sábado, 31 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3823: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (I): Mafra, Janeiro de 1964

Cristóvão de Aguiar, em 27 de Novembro de 2008, na Biblioteca-Museu República e Resistência – Espaço Grandella, na apresentação da nova edição do seu livro Braço Tatuado.


Foto: José Martins (2008)


Luís CRISTOVÃO Dias de AGUIAR, nasceu em São Miguel, Açores, em 1940. Frequentou Filosofia Germânica, em Coimbra, curso que interrompeu para tirar o de oficiais milicianos. Em 1965 partiu para a Guiné. Regressado em 1967, depois de concluir o curso, deu aulas em Leiria e regressou a Coimbra para apresentar a sua tese de licenciatura, "O Puritanismo e a Letra Escarlate".

Foi redactor da revista Vértice, colaborador, depois do 25 de Abril, da Emissora Nacional com a "Rubrica da Imprensa Regional" e leitor de Língua Inglesa da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra.

A experiência da guerra forneceu-lhe material para um livro, incluído inicialmente em Ciclone de Setembro (1985), de que era uma das partes, e autonomizado mais tarde com o título O Braço Tatuado (1990).

Da sua obra, por diversas vezes premiada, destaca-se: Raiz Comovida I – A Semente e a Selva (1978); Relação de Bordo – Diário ou nem Tanto ou Talvez Muito Mais (1964-1988); Raiz Comovida – Trilogia Romanesca (2003); Trasfega – Casos e Contos (2003); Nova Relação de Bordo – Diário ou nem Tanto ou Talvez Muito Mais (2004) e Marilha (2005). (Adaptado por José Martins da badana do livro Braço Tatuado - edição de 2007 da D. Quixote).
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Iniciamos hoje a apresentação do Diário de Guerra, do Cristóvão de Aguiar, que nos foi enviado por intermédio do José Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70). Revisão e fixação do texto: vb


Diário de Guerra
Cristóvão de Aguiar


1964

Janeiro, 26Acabei de chegar.

O casarão do convento é tão frio e tão feio, que tenho o coração a doer e vontade de chorar. Quem me dera agora na Ilha, o ventre materno para onde volto sempre que me sinto aban­donado.

Durante a viagem de boleia de Coimbra para Lisboa, bem se esforçou o Carlos Can­dal, meu amigo e companheiro de República, por me animar. Está na tropa, na capital, e só amanhã vou principiar o Curso de Oficiais Milicianos. Fi­quei na ca­serna número quinze, no ter­ceiro piso, a maior de todas, de tecto abaulado e baixo.

Acabei de fazer a cama, como soube e pude. Segui atentamen­te a demons­tração de um habilidoso fur­riel que exibiu as suas capacidades domésticas com mãos rápidas e tarimbeiras para um grupo de novos cadetes que entraram na caserna, de­bai­xo de forma, para tomar posse do cacifo e do beliche. Também nos deu sá­bias instruções sobre disci­plina, la­trocínio de quartel e obediência.
Fiquei soldado-cadete número mil cento e catorze, barra ses­senta e quatro. De­pois de ar­ru­mar as minhas coisas e de mu­dar de roupa, fui até o Bar do Cadete, no piso do rés-do-chão, e lá encontrei o Ca­margo, que chegara na véspera. Já envergava o seu fato-macaco militar cor de azei­tona.

Os meus passos naqueles tú­neis perdiam-se de perdidos que estavam. E logo amaldiçoei o empreiteiro de tal enormidade arquitectónica e as ordens religiosas que ali se encafuavam praticando as piores patifarias em nome de uma fé codificada. Tanto eu como o Camargo parecía­mos dois fan­tasmas navegando por den­tro das bo­tas e do fato zuarte. Não ficámos na mesma ca­serna. Ele ficou na um, a an­tiga capela, junta­mente com o Nogueira e Silva. Ao Vítor Branco, ilhéu da Madeira, coube a dois, a mais pequena e a mais acon­che­gada das três. Foi-me apre­sentado pelo Ca­margo. Fazemos um molhi­nho de soli­darie­dade.




Mafra > Escola Prática de Infantaria (EPI) > 1968 > Cerimónia do Juramento de Bandeira > Desfile dos novos militares, frente ao Convento de Mafra, e onde se integrava o Paulo Raposo, futuro Alff Mil da CCAÇ 2405 (Mansoa e Dulombi, 1968/70).

Fonte: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados

Janeiro, 27Esta noite não preguei olho.

Acolhido na caserna com uma caterva de jovens como eu, senti, ao deitar-me, uma tristeza encharcando-me os ossos e um desânimo só semelhante ao da criança perdida dos pais por entre uma multidão de desconhecidos, numa feira ou num arraial de festa de padroeira. Mas, ali, na caserna, não havia altifalantes como nos re­cintos das festas para anunciar a criança perdida.

Ali, naquele enorme dormitório, com um nauseabundo odor a pés, a ventosidades sonoras e a outras sorrateiras mas enjoosas, estava mesmo perdido para sempre. Mesmo que de mim próprio fizesse um grito de terror. Um toque, ainda madrugada escura, estranho, fez-me levantar do leito da insónia. Era o toque da alvorada. Depois de far­dado, olhei-me de alto a baixo, e achei-me ridículo. Só não chorei por vergonha. Fiz a cama como quem escreve o a, e, i, o, u pela pri­meira vez. Estava ainda na pri­meira classe atrasada...

Mafra, Janeiro, 28Fiquei a pertencer ao quarto pelotão da terceira com­panhia de in­s­tru­ção.

O comandante da companhia, um tenente goês, é muito apa­ratoso nas con­ti­nên­cias. Parece um sinaleiro a apascentar o trânsito. Que mundo este!

O coman­dante do meu pelotão, o quarto da companhia, é um açoriano da Ilha Ter­ceira. Mas ainda não me dei a conhecer, nem deve ser preciso, que ele deve-me topar pela pro­núncia. Pelo que lhe já ouvi, deve ser um grande maluco e vai-nos decerto pôr a to­dos no mesmo es­tado. Já esteve em An­gola cum­prindo uma comissão e segundo consta fez lá das suas.

Hoje passámos o dia a aprender a fazer continência e a dis­tin­guir os postos. As aulas são na parada, com o pelotão formado em U. Aos supe­ri­o­res trata-se por meu. Meu isto, meu aquilo. Aos infe­riores, por nosso. O cade­te Carva­lhosa, que tira aponta­mentos do que ouve ao al­feres e está sempre muito atento à li­ção, como se estivesse nos bancos da Uni­versidade, passou a tratar o cabo lateiro da arre­cadação do material por meu cabo. O alferes foi aos arames com a atoarda. Nin­guém pode sair do quartel para a Vila, após a instrução - ainda não sabemos com­por­tar-nos militarmente. E não se sabe se vamos a fim-de-semana.

Janeiro, 29 – O comandante de pelotão mandou-nos formar.

E explicou-nos que a formatura era sagrada. Não se podia falar, mexer, rir ou sequer pensar. Creio, no entanto, que alguns pensaram. Depois afivelou uma cara de mau e afirmou que era proibido haver doentes. Só o médico poderia comprovar, porque as­sim determinava o Regulamento... Não está no Regulamento - era quanto bastava para se dar uma resposta menos regulamentar.

Janeiro, 30 – Escrevi-lhe para Coimbra uma longa carta.

An­tes de para aqui vir, estive com ela e outras colegas no bar da Faculdade de Medi­cina, mas não tive coragem de me declarar. Fi-lo há pouco numa longa carta que por acaso prin­cipiei a escrever ainda na República, a semana passada.

Se for a fim-de-semana, vou tentar encontrar-me com ela e hei-de obter uma res­posta. Mora num lar de freiras, ao lado da República. Não há-de ser difícil che­gar-lhe à fala. Ainda não cicatrizei a ferida da outra, a da Ilha, e já estou a meter-me noutra...

Hoje, na segunda hora de instrução, com o pelotão formado em U, a aula versou sobre o conceito de pátria, como vem nas fichas da instrução, que esclarecem que se deve apresentar aos instruendos significati­vos exemplos da nossa História para lhes incutir os verdadeiros valores.

O nosso alfe­res pegou no manual e principiou a ler: Temos, por exemplo, D. Duarte de Almeida, o decepado, o porta-bandeira ou alferes, que ofereceu com o seu gesto heróico um verdadeira lição de patriótico amor, abnegação e audácia.


Outro feito que dignifica as páginas doiradas da nossa História é o praticado por D. João de Castro, Vice-Rei da Índia, que num acto valoroso, cortou, como penhor, as venerandas barbas... E a pro­pósito, nossos cadetes, quero lembrar-vos que na formatura para terceira refeição vou passar revistas às barbas e cabelos...

Janeiro, 31 – Iniciámos de manhã o estudo da espingarda Mauser, que se di­vide em dez partes, a saber...

O alferes ia chamando os cadetes por or­dem numérica. Todos receberam a velha Mauser – "A vossa noiva, estimai-a como à vossa noiva..."

Saímos hoje para a Vila, depois da instrução da tarde na tapada. Mas não tivemos dis­pensa do recolher, nem da ter­ceira re­fei­ção. Foi pre­ciso fazer uma for­matura de saída. O oficial de dia veio-nos pas­sar mi­nu­ciosa re­vista. À barba, ao ca­belo, à graxa das botas ou dos sapa­tos da or­dem, ao vinco das calças da farda número um, aos botões da camisa e da farda! Dois cama­radas não fo­ram autorizados a sair. Tinham os pêlos da barba a arra­nhar.

