Moçambique - Território der Manica e Sofala: uma plantação de cana de açúcar em Guara-Guara
Gazeta das Colónias: semanário de propaganda e defesa das colónias. Ano I, nº 6, Lisboa, 7 de agosto de 1924, Diretor: Oliveira Tavares; editor: Joaquim Araújo; propriedade: Empresa de Publicidade Colonial, Lda.
2. São raras as referèncias à obscura, desconhecidal palúdica e mal amada colónia da Guiné, mal saída ainda, em meados dos anos 20, das "campanhas de pacificação". Escassamente povoada por colonos brancos, era também, a par de Timor, o pior lugar de desterro.
Mas, por sorte, encontrámos, logo neste número, uma página em que se elogia a ação do governador Velez Caroço (no período de 1921-1926), coronel e antigo senador da Repúbçlica . O artigo, de uma só página (pág. 9), não vem assinado, mas é da responsabilidade do editor, o major António Oliveira Tavares, que logo a seguir irá substituir o seu amigo Velez Caroço, no período de 1927 a 1931 (portanto ainda em plena ditadura militar). Para os nossos leituras, aqui fica esse recorte.
No Facebook Caras de Portalegre (24 de maio de 2015) há uma nota biográfica sobre este oficial do exército, que foi um homem da República, passoi por Angola e combateu em Moçambique durante a I Grande Guerra. Nasceu em Portalegre, em 1870, e faleceu em 1966.
(...) "Após a proclamação da República, em que colaborou e teve papel preponderante, foi, em 1911, eleito deputado às Constituintes pelo círculo de Portalegre, tendo sido reeleito em várias legislaturas.
"Pelo seu acentuado e superior tacto político manteve sempre durante o seu governo as mais amistosas relações com os governos de diversos territórios da África Francesa, nossos vizinhos, e em tão alto apreço foram tidas todas as suas atuações nesse campo, que pelo Governo da República Francesa foi agraciado com o grau de Oficial da Legião de Honra. Na sua ação administrativa foram também promulgados vários diplomas de alto e grande alcance." (...)
Alguns dados económicos da colónia também são interessantes:
- no 1º semestre de 1923, a Guiné importou bens no valor de pouco mais de 8 mil contos, e exportou mais do dobro (c. 16,5 mil contos);
- verifica-se, por outro lado, que no mesmo período o porto de Bissau já levava a palma ao porto de Bolama em número de navios, portugueses e estrangeiros (29 em Bissau contra 13 em Bolama),
- e em tonelagem (67,7 mil t contra c. 25,2 mil t, respetivamente) (Vd. destaque a seguir.)
Fonte: Gazeta das Colónias: semanário de propaganda e defesa das colónias. Ano I, nº 6, Lisboa, 7 de agosto de 1924, pág, 6.
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Último poste da série > 16 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24962: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (3): Amboim, Angola: crianças pilando café
Postes anteriores:
15 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24958: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (1): Os "angolares", indígenas de São Tomé
10 comentários:
Como seriam nos anos de 1924-1926 as vias de comunicação metropolitanas, para ser referenciado existir na mesma data na Guiné "...com milhares quilómetros de estradas e algumas pontes".
Em 1970 na época das chuvas levamos mais de oito horas para percorrer os 25 quilómetros de estrada/picada de Nova Lamego a Cabuca.
Valdemar Queiroz
Claro, estamos a falar de "picadas", num território que era pouco maior do que o Alentejo... Estradas abertas a catana, pá e pica, com recurso a "trabalho forçado" e a "colaboração" dos régulos fulas...
Esta era uma geração, republicana, nacionalista, que nasceu para a politica com o "ultimatum" britânico, de 1890, e que, após a I Grande Guerra, descobre, um pouco em pânico, que tem que saber defender e gerir o terceiro maior império colonial do mundo, depois do britânico e do francês. ..
Caros amigos,
Três destaques neste Post de hoje:
O Governador Vélez Carroço (1921/26) promoveu obras meritórias, mesmo se a custa do trabalho "voluntário" (que na realidade era obrigatório) graças a boa colaboração com as autoridades tradicionais, sobretudo do Leste e com destaque para com o régulo de Gabu, Monjur Embaló o mais destacado de todos nesse período.
Esta ligação com a Guiné tem continuidade hoje na pessoa do actual embaixador de Portugal em Bissau, José Rui Vélez Carroço.
De acordo com as estatísticas de movimento de navios e mercadorias apresentadas para o período (1923), o mercado da Guiné é largamente dominado por estrangeiros.
