em dezembro
não fazia frio
em dezembro
ainda não fazia neve
em dezembro era natal
e comia-se a aletria e as rabanadas
ainda não fazia neve
em dezembro era natal
e comia-se a aletria e as rabanadas
e os bolinhos de chila
em janeiro cantavam-se as janeiras
e bebia-se o vinho novo
em janeiro cantavam-se as janeiras
e bebia-se o vinho novo
que era verde tinto
em dezembro ainda não havia neve
pra cozer as pencas pró natal
não havia neve
à porta dos camponeses pobres do norte
nem as peugadas dos pés descalços
das criancinhas do augusto gil
batem leve levemente
como quem chama por mim
em dezembro ainda não havia neve
pra cozer as pencas pró natal
não havia neve
à porta dos camponeses pobres do norte
nem as peugadas dos pés descalços
das criancinhas do augusto gil
batem leve levemente
como quem chama por mim
ah onde está o tipicismo da miséria rural
que os escritores burgueses descobriram antes de nós
o camilo o eça o ramalho o aquilino
em dezembro
o pai natal já não descia pelo fumeiro
por entre os salpicões e os presuntos
vinha de peugeot pelas estradas de frança
e trazia tiparrillos prá malta fumar
à lareira
em dezembro
a maria do norte cortava erva pró gado
e cantava a plenos pulmões
uma canção do sul
candoz.
natal de 1976 (*)
luís graça
versão revista, ligeiramente modificada em 25/12/2023 (**)
PS - Foi o primeiro Natal no Norte. Estávamos todos vivos. Nunca tinha comido aletria. Nem rabanadas. Nem "cebolinhas do talho". Mas a eletricidade produzida nas barragens do Douro ainda não chegava a Candoz. E levava um dia inteiro para cá chegar, a quem vinha de Lisboa. Tínhamos um Fiat 127. "E ainda havia os bailos mandados e dansava-se o fado"...
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Notas do editor:
(**) Publicado originalmente no blogue A Nossa Quinta de Candoz > 22 de dezembro 2005 > em dezembro era natal
1 comentário:
A primeira vez que fui a minha "bailo mandado", as mulheres de um lado e os homens do outro, com um "mandador" no meio, e uma "tuna rural do Marão" a tocar (violão, viola, rabeca, ferrinhos...) num estrado improvisado, tive a "sorte" (por ser "mouro") de ser escolhido para dançar uma "moda"... Para vergonha minha ( quera um pé de chumbo) a tuna começou a tocar uma "dança do fado"... E depois vieram valsas, mazurcas, etc., danças de salão que chegaram com atraso de 100 anos a estas terras do vale do Tâmega...
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