As mondadeiras com o seu sacho
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.
Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços
Acomodado ao peso de uma idade onde o limite toca a infinidade do horizonte, lá vou caminhando por picadas incertas, agora não armadilhadas, mas jamais deixando debitar memórias que o tempo ousará apagar, enquanto a mente assim o permitir.
Em “Coisas & loisas do nosso tempo de menino e moço”, recorro à obra dantes aqui citada e que se prende com a existência da terra que me viu nascer, 23 de novembro de 1950, cujo documento ficará perpetuado para as gentes aldeãs: “ALDEIA NOVA DE SÃO BENTO – MEMÓRIAS, ESTÓRIAS E GENTES”, edição Colibri, Lisboa.
Hoje, leva-me a saudade a recorrer aos afazeres de homens e mulheres do campo de antigamente, sendo que cito precisamente as mondadeiras, as ceifeiras e as eiras no rocio grande. Acrescento, ainda, um conjunto de expressões populares redigidas sob a pena do senhor Silva, um homem culto e que deixou memória na minha aldeia.
Como eram felizes aqueles tempos de criança, neste caso no Sul alentejano!
Mondadeiras
A monda fora uma ocupação específica que as mulheres exerceram nos campos, onde a finalidade era colher as ervas daninhas para a seara crescer sem os perigos provenientes de nefastas calamidades que o tempo por vezes causava. Ou seja, uma avalanche de ervas nocivas que impediam o crescimento para uma boa seara.
As mondadeiras, com um sacho numa das mãos, seguiam em rancho a caminho dessa tarefa, tarefa esta inserida numa fase em que as searas, ainda pequenas, eram trabalhadas ao pormenor, colhendo-se, sobretudo, os pés de balanco que se confundia com os pés do trigo já nascido.
Idas e vindas dos locais de trabalho, eram, muitas das vezes, a entoarem os famosos cantes alentejanos. As mulheres juntavam-se num determinado local, isto é, a uma das esquinas ou largos da aldeia, e lá partiam rumo à courela do senhor fulano tal.
Nesses tempos existiam os manajeiros que, com um bordão na mão, nada lhes escapava. As mulheres, agachadas, tentavam ver ao pormenor tudo o que fosse erva para arrancar. E se existisse uma falha lá estava o manajeiro a mandar uma reprimenda a uma outra moça que, entretanto, começava a exercer tal função. Outra vezes era o próprio patrão que, numa ronda para se inteirar do evoluir do trabalho, lá detetava a possível falha.
Neste capítulo, importa referir que uma das mondadeiras assumia a função em dar águas às suas companheiras. Uma tarefa que se dividia pelo rancho das mulheres. Com uma “enfusa” debaixo do braço, lá ia “matando” a sede àquelas que porventura necessitassem do tão precioso líquido, principalmente quando o sol, ainda baixo, raiava a pique.
Os horários das mondadeiras eram do nascer ao pôr-do-sol. Havia as horas para almoçar e para a merenda. De resto, o árduo trabalho passava pelo suportar a incómoda posição em que as mulheres, ao longo do dia, estavam sujeitas.
As jornas eram magras, mas assumiam-se como maquias importantes no orçamento familiar, tanto mais que os tostões ganhos reforçavam a compra de bens alimentícios.
Mondadeiras
(Luís Madeira)
Mondadeiras lindos ranchos,
Lenços de todas as cores,
Vão mondando e vão cantando,
Cantigas aos seus amores.
Um dia mais tarde quando,
Chega a ceifa que alegria,
Vão ceifando e vão cantando,
Mais depressa passa o dia.
Ceifavam e faziam pequenos molhos de cereal que a seguir eram transformados em outros molhos com dimensões superiores. Entretanto, tanto os molhos mais pequenos como os maiores, eram devidamente atados e encostados para o seu carregamento se tornar mais facilitado.
Depois de o ceifar da courela outra se seguiria e por fim fazia-se a adiafa. Nesses tempos as trovoadas de maio, principalmente aquelas vindas dos lados da serra da Adiça, algumas medonhas, não davam folgas às ceifeiras. A ceifa parava, as mulheres aconchegavam-se junto aos pés das árvores, chaparros ou oliveiras, ou acomodavam-se junto dos molhos já feitos e prontos para seguirem para as eiras. Isto porque os molhos eram colocados em pé, tendo em conta essas adversidades naturais, logo, tornava-se mais fácil um enxugar da semente mais rápida.
“Ceifeiras, lindas ceifeiras”, sim, vocês foram mulheres camponesas que o rigor do tempo jamais vos incomodou.
Aqui fica a nossa singela homenagem a essas mulheres de outrora!