Voltámos ao quartel an­tes da terceira refeição. Como estava a chuvis­car, fez-se a forma­tura para o jantar no corredor em frente do refeitório. Chama-se o corredor La Couture e nele andam jipes e outras viaturas mili­tares. Na forma­tura do recolher tinha tanto sono que cabeceava em pé, enquanto o sargen­to de dia lia a ordem, fazia a cha­mada e distribuía o correio.

O Magalhães rece­beu um telegrama da namorada, já aberto. O instruendo fazia anos. E o sar­gento, com ar de gozo, leu alto: Amo-te, stop, Mada­lena... Quando chegou ao meu número, pus-me em sentido e bati com os tacões das botas. Depois de ter man­dado destroçar, fui para a cama. Eram nove e pouco da noite. Nunca dormi tão bem em toda a minha vida.

(a continuar)

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Notas de vb:

1. Sublinhados do editor.

2. Artigos relacionados em

29 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3542: Memórias literárias da Guerra Colonial (11): Cristóvão de Aguiar na Biblioteca-Museu República. (José Martins)

25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3515: Memórias literárias da Guerra Colonial (10): Cristóvão de Aguiar na Biblioteca-Museu República, 5ª Feira, às 19h

Guiné 63/74 - P3822: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (2): Segurança alimentar (o mangal que dá de comer...) e turismo de saudade

Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o desenvolvimento > Foto da semana > 18 de Janeiro de 2009 O título desta foto, tirada ainda no tempo das chuvas (em Setembro de 2008) é muito apropriado ao tema que se tornou um dos principais motivos de preocupação e de intervenção dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento: refiro-me à segurança alimentar, tão fundamental para um país, como a nossa querida Guiné-Bissau, pobre e dependente, que saiu de uma guerra civil há uma década e que está a tentar construir a sua economia e a sua democracia...

Aprendo muito, sempre que visito a página da AD e procuro a sua foto da semana. A do dia 18 deste mês, é dedicada ao mangal. Aqui vai a legenda (escrita por alguém que conhece bem e ama a sua terra, as suas gentes, o seu património natural) (*):

"O mangal é um dos ecossistemas mais determinantes para a dieta alimentar das populações ribeirinhas, ao servir de viveiro para a desova e crescimento de peixes, caranguejos e camarões, importante fonte de proteína na alimentação das zonas lacustres do norte da Guiné-Bissau.

"Frequentemente são as mulheres que se deslocam em canoas através das rias para fazerem a pesca fluvial e procederem mesmo à colheita das ostras fixadas nas raízes do mangal, ou na recuperação do combé, um bivalve muito consumido nesta zona.

"Paralelamente, a beleza deste ecossistema é arrebatadora, nada substituindo um passeio de canoa nas curvas e contracurvas dos braços de mar".


Espero, entretanto, rever em Lisboa o nosso amigo Pepito, director executivo da AD, em meados do mês de Fevereiro. Daqui vai um abraço, com o comprimento de 4 mil quilómetros, para os nossos amigos e amigas que trabalham com ele, incluindo a Isabel Levy Ribeiro, sua esposa. E também para o Patrício Ribeiro, que parte no sábado para Bissau. Tive o privilégio de o conhecer pessoalmente e de conversar com ele, na 5ª feira, ao fim da tarde. Está há 25 anos na Guiné, onde tem uma empresa, a Impar Lda. É ele que tem espalhado os painéis solares que dão hoje energia eléctrica a muitos sítios da Guiné, desde hotéis, quartéis e centros de saúde.

Nascido em Angola, filho de pais portugueses, foi fuzileiro especial na sua terra, durante a guerra colonial. (E como dizem os fuzileiros, fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre). Conhece a Guiné como a palmas das suas mãos, as suas terras e as suas gentes. É um homem vivido e corajoso, mas discreto. Um apaixonado de África. Viveu intensamente a Guiné estes anos todos. Estava lá em 1998... (E se foi valiosa a sua experiência militar para muitos compatriotas nossos que tiveram de ser evacuados nessa altura,com apoio da embaixada portuguesa em Bissau!...). Entrou há dias, formalmente, para a nossa Tabanca Grande embora nos visite regularmente desde o início do nosso blogue praticamente (**).

O Patrício Ribeiro já me conhecia, diz ele, desde o Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008). Foi pena não termos tido oportunidade de conhecermo-nos pessoalmente. É também um colaborador (externo) da AD. Através do nosso blogue quer incentivar, entre os antigos combatentes portuguses, o turismo de saudade. A maior parte de vós, diz ele, estão agora na melhor altura da vida para regressar a Guiné, que é um país maravilhoso e que precisa do vosso apoio, como amigos turistas. Daqui a dez anos será muito mais complicado.

Levou um CD-ROM das cartas das ilhas que ainda não estão disponíveis no nosso blogue. Co um abraço meu e do Humberto Reis. Bom regresso, Patrício (***). E de vez em quando dá notícias tuas e dos demais amigos.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009) (Com a devida vénia...)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. primeiro poste desta série > 6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3573: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (1): Os elefantes voltam ao Cantanhez

(**) Vd. postes de:

29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)

5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1402: Um bom ano de 2007 a partir de Mejo, Guileje (Patrício Ribeiro)

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXII: Mais um amigo em Bissau (Patrício Ribeiro)

(***) Contactos do Patrício Ribeiro:

IMPAR Lda.

Av. Domingos Ramos 43D – C.P. 489 – Bissau, tel. / Fax 00 245 214385 – Guiné-Bissau

Lisboa , tel. / Fax 00 351 218966014 – Portugal
Mail: impar_bissau@hotmail.com

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3821: Convívios (94): III Encontro dos Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 7 de Março de 2009 (Carlos Vinhal)

Monumento alusivo ao grande naufrágio em Matosinhos na madrugada de 2 de Dezembro de 1947 (*)



Vai realizar-se no dia 7 de Março de 2009 o III Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos

Este Encontro é alargado a todos os ex-combatentes da Guiné que queiram confraternizar connosco.

A concentração terá lugar pelas 11 horas e 30 minutos, em frente da Câmara Municipal de Matosinhos, onde se fará a fotografia de família.

O almoço será servido no Salão de Festas do Restaurante Mauritânia, sito na Rua Mouzinho de Albuquerque, 115 em Matosinhos.

O preço do almoço é de 30 euros e será composto pelas habituais Entradas, Pratos de carne e peixe, Sobremesa, Café e Bolo Comemorativo. As bebidas estão incluídas. Ficaremos com a Sala à nossa disposição a tarde toda e teremos o habitual momento de Fado.

As inscrições podem ser feitas para:

Ribeiro Agostinho - 969 023 731
António Maria - 938 492 478
José Oliveira - 917 898 944
Carlos Vinhal - 916 032 220 e carlos.vinhal@gmail.com

A data limite das inscrições é o dia 28 de Fevereiro, mas quanto mais cedo se inscreverem, mais facilitam a vida aos organizadores.

No último Encontro tivemos o prazer de contar com imensas presenças de tertulianos do nosso Blogue, mesmo os dos concelhos vizinhos. Contamos convosco de novo este ano.

(*) Foto: © Jorge Teixeira (2009). Com a devida vénia. Direitos reservados.
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Notas de CV:

Vd. poste do II Encontro de 18 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2772: Convívios (54): II Encontro de ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, 12 de Abril de 2008 (Carlos Vinhal)

Vd. último poste da série de 27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3802: Convívios (92): I Encontro de militares da CART 2732, no Continente. 18 de Janeiro de 2009, Arruda dos Vinhos (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P3820: Blogoterapia (87) : O nosso (às vezes, triste) fado... (Joaquim Mexia Alves)

Fado da Guiné > Vídeo: 2 m e 19 s > Alojado no You Tube > Nhabijoes > Letra do Joaquim Mexias Alves. Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera) (com a devida vénia).
Vídeo: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

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Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3942 / BART 3873 > 1972 > O nosso autor e cantor Joaquim Mexia Alves... Além da CART 3942 (Xitole), o J. Mexia Alves comandou, como Alf Mil Op Esp o Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e e esteve ainda, na parte finald a sua comissão, na CCAÇ 15 (Mansoa).

Fado da Guiné

Letra (original): ©
Joaquim Mexia Alves (2007)
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)


Lembras-te bem daquele dia
Enquanto o barco partia
E tu morrias no cais.

Braço dado com a morte,
Enfrentavas tua sorte,
Abafando os teus ais.
(bis)

Dobrado o Equador,
Ficou para trás o amor
Que então em ti vivia.

Da vida tens outra margem
Onde o medo é coragem
E a noite se quer dia.
(bis)

Aqui estás mais uma vez,
Forte, leal, português,
Sempre de cabeça erguida.

Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida.
(bis)

Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,

Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.
(bis)

Joaquim Mexia Alves
Monte Real,
18 de Agosto de 2007

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, com data de 29 do corrente:

Meus caros Luís, Virgínio e Carlos

Desta vez é que vocês me mandam àquela parte. Que querem, é mais forte do que eu! Façam do texto o que quiserem, e estou a escrevê-lo com sinceridade, o que quiserem!

Abraço amigo do Joaquim Mexia Alves

2. Resposta do editor L.G.:

Obrigado, meu querido amigo e camarada Joaquim...
Sabes como são as polémicas... Tenho procurado gerir isto com pinças, mas não é fácil, há as susceptibiliddaes individuais... Por outro lado, toda a gente tem o direito de resposta...E tu tens o direito à indignação...

