quinta-feira, 17 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6609: Controvérsias (87): Nô Pintcha, Vamos P'rá Frente, Guiné-Bissau! (Carlos Silva, membro da ONGD Ajuda Amiga)



Guiné-Bissau > s/d > Amílcar Cabral e a sua mensagem revolucionária, Nô Pintcha  (título posterior de semanário guineense, de informação geral,  fundado em 1975 e dirigido por Simão Abina)... Em crioulo, a expressão "Nô Pintcha" quer dizer Vamos dar um empurrão, vamos para a frente...

Fonte: Sítio Xico Nhoca (com a devida vénia...)


1. Comentário do nosso camarada e amigo Carlos Silva, com data de 4 do corrente, ao poste P6525:

 Já agora, transcrevo do poste anterior, as palavras do Fernando Gouveia, na Guiné, Março de 2010:

"Como tenho vindo a referir ao longo destes relatos, além de muitos guineenses, incluindo antigos guerrilheiros, também este dirigente manifestou a ideia de que com Portugal estariam bem melhor do que na realidade estão."

" Sem qualquer nostalgia pelo colonialismo, que existiu e não se pode branquear, ai tenente coronel Benazol, ai Tangomau, aliás Mário Beja Santos! Abraço. Graça Abreu".

A propósito desta invocação/transcrição que o nosso camarada Graça Abreu faz de parte do Poste 6525 do nosso camarada Fernando Gouveia, sobre relatos que tem vindo a fazer aqui no blogue relativamente à sua viagem em Março que antecedeu uns dias da minha, tenho a dizer com todo o respeito que tenho por ambos meus amigos, que não ponho em causa a frase/afirmação do lamento que ele, Fernando Gouveia, ouviu do tal dirigente com quem conversou.

Lamentações dessas, ouço às milhares, quer na Guiné, ao longo das minhas visitas que faço aquele País irmão, quer aqui em Portugal da boca dos elementos que integram a diáspora guineense, bem como, tenho ouvido da boca de muitos outros, incluindo responsáveis …. Dizer que: (i) Portugal enquanto País ex-colonizador, deveria assumir a administração ou os destinos da Guiné; (ii) a Guiné não se desenvolveu desde a independência; (ii)  regrediu 40 anos, o que significa um atraso de 80 anos no seu desenvolvimento, etc. etc. etc.

Enfim…. Muitas lamentações, que dariam para "escrevinhar muita coisa" mas que não cabe aqui desenvolver nem através de um Poste.

Apenas quero chamar à atenção, que temos de conhecer a realidade guineense, o que me parece, sem ofensa, que a maioria dos bloguistas não conhece.

Que a lamentação invocada/transcrita – lamentações ouvidas – resultam da situação difícil quer económica, social e política, situação real que infelizmente aquele País irmão se encontra e não há meio de sair daquele marasmo.

Mas a Guiné, como significa a expressão "Nô Pintcha", vai dar um salto em frente, vai para a frente, os guineenses têm essa esperança.

Com isto quero dizer e é a minha interpretação e análise da realidade, que a mencionada frase transcrita não traduz uma vontade de ser português, de sentimento ou de nacionalismo português, pois os guineenses assumem-se como tal e querem ser independentes como Nação e País Soberano [Vejam a resposta que deram no conflito político-militar 98/99].

As razões ou fundamentos das lamentações que invocam, resultam apenas da situação sócio-económica em que se encontram, incluindo a maioria dos elementos que adquiriram a nacionalidade portuguesa por naturalização, pois mesmo esses, sentem-se guineenses e não portugueses, e não é/foi o estatuto formal que lhes é/foi concedido que lhes alterou tal sentimento.

Enfim, como acima referi, haveria muito para dizer sobre esta matéria, mas não é esta a sede própria para se discutir esta situação.

Presentemente, se colocassem meios de transporte à disposição dos guinenseses que se encontram na Guiné, para virem para Portugal, ou para outro País desenvolvido, com certeza que a maioria sairia de lá, mas à procura de melhores condições de vida e não por querer abandonar a sua terra.

Com este comentário, também quero reiterar que é necessário conhecer a realidade, concreta deste povo irmão, isto também, para reforçar a ideia, que há dias deixei num Poste em resposta a outra observação relativa à "língua portuguesa estar em perigo na Guiné".

Com um abraço amigo

Carlos Silva
ex-Fur Mil
CCaç 2548/Bat Caç 2879
Farim (1969/71)
Ajuda Amiga

[Fixação / revisão de texto / título: L.G.]

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Guiné 63/74 - P6608: Notas de leitura (124): A Guerra de África, 1961-1974, Volume II, por José Freire Antunes (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Junho de 2010:

Queridos amigos,
Parto para férias, estarei no posto de trabalho no dia 28.
Continuo confiante que ainda há almas generosas dispostas a vasculhar nas estantes o que sobre a literatura da guerra da Guiné ainda não está inventariado no blogue.

Um abraço do
Mário



A Guerra de África, 1961 – 1974, Volume II (conclusão),

Por José Freire Antunes


Beja Santos

Conclui-se hoje a síntese dos depoimentos de determinados protagonistas que podem ajudar a esclarecer a problemática da guerra da Guiné, entre 1963 e 1974.

Não foi levianamente que aqui incluímos Dias Rosas, Ministro das Finanças de Marcelo Caetano. As despesas de guerra foram aumentando progressivamente e chegaram a atingir 40% do Orçamento Geral do Estado. Numa conferência proferida no Instituto de Altos Estudos Militares o ministro fez saber que pelo ritmo que as despesas levavam a situação iria decompor-se em poucos anos. Ele confessa que pediu demissão exactamente por causa de Cahora Bassa e as despesas militares. Diz que foi uma das poucas vozes em Conselho de Ministros favoráveis à negociação com os movimentos de libertação e também contra o esquema de financiamento de Cahora Bassa. Não há infelizmente estudos fidedignos sobre a evolução das despesas militares e muito menos à luz dos acontecimentos gravosos de 1973. A inflação disparou astronomicamente e chegámos a Março de 1974 com dois dígitos gordos. Quem fala em sustentabilidade das despesas militares ilude a argumentação utilizada por Dias Rosas e os factos da crise petrolífera de 1973, desencadeada após a guerra dos 6 dias.

O depoimento de Alípio Tomé Pinto, general do Exército e que foi capitão na Guiné, de 1964 a 1966, é de grande interesse. É um relato de densidade psicológica, fala de adaptação, da construção de aquartelamentos e das razões porque passou a ser conhecido pelo “capitão do quadrado”. É uma história rica de ensinamentos na aprendizagem do relacionamento com as populações da região de Farim.

Hélio Felgas fez duas comissões na Guiné (1963/1965 e 1968/1969). Na primeira comissão o seu sector estendia-se do Atlântico a Farim e Mansoa, num total de 13 mil quilómetros quadrados. Considera que andou a apagar fogos como os bombeiros, diz ele numa carta a Marcelo Caetano. Na segunda comissão, e de novo dirigindo-se a Marcelo Caetano, diz que a situação se tinha vindo a agravar tanto entre Piche e Nova Lamego como na região Xime – Bambadinca. Falando de Bambadinca diz que a região é o cordão umbilical de todo o Leste: “É só pelo rio Geba que se faz todo o reabastecimento do Leste e se processam todas as evacuações, se eles afundam um barco entre Xime e Bambadinca e conseguem cortar a estrada Xime – Bambadinca, colocam-nos numa situação desesperada. Nesta região de Bambadinca o inimigo tem mais de 500 combatentes (e nós cerca de 300)... As populações fulas começam a fugir no Leste e apresar de todo o pulso que tenho nelas são capazes de me fugirem na região de Bambadinca – Bafatá. E como podem os pelotões de milícias lutar contra canhões, morteiros e bazucas só com espingardas Mauser e G3? Tenho tomado as medidas que posso, dispersando as poucas tropas que disponho, de modo a dar às populações e aos pelotões de milícias alguma sensação de segurança. Mas contra centenas de bandoleiros excelentemente armados, que podem fazer estes pequenos efectivos? Morrer, é claro. Mas o pior é que este sacrifício será inútil, visto aumentar o moral do inimigo e desmoralizar ainda mais as populações nossas amigas. Precisamos de socorro imediato. Daqui a dois ou três meses será tarde, pois as populações terão já fugido... Sinceramente desejo que não se repita na Guiné o caso de Goa.