O sol é que alegra o dia
Pela manhã quando nasce
Ai de nós o que seria
Se o sol um dia faltasse
Ceifeira!
Ceifeira, linda ceifeira!
Eu hei-de,
Eu hei-de casar contigo!
Lá nos campos
Lá nos campos, secos campos
Lá nos campos, secos campos,
À calma
À calma ceifar o trigo,
Pela força
Pela força do calor!
Ceifeira!
Ceifeira, linda ceifeira
Ceifeira linda ceifeira,
Hás-de ser o meu amor!
Não é,
Não, não é a ceifa que mata
Nem os calores,
Nem os calores do v’rão!
É a erva,
É a erva unha-gata,
É a erva unha-gata,
Mais o cardo beija-mão!
Ceifeira!
Ceifeira, ó linda ceifeira
Eu hei-de casar contigo
A debulha feita sob com as patas dos animais era, de facto, interessante. Recordo os tempos das debulhas no rossio grande, local próximo das escolas primárias. Horas infindáveis a debulhar o cereal que os animais em círculo, e orientados pelos almocreves, lá passavam horas a separar o grão da palha.
Primeiro chegavam os carros de bestas carregados de molhos, depois esses molhos eram desatados, seguindo-se o seu deitar, com preceito, na eira e finalmente a debulha.
Tudo, nesses tempos, tinha as suas regras. O homem, no centro da eira, tinha a perceção quando este primeiro trabalho se encontrava finalizado. Ou, a necessidade de dar continuidade à safra. Entretanto os miúdos entretinham-se a ver a azáfama dos homens.
Com o primeiro patamar do trabalho concluído, passava-se para a fase seguinte: separar os grãos da semente da palha. Um serviço que por vezes se prolongava por muitas horas. Com uma pá o homem jogava para o ar o produto em bruto, mas quando não havia maré, não valia a pena insistir no penoso trabalho. O vento não soprava, logo, tinha-se, forçosamente, que se fazer uma espera.
Por vezes lá vinha uma rabanada de vento, o homem aproveitava a maré e lá seguia o seu trabalho. Mas, de repente o vento silenciava-se e a pá recolhia aos seus aposentos. Muitas das vezes valia aquela parte da madrugada em que o vento voltava a dar um ar da sua graça, razão que levava o homem a um suspiro de alívio e terminar a lida.
Noites, malpassadas, em que o homem acabava por não dormir, por causa da ausência da maré. Depois vinha o ensacar do grão num saco cujo destino era o celeiro, situado ali por perto, e a palha levada por carros com uma rede trabalhada acima dos taipais, sendo o destino final o palheiro, onde se guardava a forragem para os animais comerem ao longo do ano.
Eram assim as eiras de antigamente no rossio.
Expressões Populares de Aldeia Nova de S. Bento
(António Loureiro da Silva, 1991)
Estar contente é desvaído,
Homem grande é taçalhão
Leviano é estaravedas
Beliscar é refelão.
Mulher ruim é cochina
Chover brando é molisnar
Naco de carne é uma presa
Andar mal é salamanquear.
Discussão é batibarba
Desleixado, desbagochado
Ao nojo chamam rascunho
Ao inchaço, assolapado.
Chamam chispa à azeitona
Apanhada de empreitada
Denunciar é ameseio
Comida de verão, lavadas
Lida apressada, trafuna
Mulher imoral, jaronda
Ser esperta de mais, bespeta
Mulher suja é uma tronga.
Mulher porca é uma rafada
Inventar é alcatear
Palhaçadas são archotes
Pressentir é barruntar
Uma mobília é um estado
Melhor roupa, vestir de grave
Também chamam algaramojo
Às sardinhas com tomate
À chuvada repentina
Chamam-lhe esgaravanada
Muito falada, almotaço
A pedrada é caqueirada
Gastador é estrafalairo
Ter mau génio é revinhento
Vento frio é bisaranha
Irritadiço, perliquitento
Muito cheio é abarruntado
Um naco grande é farrajo
Cabelo alto é maronga
Coisa velha é tarraço
Sol muito forte é esturreira
Refilar é extrapaciar
Chuva rija é zurregada
Deixar de chover, escampar
Ter maldade é má ralé
Pedrada é bolegada
Ser parvo, é catarete
Chuvada forte é tuchada
Já chega é tem avondo
Dar uma queda é um estoiro
Muito magro é encartadinho
Fóu significa nojo
A diarreia é vareta
Muito calor, encalmado
Roupa da cama é fato
Muita febre, esbraziado
O trabalho é digudana
Muita sede, estar escalado
Barulho é lavarito
Estar doente, abarracado
Glutão é garganeiro
As caretas são mutetes
Botas de pano, criminais
Ser sabido é alquetete.
