Guiné > Região de Bafatá >Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) > Finete > Elementos da 1.ª secção do 2.º Gr Comb da CCAÇ 12 , num patrulhamento ofensivo ao Mato Cão, para montagem de segurança à navegação do rio Geba Estreito >
"Eu, Fernando Andrade Sousa, à esquerda, na primeira fila, com a mala de primeiros socorros, e a minha G-3 (nunca usei pistola), com malta de da 1ª secção do 2º Gr Comb, da CCAÇ 12.
Além do Arménio Monteiro da Fonseca, de alcunha o "Campanhá" [que vive no Porto, em Campanhã], a secção era composta por: (i) soldado arvorado Alfa Baldé (Ap LGFog 3,7); e ainda os sold Samba Camará, Iéro Jaló, Cheval Baldé (Ap LGFog 8,9) [, à direita do Arménio), Aruna Baldé (Mun LGFog 8,9) [, à minha esquerda], Mamadú Bari, Sidi Jaló (Ap Dilagrama) (FF) [, dado como tendo sido fuzilado depois da independência], Mussa Seide, e Amadú Camará, todos fulas ou futa-fulas. Desta vez, o comandante de a secção foi o fur mil arm pes inf Henriques [o nosso editor, Luís Graça], de óculos escuros, ao lado do Arménio".
Foto (e legenda): © Fernando Andrade Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto (e legenda): © Fernando Andrade Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Crachá da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)
1. Cada Batalhão (Infantaria, Artilharia ou Cavalaria) ou deveria ter, segundo as famosas NEP que ninguém conhecia:
- quatro médicos (um por companhia);
- quatro sargentos enfermeiros (um por companhia);
- nove cabos auxiliares de enfermeiro (três por cada subunidade de quadrícula ou companhia operacional);
- quatro maqueiros (só a CCS).
Na prática isso não acontecia, ou só muito raramente, vinham sempre desfalcadas de médicos e de 1ºs cabos auxiliares de enfermeiro.
2. Pegando na História da Unidade do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74):
Constata-se que tinha 1 capelão (com o era a norma), mas não tinha médico quando chegou ao CTIG em 28/9/72 (o comando e a CCS) (com regresso a 27/9/1974).
Em comentário à publicação do álbum de Fernando Andrade Sousa que foi 1º cabo aux enf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, entre maio de 1969 e março de 1971), e mora na Trofa, já escrevemos aqui me tempo o seguinte:
É inacreditável como é que a CCAÇ 12, uma subunidade de intervenção, só tinha dois enfermeiros operacionais para alinhar no mato, aliás, dois 1ºs cabos aux enf, o Fernando Sousa e o Carlos Alberto Rentes dos Santos.
E este último só por pouco tempo, já que foi trabalhar como carpinteiro (!) no reordenamento de Nhabijões!...
Os alf mil medicos e os furrieis mil enfermeiros (como era o caso do nosso João Carreiro Martins, de resto já enfermeiro na vida civil ) não alinhavam no mato (!), sendo cada vez mais absorvidos pelas tarefas de prestação de cuidados de saúde às populações civis!... E não tinham mãos a medir!
Spínola parecia confiar apenas no HM 241, nos helicópteros da FAP e nas enfermeiras paraquedistas que vinham fazer as evacuações Ypsilon!...
A CCAÇ 12 tinham 24 operacionais (graduados e 1ºs cabos atiradores), metropolitanos, e uma centena de praças do recrutamento local, distribuídos por 4 grupos de combate, sem contar com os especialistas, metropolitanos (condutores auto, transmissões, enfermagem, etc., ao todo uns 60 elementos metropolitanos).
Último poste da série > 15 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27321: A nossa guerra em números (40): em 1967, no CTIG, existiam 76 tabancas em autodefesa, 350 com armamento distribuído, e 20 mil "mausers" (c. 12 mil em mãos de civis)
- a CCS levava um furriel enfermeiro;
- dois 1ºs cabos aux enf;
- e dois sold maqueiros;
- um fur mil enf;
- dois 1ºs cabos aux enf.
A 3ª tinha um fur enf, e um 1º cabo aux enf.
