quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P25009: S(C)em Comentários (24): Os últimos anos do Amadu Djaló (1940-2015) devem ter sido de uma grande amargura e de arrependimento (Cherno Baldé, Bissau)


Lisboa > 2009 > O Amadu Djaló
(1940-2015)
no Cais do Sodré. 

1. Comentário do Cherno Baldé (*),  nosso "correspondente em Bissau", colaborador permanente com o pelouro das questões etno-limguísticas:


 (...) O mais que triste depoimento do soldado  'comando' Amadu Bailo Djaló sobre as desrespeitosas palavras e indecentes propostas do tenente coronel do Batalhão de Gabu, apetece-me dizer que havia soldados guineenses que lutavam do lado do exército português que, por muitas e variadas razões, deveriam lutar d'outro lado e, talvez, muitos que se encontravam d'outro lado, deveriam lutar do lado português, pelo menos aqueles que conspiraram para matar o seu líder, Amílcar Cabral. 

Os últimos anos do Amadu Djaló devem ter sido de uma grande amargura e de arrependimento. Mas, a verdade seja dita, quem é que o não está de entre os antigos combatentes que levante os braços?! (...)

23 de dezembro de 2023 às 14:54 (**)
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Notas do editor:

9 comentários:

antónio graça de abreu disse...

Conheci o AMADU DjALÓ aqui em Lisboa, pouco antes dele partir, na viagem definitiva, e não me pareceu ser uma pessoa marcada por grande amargura e arrependimento, coisas que também não transparecem nos seus textos que o Virginio Briote alinhou.
Não estará aqui o Cherno Baldé a dar uma no cravo e outra na ferradura?

Abraço,

António Graça de Abreu

Antº Rosinha disse...

Cherno, arrependimento? frustração? desilusão? desespero?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Falta-nos o depoimento do Virginio Briote que, além de ter sido seu editor literário, foi seu amigo e confidente.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Falta-nos o depoimento do Virginio Briote que, além de ter sido seu editor literário, foi seu amigo e confidente.

Joaquim Luis Fernandes disse...

Este comentário, do respeitável amigo Cherno Baldé, não é de fácil compreensão.
Que havia oficiais, alguns superiores, que deixavam muito a desejar, no seu caráter humanista e de militares exemplares, nada a dizer! Até eu, disso me apercebi, infelizmente.

Que os Soldados Comandos da Guiné, eram homens destemidos, leais e valorosos, ao serviço do exército português na Guiné, com várias motivações para se alistarem no BCMD da Guiné, é um facto bem evidenciado.

Agora dizer, que ficariam melhor ao lado do PAIGC, por troca com os guerrilheiros do PAIGC, que atentaram contra a vida de Amílcar Cabral ... não entendo!

O que tinham de comum, com o exército português, Inocêncio Kanie e os seus companheiros, que vindos da base naval no Mar Negro, da antiga União Soviética, e regressados a Conákri se encontraram com Momo Turé e outros seus camaradas, para se constituirem como grupo conspirador?

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Vocês, na qualidade de antigos combatentes, veteranos, que sentiram no coração, na carne e no osso as agruras da guerra da Guiné, estão melhor colocados para ajuizar dos desabafos e sentimentos de um ex-colega embora esteja convencido que poucos pudessem estar na sua pele de ex-soldado CMD, a quem podiam atirar em zonas quase desconhecidas e de perigo extremo como o aqui relatado caso da Caboiana onde até os bravos comandos não estiveram a altura de cumprir com o seu lema sagrado de " nunca deixar ninguém para trás". Muito triste.

Também, parece que a política de reformas no caso dos militares na Guiné contrasta com a portuguesa, pois o mais frequente é promoverem o candidato a um escalão superior de forma a atenuar as condições de vida, embora saibamos que não há termos de comparação entre os dois países, mas pelo menos o tratamento parece mais humano e aceitável.

Em 1998, durante a guerra civil em Bissau, desloquei-me a cidade fronteiriça de Kolda em visita familiar e, ao constatar as deploráveis condições sócio-económicas em que viviam, sem luz, sem água, eu disse-lhes: Vocês têm todo interesse em se juntarem aos rebeldes da MDFC. No dia seguinte agradeceram-me educadamente e pediram-me para regressar ao meu país, o que fiz sem hesitar, mas sem quaisquer remorsos.

Cordialmente,

Cherno Baldé


Joaquim Luis Fernandes disse...