E, nesse mesmo período (1924), nasce na localidade de Geba Amilcar Lopes Cabral, aquele que o destino encarregaria de iniciar a derrocada do império português em África.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Há várias referências, no nosso blogue, ao governador Velez Caroço (1921-1926) (cessou as funções bem dezembro de 1926, já com a Ditadura Militar, nascida do golpe de estado de 28 de maio)... Veja-se aqui o que escreveu o Beja Santos numa suas múlltiplas notas de leitura, resultamtes dos arquivos do BNU;
(...) Caminhamos para o fim da I República, há uma vertente de modernização na Guiné. Começam-se a cantar hossanas, é patente que a política concebida e executada por Velez Caroço começa a dar os seus frutos.(...)
Tais louvores aparecem mais contidos no olhar do historiador. Na sua "História da Guiné, Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936", Volume II, Editorial Estampa, 1997, René Pélissier ajuíza a atividade de Velez Caroço. Escreve o seguinte a partir da página 204:
“O primeiro mandato de Velez Caroço conhecerá uma febre de construções no sertão, afetando as sedes da quase totalidade das 14 circunscrições. Porém, este governador manter-se-á, principalmente, como o homem das estradas e das pontes e, como consequência, o do trabalho indígena obrigatório e não remunerado. Infelizmente, o otimismo musculado de Velez Caroço vai ver-se desmentido”.
Para além das estradas, pontes e radiotelegrafia, Velez Caroço ver-se-á envolvido numa nova campanha de Canhabaque, entre Março e Maio de 1925. Deixará a colónia em Dezembro de 1926. Bolama e o gerente da filial do BNU acompanham as questões momentosas de um movimento de desagrado à administração do governador. (...)
Excertos de:
24 DE NOVEMBRO DE 2017
Guiné 61/74 - P18009: Notas de leitura (1017): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (10) (Mário Beja Santos)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2017/11/guine-6174-p18009-notas-de-leitura-1017.html
PS: O reverso das meritórias obras do Gov. Vélez Carroço no Leste do território é a fuga desenfreada das populações fulas e mandingas para o território francês (Casamansa) a que os franceses vão aproveitar para povoar o médio e alto Casamansa que antes disso estava quase desértico de gente em consequência das guerras de fulas (Congregação muçulmana contra os mandingas animistas de Kaabu) que o tinham assolado e provocado a deslocação de suas gentes para Sul e Norte.
Cherno AB
Cherno, em relação ao movomento nos portos (Bolama e Bissau), é bom ter em conta que não havia ainda uma carreira regular entre Portugal e a sua colónia...Por outro lado, nesta época, além das oleaginosas, creio que também havia produção e exportação de borracha...fundament6al para a indústria automóvel...em grande expansão.
É importante conhecermos estes factos de há 100 anos (!)... Boas festas. Luís
Nesse tempo de Caroço, 1926, nós na metrópole às voltas com as nossa "revoltazinhas" caseiras em Lisboa e arredores e ainda esgotados da Flandres, Moçambique e Sul de Angola, lá haveria um ou outro carola como Caroço que se apercebia que havia alguma coisa para fazer algures.
Segundo vemos aqui, ele mesmo avançou contra povo insurreto.
Era exatamente nessas alturas que se punha na Europa a ideia que Portugal ou vendia ou arrendava...era preciso explorar.
Ainda andávamos de volta de cana de acúcar, algodão e café e mancarra, já tudo andava a perfurar ouro, volfrâmio, diamantes, cobre...com grandes companhias, Bancos e empresários de toda a ordem, e companhias de mercenários...lembram-se que havia a legião francesa? Com belgas, ingleses e franceses, houve guerras de pacificações, mas foi mais para filmes, não viram o Shaka Zulu?
Agora essa das estradas, era assim, os sobas, régulos, cada um que fizesse até meio da outra sanzala, e o outro que continuasse.
Isso se quisessem que algum comerciante um dia se atrevesse a montar lá loja.
Enfim, ninguem devia colonizar nem explorar nada nem ninguém, como ouvi numa entrevista a lisboetas...cada um devia ficar na sua terra.
E nós quase não colonizávamos mesmo.
Os homens daquela época, para mais militares, tanto ainda do tempo da Monarquia, como depois da República e até do Estado Novo (até 1951) falavam, sem pejo, sem complexos, de "colónias", "império colonial", "possessóes ultramarinbas", "províncias"...
Hoje o termo "guerra colonial" parece que ainda fere os ouvidos de alguns de nós...
Na realidade, a questão não é/era apenas semântica como sobretudo conceptual, tendo a ver com o nacionalismo imperial "do Portugal do Minho a Timor".
...Mas o Velez Caroço, o Oliveira Tavares, o Henrique Galvão, o Norton de Matos, o Paiva Couceiro, o Sarmento Rodrigues e tantos outros "africanistas" não eram menos "patriotas" do que os "heróis da guerra do ultramar". Ou que o 'colon' do António Rosinha...
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