Este batalhão vinha, pois, desfalcado de pessoal sanitário. Pelos complementos e recomplementos, que constam da história da unidade, vê-se que o pessoal de saúde teria maior taxa de turnover ou rotação... O então havia já, na metrópole, escassez deste pessoal...
3. Um batalhão, a que eu estive adido (de julho de 1969 a maio ou junho de 1970), o BCaç 2852 (Bambadinca, 1968/70), parecia ter o quadro orgânico completo:
Das companhias de quadrícula, a CCAÇ 2404, CCAÇ 2405 e CCAÇ 2406, verifico, pela história da unidade, que todas estavam dotadas de:
3. Um batalhão, a que eu estive adido (de julho de 1969 a maio ou junho de 1970), o BCaç 2852 (Bambadinca, 1968/70), parecia ter o quadro orgânico completo:
- a CCS tinha 3 médicos (mas eu só conheci um; também não tinha capelão);
- dispunha de um fur enf + um 1º cabo aux enf + 2 sold maqueiros (e ainda um 1º cabo de análise e depósito de águas);
Das companhias de quadrícula, a CCAÇ 2404, CCAÇ 2405 e CCAÇ 2406, verifico, pela história da unidade, que todas estavam dotadas de:
- um fur enf;
- três 1ºs cabos aux enf.
- os soldados maqueiros só existiam nas CCS.
4. Outro batalhão, a que esteve adida a CCAÇ 12, o BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) tinha, a CCS:
- 2 alferes médicos (mas eu, em meados de 1970, só conheci um) (trazia também um capelão, o nosso amigo Arsénio Puim);
- 1 fur mil enf;
- 1 cabo aux enf;
- 4 soldados maqueiros;
- 1 cabo analista de águas.
As CART 2714 (Mansambo) e 2715 (Xime) tinham, cada um delas:
- 1 fur mil enf;
- 3 cabos aux enf.
A CART 2716 (Xitole) só dispunha originalmente de 1 fur mil enf + 2 cabos aux enf.
5. Descendo ao nível de uma subunidade, como a CCAÇ 12, companhia de recrutamento local, que foi subunidade de intervenção ao serviço do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1969/70) e depois do BART 2917 (Bambadinca, 1970/71)...
Em comentário à publicação do álbum de Fernando Andrade Sousa que foi 1º cabo aux enf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, entre maio de 1969 e março de 1971), e mora na Trofa, já escrevemos aqui me tempo o seguinte:
É inacreditável como é que a CCAÇ 12, uma subunidade de intervenção, só tinha dois enfermeiros operacionais para alinhar no mato, aliás, dois 1ºs cabos aux enf, o Fernando Sousa e o Carlos Alberto Rentes dos Santos.
E este último só por pouco tempo, já que foi trabalhar como carpinteiro (!) no reordenamento de Nhabijões!...
O 1º cabo aux enf José Maria S. Faleiro foi cedo evacuado para a metrópole, por doença infetocontagiosa (hepatite, segundo creio) e só muito mais tarde foi substituído pelo 1º cabo aux enf Fernando B. Gonçalves [de quem já nem me lembro a cara].
Os alf mil medicos e os furrieis mil enfermeiros (como era o caso do nosso João Carreiro Martins, de resto já enfermeiro na vida civil ) não alinhavam no mato (!), sendo cada vez mais absorvidos pelas tarefas de prestação de cuidados de saúde às populações civis!... E não tinham mãos a medir!
Spínola parecia confiar apenas no HM 241, nos helicópteros da FAP e nas enfermeiras paraquedistas que vinham fazer as evacuações Ypsilon!...
Mas é legítimo perguntar-se: quantos camaradas nossos não terão morrido por falta de primeiros socorros e reanimação no mato?!...
A vida ali contava-se ao segundo...
E nenhum de nós, graduados, capitão, alferes, furriéis ou cabos, tinha aprendido na academia militar, ou recruta e na especialidade (tratando-se de milicianos ou praças do cointingente geral) a fazer um simples garrote para estancar um ferimento de bala numa perna ou num braço!... Muito menos administrar um soro... Ou dar uma injeção de morfina!... É que os enfermeiros também eram alvos a abater, no caso de uma emboscada no mato...