Deixamos sem qualquer comentário as notas da correspondência entre Spínola e Caetano, é um pensamento largamente difundido, não traz qualquer esclarecimento ao que tem sido publicado em dezenas de livros.

O depoimento de Rui Patrício foi de grande importância, era a primeira vez que um membro do governo tornava público que o governo de Marcelo Caetano entrara em negociações com o PAIGC. Diz sem ambiguidades: “Fui defensor das negociações secretas com o PAIGC, que decorreram em Londres, já em 1974. Eu nunca fui partidário de que a derrota militar seria o melhor. É evidente que queria a negociação. Depois procuraremos explicar os princípios, procuraríamos dizer que a Guiné vivia numa situação diferente. Qualquer explicação era possível porque qualquer coisa era melhor do que a derrota militar”.

Compreende-se como estas declarações de negociação sobre o futuro político da Guiné atormentaram e ainda atormentam os saudosistas e as direitas radicais.
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

9 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6569: Notas de leitura (120): A Guerra de África, 1961-1974, Volume I, por José Freire Antunes (1) (Mário Beja Santos)

11 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6577: Notas de leitura (121): A Guerra de África, 1961-1974, Volume I, por José Freire Antunes (2) (Mário Beja Santos)

14 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6594: Notas de leitura (122): A Guerra de África, 1961-1974, Volume II, por José Freire Antunes (1) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 16 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6600: Notas de leitura (123): O capitão Nemo e Eu, de Álvaro Guerra (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6607: (Ex)citações (81): Para SEXA Juvenal Amado, a(s) palavra(s) de duas admiradoras (Felismina Costa / Vanessa Amado)

1. Em dia de anos, o comentário de uma admiradora do nosso Juvenal, a Felismina Costa (a nossa madrinha de guerra, de quem ainda não temos uma foto!)(*):

Amigo Juvenal Amado, muito boa-noite!

O AMIGO Carlos Vinhal enviou-me há dias o link para o acesso às suas histórias, que tenho lido com regularidade, e pelas quais o felicito. Cheiram e sabem a autênticas, a vivências que os anos tornam mais reais e valorosas.

Muitas sabem a saudade, sobretudo, aquela sobre o seu pai [ foto à esquerda, o primeiro da esquerda,], que me emocionou, e me trouxe à memória o meu, de quem tenho as melhores recordações e indízíveis saudades: fica sempre em nós aquele sentimento de termos deixado alguma coisa por fazer, como... escrever-lhe uma carta.

Também as minhas, eram dirigidas à minha mãe, que as lia para o pai ouvir, muitas vezes chorando de saudade e emoção... contudo, como é bom recordá-los!

Como é bom falar deles!

Neste espaço de ciberliteratura, aberto e oferecido aos que se interessam, virei procurar as suas notas, bem assim a de quantos se dignarem escrevê-las.

É já um espaço enorme de recordações, história e estórias, que a vossa memória regista, muito embora pese o motivo que o origina.

Os meus parabéns pela vossa capacidade de recordar, pelo vosso altruísmo, pela vossa sensibilidade.

A minha amizade sincera, é minha forma de vos expressar a minha gratidão.

A amiga
Felismina Costa


2. Vanessa Amada > Blogue Não Digas que Sim > 21 de Junho de 2009 > Agradeço em segredo à Tabanca Grande


(Com a devida vénia...)


A palavra é uma arma poderosa, que nos trespassa deixando o corpo mudo, trémulo, mãos suadas de dor ou alegria, injustiça ou reconhecimento, mas raramente indiferença. Arma capaz deixar a nu as fragilidades ou desejos mais profundos de cada um.

Desde criança ouvi da minha mãe: “tens uma língua!”. Esta frase dita vezes sem conta, sempre com o mesmo tom de reprovação que só uma mãe sabe dar, queria dizer que, quando em conflito, as palavras disparadas por mim, eram destinadas a magoar e sabia bem como fazê-lo.

Com os anos, aprendi a ter “mais tento na língua”, (ainda tenho em longo caminho a percorrer), aprendi a moldar o barro das ideias e opiniões em palavras, em jarros e potes entre outros objectos que, sendo da mesma matéria-prima, produzem um efeito muito diferente, de simplesmente atirar o barro em bruto à parede do outro. Ofereço agora com delicadeza, os jarros, os potes com papel de embrulho festivo e deixo que o barro de que são feitos produza o seu efeito.

Tudo isto para dizer que tenho uma anastomose coração-boca, não sustentada pela anatomia, mas funcional até hoje. Abro aqui os esfíncteres e deixo o coração falar com as suas próprias palavras em barro bruto. Aperto os lábios com força, a mão contra o rato do PC, habituada a transpirar na madeira do lápis, um pestanejar mais rápido e frequente que faz as maçãs do rosto corar de calor produzido pelas vossas palavras. Inunda-se o peito de alegria, soltam-se os lábios num sorriso e coro mais um pouco, murmuro entre dentes: Obrigado, com a timidez que me é característica.


Agradeço aqui em segredo, (forma como gosto de expressar o que me vai na alma), por mim e pelo meu pai, as palavras de todos e de cada um em particular.

3. Comentário de L.G.:

Vanessa: A prenda para o ano, para o 61.º aniversário do Papá, tem que ser o já aqui falado livrinho das Estórias do Juvenal Amado... Ele tem um enorme talento para as "short stories", para contar histórias curtas e simples. Ele é um das muitas grandes surpresas desta caixinha mágica que tem sido o nosso blogue. Ele é da melhor-prima de que é feito este povo. Sei que os tempos não são os melhores, para ele, para a família, afinal para todos nós. Mas é nas dificuldades e tormentas que a gente tempera o aço da coragem, da resistência e da grandeza humanas. Ofereço-me para fazer o prefácio. Arranje-se o editor... Um chi-coração para os dois. Um excelente dia (afinal, não é todos os dias que um homem entra para o Clube dos SEXAS, o das Suas Excelências). Luís Graça.

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6096: Meu pai, meu velho, meu camarada (20): Nunca te esqueças de escrever à tua mãe (Juvenal Amado)

(...) “Nunca te esqueças de escrever à tua mãe”. Estas foram as suas últimas palavras quando me abraçou, naquela madrugada fria de Dezembro, à porta de armas do RI 2 em Abrantes.

Assim foi, nunca passei uma semana em que não escrevesse para a minha mãe, no fim mandava beijos e abraços para o meu pai e irmãos. Ele estava lá sempre em segundo plano, mas garantindo que tudo se passava como o previsto.

Era um homem afável com um elevado sentido de humor. Foi Soldado de Artilharia Antiaérea e Defesa de Costa na Trafaria onde prestou serviço à volta de 1946. (...)

(...) A sua morte no dia 13 de Janeiro de 1995 foi o acontecimento mais triste da minha vida e hoje lembrei-me de que nunca lhe escrevi uma carta. (...)


(**) Vd. postes de:

17 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4541: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (10): Juvenal, como foste nessa de chamar Vanessa à tua menina ? (Luís Graça)

18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4547: Blogoterapia (108): Pais & filhos (Juvenal Amado / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P6606: Parabéns a você (121): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CCS/BCAÇ 3872 (Editores)

1. A nossa equipa tem um novo reforço. Hoje dia 17 de Junho de 2010, o nosso camarigo Juvenal Amado entra para o grupo dos sexagenários. Abramos alas e recebamos o nosso camarada com as devidas pompa e circunstância.

Caro Juvenal, muitos parabéns por mais este aniversário. Aproveitamos para desejar que continues a festejar esta data por mais umas boas décadas, sempre lembrado e acompanhado pela tertúlia que esperamos seja cada vez mais numerosa.

Que tenhas ao longo da tua vida futura, sempre junto de ti, as pessoas que mais amas e que contribuem para a tua felicidade.



2. Mini galeria de imagens

Umas das fotos mais marcantes do nosso Blogue. Juvenal Amado e a senhora sua mãe

Segundo os amigos Giselda e Miguel Pessoa, o Juvenal não quer festejar connosco. Trata-se de uma saudável brincadeira que não corresponde à verdade.

Nesta foto, Juvenal Amado foi apanhado em flagrante no resort de Galomaro. Sabemos agora que a sua estadia, alimentação e viagens em carros de alta cilindrada por grande parte da Guiné foram pagos com o prejuízo do erário público.


