Brasão do BCP 31 (Moçambique,
Lourenço Marques e Beira, 1961/75)
1. Através do Formulário de Contacto do Blogger (disponível na badana do blogue, no lado esquerdo), com data de hoje, às 17h05, recebemos a seguinte mensagem, assinada por José Simões, ex-ten mil paraquedista. (Omitimos o seu endereço de email, que não estamos obviamente autorizados a divulgar, e que vamos guardar para futuros contactos.)
(...) Fui ten mil paraquedista. E gostava de enviar uma História com interesse. Uma história com h pequeno que cabe na História com H grande.(...)
(...) Fui ten mil paraquedista. E gostava de enviar uma História com interesse. Uma história com h pequeno que cabe na História com H grande.(...)
Presume-se que este camarada de armas tenha pertencido ao BCP 31 (Moçambique, 1961/75). Ou mais provavelmente ao BCP 32 (Moçambique, 1966/74). Desconhecemos em que período o autor esteve no TO de Moçambique, uma dúvida a esclarecer eventualmente mais tarde.
Abrimos, entretanto, esta nova série, de modo a que os camaraadas de armas que estiveram noutros TO que não a Guiné, possam também partilhar as suas pequenas histórias do tempo da guerra do ultramar / guerra colonial.
Chegados a Macomia, entregámos as africanas no posto administrativo. No dia seguinte apareceu o guia com um cipaio a dizer que o guia me queria falar.
– Agora viraste casamenteiro?!
Casaram-se e foram muito felizes
por José Simões (ex-ten mil paraquedista)
Serra do Mapé. Num período operacional, nesta serra, junto à vila de Macomia no
planalto dos Macondes, ao sul do distrito de Cabo Delgado.
planalto dos Macondes, ao sul do distrito de Cabo Delgado.
Partimos numa missão sem objetivo concreto, íamos simplesmente nomadizar na mata no intuito de marcar a nossa presença e observar. Éramos cerca de 35 soldados com os respetivos comandantes de secção e chefes de equipa.
Normalmente, e se o tempo permitisse, saía com o grupo às três da madrugada através do arame farpado e partíamos no máximo silêncio. Nas noites em Moçambique, se houver luar, tem-se uma boa visibilidade.
Andámos cerca de três horas e descansámos para comer qualquer coisa. Cerca de 15 minutos depois, ouvimos rebentamentos e tiros. O estacionamento de onde tínhamos saído, estava a ser atacado e pelo barulho devia ser um ataque importante.
Preparámo-nos para mudar de local e ouvimos dois helis a dirigirem-se para o estacionamento de onde tínhamos saído. Caminhámos pela mata e montámos uma emboscada onde estivemos cerca de três horas, ao fim do qual divergimo-nos para o rio Messalo, a norte da nossa posição.
Pelo caminho ouvimos vozes de mulheres e crianças a trabalhar na machamba, que é o local onde elas trabalham na agricultura. Cercámos o local e rapidamente aprisionámos as mulheres e crianças. Chamei o guia e pedi-lhe para perguntar às mulheres se havia algum acampamento guerrilheiro naquela zona e ele fez a pergunta em língua maconde às mulheres. Elas responderam que sim, mas que era longe.
Eu e o sargento Leão olhámos um para o outro e disse ao guia;
– Diz às mulheres que podem escolher entre ficar na mata ou irem comigo para Macomia (onde tínhamos o nosso estacionamento). Que não tivessem medo, que não lhes ia fazer mal algum.
O guia, que era maconde, conversou com as mulheres, o que demorava sempre muito tempo.
– Elas querem ir com o nosso “alferi“ para Macomia.
– Está bonito, isto.
Falei com os sargentos e disse-lhe que ia levar as mulheres e crianças. Voltei a falar com o guia e disse-lhe:
– Tem uma condição. Não podem falar e as crianças não podem chorar.
O guia voltou a falar com as mulheres e disse-me que elas concordavam. Pedi aos sargentos para arranjarem com os soldados qualquer coisa para as crianças comerem. Mudei a direção da operação e divergimo-nos para a picada que nos levaria a Macomia.
Notava-se que havia algo de estranho na mata pois estava muito silenciosa depois do ataque ao exército. Apareceu o comando aéreo e disse-lhes o que se estava a passar. Fomos descansar por umas horas e cedo fomos para a picada, embora pairasse um grande “suspense”.
– O que é que quer ? – perguntei ao cipaio.
– O guia quer que o autorize a casar com uma das africanas.
– Eu não tenho nada a ver com isso.
– O guia diz que foi o senhor que a prendeu, por isso é o senhor que autoriza.
– Diz-lhe que pode casar à vontade!
Entretanto o ten Augusto Martins voltou-se para mim e disse:
– Agora viraste casamenteiro?!
O que sei é que casaram-se e foram muito felizes.
José Simões, ex- ten mil paraquedista
(Revisão / fixação de texto: LG)
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1 comentário:
Lógica "maconde", do tempo do "esclavagismo": quem prende/aprisiona, pode soltar/dar a liberdade...
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