Nunca vi ninguém protestar por esta insólita situação. Aliás, protestava-se pouco. A nossa geração nasceu já com a canga em cima! A malta comia e calava...
Nunca vi ninguém protestar por esta insólita situação. Aliás, protestava-se pouco. A nossa geração nasceu já com a canga em cima! A malta comia e calava...
A política "Por uma Guiné Melhor" levou Spínola a "canibalizar", literalmente, o seu próprio exército: alguns dos nossos melhores operacionais eram afetados a missões civis, como os reordenamentos, os postes militares escolares e os serviços de saúde! ... E mais: os nossos melhores operacionais (alferes e furrieis) iam para as "africanas"...
Spínola tinha pressa em "roubar" as populações ao PAIGC... Spínola sempre quis superar o Amílcar Cabral... Ficar na história da Guiné. E até de África. Não o deixaram, os capitães do MFA, fazer o referendo que ele tanto secretamente ambicionava. Não temos dúvidas que, taco a taco, ele ganharia ao Amílcar Cabral. Tinha os fulas e os manjacos e os felupes, a seu lado, e um parte dos balantas e mandingas e dos papéis. E a pouco e pouco reconquistaria o coração dos "guinéus". Era só uma questão de tempo... Mas ele tinha o tempo contra si!... Depois do 25 de Abril de 1974, já era tarde... demais.
Sim, Spínola queria conquistar os guinéus. Não pela força das armas mas pela força da razão e do coração. Ouvi este trocadilho por diversas vezes.
Com a melhor das intenções, seguramente, mas a verdade é que Spínola e os spinolistas acabaram por desfalcar as companhias que andavam na "porrada"...
Enfim, não sabemos o que se passava com as tropas especiais,que tinham outro estatuto e poder reivindicativo... Seria interessante saber como estavam organizados os serviços de saúde nos destacamentos de fuzileiros especiais, nas companhias de comandos, no BCP 12...
Mais: a CCAÇ 12 é obrigada a participar diretamente no "projecto de recuperação psicológica e promoção social da população dos Nhabijões", ao tempo do BCAÇ 2852 (e depois do BART 2917), fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelos operacionais:
Mais: a CCAÇ 12 é obrigada a participar diretamente no "projecto de recuperação psicológica e promoção social da população dos Nhabijões", ao tempo do BCAÇ 2852 (e depois do BART 2917), fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelos operacionais:
- alf mil António Carlão (cmdt do 2º Gr Comb, já falecido);
- fur mil at inf Joaquim M. A. Fernandes (cmdt da 1ª seção do 4º Gr Comb; será ferido numa mina /AC à porta do reordenamento, em 1371/1971);
- 1º cabo at inf Virgílio Encarnação (cmdt da 3ª seção do 4º Gr Comb);
- sold arv at int Alfa Baldé;
- (e adicionalmente) 0 sold cond auto Manuel Costa Soares (morreu na mesma mina A/C a 13/1/71 em Nhabijões).
Foram tirar o respectivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969, os quatro primeiros, estava a CCAÇ 12 há três meses em Bambadinca, às ordens dos "veteranos" do BCAÇ 2852...
Foram ainda requisitados à CCAÇ 12 dois carpinteiros, um 1º cab at inf (cujo nome ainda consegui saber) e próprio 1º cabo aux enf Carlos Albertos Rentes dos Santos.
A CCAÇ 12 tinham 24 operacionais (graduados e 1ºs cabos atiradores), metropolitanos, e uma centena de praças do recrutamento local, distribuídos por 4 grupos de combate, sem contar com os especialistas, metropolitanos (condutores auto, transmissões, enfermagem, etc., ao todo uns 60 elementos metropolitanos).
Os 4 elementos operacionais brancos que são retirados à companhia, representavam... um 1/6 do total!
Na prática, e durante muitos meses, o pobre do 1º cabo aux enf Fernando Andrade Sousa era o único a "alinhar no mato", dos 4 elementos iniciais da equipa de saúde!... (A CCAÇ 12 não tinha, de resto, soldados maqueiros; é possível que, por vezes, tenha alinhado o pessoal sanitário da CCS em operações a nível de batalhão.)