Vou publicar o teu texto, sem quaisquer problemas. Mas, em contrapartida, não vou deixar que fiques calado... É contra os nossos regulamentos...E quem cantará o fado da Guiné ? (...)
Um abração. Luís

3. Comentário do J. Mexia Alves:

Obrigado, Luís

O texto não tem a ver, digamos directamente com a polémica da retirada do Guileje, mas sim com um estado de espírito que me parece se instalou no país e que me incomoda e me parece ainda que nos estamos a deixar embarcar nele.

Não é contra nem a favor do Nuno Rubim, nem do António Matos, nem do Coutinho Lima, nem de ninguém!

É quanto a mim uma constatação do que se vai passando.

Se leres atentamente por exemplo o que já se escreveu sobre a batalha de Gadamael, quase se chega à conclusão que a perdemos, quando foi exactamente o contrário.

É um "grito de alma"!

Não nos atiremos mais para baixo!

Abraço amigo do
Joaquim

4. Resposta do editor L.G.:

Joaquim: Tem calma... Tomei boa nota das tuas correcções ao texto.

Hoje é o pior dia do ano para te chateares comigo... Faço 62 anos e estiva dar aulas toda a amanhã, com putos maravilhosos, incluindo filhas da Guiné, russas, portuguesas de Paris, filhos de Freixo de Espada a Cinta, de Vinhais, de Reguengos de Monsaraz, de Leiria, de Lisboa, do Porto, filhos/as do mundo, nossos/as filhos/as da diáspora (portuguesa), filhos/as de fora e de dentro....

E depois não me chateio facilmente com os amigos que considero do peito. Tu já és um eles, um amigo do pós-Guiné, com raízes na Guiné, no Mato Cão, no Geba, no Udunduma, no Xitole... Mesmo que digas que não, contarei sempre contigo. Tentarei ser imparcial com os amigos. Nem sempre é fácil. Mas diz-me se já alguma vez me recusei a publicar-te alguma coisa ?

Vá, fica bem. Luís


5. Rápida resposta do J. Mexia Alves, na volta do correio:


Ó meu caro Luís! Parabéns, homem, que tenhas um dia maravilhoso é o que te desejo!

Conheces-me, mas ainda não me conheces! Não estou nem um bocadinho chateado contigo, nem com ninguém!

Por isso lhe chamei um desabafo, ou seja, não tem nada a ver com actos específicos mas sim com uma maneira de estar dos portugueses, comigo incluído, que nos puxa para baixo em vez de ser para cima.

Lógico que sei que tu publicas o que escrevo e que todos escrevem, mas quis colocar-te perfeitamente à vontade.

Quando eu digo que não contam comigo, é para continuar a falar de "derrotas", etc. Agora podes ter a certeza que não se "livram de mim" com facilidade...eheheheh

Que fique bem claro que não estou chateado com ninguém e muito menos contigo.


6. Finalmente... o texto do Joaquim Mexia Alves, que funcionou como caixinha de Pandora (e é por isso que temos esta série chamada Blogoterapia): [Negritos do editor] (*)

Meus caros camarigos:

Li com atenção a resposta do Nuno Rubim (**) ao António Martins de Matos e não faço comentários.

Digo apenas, que para mim, não confio grandemente nas informações vindas do lado do PAIGC, nem nos seus documentos, porque me parece que ainda vivem um pouco na propaganda.
Se não, vejamos.

Nós expomo-nos aqui permanentemente, mostrando as nossas fraquezas e as nossas forças, os nossos medos e as nossas coragens, os nossos mortos e os nossos feridos, e do outro lado, pelo menos pelo que tenho visto, só chegam auto-elogios, declarações vitoriosas, e nem uma só assunção de dificuldades causadas por nós, claro, de baixas, de retiradas estratégicas ou não, enfim, no fundo a verdade das coisas.

E isto leva-me a pensar, e é essa a primeira razão deste meu escrito, que é mais um desabafo, do que uma teoria, ou tese, na forma como nós Portugueses encaramos a nossa história.

Sirvo-me do texto do Nuno Rubim, com todo o respeito e consideração, que aliás tenho por todos, (faço questão de não distinguir ninguém), para perguntar porque é que raio, nós, os Portugueses, temos tendência para procurarmos aquilo que não nos é favorável, em detrimento do que nos exalta, do que faz de nós a Nação mais antiga da Europa com fronteiras definidas e uma História que nos devia orgulhar?

Porque é que raio, em tantos anos de guerra da Guiné, em tantas acções de guerra, em tantas batalhas que nos foram favoráveis, se escolhe a retirada do Guileje para estudo, (o que não quer dizer que não se estude), se deslocam ex-combatentes das Forças Armadas Portuguesas à Guiné para um simpósio feito no local que o PAIGC erigiu como sua vitória, dando-lhe até uma conotação de vitória final, como se tivesse sido esse acontecimento que tivesse levado ao fim a guerra da Guiné?

Sejamos claros, a guerra acabou, felizmente e ainda bem, porque em Portugal houve uma revolução, golpe de estado, chamem-lhe o que quiserem, que colocou fim a um regime que defendia a guerra como solução.

Claro que a guerra, ou melhor o cansaço da guerra, contribuiu para essa revolução, mas não foi motivo único e talvez nem o principal, e aqui refiro-me à adesão do povo português ao 25 de Abril.

Já vimos o Manoel de Oliveira fazer um filme, que afinal praticamente apenas mostra ou tenta mostrar derrotas portuguesas e que em certa medida ridiculariza os soldados portugueses na guerra de África.

Temos historiadores procurando denodadamente falhas na nossa história, para tentar provar que afinal não fomos esse povo tão cheio de visão estratégica que “deu novos mundos ao mundo”.

Parece-me até que, se Luís de Camões vivesse hoje, os Lusíadas relatariam em verso as desgraças portuguesas, como por exemplo:

“As armas e os brazões já desbotados

Que da ocidental praia lusidia

Não se atreveram nos mares já navegados

Nunca passaram além da Trafaria.”


Nada do que é nosso presta, só julgamos bom o que vem de fora.

Votamos mentalmente nos Obamas, vamo-nos queixando do estado do país, mas nada fazemos para verdadeiramente mudarmos as coisas.

Comprazamo-nos até, quando os relatórios estrangeiros dizem que o país cai a pique, olhando para quem está ao nosso lado e muito ufanos dizemos: «Vês como eu tinha razão. Eu não te disse!»

Parecemos cães feridos e abandonados na rua, a lamberem as feridas uns aos outros.

Claro que devemos e temos de fazer a história da guerra da Guiné, pois fomos nós que lá estivemos, mas caramba, temos sempre de falar das nossas derrotas.

Já uma vez o disse e volto a repetir: São milhares de portugueses que naqueles anos, mesmo que sem ser por vontade própria, deram parte das suas vidas, quando não foi mesmo a sua vida inteira, e agora nós procuramos dizer-lhes que os outros é que eram bons, é que sabiam tudo, e que afinal o que eles andaram a fazer não tinha valor nenhum?

A reconciliação só se faz verdadeiramente quando os antigos oponentes se aceitam mutuamente, com todas as suas virtudes e defeitos, e não uns alcandorarem-se a uma atitude vitoriosa e os outros ajudarem-nos nessa intenção. Quando ambos contam a verdade, mesmo a verdade, e não apenas e só um dos lados a conta e a analisa.
Sei que este texto é polémico e, se calhar, sai do âmbito da nossa Tabanca Grande, mas a verdade, pelo menos para mim, é que Portugal se afunda numa teia de política, (não me refiro ao governo, mas à política em geral), se esbate num “politicamente correcto”, se esgota em discussões intermináveis, sobretudo sobre o que nos amargura e não sobre o que nos ajuda a levantar a cabeça e nos dá forças e orgulho para voltarmos a ser a Nação que “deu novos mundos ao mundo”.

Para isso, e a partir de agora, não contam comigo.

Meus caros editores façam deste texto o que entenderem, mesmo que seja “arquivarem-no” no lixo!

Sempre com todos, num forte abraço camarigo o

Joaquim Mexia Alves

7. Comentário do Nuno Rubim, a meu pedido:

Luís: A pergunta, ou melhor, o desabafo do camarada Joaquim Alves tem realmente alguma razão de ser.

Mas, abreviando (porque a resposta seria longa ) apenas vou dizer o seguinte:

Nestes anos todos que tenho investigado sobre a nossa história militar, tenho-me, como é perfeitamente natural, confrontado com situações em que constato (isto é, faço um juízo de valor) acontecimentos que me causam um certo orgulho de ser português, outros não. Mas isso não interessará a ninguém.

O que eu pretendo é obter dados que me permitam analisar factualmente determinadas situações e expô-las sem tecer comentários ou um mínimo possível. Os recipientes dessa informação é que poderão, ou não, tirar conclusões.

De resto, estou sempre disponível, e bem sabes disso, a trocar impressões
directamente com qualquer camarada que o deseje. Mas num fórum como o blogue limito-me a expor o resultado do meu trabalho e porventura explicitar mais aprofundadamente qualquer dúvida surgida na minha exposição.

Ou, como foi um caso recente, responder a uma intervenção que se referia
a mim, destituída de qualquer fundamento histórico e portanto obrigando-me,
a contra-gosto, a reagir.

Espero, sinceramente, que situações destas não se voltem a repetir.