Caro amigo Cherno, acredita que aceito e compreendo o teu desabafo! É um fato que nem sempre as chefias do exército português respeitaram e protegeram os seus soldados, e de forma mais evidente. os oriundos do território guineense.

Nem todos honraram a farda que envergavam e a bandeira que juraram defender. Tal como no PAIGC havia traidores á causa que defendiam, também os havia infiltrados nas Forças Armadas Portuguesas na Guiné. A forma como se abandonaram os seus soldados guineenses, diz muito dessa atitude de desrespeito e mesmo de traição.

Para ti, a tua família e os amigos da Guiné Bissau, faço votos de um novo ano de 2024, com boa saúde, paz e prosperidade.

Abraços fraternos.
JLFernandes

Jose Macedo, DFE 21 disse...

Lembro-me da presenca no campo de aviacao de Vila Caheu de varios helis, oficias comandos e enfermeiras, entre as quais a Eugenia (Caboverdeana). As 3 companhia de Comandos foram transportados ate a Mata da Coboiana. Na mata, destruiram varios celeiros de arroz e outros mantimentos pertencentes ao PAIGC.Os comandos retiraram, depois de pequenos confrontos, ficou no terreno a Terceira Companhia, sob o comando do Tenente Jaliba. Passado pouco tempo, cairam numa forte emboscada em que a forca do PAIGC era de mais de uma centena. (Versao que me foi contada por um dos membro da Terceira Companhia) Os Comandos sofreram varia baixas entre mortos e feridos e teve varios elementos, entre eles o Tenente Jaliba "apanhados a mao). Com o PAIGC em persiguicao, a Terceira Companhia, sem comandante, correu em direcao ao Rio Cacheu, fortemente pressionada pelo PAIGC. O DFE21 recebeu uma comunicacao da base dessa operacao, pedindo-nos para ir a uma determinada area do tarrafo no Rio Cacheu para retirar os elementos dos comandos m retirada (debandada?). Assim fizemos co 5 Zebros retirando do rio e to tarrafo os Comandos da Terceita Companhia. Eu, pessoalmente, retirei do rio varios soldados, entre eles um Furriel, cujo nome nao recordo, que me ofereceu meses mais trade uma foto dele fardado .

O DFE 21, estacionado em Vila Cacheu, tinha por missao patrulhar o Rio Cacheu de modo a impedir "cambansas) do Senegal para o interior da Guine, principalmente na zona da Coboiana. Varia canoas foram destruidas, contudo, era extemamente dificil apanhar uma cambansa. Para esclarecimento, o DFE21 nao era um Deastacamento de Fuzileiroa Navais. Era um Destacamento de Fuzileiros ESPECIAIS, como era (sao) os Comandos e OS Paraquedistas. Sobre a existencia (oo nao) da Marinha do PAIGC, para alem da provas citadas por um dos comentadores, e bom lembrar que um dos principais objectivos de Operacao Mar Verde era "A destruicao das vedetas do PAIGC.

Um abraco amigo

Jose "Zeca Macedo"
DFE 21-Cacheu-Bolama-Guine Bissau-1973-74

Anónimo disse...

Nova iorque, às 04.58 da manhã do dia 17 de Janeiro de 2024.

Ler os comentários de posts é uma das coisas que gosto de fazer, pois eles de alguma maneira nos transmitem os sentimentos muito pessoais de quem os escreve.
Estes e outros comentários deixam-me triste pela amargura e sofrimento evidentes em muitos de nós ainda hoje existentes passados 50 anos.
Não sei o que dizer para tentar "suavizar" os corações e mentes de quem escreve estas palavras. É que também eu choro quando me lembro do muito que se sofreu , especialmente daqueles que dum lado ou outro acreditavam que deviam lutar, prontos a dar a sua vida por aquilo em que acreditavam, incluindo a amizade que unia muitos de nós. Dum modo especial os que o sofreram em circunstancias trágicas, fora e longe de momentos de luta armada , mas barbaramente mortos em momentos fora de combate, como sucedia por vezes durante os muitos anos que a luta durou, especialmente em situações de vinganças e represálias.
É com respeito e dor que vivo também estes momentos de dor e me associo a todos os que escrevendo e lembrando, como estou fazendo agora, estejam aida hoje à procura de paz.
"Estou convosco" é tudo que posso dizer.
João Crisóstomo