3. Juvenal, como prenda de anos, resolvemos pesquisar os teus mais de 50 postes. Para os encontrares utiliza o marcador Juvenal Amado.

Aproveitamos para sugerir à tertúlia a leitura das Estórias do Juvenal Amado, principalmente aos camaradas e amigos chegados recentemente à Tabanca Grande.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de poste de 10 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6570: Parabéns a você (120): Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador da CCS/BART 1913 (Editores)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6605: Convívios (255): X Encontro/Convívio de ex-Combatentes do Ultramar, em Barroselas (Sousa de Castro)


1. O nosso Camarada Sousa de Castro (*), que foi 1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74, enviou-nos a seguinte mensagem, em 15 de Junho de 2010:

Camaradas,

Agradeço a publicação deste programa do X Encontro dos ex-Combatentes de Barroselas - Viana do Castelo.
X ENCONTRO/CONVÍVIO DE EX-COMBATENTES DO ULTRAMAR EM BARROSELAS
Caro companheiro,

Como já vem sendo tradição desde o ano de 2001, vai realizar-se o X encontro de ex. combatente em Barroselas, Viana do Castelo, no dia 26 de Junho de 2010, para assim possamos recordar a nossa passagem em missão militar por terras do Ultramar e homenagear os companheiros vivos e falecidos, actos que terão o seguinte programa:

11 Horas: Cerimónia do hastear da Bandeira Nacional.
Seguindo-se a Missa Campal, em frente à Capela de S. Sebastião, concelebrada por vários sacerdotes e antigos Capelães militares. A Missa será harmonizada pelo coral do Agrupamento 85 dos Escuteiros de Barroselas.

No final da missa, junto ao monumento:
  • Homenagem aos combatentes vivos e falecidos, com deposição de uma coroa de flores.
A guarda de honra e toques de homenagem serão efectuados pela Fanfarra dos Escuteiros de Barroselas.

13 Horas: Almoço de confraternização e convívio, no restaurante “SOLDOCE”, em Carvoeiro
CONTAMOS COM A VOSSA PRESENÇA

Contactos:

COMBATENTES DO ULTRAMAR
Rua da Feira
ESCOLA DA IGREJA R/C – DRT.
4905-328 BARROSELAS
TM: 969 052 206 – Manuel Barbosa, ou:
TM: 925 022 412 – Sebastião Gonçalves

EMENTA

Entradas: (servidas na mesa)

Rissóis de Carne
Bolinhos de Bacalhau
Croquetes
Caprichos
Ananáz natural c/presunto
Mexilão de meia casca
Camarão
Polvo com molho verde
Presunto laminado
Azeitonas com alho
Pão e Broa
Moelinhas
Rojãozinhos

QUENTES

Canja de galinha ou Creme de legumes
Bacalhau à SOLDOCE ou Vitela assada

SOBREMESA
Salada de frutas e Leite-creme
Bolo comemorativo acompanhado de Espumante Raposeira
Vinho Verde: Ponte da Barca
Vinho Maduro: Grão Vasco do Douro
Refrigerantes, café e digestivo

Preço: 18,00€

Cordiais saudações,
Sousa de Castro
1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873

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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P6604: Agenda Cultural (81): Kola San Jon, na Cova da Moura, a 10ª Ilha de Cabo Verde, na Buraca, Amadora, 19 de Junho de 2010: Manga di sabi... (Luís Graça)







Anúncio da festa do "Kola San Jon", sábado, dia 19 de Junho de 2010, no bairro da Cova da Moura, freguesia da Buraca, Concelho da Amadora...  Fonte: Sítio Cova da Moura (com a devida vénia...)


O que o Kola San Jon ? Um surpreendente festim cultural, onde se misturam sons, sabores, ritmos, música, dança, ronco, comida, erotismo, corpos, ritos de fertilidade, história, memória, Portugal, África... O profano e o sagrado...

Segundo a Associação Cultural Moínho da Juventude (criada no princípio dos anos 80, e que é a entidade promotora do evento), "o Kola San Jon é um cruzar de culturas dos escravos africanos e dos portugueses que colonizaram as ilhas, como se pode testemunhar no cortejo, pela presença dos barcos que simbolizam as caravelas portuguesas e os barcos de pirataria que assolavam as ilhas, pelos 'rosários', pelo ritmo frenético dos tambores, pela dança erótica, pelas oferendas.

"O cortejo é uma demonstração da criatividade e do 'Djunta Mon' (juntar as mãos) desta comunidade que manteve viva esta valiosa expressão cultural, que transpôs fronteiras e que hoje é uma festa de todos nós".




No final do dia, às 21h00 será projectado o filme "Ilha da Cova da Moura", de Rui Simões.  Infelizmente, não poderei estar presente neste evento. Estarei fora de Lisboa. Mas convido os amigos e camaradas da Guiné a dar um salto à Cova da Moura, um bairro de 18 hectares, às portas de Lisboa, onde vivem cerca de 6 mil pessoas, na sua grande maioria, portugueses, de ascendência caboverdiana... Costuma-se dizer que é a 10ª maior ilha do arquipélago de Cabo Verde. Infelizmente, ainda vítima de alguma discriminação e estigmatização. Há tamnbém um pequena comunidade, islamizadam, de guineenses, a par de brancos retornados de África, europeus de leste e outras minorias...

O documentário de Rui Simões (Ilha da Cova da Moura, Portugal, 2008, 108') está em exibição no CinemaCity Alegro Alfragide, sito no Centro Comercial  Alegro Alfragide; aceita marcações: Telef.  214221030. Sessão  na sala Cinemax, às 19h25. A não perder.

Sobre o filme, diz o Público (Cine Cartaz): "Realizado e produzido pelo documentarista Rui Simões ("Deus Pátria Autoridade", "Bom Povo Português", "Ensaio Sobre o Teatro", "Ruas da Amargura"), um filme sobre o bairro da Cova da Moura, localizado na periferia de Lisboa. Nele se tenta encontrar, não tanto a violência e insegurança tantas vezes conotada ao lugar, mas antes as razões de as coisas serem como são. Analisando o dia-a-dia dos seus moradores, o realizador tenta, assim, estudar a cultura cabo-verdiana nas suas diversas manifestações, tantas vezes em confronto com a cultura portuguesa, e a forma como a exclusão social é perpetuada de geração em geração".

Já vi o filme duas vezes, a primeira no IndieLisboa'10 (onde estreeou)... No meu bloco de notas, fui rabiscando algumas palavras-chave ou descritores para um futuro texto de leitura crítica:

O amanhecer, a cidade grande, o vermelho do céu, a fome de terra, um homem e uma mulher transportando cachos de bananas e milho, de repente uma nesga de África na Grande Lisboa,  um jovem mediador intercultural (sic) mostrando o bairro, "São todos bem-vindos. na Cova da Moura só não entra quem não quer", Restaurante Coqueiro, Moínho da Juventude, "coração do bairro", empregadas domésticas, "Ir abaixo o bairro ? Faz muita confusão", amor ao bairro, medo de melhorar (de fazer obras), "mapa mental" do carteiro (correio), emaranhado de ruas e ruelas, casas sem nº de polícia,  vendedeiras de peixe na Ribeira, 2h da madrugada/13h da tarde, comboio, crianças na rua,  papel social e cultural do Moínho,  cozinham todos dias mais de 400 refeições, o ciclo da violência, história de uma família  ("quem com ferro mata com ferro morre"), retornados de Angola, retornados mais caboverdianos, brancos, cultura própria, mix, estigmatização, "Cova da Moura tem má fama, mas eu não troco a minha casa por um andar",  "pais de rapariga branca não aceitam genro de cor", "filho de macaco" (sic), "mãe já aceita, pai não", "bandido, marginal, preto" (sic), estereótipos, racismo, arbitariedade da polícia,  falta de maturidade e de competências técnicas à PSP,  "reis da Cova da Moura",  bodas de prata, igreja da Buraca, rua como espaço público (onde se cozinha, dança, namora, come, se faz o choro...), terrenos da Santa Casa da Misericórdia da Amadora,  história do bairro, origens, conflito inicial com ciganos,  malandros, convívio, festa, manhã, autocarro, limpeza de escritórios, pequenos almoços e almoços para as crianças e as amas do bairro (4 crianças por ama),  creche familiar,  trabalham para o Moínho, histórias de vida, papi embarcadiço, vida de mulher caboverdiana ("sabe como é, é preciso ter sorte com o marido, o meu é trabalhador"), operadora de caixa no Modelo, "não conheço vizinhos no meu prédio, na Cova da Moura tinha tudo",   entreajuda, solidariedde, relações de vizinhança, pequena empresária, caboverdiana, mora nas Mercês, emprega 16/17 mulheres, capitalista, "gosto de ajudar os meus",  mercearia, arroz perfumado, guineense, muçulmano, mesquita, pequena comunidade, orações,  jovens, "um dia irá mudar", "bófias, tou farto deles" (sic),  grogue,  droga, socialização, "mulher aqui não é problema, problema é união", melhores condições, Moinho da Juventude, a história do casal holandês que são figuras tutelares do bairro,   biblioteca, grupo Batuque,  grupo Kola San Jon, a cultura como identidade, o crioulo, energia, pilar o milho, fritar o milho, rua, velório, choro, enterro,  festa Kola San Jon, Kola de coladeira, happening, orgia de cor, som, corpos, de repente o fado batido em Lisboa por volta de 1830/40 (e proibido por indecente!), 18 hectares, 1617 habitações, 6 mil habitantes, sobretudo caboverdianos, mais de 45% com menos de 20 anos... "Às vezes mandam-me para a minha terra... Ora eu nasci em Portugal... Como diz meu pai, Português preto, isso não existe" (jovem mulher, líder local, a força telúrica africana,  5 estrelas)...