Tonturas são almareios
Estar ferido, escalavrado
Chuva miuda, corgeiro
Zangado enchibatado
Mulher chata é uma vima
Desejar é apojar
Leviana é vanzinha
Aparecer é acolar.
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série de 14 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24755: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (9): A pisa, a desfolha, a apanha da lenha nos montes, o cultivo da batata, a olivicultura... (António Carvalho, Medas, Gondomar)
Nesses tempos existiam os manajeiros que, com um bordão na mão, nada lhes escapava. As mulheres, agachadas, tentavam ver ao pormenor tudo o que fosse erva para arrancar. E se existisse uma falha lá estava o manajeiro a mandar uma reprimenda a uma outra moça que, entretanto, começava a exercer tal função. Outra vezes era o próprio patrão que, numa ronda para se inteirar do evoluir do trabalho, lá detetava a possível falha.
Neste capítulo, importa referir que uma das mondadeiras assumia a função em dar águas às suas companheiras. Uma tarefa que se dividia pelo rancho das mulheres. Com uma “enfusa” debaixo do braço, lá ia “matando” a sede àquelas que porventura necessitassem do tão precioso líquido, principalmente quando o sol, ainda baixo, raiava a pique.
Os horários das mondadeiras eram do nascer ao pôr-do-sol. Havia as horas para almoçar e para a merenda. De resto, o árduo trabalho passava pelo suportar a incómoda posição em que as mulheres, ao longo do dia, estavam sujeitas.
As jornas eram magras, mas assumiam-se como maquias importantes no orçamento familiar, tanto mais que os tostões ganhos reforçavam a compra de bens alimentícios.
Mondadeiras
(Luís Madeira)
Mondadeiras lindos ranchos,
Lenços de todas as cores,
Vão mondando e vão cantando,
Cantigas aos seus amores.
Um dia mais tarde quando,
Chega a ceifa que alegria,
Vão ceifando e vão cantando,
Mais depressa passa o dia.
Ceifeiras
O mês de maio era o tempo das ceifas, ou das “acêfas” como habitualmente as nossas gentes o mencionava. As mulheres com uma foice, uns canudos feitos em cana para protegeram os dedos das mãos no manejo da sua foice, um lenço enrolado à cabeça, por cima um chapéu, meias de lã grossas para evitarem uma “espargana” de todo desaconselhável, visto o incómodo que causava era desagradável, utilizando roupas do tipo camponesas, e eis as ceifeiras, em rancho, prontas para mais uma jornada de trabalho. Porém, já no campo havia sempre uma que cuidava de fazer o lume e zelar pelos jantares das companheiras.
Cuidando do almoço
Eram os tempos em que homens, por vezes, também se intrometiam neste árduo trabalho. Todavia, a ceifa era, sobretudo, uma ocupação mais adequada para o elemento feminino. Contava-se que, por norma, as mulheres, em cada faixa trabalhada na courela, ocupavam-se com dois regos para ceifar, começavam numa ponta, acabavam na outra, sucedendo o inverso quando a etapa terminava e logo recomeçava. Porém, existiam aquelas, que se admitiam como mais valentes, que levavam três regos de ceifa.
Momento de dar água a uma companheira
Depois de o ceifar da courela outra se seguiria e por fim fazia-se a adiafa. Nesses tempos as trovoadas de maio, principalmente aquelas vindas dos lados da serra da Adiça, algumas medonhas, não davam folgas às ceifeiras. A ceifa parava, as mulheres aconchegavam-se junto aos pés das árvores, chaparros ou oliveiras, ou acomodavam-se junto dos molhos já feitos e prontos para seguirem para as eiras. Isto porque os molhos eram colocados em pé, tendo em conta essas adversidades naturais, logo, tornava-se mais fácil um enxugar da semente mais rápida.
“Ceifeiras, lindas ceifeiras”, sim, vocês foram mulheres camponesas que o rigor do tempo jamais vos incomodou.
Aqui fica a nossa singela homenagem a essas mulheres de outrora!
Ceifeira, linda ceifeira (retirada do cante alentejano)
O sol é que alegra o dia
Pela manhã quando nasce
Ai de nós o que seria
Se o sol um dia faltasse
Ceifeira!
Ceifeira, linda ceifeira!
Eu hei-de,
Eu hei-de casar contigo!
Lá nos campos
Lá nos campos, secos campos
Lá nos campos, secos campos,
À calma
À calma ceifar o trigo,
Pela força
Pela força do calor!
Ceifeira!