Para terminar direi (e isto é um juízo de valor !) que a intervenção do BCP 12 em Gadamael foi um importante e notável feito de armas que, associado também a limitações já averiguadas por parte do PAIGC, impediu a sua queda.

Nuno Rubim


7. Comentário final de J. Mexia Alves:

Hoje temos tido correspondência aturada!

Peço-te que transmitas ao Nuno Rubim que nem de longo nem de perto quis criticar o seu trabalho, que entendo.

Mas foi como que a "gota de água" que encheu o copo que já estava a transbordar.

Temos de deixar de procurar razões para no entristecermos, ou então, por cada uma que encontrarmos, encontremos duas para nos alegrarmos.

Ainda por cima com a "tristeza", (para não dizer pior), que anda a nossa política!

Nunca em momento algum da minha vida, tive vergonha de ser Português, e ainda continuo a ter orgulho em sê-lo, mas que andam a "tentar" lá isso andam.

Uma abraço camarigo para o Nuno Rubim e outro mais uma vez cheio de parabéns para ti do Joaquim


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Notas de L.G.

(*) Vd. os últimos dez postes desta série, Blogoterapia:

21 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3771: Blogoterapia (86): Recordações da Guiné, nem sempre as melhores (António Carvalho)

21 de Janeiro de 2009 Guiné 63/74 - P3766: Blogoterapia (85): Para que a História seja verídica (José Martins)

22 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3661: Blogoterapia (84): Vai-te embora, tuga dum carago! (José Teixeira)

19 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3652: Blogoterapia (83): Voltamos a pôr a Ana (e o José...) a sorrir, na nossa fotogaleria (Luís Graça)


18 de Dezembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3648: Blogoterapia (82): Pensar em voz alta: Guileje ainda é cedo, Saiegh 18/12/78: foi há trinta anos...(Torcato Mendonça)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3605: Blogoterapia (81): Sempre gostei do meu país mas nem de todos os que cá vivem (António Santos)

5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3566: Blogoterapia (80): Um elogio vindo da Bélgica (Soldado Carvalho / Santos Oliveira)

26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3525: Blogoterapia (79): Gabriel, Cruz de Guerra na Guiné, coveiro na freguesia...(V. Briote)

26 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3522: Blogoterapia (78): Abrir uma mala de pano...(António Matos)

25 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3517: Blogoterapia (77): Pensar em voz alta (Torcato Mendonça)

(**) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

Guiné 63/74 - P3819: Em busca de... (63): Camaradas e cadastro da CART 676 (Liberal Correia/José Martins)

1. Mensagem de Liberal Correia, ex-Fur Mil da CART 676, com data de 4 de Dezembro de 2008:

Camaradas, as minhas saudações a todos da grande tabanca.

Fiz parte da Cart 676 com a patente (esta é forte) de Furriel Miliciano.
Estive em intervenção adestrito ao BCAÇ 600 de Abril a Setembro de 1964. Depois fomos colocados em Pirada, Bajocunda e Paunca.

Neste momento estou no estrangeiro e não tenho o meu arquivo comigo. Não poderei enviar fotos. Gostaria que me ajudassem a encontrar algum camarada da minha Unidade.
Como a malta foi mobilizada pelo RAP2 -Serra do Pilar - Gaia, a maioria é do Norte. Há uns anos encontrei o Primeiro Sargento Machado que era de Vila Real e três soldados mais o Vilaça da Póvoa de Varzim. Depois perdi o rasto. Procurei por duas vezes o Capitão (hoje Coronel) Álvaro Seco em Coimbra, mas nunca o consegui encontrar. Procurei também o Alferes Geraldes em Viana do Castelo e não consegui nada de concreto.

Já agora, uma pergunta. É possível consultar o cadastro da CART 676 nos Serviços do Exército? Quando regressar aos Açores contarei algumas histórias. Se tiver arte e engenho.

No UIGE também embarcam um ou mais Pelotões de Morteiros. Será que era o 916 do Sargento Oliveira?

Por hoje com abraço de camardagem do
Furriel Miliciano
CART 676
Liberal Correia


2. Companhia de Artilharia n.º 676
José Martins

Mobilizada no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2, em Vila Nova de Gaia, embarcou em Lisboa em 08 de Maio de 1964. Era comandada pelo Capitão de Artilharia Álvaro dos Santos Carvalho Seco e ostentava como divisa “A Força do Nosso Pelotão é Bem a Razão da Nossa Força”.

Tendo desembarcado em Bissau no dia 13 de Maio de 1964, ficou integrada no dispositivo de manobra do BCAÇ 600. Foi atribuída a outros Batalhões para a execução de operações em várias regiões da zona Sul, contando-se entre eles o BArt 619, entre 05 e 15 de Agosto de 1964 na região de Cufar-Cobumba; BCaç 599, entre 17 e 19 de Agosto de 1964, na região de Jabadá e Gampará; CDMG (Comando da Defesa Marítima da Guiné) entre 19 e 21 de Setembro de 1964, na região do Cantanhez.

Cedeu dois Pelotões ao BCaç 506 para reforçar o sector de Bafatá, tendo sido instalado em Pirada e Paúnca, sendo substituída em Bissau pela CCaç 726 em 14 de Outubro de 1964.

Em 29 de Outubro de 1964 foi transferida para Pirada, tendo ocupado o destacamento de Bajocunda com um Pelotão, substituindo a 3.ª CCaç que ali se encontrava instalada. O Pelotão ali instalado foi rendido pela CCav704, ali colocada aquando da criação do subsector de Bajocunda em 11 de Março de 1965.

Rendida no subsector de Pirada pela CCaç 1496, em 11 de Abril de 1966, recolheu a Bissau a fim de aguardar embarque, o que aconteceu em 27 de Abril de 1967.

Os mortos da subunidade:

DAVID NEVES DA SILVA, Soldado Atirador n.º 286/63, integrado na Companhia de Artilharia n.º 676, mobilizado no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 em Vila Nova de Gaia, natural da freguesia de Silvalde, concelho de Espinho, casado com Maria Madalena Mais dos Reis, filho de Manuel Fernando da Silva e Laurinda de Oliveira Neves, faleceu em Pirada em 14 de Fevereiro de 1965, vítima de ferimentos em combate. Foi inumado no Cemitério Municipal de Espinho.

ANTÓNIO DOS SANTOS LUNA, Soldado Atirador n.º 2399/64, integrado na Companhia de Artilharia n.º 676, mobilizado no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 em Vila Nova de Gaia, natural da freguesia de Horta, concelho de Vila Nova de Foz Côa, solteiro, filho de Manuel Joaquim Luna e Laura dos Prazeres Graça, faleceu na povoação de Fasse em 02 de Maio de 1965, vítima de acidente, por afogamento no Rio Geba. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3813: Em busca de... (62): Referências à CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Guiné, 1967/69 e à morte do Cap Artur Nunes (José Martins)

Guiné 63/74 - P3818: Apontamentos sobre Guileje e Gadamael (Manuel Reis) (1): Gadamael, eu te amo, eu te odeio



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/74) > O Alf Mil Manuel Reis, gozando as delícias do sistema... Duas Fotos tiradas em 1973, seguramente antes de 22 de Maio de 1973 (data de retirada das NT para Gadamael)...

Fotos: © Manuel Reis (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do Manuel Augusto Reis, que vive em Aveiro (*):

Amigo Luís:

Agora passo a enviar alguns folhetins, pequenos episódios que presenciei ou partilhei durante a minha presença na Guiné e que nos momentos de ócio aproveitava para transpor para o papel. São episódios verídicos, em que apenas me limitei, por vezes, a ocultar a identidade dos participantes.

GADAMAEL-PORTO, EU TE AMO, EU TE ODEIO

Na vala recordo os dias alegres da infância, os tempos de boémia coimbrã e a ti Isabel.

Chove, troveja.

Não, não é um trovão, alerta o João.

Deito-me na vala, o mundo parece desabar.

Outra saída, outra e mais outra….

Ouço gemidos, o João calara-se para sempre.

É manhã. Ai o café quente do Mandarim!

Os rebentamentos não param.

Abdulai, nosso guia de Guileje, chora os nossos mortos

com palavras sentidas e comoventes.

Na vala refilo, protesto, com palavras obscenas contra tudo e contra todos.

Abdulai, o nosso guia, o nosso amigo, morreu.


Manuel Reis
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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

24 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

Guiné 63/74 - P3817: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (4): Unidades de coordenação na Zona Leste


4ª e última parte do trabalho de pesquisa do José Martins (ex-Fur Mil, Trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70)

(iii) Unidades de coordenação:

COMANDO DE AGRUPAMENTO Nº 24 (COM AGR 24, 1965/67)

Mobilizado no Regimento de Artilharia Anti Aérea Fixa, em Queluz, desembarcou em Bissau em 28 de Abril de 1965, deslocando-se para Bafatá em 18 de Maio de 1965 e assumindo o comando e coordenação dos batalhões instalados nos sectores de Bafatá, Nova Lamego e Fá Mandinga em 01 de Junho de 1965.

Foi rendido em 07 de Fevereiro de 1967 pelo Comando de Agrupamento nº 1980, recolhendo a Bissau e regressando à metrópole em 08 de Fevereiro de 1967.

COMANDO DE AGRUPAMENTO Nº 1980 (COM AGR 1980, 1967/68)

Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, em Lisboa, que desembarcou em Bissau em 6 de Fevereiro de 1967, deslocando-se para Bafatá e assumindo o comando e coordenação dos batalhões instalados nos sectores de Bafatá, Nova Lamego e Bambadinca em 7 de Fevereiro de 1967.