Um documentário "soft", "cool", "politicamente correcto", "romântico ma non troppo" , "etnográfico", "voyeurista" ?... Há um brilhozinho nos olhos do Rui Simões, um "homem de causas",  quando fala da sua "ilha"... Há um brilhozinho nos olhos dos moradores locais agora promovidos a estrelas de cinema... Eu achei lindo... E agora, juventude ? O que vamos fazer com esta "forcinha" ? Já em 2005, as fotos da fotojornalista Susan Meiselas deram uma forcinha...

"De repente, Portugal dera de novo a volta ao mundo. O arrastão de Carcavelos em 2005 , fora notícia, à falta de Tsunami, vulcão, terramoto, atentado terrorista ou castigo divino. Há males que vêm por bem, dirão uns. As fotos da Susan Meiselas, da Agência Magnum, penduradas nas janelas, nas varandas e nos estendais da roupa do gueto da Cova da Moura, acabaram por dar-lhe uma outra dimensão mediática e contribuir para a melhoria da sua imagem e da auto-estima dos seus habitantes, náufragos do império, filhos de um deus menor" (*).

Outro tanto fez (ou está a fazer, em 2010) o filme do Rui Simões (produção  Real Ficção). Acredito na força da imagem e da palavra: podem ajudar a mudar o mundo, pelo menos a nossa casa e o que a rodeia...

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Notas de L.G.:

(*) Vd. I Série do nosso blogue, poste de 24 Julho 2005 > Socio(b)logia - XVII: Espelho Meu... ou os portugas vistos pelos fotógrafos da Magnum (Luís Graça)

(...) 1. Um país tão pequeno e tão periférico (em relação ao centro do mundo, da notícia, do acontecimento, da história, da geopolítica, da economia global, em suma, tão longe da objectiva do fotógrafo) que cabe em mil negativos do arquivo de uma das mais célebres agências de fotojornalismo do mundo: a Magnum Photos, criada em 1947 por Henri Cartier-Bresson, Robert Capa e demais cooperantes.

Havia registos de 1955, da década de 60, do 25 de Abril de 1974, do PREC… Depois disso, os fotógrafos foram assobiar para outro lado. Que o mundo é vasto e fotogénico, mesmo quando feio, horrível, mau, sujo e perigoso.

Portugal e os portugas deixaram definitivamente de estar na moda quando a festa acabou. Os ratos abandonaram o navio. Na ressaca da festa, pá, ficaram os bêbados, os loucos, os marginais, os místicos, os poetas, os retornados, os deficientes das forças armadas, os cacimbados da guerra, os ex-soldados africanos ao nosso serviço, os desempregados da reforma agrária, os cães que ladram à lua, as mulheres de preto, os eternos perdedores…

Trinta anos depois era preciso bater umas chapas para fazer o upgrade do arquivo. Vieram a Susan Meiselas, o Miguel Rio Branco, o Joseph Koudelka. Com as suas credenciais da praxe, as suas obsessões de estimação, o seu portfólio, o seu prestígio, os seus mitos, os seus medos, a sua vaidade, o seu génio, o seu código de ética e deontologia profissionais.

2. “Não era de surpreender a desconfiança com que os meus passos eram seguidos enquanto percorria as ruas da Cova da Moura, mas na Cova são propriedade privada. Cada esquina tem uma personalidade distinta” (Susan Meiselas).

A exposição, no CCB, começa nos Nos Kasa, a 10ª ilha de Cabo Verde, com seis a sete mil habitantes, incluindo gente oriunda de Angola e de S. Tomé e Príncipe, parte dela imigrantes ilegais. Com um fabuloso som de fundo: o coro das mulheres da Cova da Moura. Meiselas teve vontade de lá ir porque ouviu a notícia do arrastão na BBC ou noutra estação global qualquer.

De repente, Portugal dera de novo a volta ao mundo. O arrastão de Carcavelos foi notícia, à falta de Tsunami, vulcão, terramoto, atentado terrorista ou castigo divino. Há males que vêm por bem, dirão uns. As fotos da Meiselas, penduradas nas janelas, nas varandas e nos estendais da roupa do gueto da Cova da Moura, acabaram por dar-lhe uma outra dimensão mediática e contribuir para a melhoria da sua imagem e da auto-estima dos seus habitantes, náufragos do império, filhos de um deus menor.

Os jovens do bairro (e as suas associações, como a Associação Cultural Moínho da Juventude) perceberam que a fotografia pode ser uma arma. Que uma foto de Meiselas (e da Magnum) vale mais do que uma presidência aberta ou o estafado discurso de um presidente da câmara. As associações locais comentam que a notícia (da participação de jovens desta comunidade, local no já famoso arrastão de Carcavelos) foi um exagero, mas que acabou por ter um efeito positivo na sócio-economia da ilha.
Por 5 euros, os estrangeiros passaram a poder entrar, sem passaporte, na Cova da Moura, com direito a visita guiada e guarda-costas. Por mais 7 euros e meio, o turista podia inclusive provar os sabores da gastronomia local, a melhor cachupa da diáspora crioula. O período de tréguas, boa vontade e estado de graça acabou no dia 17 de Julho, mas a exposição do CCB continua aberta até final de Agosto.

Entretanto, a polícia vem agora dizer, pelo seu serviço de relações públicas, que afinal o arrastão [de Carcavelos] nunca existiu: fora uma figura de retórica. País de inventonas, de polícias que gostam de fazer notícia e de jornalistas que dão demasiado crédito aos polícias. País de minorias que a maioria nega, escamoteia, ignora. Todos iguais, mas uns mais do que outros. (...)

Guiné 63/74 - P6603: Convívios (254): Uma almoçarada muito alegre, divertida, de confraternização e alta camaradagem (Benvindo Gonçalves)