Ceifeira, linda ceifeira
Ceifeira linda ceifeira,
Hás-de ser o meu amor!
Não é,
Não, não é a ceifa que mata
Nem os calores,
Nem os calores do v’rão!
É a erva,
É a erva unha-gata,
É a erva unha-gata,
Mais o cardo beija-mão!
Ceifeira!
Ceifeira, ó linda ceifeira
Eu hei-de casar contigo
Eiras no rossio
Eira no rossio onde o trabalhar das patas dos animais eram importantes
A debulha feita sob com as patas dos animais era, de facto, interessante. Recordo os tempos das debulhas no rossio grande, local próximo das escolas primárias. Horas infindáveis a debulhar o cereal que os animais em círculo, e orientados pelos almocreves, lá passavam horas a separar o grão da palha.
Primeiro chegavam os carros de bestas carregados de molhos, depois esses molhos eram desatados, seguindo-se o seu deitar, com preceito, na eira e finalmente a debulha.
Joeirando a semente numa eira no rossio
Tudo, nesses tempos, tinha as suas regras. O homem, no centro da eira, tinha a perceção quando este primeiro trabalho se encontrava finalizado. Ou, a necessidade de dar continuidade à safra. Entretanto os miúdos entretinham-se a ver a azáfama dos homens.
Com o primeiro patamar do trabalho concluído, passava-se para a fase seguinte: separar os grãos da semente da palha. Um serviço que por vezes se prolongava por muitas horas. Com uma pá o homem jogava para o ar o produto em bruto, mas quando não havia maré, não valia a pena insistir no penoso trabalho. O vento não soprava, logo, tinha-se, forçosamente, que se fazer uma espera.
Por vezes lá vinha uma rabanada de vento, o homem aproveitava a maré e lá seguia o seu trabalho. Mas, de repente o vento silenciava-se e a pá recolhia aos seus aposentos. Muitas das vezes valia aquela parte da madrugada em que o vento voltava a dar um ar da sua graça, razão que levava o homem a um suspiro de alívio e terminar a lida.
Noites, malpassadas, em que o homem acabava por não dormir, por causa da ausência da maré. Depois vinha o ensacar do grão num saco cujo destino era o celeiro, situado ali por perto, e a palha levada por carros com uma rede trabalhada acima dos taipais, sendo o destino final o palheiro, onde se guardava a forragem para os animais comerem ao longo do ano.
Eram assim as eiras de antigamente no rossio.
Expressões Populares de Aldeia Nova de S. Bento
(António Loureiro da Silva, 1991)
Estar contente é desvaído,
Homem grande é taçalhão
Leviano é estaravedas
Beliscar é refelão.
Mulher ruim é cochina
Chover brando é molisnar
Naco de carne é uma presa
Andar mal é salamanquear.
Discussão é batibarba
Desleixado, desbagochado
Ao nojo chamam rascunho
Ao inchaço, assolapado.
Chamam chispa à azeitona
Apanhada de empreitada
Denunciar é ameseio
Comida de verão, lavadas
Lida apressada, trafuna
Mulher imoral, jaronda
Ser esperta de mais, bespeta
Mulher suja é uma tronga.
Mulher porca é uma rafada
Inventar é alcatear
Palhaçadas são archotes
Pressentir é barruntar
Uma mobília é um estado
Melhor roupa, vestir de grave
Também chamam algaramojo
Às sardinhas com tomate
À chuvada repentina
Chamam-lhe esgaravanada
Muito falada, almotaço
A pedrada é caqueirada
Gastador é estrafalairo
Ter mau génio é revinhento
Vento frio é bisaranha
Irritadiço, perliquitento
Muito cheio é abarruntado
Um naco grande é farrajo
Cabelo alto é maronga
Coisa velha é tarraço
Sol muito forte é esturreira
Refilar é extrapaciar
Chuva rija é zurregada
Deixar de chover, escampar
Ter maldade é má ralé
Pedrada é bolegada
Ser parvo, é catarete
Chuvada forte é tuchada
Já chega é tem avondo
Dar uma queda é um estoiro
Muito magro é encartadinho
Fóu significa nojo
A diarreia é vareta
Muito calor, encalmado
Roupa da cama é fato
Muita febre, esbraziado
O trabalho é digudana
Muita sede, estar escalado
Barulho é lavarito
Estar doente, abarracado
Glutão é garganeiro
As caretas são mutetes
Botas de pano, criminais
Ser sabido é alquetete.
Tonturas são almareios
Estar ferido, escalavrado
Chuva miuda, corgeiro
Zangado enchibatado
Mulher chata é uma vima
Desejar é apojar
Leviana é vanzinha
Aparecer é acolar.