Foi rendido em 18 de Novembro de 1968 pelo Comando de Agrupamento nº 2957, recolhendo a Bissau e regressando à metrópole em 19 de Novembro de 1968.

COMANDO DE AGRUPAMENTO Nº 2957 (COM AGR 2957, 1968/70)

Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, em Lisboa, que desembarcou em Bissau em 15 de Novembro de 1968, deslocando-se para Bafatá e assumindo o comando e coordenação dos batalhões instalados nos sectores de Bafatá, Nova Lamego e Bambadinca em 7 de Fevereiro de 1967. Foram incluídos na zona à sua responsabilidade os sectores de Piche em 24 de Novembro de 1968 e Galomaro em 7 de Novembro de 1969.

Entre 11 de Março e 11 de Outubro, e de 26 de Julho a 6 de Novembro de 1969, integrou sob a sua coordenação o Comando Operacional nº 5 e o Comando Operacional nº 7, criados transitória mente na Zona Leste. Também integrou o Comando Operacional Temporário nº 1, criado em 26 de Junho de 1970.

Já na fase de sobreposição com o Comando de Agrupamento nº 2970, passou a integrar o Comando de Agrupamento Operacional Leste, criado por despacho ministerial de 20 de Junho de 1970.

COMANDO DE AGRUPAMENTO Nº 2970 (COM AGR 2970, 1970)

Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, em Lisboa, que desembarcou em Bissau em 24 de Julho de 1970, deslocando-se para Bafatá para render o Comando de Agrupamento nº 2957, mas foi extinto em 1 de Agosto de 1970 por alteração orgânica no dispositivo operacional. Os seus elementos foram integrados no Comando de Agrupamento Operacional Leste.

COMANDO DE AGRUPAMENTO OPERACIONAL LESTE

Criado de acordo com o despacho ministerial de 20 de Junho de 1970, integrou os elementos dos Comando de Agrupamento nº 2957 e 2970, sendo o seu pessoal nomeado em rendição individual.
A 22 de Agosto de 1970 passa a designar-se por Comando de Agrupamento Operacional nº 2, mantendo a sede em Bafatá e integrando os sectores de Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego e Galomaro.

Em 12 de Novembro de 1971 passa a integrar o sector de Pirada, então criado.

Em 3 de Dezembro de 1970 estabelece um escalão avançado em Nova Lamego ao qual, em 31 desse mesmo mês, se juntam os restantes elementos, completando assim o deslocamento para esta cidade.

Durante a retracção das nossas tropas deslocou-se 22 de Agosto de 1974 para Bafatá, em 6 de Setembro de 1974 para Bambadinca. Chegado a Bissau em 9 de Setembro de 1974, foi extinto.

Nas páginas finais, a que o autor chama O reverso da medalha, retiro algumas frases que deixo, como preito de respeito, carinho, saudade e solidariedade, aos que nele são mencionados:

Muitas foram as Mães que perderam os filhos!
Muitas foram as Esposas que perderam os seus Maridos!
Muitas foram as Crianças que ficaram órfãs!
Muitos foram os Jovens que perderam a vida ou ficaram mutilados!


José da Silva Marcelino Martins
josesmmartins@sapo.pt

Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria
Companhia de Caçadores nº 5 – CTIGuiné
Nova Lamego e Canjadude - Jun1968 a Jun1970
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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda
e
28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3810: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (3): Unidades de comando em Bajocunda

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)


Guiné > Bissalanca > BA12 > 1974 > O então Ten Pilav Miguel Pessoa... Uns meses antes, em 25 de Março de 1973, num domingo e em pleno dia, o aquartelamento de Guileje fora duramente atacado durante cerca de hora e meia. Foram usados foguetões 122 mm. A parelha de Fiat G-91 que estava de alerta em Bissalanca, nesse dia e hora, veio em apoio de fogo. A aeronave do Miguel Pessoa, que vinha à frente, foi atingida por um Strella, sob os céus de Guileje... Foi o primeiro Fiat G-91, na história da guerra da Guiné, a ser abatido pela nova arma, fornecida pelos soviéticos ao PAIGC, o míssil terra-ar SAM-7 Strella (de resto, já usada e testada na guerra do Vietname)... O Ten Pil Miguel Pessoa conseguiu, felizmente, ejectar-se. Vinte quatro horas depois, era resgatado, são e salvo, pelo grupo de operações especiais do Marcelino da Mata, conforme se pode ler numa das cartas do nosso amigo e camarada J. Casimiro Carvalho, já aqui publicadas na série Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) ... (1)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Finais de 1995 > O antigo Ten Pilav Miguel Pessoa, junto ao que restava então da porta de armas do antigo aquartelamento de Guileje...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Finais de 1995 > O que restava então da parada de Guileje e do monumento com o pau da bandeira. Eis o que ainda se podia ler, inscrito na pedra: "Vencer sem perigo é triunfar sem glória. Homenagem da CCAÇ 3325 aos seus mortos e feridos e aos portugueses de todas as cores, raças e credos que tombaram em defesa da Pátria". A CCAÇ 3325 esteve em Guileje de Fevereiro a Dezembro de 1971.

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Finais de 1995 > Vestígios da açoriana CCAÇ 3477 (1971/77), Os Gringos de Guileje > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... O Culto de Santo Cristo estava bem patente na lápida, onde se ainda se podia ler: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açoreanos (sic)"...




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Finais de 1995 > Imagens do antigo aquartelamento das NT, obtidas por Miguel Pessoa, quando ali passou uma semana, na sequência da gravação de um documentário sobre Guileje, realizado por José Manuel Saraiva para a SIC (Grande Reportagem, SIC, 30 de Maio de 1996 - "De Guileje a Gadamael: o corredor da morte").

Estas fotos podem ser facilmente comparadas com algumas, que temos disponíveis, da época, com militares ou elementos de identificação das das três últimas unidades de quadrícula que estiveram em Guileje: a CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971), os Gringos de Guileje (CCAÇ 3477, Dez 1971 / Dez 1972) e os Piratas de Guileje (CCAV 8350, Dez 1972/Mai 1973) (Vd. fotos abaixo, no corpo do texto, alinhadas à esquerda, em tamanho pequeno).

O Miguel Pessoa integrou a comitiva da SIC que fez filmagens en Guileje, em finais de 1995. Como se pode ler no livro de Coutinho e Lima (A retirada de Guileje, Linda a Velha, DG Edições, 2008, pp. 355-357), nessa comitiva, chefiada pelo jornalista José Manuel Saraiva, iam os seguintes antigos militares portugueses, além dele, Coutinho e Lima, e do Miguel Pessoa, a antiga enfermeira pára-quedista Giselda Antunes (actual esposa do Cor Pil Av Miguel Pessoa), o Ten Cor Pára-quedista João Bessa (na altura, em Novembro de 1969 comandava, como capitão, uma subunidade de pára-quedistas, do BCP 12, que emboscou e capturou o Cap Cubano Pedro Peralta) e ainda o Dr. Manuel Reis (ex-Alf Mil da CCAV 8350, a unidade de quadrícula que retirou de Guileje em 22 de Maio de 1973, e que pertencia ao COP 5, comandado pelo então maj Art Coutinho e Lima).
Fotos: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados.

1. Mensagem, com data de ontem, do Cor Pilav Ref Miguel Pessoa (vd. foto do lado esquerdo, de finais de 1995, tirada em Guileje):

Assunto - Nos céus do Guileje e não só... (2)

[Subtítulos e negritos da responsabilidade do editor, L.G.]

Caro Luís Graça

A publicação do livro do Cor Coutinho e Lima sobre a retirada do Guileje (3) e os subsequentes comentários que sobre esta matéria têm inundado este blogue conseguiram de certa moda tirar-me da inércia que tenho mantido sobre um assunto que tenho considerado demasiado íntimo e difícil de partilhar. E desengane-se quem pensa que isso vai mudar...


(i) Ten Pil em Bissalanca, BA12, de 18 de novembro de 1972 a 14 de Agosto de 1974

Mas porque, como muitos dos frequentadores deste blogue, dedicamos um carinho especial a um momento difícil das nossas vidas nessa longínqua Guiné, gostaria de partilhar algumas imagens do Guileje que tive a oportunidade de fixar no ano de 1995, quando ali passei uma semana, envolvido na gravação de um documentário sobre o Guileje, realizado por José Manuel Saraiva para a RTP.

Para começar, apresento as minhas credenciais: Miguel Pessoa, à data Tenente-Piloto-Aviador do Quadro Permanente da Força Aérea. Cumpri a comissão na Guiné no período de 18NOV72 a 14AGO74, com um intervalo passado em Lisboa (entre 7ABR73 e início de AGO73) para recuperar das mazelas sofridas quando da minha ejecção de Fiat G91, depois de atingido por um SAM-7 Strella durante um apoio de fogo ao aquartelamento do Guileje.


À chegada ao Teatro de Operações estava apenas qualificado para voar o Fiat G-91 mas rapidamente o saudoso Ten Cor Almeida Brito ministrou-me um curso intensivo de DO-27 que me habilitou a operar este avião por todas as pistas ali existentes (64, se bem me lembro, que as contei na minha carta de voo). Assim, até Abril de 1973 dividi a minha actividade de voo entre o Fiat G-91 (1/3 das horas) e o Do-27 (os restantes 2/3).