1. O nosso Camarada Benvindo Gonçalves, ex-Fur Mil Trms da CART 6250/72, Mampatá, 1974, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 2 de Junho de 2010:
Camaradas,
Quanto mais vejo publicados artigos sobre a Guiné e leio os correspondentes comentários, mais me aguça o apetite e me impele a escrever qualquer coisa.
Histórias que não sendo propriamente "Best-Sellers", nos ajudam a relembrar a juventude, os anos dourados e o tempo que passou sem que lhe déssemos a devida importância.
Quando olho para trás, torna-se difícil entender como se passaram 34 Anos sem notícias daquela terra, dos camaradas e dos bons e maus momentos.
Não sendo de modo algum um saudosista e muito menos um homem de paixão por fardas ou pela vida militar, não é também um tempo que renegue, mas sim uma passagem da vida de que me orgulho, que trouxe ensinamentos e me ajudou na formação enquanto ser humano.
Já há muito tempo comentava com a minha família o facto de ver nos jornais tantos anúncios e avisos de confraternização de Companhias que passaram por terras africanas e nunca ter apanhado qualquer mensagem da CART 6250 de MAMPATÁ.
Era um estigma que me acompanhava, e que pretendia um dia ver ultrapassado, pelo que o receber informações sobre os amigos dessa data, era como que uma meta que teimava em não cortar.
Foi por isso, com muita satisfação pessoal que por um simples pedido na INTERNET, este mundo global ao alcance dos dedos das mãos e de uns simples cliques, nos permite aceder com facilidade e naturalidade a um mundo repleto de notícias, encontros e desencontros e sempre disponível.
Daí a começar a receber mensagens, foi um pequeníssimo passo, algumas até de camaradas que não sendo da minha companhia e por conseguinte não me conhecerem, conseguiram o " MILAGRE " (com o devido respeito), de me facultarem dados e contactos que me colocaram na linha do que há muito procurava.
Deu-se portanto início a contactos telefónicos, mensagens, troca de e-mails, etc., etc., fazendo com que hoje não passe um único dia sem que consulte de manhã e ao fim do dia as novidades dos BLOGUES que nos unem e nos fazem recordar tempos idos, sinal que também nós atravessámos os tempos e continuamos a manter acesa a chama daquela época e o sentir do cheiro daquelas terras.
Como já tinha escrito anteriormente e inclusivamente prometido a alguns camaradas que me deslocaria numa 4ª feira ao MILHO REI em Matosinhos, a Grande Tabanca de convívio de todo o pessoal da Guiné, lá me desloquei no passado dia 26 de MAIO do corrente ano.
Previamente combinado, saí de Lisboa nesse dia por volta das 08h30 da manhã e passei por Fátima para apanhar, vulgo dar boleia, ao camarada Zé Pedro, que mora em Porto de Mós, também ele ansioso por matar saudades, mas que por vários motivos foi sempre adiando a ida ao Milho Rei.
Foi uma almoçarada muito alegre, divertida, de confraternização e alta camaradagem, com muito respeito por todos e num espírito de amplo e salutar matar de saudades, de que junto algumas fotografias elucidativas desse bom momento.
Levei comigo os exemplares dos Jornais a que já fiz referência em anterior artigo, sendo muito apreciados, tendo-me sido pedido por muitos dos presentes que encetasse esforços para uma eventual digitalização de todas as páginas dessas recordações, permitindo assim a sua partilha por todos os leitores e seguidores das crónicas no site do grande Luís Graça.
Tive o grato prazer de rever o Carvalho, o Zé Manuel Lopes e o Zé Alves, mais conhecido por Leça, tendo desde logo sido convidado a estar presente no encontro do pessoal da CART 6250 de MAMPATÁ, que se vai realizar a 10 de Julho próximo em Paços de Ferreira.
É mais que certo que só um motivo de força maior me impedirá de estar presente e rever os camaradas que agora não encontrei, sabendo desde já que se alguns não se lembrarão de mim, outros há que já me transmitiram por recados, a vontade de me abraçarem.
O regresso a Lisboa, deu-se por volta das 15h30 com passagem por Porto de Mós para deixar o Zé Pedro, tendo aí nós ficado à conversa durante mais um tempinho, seguindo viagem até Carnaxide com um até breve pessoal da Tabanca.
Aspecto geral da Tabanca de Matosinhos no dia 25 de Maio de 2010
O Zé Manuel Lopes, António Carvalho & Esposa
O António Pimentel e o Zé Alves (mais conhecido na Companhia pelo Leça)
Eu e o Zé Pedro
Grande Abraço,
Benvindo Gonçalves
Fur Mil Trms da CART 6250 (1974)
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P6602: (Ex)citações (80): Chafurdar na lama da guerra... e querer lá voltar... voltar a pisar aquela terra vermelha, antes da Grande Viagem (Hélder Sousa /Luís Borrega)

1. Comentário de Hélder Sousa ao Poste P6600

Caros camaradas: Lembro-me do Álvaro Guerra 'antes da guerra'. Era o excelente guarda-redes da equipa de hóquei em patins de uma boa equipa da UDV (União Desportiva Vilafranquense) que na época 'batia o pé' aos habituais 'grandes'.

Eu era um dos seus fãs. Soubemos mais tarde que foi ferido com gravidade na Guiné e que já não poderia continuar a jogar.
A frase que é citada, "Por lá chafurdei na lama das lalas, debati-me no turbilhão dos tornados, derreti-me na fornalha de um sol quase invisível, dissolvi-me na chuva vertical, e amei como um danado aquela terra que me injectou a febre, me secou, me expulsou a tiro. Mas nunca o preço do amor é excessivo nem a presença da morte o pode aniquilar", é realmente quase que um hino sublinhando o que emocionalmente nos liga à Guiné e que curiosamente tem pontos de relação com o "Fado da Guiné" do J. Mexia Alves.

Conhecia outros livros de Álvaro Guerra, mas este não. Vou ver se o leio e se consigo entrar no emaranhado que o MBSantos descreve.(*)

Abraços, Hélder S.

2. Comentário de Luís Borrega ao mesmo poste:

Camarigos

A frase citada, "por lá chafurdei"...é precisamente o que sinto. 

Oh meu Deus! Como odiei aquela terra vermelha, as bolhanhas, o calor tórrido, as ordens dadas sem nexo por quem nunca se aventurou no mato, ter medo de ter medo de me acobardar à frente dos meus soldados em situações de contacto com o IN (felizmente nunca aconteceu). Mas hoje amo aquela terra, tenho uma tristeza enorme que não tenham a vida que almejavam quando começaram a guerrilha.

Antes de fazer a "Grande Viagem",  tenho de lá voltar, ver a terra vermelha, a algazarra dos djubis, as bolhanhas verdejantes, o calor humano daquelas gentes, o cheiro da terra depois das chuvas, a silhueta do poilão ao pôr do sol, os latidos dos macacos cães nas bolhanhas, enfim recordações...

Abraço Camarigo

Luís Borrega
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Nota de L.G.:


Guiné 63/74 - P6601: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (6): Povoações sob controlo IN; Recursos; Clima e meteorologia; Dispositivo e actuação da guerrilha (Benjamim Durães / J. Armando F. Almeida / Luís Graça)



Guíné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) >  O RPG 2 , uma das temíveis armas usadas pela guerrilha no Sector... Parte do armamento apreendido, era usado depois pelos Pelotões de Milícia... Segundo o autor das fotos, o Benjamim Durães, Fur Mil Op Esp, Pel Rec Inf, "o guineense,  de óculos escuros,  é um soldado milícia,  de nome Demba Baldé,  que era filho do Régulo do Xitole, pertencia à Companhia de Milícias e foi adstrito ao Pel Rec da CCS; os militares brancos são todos do Pelotão de Sapadores da CCS; os africanos ao fundo são da população de Amedelai; o Capitão é o Passos Marques, da CCS [e membro da nossa Tabanca Grande].... As fotos foram tiradas em Amedelai, numa vistoria ao armamento"...

Fotos: © Benjamim Durães (2010). Direitos reservados


[Continuação da publicação de excertos do Cap II da História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72 - Documento classificado como "reservado" - , segundo versão policopiada gentilmente cedida ao nosso blogue pelo ex-Fur Mil Trms Inf, José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande; cotejada igualmente com a versão, em suporte digital, corrigida e melhorada pelo Benjamim Durães; é um excerto desta última versão que se publica aqui hoje. Fixação / revisão de texto / bold a cores / título: L.G.] (*)



Fonte:  BART 2917. HU- Cap II, pp. 5 a 10A.
________________

Situação Geral

a) Terreno (...)
b) Aglomerados populacionais (...)


3) – POVOAÇÕES SOB O CONTROLO IN


- Os aglomerados populacionais que a seguir se indicam são os que,  existindo antes do início de subversão, se localizam na área sob controlo IN e são os de maior população, o número de habitantes que para cada um se indicam foi estimado com base em relatórios de notícias, relatórios de interrogatórios e RVIS.

- MADINA

-Localizada em (MAMBONCÓ 8G-1), estima-se possuir 1.500 habitantes

- CANCODEA BEAFADA

-Localizada em (XIME 1G-2) com uma população estimada em 500 habitantes

- CANCODEA BALANTA

-Localizada em (XIME 1F-3) com uma população estimada em 500 habitantes.

- MINA

-Localizada em (XIME 1I-6) com uma população estimada em 100 habitantes.

Há referências de ali se localizar o Comando do Sector 2.

- PONTA JOÃO DA SILVA

-Localizada em (FULACUNDA 8I-5) com uma população estimada em 1.000 habitantes.

- PONTA LUÍS DIAS

-Localizada em (FULACUNDA 8G-3) com uma população estimada em 1.000 habitantes.

