quarta-feira, 22 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25548: Banco do Afeto contra a Solidão (29): Hospitalizado em Beja, o luso-italiano Lino Bicari, de 88 anos, antigo missionário do PIME (Bafatá, 1967-1971), professor do nosso Cherno Baldé, grande amigo e companheiro do nosso capelão Arsénio Puim


Guiné-Bissau > s/d (c. 1975/80) > Bafatá > O professor Lino Bicari e um grupo de alunos que praticavam futebol. Ele foi professor tam
bém do nosso amigo Cherno Baldé,  quando este frequentou o Ciclo Preparatorio e o Liceu Hoji-Ya-Henda,  em Bafatá, de 1975 a 1979  (*), Fotograma de vídeo da RTP, que passou no Telejornal, no dia 17 de abril de 2024. (Com a devida vénia...)


Região Autónoma dos Açores > Ilha de São Miguel >  Maio de 2019  > O reencontro de dois amigos da Guiné, ao fim de 48 anos: à esquerda,  o ex-missionário italiano Lino Bicari (casado com uma portuguesa, vivendo hoje no Alvito, no Alentejo);  e, à direita, o Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), expulso depois do exército e do CTGI, em maio de 1971 (deixou o sacerdócio em finais dos anos 70; e dedicou-se à profissão de enfermagem).

Lino Bicari  é da mesma idade: nasceu em 1935, na Sicília, Itália. Missionário do PIME - Pontifício Instituto para as Missões Exteriores,  chegou à Guiné em maio de 1967.  Além da teologia, tinha formação em medicina tropical, em psicopedagogia e didáctica e em etnologia. 

Assumiu logo o cargo de Diretor do Internato da Missão Católica em Bafatá. (Será responsável pela formação dos professores das escolas das missões de Catió, Bubaque, Biombo, Comura, Suzana, Farim, Bambadinca e Bafatá.)

(...) "Nesta primeira passagem pela Guiné, estabelece uma relação próxima com o capelão militar de Bambadinca, o Padre Arsénio Puim, que acabará por ser preso e expulso do Exército pelas suas posições de denúncia da guerra, nomeadamente numa homilia realizada em 1971 que marcara Bicari de forma perene." (...)

Volta à Itália em 1971, desvincula-se do PIME e, já depois da declaração unilateral de independência da Guiné-Bissai, em 24 de setembro de 1973, adere ao PAIGC (em cujas fileiras milita até 1987). Tornou-se responsável pelo Hospital Regional do Boké, na Guiné-Conacri,  e, além da saúde, trabalhou também na área da educação  e da cultura. Radicou-s em Portugal em 1990. Afirmou-se sempre como um militante político, não guerrilheiro.

Foto (e legenda): © Arsénio Puim (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

1. Por mensagem de anteontem, 20 do corrente, às 23:26, o nosso grão-tabanqueiro Arsénio Puim agradeceu, a todos nós, as referências que lhe fizemos por ocasião do seu 88º aniversáro natalício (**):

 (...) "A ti e a todos quantos me recordaram e se me referiram com amizade, um enorme obrigado muito sentido. Recordo ainda muitas vezes os nossos tempos da Guiné e os nossos companheiros, com quem tive sempre uma convivência amiga e correta." (...)

Por outro lado, deu-nos notícias tristes do seu amigo Lino Bicari, que em 1970/71 era missionário do PIME (Pontifício Instituto das MIssões  Exterioes), em Bafatá.

(...) "Luís, recebi, talvez há duas horas, um telefonema da esposa do Lino Bicari, que só sei que se chama Fernanda [Maria Fernanda Dâmaso] , mas que conheço bem. Transmitiu-me que o Lino está internado no Hospital de Beja devido a doença oncológica e se encontra em estado muito grave, com uma perspectiva de vida muito curta. Fiquei triste, pois trata-se de um grande amigo, desde os tempos da Guiné e até ao presente. Lino Bicari é um homem extraordinário, raro sobre a face da terra." (...) 
 
O Arsénio Puim, ao tempo alferes graduado capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), sempre teve um grande apreço pelo Lino Bicari (e vice-versa):

(...) "Conhecemo-nos na Guiné em 1970 – era eu capelão militar em Bambadinca e ele era padre missionário em Bafatá – numa altura em que o capelão chefe, pe. Gamboa [, Pedro Maria da Costa de Sousa Melo de Gamboa Bandeira de Melo, ] promoveu um encontro durante dois dias dos capelães da Zona Leste – Bafatá, Bambadinca, Galomaro, Nova Lamego e Piche – precisamente na Casa dos Padres Missionários Italianos de Bafatá.