A partir daí e até ao fim da comissão a minha actividade de voo foi essencialmente feita no Fiat G-91.



(ii) A recuperar de uma perna partida e de uma compressão das vértebras...


Tem piada que por esta hora já vou adiantado na conversa mas ainda não te mostrei as fotografias... Também não me parece que esteja a falar para os leitores do Blogue pois, como inicialmente referi, não é matéria sobre a qual goste muito de falar. Assim, parece que te escolhi para interlocutor (ou ouvinte). Ou, pensando melhor, parece-me que afinal estou a falar para mim, que isto de guardar cá dentro todas as emoções que sentimos naquele período é coisa que cansa, principalmente quando se trata de matéria politicamente incorrecta e a que muita gente torce o nariz.

À custa das fotografias já estou a alongar-me. Mas parece-me que vou continuar...

Pelas datas que acima refiro se pode dizer que não estou minimamente habilitado para falar sobre a retirada do Guileje, que no difícil período de Abril e Maio de 1973 estava eu a recuperar de uma perna partida e de uma compressão das vértebras (perdi 2cms de altura...), que isto de se trabalhar sentado também não é tão fácil como pode parecer. Mas sobre o Guileje só posso dizer que a coisa já não estava boa em Março pois naquele dia (um domingo, 25) eu estava lá para fazer um apoio de fogo ao aquartelamento, na sequência de um flagelamento do IN.

Sobre as peripécias desse dia e do período até Abril de 1974 poderei eventualmente pronunciar-me no futuro, que não agora.

Apenas algumas palavras sobre comentários que tenho retirado de diversas intervenções no blogue, e que me parecem menos correctas.


(iii) Cada um de nós, nos três ramos das Forças Armadas Portuguesas fez o seu melhor


Primeiro que tudo, evitarei fazer juízos de valor sobre atitudes/comportamentos de outros intervenientes naquele conflito, de um lado e do outro; por isso, também não me caiem bem os bota-abaixo sobre a Força Aérea que tenho lido, da parte de pessoas que não estarão habilitadas para o fazer, por não disporem de todos os dados do problema.

Acredito, sim, que na maior parte das vezes todos nós (dos 3 ramos) fizemos o melhor que podíamos, tendo em conta as nossas limitações no número e qualidade dos meios à disposição e o grau de motivação que nos animava (o que variava de sítio para sítio).

Dizer da inoperância da Força Aérea é fácil, principalmente qundo somos nós os afectados - nas Urgências também sucede que somos deixados para mais tarde quando é necessário atender outros que estão piores que nós - e de certeza que nos vamos queixar.

Lembro-me de ter contabilizado à volta de 400 missões que efectuei na Guiné, mesmo com o interregno da minha recuperação no continente/metrópole/Portugal (escolher a palavra preferida, que essas discussões já começam a cansar-me). E o mesmo se terá passado com os outros pilotos. Se isso foi deixar de voar, O.K.!

Reconheço que os apoios de fogo se tornaram mais difíceis de fazer dado o facto de se utilizarem novos parâmetros de voo - altitudes de entrada e de largada do armamento mais elevadas, o que diminuía a precisão (acrescida da nossa preocupação de não acertar nos nossos, ponto de honra de todos os pilotos), bem como o facto - que até agora suponho não ter sido referido - de a recuperação dos passes ter que que ser feita com um aperto mínimo de 4 G's, mas que normalmente rondava os 6, 6,5G's (6 a 6,5 vezes a aceleração da gravidade).

Isto implicava factores de carga tão elevados no avião que obrigava o piloto a largar as bombas todas no mesmo passe, sob risco de ultrapassar os limites estruturais do Fiat, danificando-o (isto no melhor dos casos...).

Lembro-me de ter-se começado a verificar corrosão prematura nos rebites nas asas e na cauda, o que, aprofundado, se verificou ser resultante de longarinas rachadas, derivadas desses apertos constantes em todos os voos. E a verdade é que qundo tive Strellas atrás de mim, não me lembro de olhar para o acelerómetro (g-meter) para ver quantos g's é que estava a meter no avião para me safar...

Isto limitava naturalmente a capacidade de ataques pontuais sucessivos, como os nossos camaradas no terreno pretenderiam. Tal foi um pouco compensado com a utilização de armamento mais potente (as tais bombas de 750 lbs), o que, por si, justificava o uso de altitudes maiores de recuperação, para mantermos o avião fora do envelope das explosões (alcance dos estilhaços). E, logicamente, este material não poderia ser largado tão próximo das NT como anteriormente.

(iv) O regresso a Guileje, em 1995...

Acabado este desabafo, vamos então às fotografias... É interessante que, olhando a fotografia do aquartelamento publicada no blogue, se realçam os campos abertos que permitiam às NT ver uma eventual aproximação do IN e a nós, pilotos, poder fazer uma boa aproximação ao aquartelamento e dispor de um espaço razoável para "pôr o estojo no chão". E, claro, tirá-lo de lá depois...

Não foi nada disso que pude observar no local quando lá voltei em 1995 - por terra, claro... Aliás o monte de baga-baga que está numa das fotos, ao pé da porta d'armas, está no enfiamento da antiga pista (desaparecida). O espaço acimentado que mostro noutra fotografia foi outrora a placa de helicópteros (usada por mim em 26MAR73, quando daí fui evacuado para Bissau).

Agora, na realidade, a placa está muito mais agradável pois dispõe de amplas sombras que lhe são fornecidas pela majestosa vegetação que ali prolifera pelo meio do cimento, com 10 ou 15 metros de altura (e 20 anos de crescimento selvagem, à data).

Finalmente, uma foto com monumentos que ficaram no aquartelamento e que dali não foram retirados pelo PAIGC, embora antes da nossa chegada estivessem cobertos pelo capim que ali existia - o qual foi limpo a mando da produção, para permitir a realização do documentário.

E por aqui fico, que a carta vai longa e já ultrapassou em muito o que eu tinha planeado.

Sobre o seu conteúdo, farás dele uso do modo que achares mais conveniente, com a eventual omissão de partes do texto que consideres não ter interesse para publicação.

Saudações a todos os ex-combatentes (*) da Guiné e às respectivas famílias, que tanto sofreram com a sua ausência.

Um abraço fraterno
Miguel Pessoa
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Nota de M.P.:

* Refiro-me a todos os que foram mobilizados para a Guiné, que isto de combater, cada um fá-lo da maneira que pode e sabe, e nas funções para que está mais habilitado.
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2. Comentário de L.G.:

Mandam as boas regras de convívio da nossa Tabanca Grande, ou tertúlia, ou caserna virtual, - como tu queiras - , que te saúde, que te deseje as boas vindas. É sempre uma honra receber, no nosso blogue, mais um novo camarada da Guiné. És um camarada da FAP. E tens a particularidade de ter sido literalmente strellado nos céus da Guiné, ma região de Guileje. Strellado ma non troppo... (Desculpa, o neologismo e o humor negro...). Felizmente... Sei que os tipos do PAIGC fizeram uma festa (vd. o filme-documentário As Duas Faces da Guerra). Felizmente também que o PAIGG deixava muito a desejar em matéria de pontaria. Felizmente para todos nós. Infelizmente, nesse dia, acertaram(-te). Agora, imagino que foi um momento único, terrível, para ti... Terrível, dificilmente descritível. Deves ter sentido, a roçar a tua pele, o beijo da morte. Muitos de nós passaram por experiências-limite, de algum modo semelhantes. Em terra, no ar, no mar. Por isso não faz absolutamente nenhum sentido a eventual arrogância de uns ou de outros, desta ou daquele arma.

Felizmente, e como era timbre entre nós, ninguém te deixou para trás. E hoje aqui estás, com menos dois centímetros de altura, é certo, mas vivinho da costa, a falar com uma naturalidade e uma simplicidade quase desconcertantes deste acidente de percurso da tua vida militar...
Por pudor, não falas deste episódio, do momento exacto em que sentiste o impacto do Strellla e dos teus reflexos de grande piloto, ao ejectares-te. Por pudor, não falas da noite (de angústia) que deves ter passado no mato, com uma perna partida... Por pudor, não falas dos camaradas (incluindo a Giselda) que que te salvaram...

Não te vou chamar herói, por que tu és tão de carne e osso como eu, como todos nós... Não sei, de resto, o que é um herói. Nem tenho o poder de os nomear. Esse poder é dos deuses. Mas fico muito feliz por ti, por todos nós... Mais: fico orgulhoso de ti, por te conhecer, mais de perto, como um camarada... Para mim, o Miguel Pessoa a partir de agora tem um rosto, no nosso blogue, e uma história contada na primeira pessoa do singular...

Há uma cumplicidade, há um química, que nos toca a todos, os que fizeram (mal ou bem) a guerra da Guiné... Isso está acima de armas e de postos, está acima das nossas afinidades, do que pensavámos daquela guerra, das nossas idiossincrasias, da nossa motivação (ou falta dela) para a fazer aquela guerra ... Isso para mim é hoje acessório... Teres sido projectado, na tua GMC, a vários metros de altura por uma mina anticarro ou teres sido strellado, e ejectado do teu Fiat G-91 - POR ALGUÉM QUE TE QUIS MATAR!!! - é uma experiência única, brutal, que te marca para o resto da vida... A mim marcou-me. Não posso, todavia, odiar quem me quis matar. Nunca ripostei. Mas admito que a generalidade dos ou alguns dos meus camaradas precisassem de odiar para sobreviver... Não sei se foi o teu caso, não me interessa sabê-lo: há coisas que nunca contaremos a ninguém e que irão para debaixo da terra connosco, porque fazem parte íntrinseca dos nossos restos mortais... Há fantasmas que nunca iremos exorcitar completamente... Há explicações que nunca daremos a ninguém... Há emoções que nunca conseguiremos transmitir em suporte de papel ou em suporte digital... Há memórias que vão mnorrer com connosco...