- SATECUTA

-Localizada em (XIME 4E-1) com uma população estimada em 300 habitantes.

- MANGAI

-Localizada em (FULACUNDA 7G-8) com uma população estimada em 700 habitantes.

- BANIR

-Localizada em (MAMBONCÓ 8H-9) com uma população estimada em 400 habitantes.


c) - RECURSOS

- Os principais recursos económicos do SECTOR são:

- FLORESTAS

- Com o fornecimento de madeira (na área do XITOLE há grande quantidade de bissilon) e coconote.

- Antes do início do terrorismo a madeira era muito explorada, existindo várias serrações que, hoje em dia, com excepção da serração de BAMBADINCA, se encontram abandonadas. Presentemente apenas são exploradas as rachas de cibe.

- AGRICULTURA

- Esta é, de um modo geral, de subsistência (arroz, milho e funcho), com excepção de cana-de-açúcar e da mancara.

- DESTILARIAS

- Presentemente só existem duas destilarias de cana-de-açúcar no SECTOR DO BART, uma em BAMBADINCA e uma outra em PONTA BRANDÃO.

- SOLO

- Na área do SECTOR DO BART existem muitas bolanhas ricas, verificando-se no entanto que estas, com excepção das do ENXALÉ, NHABIJÕES e FINENTE, ou estão abandonadas (SAMBA SILATE, SÃO BELCHIOR, SALIQUINHÉ, etc.) ou são exploradas por populações sob controlo IN (todas as bolanhas da margem direita do RIO CORUBAL e margens do RIO MALAFO).


- CRIAÇÃO DE GADO

- Embora haja em certa quantidade gado bovino este no entanto, no SECTOR não pode ser considerado um recurso económico na medida em que não é explorado. É considerado sinónimo de riqueza, avaliando-se a riqueza da família pelo número de cabeças que possui. Somente em certas ocasiões especiais como por exemplo, “choros”, é que uma ou mais reses são abatidas para consumo.

- Existe no entanto outro tipo de gado, porcos, cabritos e galinhas que é explorado economicamente, sendo por conseguinte considerado como fonte de receita.





Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > Uma manada de vacas, cambando o Rio Udunduma... Possivelmente pertencentes a uma notável fula da região (Amedalai, por exemplo, que era a tabanca mais perto)... Só com muita relutância os fulas vendiam cabeças de gado à tropa...´O gado era, tradicionalmente, um "sinal exterior de riqueza", um símbolo de "status" social...

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados



d) – CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E METEOROLÓGICAS

- A zona de acção do BART 2917, como todo a Província da GUINÉ, tem um clima quente e húmido característico das regiões tropicais em que apenas se assinalam duas estações, a “quente” ou das “chuvas”, que começa em meados de MAIO e se estende até meados de NOVEMBRO, e a estação a “seca” e “fresca”, durante o restante período do ano.

- Na época das chuvas a humidade atmosférica é bastante elevada e a temperatura média, à sombra, oscila entre 26 e 28 graus centígrados.

- A pluviosidade é superior em média a 2.000 m/m, sendo os meses de JULHO e AGOSTO, os que registam maior número de dias de chuva. A pluviosidade na ZONA DE ACÇÃO é menor do que no litoral e sul da Província.

- As temperaturas médias da época seca não vão além de 24 graus centígrados sendo meses mais frescos os de DEZEMBRO e JANEIRO.

- No que respeita a temperaturas, podemos dividir o ano nos seguintes quatros períodos:

- PERÍODO FRESCO

- No qual se verificam amplitudes térmicas elevadas e que abrange os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro.

- PRIMEIRO PERÍODO QUENTE

- Durante os meses de Março, Abril e Maio, em que as variações térmicas são ainda de certo vulto especialmente nos meses de Março e Abril.

- PERÍODO DAS CHUVAS

- Que se estende pelos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro.

- SEGUNDO PERÍODO QUENTE

- Abrange os meses de Outubro, Abril e Novembro.

- A época das chuvas faz-se anunciar pelos chamados “TORNADOS”, característicos pela grande velocidade do vento enorme turbulência, que quase sempre provocam estragos avultados descobrido edifícios, inutilizando instalações eléctricas, derrubando antenas de rádio, etc..

- Nos meses “frios” do ano – Dezembro e Janeiro – as cerradas neblinas matinais prolongam-se normalmente até à 10,00 horas.

2 - INIMIGO

a) – FORMAS DE ACTUAÇÃO

- O IN tem actuado ofensivamente sobre as NT minando os itinerários e flagelando os aquartelamentos, tabancas em A/D (Auto Defesa) e meios navais que se deslocam no RIO GEBA nas áreas de PONTA VARELA e MATO DE CÃO. De um modo geral todas as flagelações têm demorado cerca de 5 minutos, são feitas a horas que não permitem, ou dificultam a intervenção das F. A., e nelas o IN tem demonstrado fraca agressividade.

Pelo contrário, tem-se mostrado fortemente aguerrido quando as NT penetram nos seus redutos, quer emboscando-as nos seus acessos, quer armadilhando-os, quer flagelando intensamente as NT.

- Admite-se que tenha uma rede de informadores no seio da população por nós controlada.

- Não há indícios que o IN tenha feito colectas entre a população que controlamos embora seja de admitir a sua “colaboração” nos “choros” de familiares realizados nas zonas sob controlo IN.

b) - ORGANIZAÇÃO

- Parte do Sector L-1, com excepção do Regulado do ENXALÉ e da parte Oeste do Regulado do CUOR, corresponde na divisão territorial do IN ao Sector 02, também conhecido por região do XITOLE (hoje incluída na Frente XITOLE/BAFATÁ) e cujo comando está localizado na área de MINA.

Nesta região o IN mantém uma estrutura político-administrativa organizada, numa vasta área correspondente aos Regulados do XIME e BISSARI, a partir donde irradia a sua actividade de guerrilha que se caracteriza por ataques e flagelações aos aquartelamentos e destacamentos das NT, às tabancas em A/D, e aos meios navais no RIO GEBA “estreito”, emboscadas e colocação de engenhos explosivos nos itinerários.

- A Zona do Sector L-1 que engloba o Regulado do ENXALÉ e a parte Oeste do Regulado do CUOR, está incluída na Frente MORÉS-NHACRA.

Nesta zona a actividade IN está principalmente orientada para as áreas fora dos limites do Batalhão, embora ultimamente se tivesse manifestado sobre o CUOR, nomeadamente em MATO DE CÃO.

c) – EIXOS OU LIMITES DE INFILTRAÇÃO

- Podem-se considerar os seguintes:

1) – Do exterior para o interior do SECTOR;

- Corredor de GUILEGE / CANTURÉ / FIOFIOLI

- Corredor de GUILEGE / FARENÁ BALANTA / FIOFIOLI

- Corredor de GUILEGÉ / UANÁ PORTO / PONTA LUÍS DIAS

- Corredor de MANTÉM / QUEBÁ JILÃ / MANSONA / MANSOMINE

- Corredor de CHÃO NALU / GANTURÉ / RIO MALAFO / CHEREL / BUMAL / LAMEL ou SITATÓ

- Corredor de QUIRAFO/DUÁ/CULOBO/GALO e CORUBAL/MINA

2) – No interior do SECTOR

- Corredor de MINA / GÃ JÚLIO / GALO CORUBAL / ZONA DO XITOLE

- Corredor de MINA / GÃ JÚLIO / BIRO / MANSAMBO

- Corredor de MINA / GONEGE / MANSAMBO

- Corredor de BURUNTONI / GONEGE / BOLÓ / MORICANHE

- Corredor de BURUNTONI / CHICAMIEL / DEMBA TACÓ / BADORA

- Corredor de BURUNTONI / CHICAMIEL / TAIBATÁ / BADORA

- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / AMEDALAI / BAMBADINCA

- Corredor de BURUNTONI / MADINA COLHIDO / XIME

- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / AMEDALAI / BAMBADINCA

- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / PONTA COLI

- Corredor de BURUNTONI / GUNDAGUÊ BEAFADA / PONTA VARELA

- Corredor de PONTA JOÃO DA SILVA / PONTA DO INGLÊS / POINDON

- Corredor de MADINA / CABUCA / PONTA LUÍS / ENXALÉ

- Corredor de MADINA / SINCHÃ CORUBAL / MATO CÃO / FINETE

- Corredor de BANIR / QUEBÁ JILÃ / SANCORLÃ / MISSIRÁ / FINETE

- Corredor de MADINA / IARICUNDA / SÃO BELCHIOR.

d) – DISPOSITIVO DO IN

- Nas zonas que o IN efectivamente controla no SECTOR, implantou uma organização e hierarquias paralelas Administrativa-Militar cuja estrutura em pormenor é ainda mal conhecida.