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série de 14 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24755: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (9): A pisa, a desfolha, a apanha da lenha nos montes, o cultivo da batata, a olivicultura... (António Carvalho, Medas, Gondomar)
9 comentários:
Zé Saúde
As Expressões Populares são uma mão cheia de pérolas.
Já conhecia algumas, dicionarizadas com outro significado bem diferente.
Desconhecia serem os burros pisando a seara seca para libertar o cereal.
Nunca tinha ouvido nada sobre essa actividade, no norte utilizávamos o mangual para o milho e centeio.
Muito interessante
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Ò Zé, é grande a ternura que tens pela tua terra e a tua gente... Que delícia esta listagem de expressões populares (de que escolhi apenas uma pequena amostra, reproduzida abaixo...
Cheguei a ir várias vezes a Vila Verde de Ficalho, onde tinha/tenho amigos, mas nunca cheguei a conhecer a tua terra (que é "vizinha e rival" de Ficalho...). Imperdoável. Mas quandpo lá for tenho que levar o teu livro, a próxima 3ª edição... Um abraço. Luis
(...) O trabalho é digudana
Muita sede, estar escalado
Barulho é lavarito
Estar doente, abarracado
Glutão é garganeiro
As caretas são mutetes
Botas de pano, criminais
Ser sabido é alquetete.
Tonturas são almareios
Estar ferido, escalavrado
Chuva miuda, corgeiro
Zangado enchibatado
Mulher chata é uma vima (...)
Nems euqer vem no dicion´+ario da língua portugesa, "almareios" (tonturas, enjoos)... Vem "almarear"... Ouvi pela primeira vez, pro volta de 1989/90, o termo "almareado", dito pro mineiros, a 700 metros de profundidade, nas minas da Somincor - Neves Corvo, em Castro Verde, no Alentejo profundo... Portanto, a expressão não é apenas "algarvia"... LG
____________
almarear
(al·ma·re·ar)
Conjugar
Conjugação:regular.
Particípio:regular.
verbo intransitivo
[Portugal: Algarve] Ficar enjoado ou estonteado. = ALMARIAR
etimologiaOrigem etimológica:origem duvidosa, talvez de marear.
Palavras relacionadas
almareado
almariar
almariado
"almarear", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/almarear.
"alquetete"
Das muitas pérolas, em Milfontes ouvia com frequência, por haver muitas asas em construção, chamar ao mestre d'obras 'alquitete' que seria uma corruptela de arquiteto.
alquitete, e não alquetete, no Porto Editora é dicionarizado como desocupado, mexeriqueiro, mestre d'obras como prejurativo e popularmente arquiteto.
Valdemar Queiroz
Sabem o que é um chapéu de sol para as mondadeiras? Era quando encarregado o dito manageiro propunha ao rancho um género de empreitada feito o contracto verbal se conseguissem iam para casa assim que o objéctivo era alcansado, então diziam hoje ganhá-mos um "Chapéu de Sol". Resumindo mais uma exploração.
Zé, devia ser um trabalho durissimo, brutal... tanto o das mondadeiras como o das ceifeiras...
Nunca assisti "ao vivo"... A mecanização veio com a crise de mão-de-obra... Não há "paraísos na terra" que não acabem...
Em Serpa não havia arrozais ...A monda e a ceifa nos campos de arroz eram agravadas pelas "sezões" (malária ou paludismo), uma doença que só dada como erradicada no sul do país... Em 1975, depois de mais de meio século de combate e prevenção.
Contra a alteração de mão d'obra feminina por máquinas agrícolas, dizia o patrão 'eu não quero cá as máquinas, com as moças sempre se vai arranjado alguma pra casar'.
Valdemar Queiroz
Zé, na minha terra também havia um sítio chamado "Rossio", já um pouco afastado do centro da vila, à saída, para sul (Torres Vedras) e sudeste (Bombarral).
Era lá que se fazia a feira do gado.. Era um sítio junto ao rio Grande (que desagua na Praia da Areia Branca, a 2/3 km). Frondoso, era no "Rossio"", que acampampavam os ciganos nómadas...
Quando eu era puto, tinha medo de lá pssar... mas tinha que passar para chgegar à Quinta do Bolardo, lugar mítico da minha infância. Hoje está lá o terminal rodoviário.
arioáriá
________________
rossio
(os·si·o)
nome masculino
1. Terreno largo, fruído em comum pelo povo.
2. Logradouro público. = BALDIO
3. Lugar espaçoso; praça larga. = TERREIRO
etimologia Origem etimológica: origem duvidosa.
"rossio", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/rossio.
Enviar um comentário