Tudo isto para te dizer: camarada, junta-te a nós, senta-te aqui no meio da Tabanca Grande, debaixo do frondoso e centenário poilão, e conta-nos as tuas histórias, as histórias dos bravos de Bissalanca... LG

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

19 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74 - P1675: 28 de Março e 5 de Abril de 1973: cinco aeronaves da FAP abatidas pelos toscos mísseis terra-ar SAM-7 Strella (Victor Barata)

17 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74 - P1668: In Memoriam do piloto aviador Baltazar da Silva e de outros portugueses com asas de pássaro (António da Graça Abreu / Luís Graça)

25 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

(...) Guileje, 25/3/73

(...) Hoje, domingo, aniversário: 5 meses de Guiné (...). Dia 25, 13 horas: o aquartelamento de Guileje foi flagelado com foguetões e granadas de canhão sem recuo, caindo perto, e a mais próxima a cerca de 15 m do arame farpado. Rápida defesa do mesmo aquartelamento, com fogo de artilharia e de mort 10,7 cm (1). E pedido imediato de caças-bombardeiros Fiat, tendo vindo um, o qual depois de várias voltas seguiu para o objectivo, não voltando nunca mais.

Bissau, Comando-Chefe, estranhando a demora e o mutismo do piloto, manda outro Fiat (milhares de contos cada um)... Faz reconhecimento à zona, avistando o avião caído dentro de mata densa e perto o piloto fazendo sinal de very-light, mas não podendo ser recolhido.

Logo de seguida deslocaram-se de Bissau para Guileje 2 aviões-bombardeiros pesados DC-6. Seguidamente dirigiu-se, também, para cá um helicanhão, aterrando no heliporto para seguir depois para Cufar. O ataque de fogo dos turras aqui durou cerca de 1 hora, intervalando o fogo. Pensa-se que isto é represália pelos feridos e possível morto ou mortos que lhes provocámos por meio de minas, como já contei.

Durante toda a tarde não houve mais nada a assinalar, e o jantar decorreu normalmente (...)

(...) Nunca na história da Guiné (pelo menos) tinha caído um caça a jacto Fiat. Isto é uma alegria para os turras, pois só havia 3 ou 4 Fiats aqui na Guiné.

Junto envio uma foto tirada junto ao morteiro que me está distribuído, em caso de ataque (...).

Guileje, 27/3/73

(...) O resto da história do ataque ao nosso quartel: o piloto do Fiat (5) estava vivo mas perto do carreiro da morte e em mata densa, porque se viu um ou dois very-lights que se deduziu terem sido disparados por ele.

Portanto, no dia 25, como estávamos para sair, mas houve ordem em contrário, deitei-me. Passada meia-hora, veio o nosso alferes e disse para estarmos prontos às 4.30h da manhã, com bornal, ração de combate (a primeira vez que a comi em Guileje) e água.

Saímos e entrámos na mata sempre a andar por caminhos sinuosos, só mata densa com lianas e troncos a fazer-nos tropeçar. Até dizíamos mal da nossa vida... Eu levava uma lata de leite, uma lata de chocolate, uma de fruta, uma de sumol, uma de lanche, uma de sardinhas, marmelada, queijo, pão e cantil de água, um rádio, espingarda, cartucheiras, 100 balas, uma granada de fumo... Isto tudo numa balança era de assustar, e durante 9 horas de mata cerrada... Ainda se fosse por estrada, essas nove horas pareceriam 3 ou 4.

Por cima de nós andavam os caças-bombardeiros Fiats, bombardeiros pesados, (?) helicópteros, avionetas e um avião de reconhecimento. Desceram na mata 2 grupos de paraquedistas, um grupo de operações especiais - Marcelino e o seu grupo - e nós, que já lá estávamos...

Passado pouco tempo os Op Esp encontraram o homem e disseram-lhe (estava sentado à beira de uma árvore):
- Vamos embora. - Ao que ele respondeu (pensando que eles eram turras, pois são todos pretos e com armas turras):
- Não vou nada, ides-vos cozer [foder], matem-me já, que eu não saio daqui. - Então disseram-lhe:
- Sou o Marcelino.

E aí ele parece que ressuscitou. Meteram-no num heli donde seguiu até Bissau.

Os mais sacrificados fomos nós quando regressámos, já sem água, cansados, a cair, por meio da mata. Deus me livre. (...)

(2) Vd. último poste da série > 27 de Janeiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)

(3) Vd. último poste da série > 29 de Janeiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

Guiné 63/74 - P3815: Quatro considerações, a propósito dos Postes 3788 e 3789 (Vasco da Gama)

1. Mensagem de Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74, com data de 26 de Janeiro de 2009:

Eu, devagarinho, vou contando a história da minha querida Companhia de Cavalaria 8351, OS TIGRES DO CUMBIJÃ (*), e enquanto o propósito a que me obriguei não estiver na sua totalidade cumprido, não entro em grandes discussões académicas, mas fá-lo-ei sem qualquer rebuço e com quem quer que seja, acerca do que vivi e sei, chegado que seja o momento oportuno.

No próximo capítulo escrevinharei acerca do assalto a Nhacobá que possivelmente ocupará mais do que um texto da história da minha Companhia. Estou com dificuldades em arrancar dada a vivência do mês de Maio de 1973.

Então porque não te calas?

Apenas e só porque na visita diária que, religiosamente, faço ao nosso blogue se fala no CUMBIJÃ dos TIGRES. Onde? POSTES 3788 e 3789 (**) do alferes Manuel Reis da CCav 8350, que tive o prazer de reencontrar no lançamento do livro do Coronel Coutinho e Lima.

Ao meu camarada das lutas da Guiné e face ao exposto no seu texto, quatro considerações:

1. Estando a vossa Companhia já em Gadamael, afirmas no teu texto e passo a citar: - No dia 4 de Junho 11 (onze) militares mal armados, saem para o mato pressionados pelo novo comandante da CCav 8350 e são emboscados a 500 (quinhentos) metros do arame. Podes dizer-nos quem era este comandante? (Os extensos são meus)

2. Depois de todas as tragédias no Guileje e em Gadamael a CCav 8350 veio para o Cumbijã, julgo que no dia nove do mês de Novembro de 1973. Conviveram connosco, patrulhavam juntamente com os meus Tigres e eram comandados na altura pelo Capitão Reis, do Quadro Permanente, de quem guardo a melhor das impressões como ser humano. Veio a ser substituído pelo também oficial do Quadro e meu bom amigo Capitão Vieira que esteve presente no lançamento do tão falado livro do Coronel Coutinho e Lima. (As comissões da malta do Quadro eram mais curtas do que as nossas... A brincar a brincar ainda falo do macaco cão...)

3. Os Tigres do Cumbijã embarcaram para Bissau a bordo da LDG de seu nome BOMBARDA a 27 de Junho de 1974, sem que tivessem tido a visita de qualquer elemento do PAIGC. Avistei uma vez um grupo de combate junto à estrada quando comandava a coluna do Cumbijã para o Quebo.

4. Fico muito contente ao ver-te chegar à Tabanca da qual faço parte há pouco tempo, e estou muito curioso em ler os teus futuros escritos sobre o percurso da tua Companhia para além de Guileje e de Gadamael abordando, passo a citar: - As dificuldades que tivemos de ultrapassar, no são convívio com as populações e no processo de descolonização em Cumbijã (fim de citação). Julgo que nos diálogos verbais que mantiveste com o PAIGC, teriam eventualmente falado sobre a minha Companhia que duma zona povoada de minas, sofrendo inúmeros ataques ao aquartelamento, vivendo em barracas de lona e construindo pelos seus próprios meios valas de protecção e habitações com o mínimo de dignidade, assaltando Nhacobá, fazendo colunas diárias a Aldeia, ou protegendo Buba/Aldeia, com umas dezenas de contactos de fogachal, devia ter merecido da parte deles algum comentário. É uma parte da história da minha Companhia que me falha e nunca entendi qual foi a razão que impediu o PAIGC de ter confraternizado com OS TIGRES após o 25 de Abril, como o fez em tantos outros lados. Sei que esperou a nossa saída...

Meu caro Reis, tenho algumas fotografias do Cumbijã com oficiais e sargentos dos Piratas de Guileje, mas, infelizmente não consigo identificar-te. No momento oportuno farei publicá-las no Blogue.

Até sempre
Vasco da Gama
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Notas de CV

(*) Vd. poste de 20 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3765: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (7): A visita do General Spínola

(**) Vd. postes de 24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

Guiné 63/74 - P3814: Blogues da Nossa Blogosfera (15): Companhia de Transportes 2642 - Guiné 69/71 (José Pereira Santos)

1. Mensagem de José Pereira Santos, com data de 26 de Fevereiro de 2008

Olá Amigo Luís Graça

Antes de mais quero felicitar o amigo pelo excelente Blogue que vai mantendo sobre a Guiné.

Enviei em tempos o endereço do meu modesto site sobre a Companhia de Transportes 2642, que esteve na Guiné entre 69/71 - o endereço é - http://ct2642.no.sapo.pt/.