Na primeira, definida pelo RIO CORUBAL, entre a foz do RIO BURUNTONI e RIO PULON, por uma linha imaginária que une a foz deste último à nascente do RIO BURUNTONI e por este rio até à sua foz, está referenciada a existência do Comissário Político PEDRO LANDIM que com as FARL  controla toda a população civil, sendo JORGE JOÃO BICO aparentemente o Comandante Militar da mesma Zona, esta está, dentro da organização IN, incluída na FRENTE BAFATÁ-XITOLE, SECTOR 02, e dispõe dos seguintes efectivos:

- Um Grupo, Comandado por MAMADU TURÉ na área de TUBACUTA.

- Um Grupo, Comandado por INCUDE na área de GÃ JÚLIO.

- Um Grupo, Comandado por MÁRIO MENDES  (**) na área de SATECUTA.

- Estes quatros Grupos permutam entre sí com frequência as áreas em que actuam.

- Dispõe o IN ainda na zona, em permanência, de um Grupo Especial de Bazookas comandado por VITORINO COLUNA COSTA, normalmente estacionado na área de GÃ JOÃO e de um Grupo de Sapadores comandado por MÁRIO NANCASSA.

Frequentemente o IN balanceia os meios da Frente BAFATÁ-XITOLE com os da Frente do QUINARA pelo que na situação de esforço sobre a Frente BAFATÁ-XITOLE (incluí toda a zona do Sector L-1 a sul do RIO GEBA) os efectivos indicados podem ser substancialmente reforçados.


- Na segunda área que compreende a área do REGULADO DO CUOR a norte dos RIO QUEBÁ JILÃ e RIO PASSA, e a área do REGULADO DO ENXALÉ para Oeste da linha ENXALÉ-MADINA, está referenciado o Comissário Politico LOURENÇO, e o Comandante Militar OSVALDO MÁXIMO VIEIRA que aparentemente, como membro do BUREAU do Partido, exerce o controlo de cúpula, em ambas as hierarquias Militar e Civil.Esta área está dentro da Frente MORÉS-NHACRA em que se situa toda a Zona do SECTOR L-1 a Norte do RIO GEBA e além dos diversos elementos da FAL dispõe em permanência dos seguintes núcleos das FARP:

- Um Bi-Grupo na área de MADINA-ENXALÉ comandada por IMBADE.

- Um Grupo destinado a atacar barcos e possivelmente localizado no CUOR.

- Dois Morteiros da Bateria de BESSUNHA.

- Um Grupo de Sapadores comandados pelo ARMANDO.

- Ainda nesta Frente, mas fora da Zona de Acção do Batalhão e com possibilidade de nele intervir, dentro do normal balanceamento de efectivos que o IN utiliza, estão referenciados os seguintes Grupos:

- Um Bi-Grupo comandado por FAI TURÉ.

- Um Bi-Grupo comandado por CAMARÁ.

- Um Bi-Grupo comandado por INFANDA NAMENA.

- Uma Bateria não identificada.

- Um Grupo de Foguetões comandado por AGNELO DANTAS.

- Todos estes efectivos pertencem ao C.E. 199 C/70 das FARP.

e) – POSSIBILIDADES

- O IN tem as seguintes possibilidades no SECTOR L-1:

1 – Reforçar os efectivos existentes na região XIME / BISSARI com unidades vindas da frente Sul especialmente da região do QUINARA.

2 – Reforçar os efectivos existentes na área MADINA / BELEL por unidades da região de SARA/SARAUOL região a que se encontra intimamente ligada operacional e logisticamente.

3 – Prover às necessidades de alimentação com os produtos cultivados pela população, nas bolanhas situadas na área que domina.

4 – Obter reabastecimentos

5 – Obter informações.

6 – Recrutamento de pessoal destinados aos Grupos Armados.

7 – Executar acções de terrorismo (sabotagem e destruições).

8 – Manter as acções de fogo sobre os aquartelamento das NT sobre os quais vem actuando do antecedente e orientar a sua acção a novas povoações.

9 – Utilizar novas linhas de infiltração que:

- Do BOÉ conduzam aos Regulados do XIME e BADORA através da faixa Norte do Regulado do CORUBAL.

- Da área do XIME/BISSARI conduzam à Estrada BAMBADINCA/BAFATÁ.

10 – Efectuar acções de barragem à navegação dos RIO CORUBAL e RIO GEBA em especial a W do XIME, na área de PONTA VARELA.

11 – Resistir nos seus redutos quando atacados pelas NT.

12 – Armadilhar e emboscar os acessos aos seus acampamentos.

13 – Colocar engenhos explosivos nos itinerários mais frequentemente utilizados pelas NT.

f) – AGRESSIVIDADE
- É aguerrido quando atacado nos seus redutos e é apoiado por grande potência de fogo. No entanto as suas acções ofensivas não se caracterizam por uma grande agressividade, sendo em geral pouco duradoiras.


________________


Notas de L.G:

(*) Vd. postes anteriores da série:

17 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6413: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (1): Populações controladas pelas NT e pelo PAIGC, ao tempo do BART 2917 (1970/72) (José Armando F. de Almeida / Luís Graça)


20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6437: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (2): O Fula, a sua lealdade,o seu preço (José Armando F. de Almeida / Luís Graça)

30 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6499: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (3): Quando Mandinga já não quer dizer turra, mas quando ainda não se esquecem os desmandos feitos pelas NT no início da guerra (J Armando F. Almeida / Luís Graça)

2 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6519: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (4): Os balantas; as diversas individualidades (J. Armando F. Almeida / Luís Graça)

8 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6557: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (5): A zona de acção do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e os seus principais aglomerados populacionais (Benjamim Durães / J. Armando F. Almeida / Luíos Graça)

(**)  Segundo informação do António Duarte (da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, e membro da nossa Tabanca Grande), o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão".

Comentário do poste de 24 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P6600: Notas de leitura (123): O capitão Nemo e Eu, de Álvaro Guerra (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Junho de 2010:

Queridos amigos,
Com esta recensão do último livro de Álvaro Guerra onde aparece a Guiné, penso que o essencial do levantamento dos anos 60 ao fim do século está efectuado.
Nos anos 60, temos Armor Pires Mota, Manuel Barão da Cunha, Amândio César e Álvaro Guerra.
Nos anos 70, temos Manuel Barão da Cunha, Álvaro Guerra e José Martins Garcia.
Nos anos 80, novelistas como o José Brás e o Armor Pires Mota.
No início dos 90, Armor Pires Mota escreve aquela que será, penso eu, a obra-prima da literatura da guerra da Guiné. Agora estou num mar encapelado, vão surgindo de vez em quando edições de autor, bom seria que os devotados companheiros do blogue me dessem algumas pistas para eu me embrenhar, com o ânimo feliz, dentro da floresta.

Um abraço do
Mário


Quem pode sondar as profundezas do abismo

Beja Santos

Álvaro Guerra inicia a sua carreira literária em 1967, escreve “Os Mastins”. “O Disfarce” (1969), “A Lebre” (1970), “Memória” (1971) e “O Capitão Nemo e Eu” (1973) são os quatro títulos seguintes, aqui o antigo combatente da Guiné, ferido em combate, escancara as suas memórias, não ilude o sofrimento, o horror da guerra, as crueldades vistas e percepcionadas. Guerra é um autor pouco classificável, não esconde uma certa filiação pelo neo-realismo, envereda gradualmente pelo construtivismo e mostra satisfação pelas regras e técnicas do chamado “nouveau roman”, que tanto deve Nathalie Sarraute e Alain Robbe-Grillet. Faltava uma apreciação de “O Capitão Nemo e Eu” (Editorial Estampa, 1973), é o propósito deste texto.

