van Dyck, as pinturas de Michiel Coxcie. Recomenda a folha que se veja isto e aquilo com muito cuidado, sobretudo o altar, uma obra-prima do escultor Lucas Faydherbe, de 1665.
Pormenores de capelas laterais.
Imponente púlpito, aproveitei para me sentar e tentar acreditar que estava perante uma árvore maciça onde um escultor andou anos a preparar esta sumptuosidade para deleite dos crentes.Pus-me no altar a olha para a entrada e coro e não estou arrependido com a panorâmica obtida. Os vitrais não são seguramente muito antigos, mas estão perfeitamente a condizer. Não é por nada, mas impõe-se uma pausa, aqui perto funciona um serviço do turismo, vou até lá para saber mais coisas, já vi que aqui perto funciona um restaurante mexicano, preciso de recuperar energia e matar a sede.
Isabel de Portugal pintada por Rogier van der Weyden
É na visita à oficina do turismo que deparei com esta genealogia do passado glorioso da história da Burgúndia. Como não podia deixar de ser, participámos. Esta Isabel era a única filha do casamento de D. João I e D. Filipa de Lencastre, pertenceu à Ínclita Geração. Casou com Filipe III da Burgúndia, foram longevos para os parâmetros do tempo. Não nos podemos esquecer da nossa presença na feitoria da Flandres e como o mano, o Infante D. Pedro, andou a recrutar mão de obra para as ilhas atlânticas. E com um sucesso irrecusável, para nosso orgulho. A viagem pelas igrejas prossegue, já que me meti nesta empreitada, quero deixar o relatório completo.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 15 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24478: Os nossos seres, saberes e lazeres (581): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (111): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (2) (Mário Beja Santos)
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