Como não encontro no vosso blogue a ligação ao meu site, agradecia, se não houver inconveniente uma hiperligação.

Agradecendo desde já a atenção prestada, receba entretanto a minha admiração pelo trabalho que está a desenvolver no seu Blogue sobre tempos de Guiné.

José Pereira Santos
Ex-militar da ct2642
Peso - Covilhã



2. Do site da CT 2642 recolhemos a identificação desta Unidade, com a devida vénia.

Identificação:

Companhia de Transportes 2642

Unidade Mob: GCTA - Lisboa Cmdt: Cap SGE José Curto Divisa: "Omnia per Omnia Portans"

Partida: Embarque em 15Nov69; desembarque em 21Nov69 - Regresso: Embarque em 03Out71

Síntese da Actividade Operacional

Ficou colocada em Bissau, na dependência da Chefia do Serviço de Transportes, tendo substituído a CTransp 2348, a partir de 22Nov69.

Executou colunas de apoio logístico a unidades, de transporte de forças desembarcadas ou a embarcar e de forças para a execução ou regresso de operações, participando ainda em transportes de materiais para construção de estradas, pistas e reordenamentos populacionais.

Em 08Set71, foi rendida pela CTransp 3433, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações

Tem História da Unidade (Caixa n.º - 2.a Div/4.a Sec, do AHM).

Resenha Histórico – Militar das Campanhas de África (1961-1974) - 7º Volume – Tomo II

Edição do Estado - Maior do Exército


3. Comentário de CV

Pedimos imensa desculpa ao nosso camarada José Santos por esta sua mensagem ter ficado até agora sem dar seguimento. Reparamos hoje a nossa falta, procedendo de imediato à hiperligação solicitada.
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 26 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3796: Blogues da Nossa Blogosfera (14): "CART 2732" criado e gerido por Inácio Silva (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P3813: Em busca de... (62): Referências à CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Guiné, 1967/69 e à morte do Cap Artur Nunes (José Martins)

1. Mensagem de António Teixeira Mota, com data de 13 de Janeiro último, enviada ao nosso camarada e colaborador José Martins:

Na sequência do Documentário "Morrer pela Pátria", editado pela TVI no seu Jornal Nacional de 28 de Dezembro último, recebi um contacto de um amigo, meu camarada nos Pupilos do Exército cujo sogro faleceu na Guiné a 16 de Fevereiro de 1968 e era o Comandante da Companhia de Caçadores n.º 1788, a qual fazia parte do Batalhão de Caçadores n.º 1932. De seu nome Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes.

Chegou esta Companhia e respectivo Batalhão à Guiné em Outubro de 1967 (não posso precisar o dia de embarque em Lisboa nem o dia de chegada à província). O Capitão Artur Nunes faleceu a 16 de Fevereiro de 1968, em combate por accionamento de uma armadilha do inimigo.

Faleceram neste accionamento dois militares da mesma Companhia (o Capitão Artur Nunes e o Furriel José Santos Pereira). Esta informação recolhi do 8.º Volume, Tomo II, Livro I da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), Mortos em Campanha (Guiné) e que possuo em casa.

O Capitão Artur Nunes está referenciado, além de outras, na lista dos mortos da Guerra Colonial, nascidos em Angola, no site:

  http://ultramar.terraweb.biz/03Mortos%20na%20Guerra%20do%20Ultramar/1MEC_Ang.pdf

Aquilo que lhe venho por este meio solicitar é o especial favor de consultar o 7.º Volume, Tomo II da Resenha - Fichas das Unidades - Guiné, e ver se existe alguma informação complementar em relação à CCaç 1788 e em relação à morte do capitão Artur Nunes em particular, uma vez que não possuo este livro, ou caso possuo outra fonte de informação onde se possa encontrar referência à actividade operacional que causou esta baixa em combate, informe-me por favor. Desde já grato pela sua sempre prestável colaboração, apresento os meus cumprimentos.

Um abraço
António Teixeira Mota


2. Resposta do José Martins, em mail de 23 de Janeiro:

Caro António:

Conforme prometi, e ainda que com atraso devido a afazeres profissionais, junto um texto sobre a CCAÇ 1788, com base no texto publicado no 7.º Volume da Comissão de Estudos para as Campanhas de África.

Mais elementos sobre esta Companhia podem ser obtidos no Arquivo Histórico Militar, na História da Unidade que se encontra na Caixa 76 - 2.ª Divisão - 4.ª Secção.
Esse documento era de elaboração obrigatória, mas, normalmente, era organizado de forma resumida.

Outra forma de obter mais elementos, será pelo testemunho de algum que tivesse pertencido a essa Unidade e tenha presenciado o facto.

Por isso, o texto que anexo, segue também para o blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, com o intuito de, com a sua publicação, incentivar algum camarada a escrever sobre este acontecimento.

Um abraço
José Martins


3. Companhia de Caçadores 1788 (1967/69)

(elementos compilados por José Martins)

Foi mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 15, em Tomar, sendo uma Unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 1932. Completavam o Batalhão, além da Companhia de Comando e Serviços, as Companhias de Caçadores n.ºs 1787 e 1789. Estas Unidades tinham como divisa “Vontade e Valor

Embarcaram em Lisboa a 28 de Outubro de 1967 e chegaram a Bissau em 02 de Novembro de 1967.

Sob o comando do Capitão de Infantaria Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes, deslocou-se para Contubuel em 6 de Novembro de 1967 para, além de efectuar a adaptação operacional, reforçar o Batalhão de Cavalaria 1905, até 7 de Dezembro de 1967, em operações realizadas na região de Caresse, regressando depois a Bissau, onde ficou como Unidade de Intervenção e Reserva do Comando Chefe.

Foi cedida pelo Comando Chefe ao Batalhão de Cavalaria 1915, no período de 22 de Dezembro de 1967 a 5 de Janeiro de 2008, para a realização de operações na região de Insumeté-Choquemone.

Em 11 de Janeiro de 1968 segue para Cabedú, rendendo a Companhia de Artilharia 1614, assumindo a responsabilidade do subsector, integrando o dispositivo de manobra do Batalhão de Artilharia 1913.

Foi transferida para Catió, por troca com a Companhia de Artilharia 1689, mantendo-se na zona de acção do BArt 1614, mas na situação de intervenção e reserva, efectuando operações nas regiões de Cabolol Balanta e Cobumba.

Por extinção do subsector de Cabedú, destaca dois Pelotões para este aquartelamento, em 30 de Julho de 1968. Recolhe a Bissau em 17 de Fevereiro do 1969, tendo sido substituída pela Companhia de Artilharia 2476.

[No dia anterior a esta substituição, foi quando se deu o infausto acontecimento da morte do Capitão e do Furriel Miliciano José dos Santos Pereira, pelo accionamento de uma armadilha inimiga, na estrada da ponte, em Cabedu.]

A fim de reforçar a actividade de contrapenetração no corredor de Lamel, foi colocada em 26 de Fevereiro de 1969 em Farim, ficando na dependência do Comando Operacional 3 (COP 3) e guarnecendo o destacamento de Salequinhedim.

[Foi nesta fase que o Capitão Geraldes Nunes foi substituído pelo Capitão de Infantaria Luís Andrade de Barros.]

É substituída pela Companhia de Caçadores 2548 em 4 de Agosto de 1969, recolhe a Bissau e embarca de regresso à Metrópole em 20 de Agosto de 1969.

Mortos

(i) ARTUR CARNEIRO GERALDES NUNES, Capitão de Infantaria n.º 51395811:
Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 15 em Tomar, comandava a Companhia de Caçadores n.º 1788, subunidade do Batalhão de Infantaria n.º 1932.

Era natural da freguesia de São José do Lubango, concelho do Lubango, em Angola. Era casado com Lígia Teresinha Pires da Costa Nunes, filho de Manuel Nunes e Maria das Dores Carneiro Geraldes de Miranda Nunes.

Faleceu em combate em 16 de Fevereiro de 1968, aquando do accionamento de uma armadilha IN, na estrada da ponte em Cabedú.

Está inumado no Cemitério da Irmandade do Senhor do Bonfim e Boa Morte no Porto.

(ii) JOSÉ DOS SANTOS PEREIRA, Furriel Miliciano Atirador n.º 8564465, foi mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 15 em Tomar e integrava a Companhia de Caçadores n.º 1788, subunidade do Batalhão de Infantaria n.º 1932.

Era natural da freguesia de Ceira, concelho de Coimbra. Era solteiro, filho de Manuel Pereira Nova e Isabel Clara.

Faleceu em combate em 16 de Fevereiro de 1968, aquando do accionamento de uma armadilha IN, na estrada da ponte em Cabedú.

Está inumado no Cemitério Paroquial de Ceira.


4. Comentário de CV

Se algum dos nossos tertulianos tiver elementos mais concretos sobre as fatídicas mortes dos nossos camaradas Cap Artur Nunes e Fur Mil José dos Santos Ferreira, façam o favor de nos chegar essas informações (ou directamente para o Zé Martins) para que possam ser encaminhadas para o nosso amigo António Teixeira Mota, filho do nosso malogrado camarada Teixeira da Mota, falecido em combate em Angola (*).
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2651: História de vida (11): A Luta Incessante de António Teixeira Mota

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3731: Em busca de... (61): O Capitão José Curto, comandante da CCAÇ 153 (Fulacunda, 1961/1963) (José Martins)