Alguns críticos que saudaram a obra na época interrogaram-se se se estava perante um romance, uma narrativa ou uma memória. Há um homem que está ferido, preso a uma cama de hospital, que entra num processo de convalescença, que divaga quase em estado de delírio, entre o sono e a vigília, nunca é dado estabelecer as fronteiras entre o que é sono e o que é sonho. Aliás a obra tem como subtítulo “crónica das horas aparentes”. E uma citação extraída das “20 Mil Léguas Submarinas” em torna tudo mais intrigante: “Portanto, à pergunta feita, há seis mil anos, pelo Eclesiastes – Quem pôde jamais sondar as profundezas do abismo? – dois homens têm agora o direito de responder. O capitão Nemo e eu”.

A obra tem um arranque poderoso: “Que perdi a memória – dizem. E logo dão nome a esta imunidade que pretendem retirar-me. Dizem isso com precaução e manha como se quisessem disfarçar o despeito. Defendo-me. Só agora, na metade do tempo em que a droga do sono se esgota e sei que é meu o que me circula nas veias, só agora me visito: primeiro, o estojo duro e branco que esconde o grande golpe na coxa direita, as ligaduras que encontro ao passar a mão pela testa. Também procuro os resíduos invisíveis das anestesias e só me revelo um estranho gosto na boca. É uma visita tosca e breve, que se cansa de mim ou me recusa para repousar nas quatro paredes brancos e no tecto branco e nos brancos panos da cama, simetria nem ao de leve desfeita pelos rectângulos da porta e da janela velada por cortinas de cassa tão leves que, constantemente ondulantes, me repetem a existência do ar em movimento, ar sossegado, filtrado, prisioneiro e puro, e não com partículas de sal lançadas em bátegas por um vento furioso varrendo as duríssimas arestas das rochas – imagem última, única, fria – dureza e frio diversos dos que adivinham nas superfícies polidas do copo e do jarro sobre a mesa, ao meu lado esquerdo, onde, consoante o sol, assim o filtram no seu vidro sem que dele conservem o menor rasto, que não de mim, pois neles vou imprimir com os dedos minuciosos desenhos a lembrar outras matérias, talvez tronco cortado pelo nó, talvez...”

Temos pois um ferido que tacteia o corpo e o meio envolvente, que vigia a fisiologia e que repesca os factos acontecidos, a justificação por estar ali, sujeito a remédios e injecções. A memória faísca lembranças: “... sentado junto do cherno e dos grandes homens da tabanca, à volta da fogueira, mascando cola, rodeado por todas as estrelas e astros conhecidos e desconhecidos e por todos os outros mistérios ainda não nomeados, no planeta Terra, mais ou menos 12º de longitude norte e 17º de latitude oeste, olhando as chamas e dizendo ‘tanaala? nobadeá?’ a quem se chegava ao nosso fogo e, enquanto ouvia a litania das respostas – ‘djam tu, djam tu, djam tu’ – murmurava ‘kodé dadi’, que é uma forma de pensar que as estrelas são livres, se apenas delas o brilho existe”. E entra em cena Safi, uma mulher amada, naquela cama de hospital tal dolorosamente recordada. À semelhança de praticamente todos os seus livros os textos intercalados falam da lezíria ribatejana, da família do narrador, de Paris, de uma diversidade de personagens em trânsito, a Paris onde viveu Álvaro Guerra depois de regressar ferido da Guiné emerge entre a penumbra e fulgor das avenidas, há gente em estranhos exílios. Aos farrapos, a memória do ferido dá consistência ao discurso do capelão militar e, súbito, ganha consistência o drama de Safi:

“... nasceu quase branco, rosto inchado, mãos fechadas, cabelo ralo. Chorava pouco e logo mostrou o amarelo dos olhos. As mulheres torceram o nariz, abanaram as cabeças e murmuram «hum, hum». Mariama veio de Contabane com os seus mezinhos e rezas à margem do Corão – sem ela não havia no Forreá nem parto nem fanado de menina. Colocou a esteira junto de Safi e do recém-nascido e de lá não saiu os três dias que ele durou. Ainda se falou na data do baptizado, à maneira fula, mas ninguém acreditava que Amadu – assim se chamou – resistisse à anemia que começara a miná-lo no ventre da mãe. O médico da tropa deu esperanças e mezinho de branco, ante o cepticismo de Mariama, das outras mulheres grandes e de mim próprio.

Safi olhava-me assustada, metida debaixo dos panos de algodão. Com imenso cansaço, deitei-me a seu lado, olhando o tecto da morança, numa confusa ansiedade.

– ‘Kô dabará?’ Que procuras? – perguntou-me, depois de um silêncio.

– ‘Miró daba’. Estou à procura – respondi-lhe.

Mais tarde, disse-me, esboçando um sorriso e tentando distrair-me:

– ‘Baró okirim guertodê-didi’. Baró deu-me duas galinhas. ‘Mariama oki kam gôrô’. Mariama deu-me cola.

Remexeu entre os panos e passou-me para a mão uma noz de cola. Eu mascava pequenos pedaços amargos, pensava na casa grande, a única que tive. Apertei a mão de Safi, com força, levantei-me e vim até ao terreiro escaldante, suando e mascando cola.

No fim da tarde do segundo dia tive de partir.

– ‘Django bimbi mi araigá si Alá djaven’. Volto amanhã se Alá quiser – disse e, passando a mão pela testa de Safi, olhei o rosto mirrado da criança.

Pela primeira vez, saí para encontrar a morte, numa noite muito longa e cheia de estrelas, escondido no mato, à beira da picada, com oito camponeses da Beira Alta e um ardina de Lisboa.

Voltei de manhã cedo e encontrei o filho morto...”

É sono ou sonho? O autor não faz concessões, a narrativa acelera-se, multiplica-se, o leitor viaja à deriva. Ficamos a saber que Safi é uma mulher muito bela e que o ferido ou quem delira (não tem importância, é quem está sofrendo) não a pode esquecer na profundeza do abismo em que caiu. É bem possível que tenha regressado ferido na perna, tal como Álvaro guerra, tão ferido que volta à infância, vê aparecer no seu quarto um anjo, depois regressa ao Geba e amaldiçoa a sua sorte: “Por lá chafurdei na lama das lalas, debati-me no turbilhão dos tornados, derreti-me na fornalha de um sol quase invisível, dissolvi-me na chuva vertical, e amei como um danado aquela terra que me injectou a febre, me secou, me expulsou a tiro. Mas nunca o preço do amor é excessivo nem a presença da morte o pode aniquilar”. Bastava este parágrafo de Álvaro Guerra para o colocar obrigatoriamente em qualquer antologia referente à literatura da guerra da Guiné.

Talvez agora o ferido esteja a delirar, viaja no Nautilus com o capitão Nemo, é uma viagem absurda, ao lado do capitão Nemo recorda a sua pistola-metralhadora, a viagem que fez num DC-6 atravessando o Atlântico e o Sara até chegar a uma terra escaldante. Aí lhe ocorre outra imagem: “Do alto de uma palmeira sai o voo fulvo do faisão; sobre a bolanha, lentos, passam os grus emigrantes; à beira da estrada, um macaco-cão, de pé, dirige-me estranhas ameaças; em frente da morança, debaixo do cajueiro, está o cherno a ler Shakespeare em árabe; no caminho do rio, uma menina embala um osso de carneiro, um filho; cruzo-me com Mariama, à cabeça a roupa de lavar – ‘Tanaála? no pindá?’. Se não é esta a minha terra, para que me fizeram aqui vir? Agora estamos mesmo no centro do delírio, viaja-se por Atlântida, surgem os cavaleiros do Apocalipse, há prisioneiros de guerra a serem espancados até à morte. Pedindo explicações sobre tão dolorosas memórias, o autor faz uma amarga constatação: “Perguntando nós que guerra era aquela, sempre ouvimos como resposta grandes palavras ocas. E, muitos anos depois de termos escapado do pântano, quando tínhamos começado, há muito, a comer refeições quentes a horas certas, a fazer filhos legítimos, a pagar prestações, a passear de automóvel aos domingos, a ir ao jardim zoológico, ao cinema, a casa uns dos outros, muitos anos depois, dizia, a guerra ainda lá estava, feroz e persistente, perante o nosso absurdo esquecimento”.

“O Capitão Nemo e Eu”, percebe-se agora, é escrita codificada, não podia ser de outra maneira em 1973. Um relato impressionante de um antigo combatente que se revelou um mestre da escrita. Nunca se saberá o que a guerra da Guiné fez para o preparar em tal mestria.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6594: Notas de leitura (122): A Guerra de África, 1961-1974, Volume II, por José Freire Antunes (1) (Mário Beja Santos)