E o Fernando também tinha, além disso, de integrar as equipas de "ação psicossocial" (!), por exemplo, as visitas às tabancas, vacinação, etc....
Na prática, e durante muitos meses, o pobre do 1º cabo aux enf Fernando Andrade Sousa era o único a "alinhar no mato", dos 4 elementos iniciais da equipa de saúde!... (A CCAÇ 12 não tinha, de resto, soldados maqueiros; é possível que, por vezes, tenha alinhado o pessoal sanitário da CCS em operações a nível de batalhão.)
E o Fernando também tinha, além disso, de integrar as equipas de "ação psicossocial" (!), por exemplo, as visitas às tabancas, vacinação, etc....
E mais: ia todos os dias para o posto de saúde quando estava em Bambadinca!... E ainda foi destacado, dois ou três meses, no princípio de 1970, para o Xime da CART 2520, que estava sem enfermeiro!...
Em conclusão foram homens como o Fernando Andrade Sousa, "marca car*lho...",, como se diz no Norte, que seguraram as pontas desta "p*ta... de guerra"!...
Em conclusão foram homens como o Fernando Andrade Sousa, "marca car*lho...",, como se diz no Norte, que seguraram as pontas desta "p*ta... de guerra"!...
Julgo que levou, no fim, um louvor, averbado na caderneta militar, como seria, de resto, da mais elementar justiça!... Era o mínimo que o capitão lhe podia dar!
O Sousa vive na Trofa. E infelizmente não está bem de saúde. Já não me reconhece quando lhe telefono. Era o campeão dos convívios anuais. Até há uns anos atrás não faltava a nenhum. É uma dor de alma, amigos e camaradas!
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Nota do editor LG:
Último poste da série > 15 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27321: A nossa guerra em números (40): em 1967, no CTIG, existiam 76 tabancas em autodefesa, 350 com armamento distribuído, e 20 mil "mausers" (c. 12 mil em mãos de civis)
14 comentários:
Esses Enfermeiros da C.CAÇ. 12, como eu, passaram por muitos maus momentos na Guiné. Eu fui um deles na C.CAÇ. 13 Africana de Balantas em Bissorã onde fui colocado em 71 rendição individual e durante quase dois anos só uma vez estive cerca de um mês no chamado destacamento Tabanca "Outra Banda" para algum descanso, enquanto os quarto Pelotões se revezavam todos os meses. Acho que na C.CAÇ. 13 como enfº fui dos mais operacionais, como está escrito na minha Caderneta Militar. Sofremos mais as dores dos nossos Camaradas, que as nossas. Saúde e um grande abraço a todos.
A falta de especialistas, tanto como a falta de oficiais para comandar era, nos anos setenta um problema, porque os mancebos eram chamados para atiradores.
Em fins de 1973, alguém me aviso (não me recorda quem foi) que podria voltar a ser chamado para o Ultramar e focar colocado num Hospital para libertar gente para o mato. Todavia, aconselharam-me a me inscrever na Cruz Vermelha, que era uma forma de me safar.
Assim fiz. Um velhinho sargento da Cruz vermelha, aconselhou-me a não me inscrever, dado que não estava interessado em servir na CV.
Entretanto deu-se o 25.
Abraço
Zé teixeira
Zé, a tua observação parece-me pertinente.
O país estava a fazer um esforço brutal em três frentes. Em termos demográficos.
Era a falta de comandantes operacionais (Capitães, alferes, furrieis, cabos).
Era a falta de médicos e enfermeiros.
Era falta de atiradores.
Era a falta de atiradores.
Era a falta de armamento.
Era a falta de tudo
E sobretudo a falta de vontade em morrer e matar numa guerra já sem sentido.
A africanização da guerra diz tudo. 1 em cada 3 combatentes foram africanos. Imagina hoje.
Enterrámos todos a cabeça na areia.
Mas o Zé Povinho não era pago para pensar. Ontem como hoje.
A besta de carga, como dizia o Eça de Queiroz.
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