"Mais tarde voltei duas ou três vezes à Casa dos simpáticos missionários italianos, aproveitando sempre esta estadia para um reconfortante convívio sacerdotal e um renovar de forças no exercício da minha missão de capelão.

"Na sua simplicidade, Lino Bicari é sem dúvida um homem de altos ideais humanos e dum currículo muito rico, corajoso e autêntico. Desenvolveu uma acção profunda e muito válida ao serviço do povo da Guiné (e não só) concretamente na área do ensino e educação e da saúde, quer enquanto missionário quer, depois, sob a vigência do Partido e do Governo do PAIGC. Uma história de vida rara! " (...) 

2. O Arsénio e o Lino voltaram a encontrar-se quase meio século depois, ... nos Açores (***)

Há tempos o nosso camarada e amigo Abílio Machado  mandou-nos um link com uma pequena reportagem da RTP sobre a história de vida deste homem, luso-italiano, que vive em Alvito, Alentejo, desde 2015 (vídeo: 5' 03'')

https://www.rtp.pt/noticias/pais/padre-lino-bicari-professor-e-convertido-ao-paigc_v1565214

Sabemos que ele também doou ao Museu da Resistência e da Liberdade, no Aljube, o seu espólio (Fundo Lino Bicari)... onde tem documentação diversa, correspondência, publicações, recortes de jornais, etc.  

Andamos a ver e se encontramos algo de mais pessoal... que possamos publicar (temos a sua autorização).  E falta-nos, seguramente, testemunhos sobre a vida na Guiné-Bissau ao tempo do partido único. Mas também antes, da parte dos missionários estrangeiros, que passaram pela antiga Guiné portuguesa.

De qualquer modo,  o papel dos missionários italianos do PIME na Guiné tem já algum  destaque no nosso blogue... Sabemos que infelizmente não tiveram as "melhores relações" com as autoridades portuguesas, à época da guerra colonial na Guiné: três deles foram expulsos, Mário Faccioli, de Catió; António Grillo, de Bambadinca; e Salvatore Cammilleri, de Tite;  e eu deles, o Antonio Grillo, esteve inclusive preso durante 4 meses em Bissau e em Lisboa, acusado de "atividades subversivas".

O Lino Bicari e a sua família merecem, entretanto,  a nossa solidariedade neste transe difícil por que estão a passar (****)... Só podemos desejar o melhor para ele, esperançados também que no hospital de Beja, do Serviço Nacional de Saúde, se possam fazer milagres.

Obrigado, Arsénio, pelas tuas palavras amigas e solidárias. Continuarás sempre a ter a nossa estima, consideração, amizade e camaradagem. Tenho pena que o Lino Bicari já não tenha saúde para poder partilhar connosco os tempos que viveu, na Guiné, quer como  missionário (1967-1971) e depois como militante (não guerrilheiro) do PAIGC (1973-1987). Transmite à sua companheira as nossas melhores saudações.

_______________

Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 20 de outubro de  2018 > Guiné 61/74 - P19120: (De)Caras (121): O ex-padre italiano LIno Bicari foi meu professor em Bafatá, depois da independência, e casou com uma prima minha, Francisca Ulé Baldé, filha do antigo régulo de Sancorlã, Sambel Koio Baldé, fuzilado pelo PAIGC (Cherno Baldé, Bissau)

4 comentários:

Anónimo disse...

Apenas mais um erro de casting

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A opinião é livre, felizmente, o anonimato é que não... LG

Antº Rosinha disse...

Todas as missões,quer italianas, católicas, quer alemãs ou americanas em geral não católicas, eram anti-lusos, chamemos-lhe assim.

Quando viam um português por perto em geral viravam-lhe a cara.

Mas no caso dos italianos e alemães, agora que recolham os náufragos do mediterrâneo e das Canárias que os devolvam com saúde pelo menos os oriundos do país do Paigc.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os missionários do PIME (nomeadamente em Catió, Tite, Bambadinca...) tinham uma forte ligação aos balantas (mais facilmente "catequisáveis" do que outros grupos étnicos, vá-se lá saber porquê)... E os balantas por sua vez, e por erros históricos da administração portuguesa, foram a "carne para canhão" do Amílcar Cabral e do 'Nino' Vieira...