terça-feira, 30 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11507: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (11): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte II) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)

Continuação da (re)publicação do texto Teresa,  amores e desamores, da autoria do nosso coeditor, jubilado,  Virgínio Briote,  ex-alf mil em Cuntima, CCAV 489, e comando em Brá, do 2º curso de Comandos do CTIG, tendo sido comandante do Grupo Diabólicos  (1965/67) (*)


(Continuação)

4. QUE ESTOU AQUI A FAZER?

“Temos que ser nós a pô-los daqui para fora, esta terra é nossa, não nos faltam apoios, é todo o mundo a dar-nos razão! Desde meados deste século, os colonialistas têm sido corridos de todo o lado, ficaram os portugueses e porquê, camaradas? Porque de todos os impérios, o deles é o mais atrasado, não só economicamente como também em termos culturais. Uma taxa de alfabetização baixíssima, um país inculto, atrasado, governado por um grupo de lacaios em nome dos interesses de meia dúzia de famílias. Por isso dizemos e insistimos, somos aliados do povo português na mesma luta contra o colonialismo e contra o fascismo. Mas esta situação, camaradas não duvidem, está a mudar e ainda vai ser no nosso tempo e vamos ser nós que vamos acabar com o colonialismo na nossa terra. Temos amigos em todo o mundo, URSS, Suécia, China, Noruega, Cuba, toda a África, toda a Ásia, todo o mundo, amigos que nos ajudam com armas, comida, medicamentos, técnicos. Mas temos que ser nós, camaradas, nós é que temos que fazer o trabalho aqui na Guiné e em Cabo Verde, pô-los daqui para fora!”

O partido precisa de todos nós, caboverdianos e guineenses, não posso deixar de contribuir com a minha parte, Benilde, há muito que conheces o meu modo de pensar, esta terra é pobre mas é nossa.

Não sei não, Vasco. Estamos tão bem agora, a nossa vida não teve um começo fácil, demos uma volta
tão grande na nossa vida, abandonámos a nossa terra, os nossos pais, e agora que a Teresa está tão bem nos estudos, todos os anos no quadro de honra, não sei que te diga, Vasco, temos levado uma vida tão sossegada, damo-nos bem com toda a gente, a nossa vida vai mudar tanto. Tenho medo, muito medo, Vasco!

Mas o partido necessita de todos, não viste o Aristides, com uma posição tão boa aqui, também abandonou tudo para ir com os camaradas. E tantos outros. Até agora tenho sido só simpatizante, uma vez ou outra colaboro quando me pedem, mas agora é a minha vez de participar mais activamente, não compreendes, Benilde?

Aqueles tempos calmos, com tempo para tudo, o sossego das tardes de Bissau estavam cada vez mais longe. Depois dos incidentes do Pidjiguiti (3), a vida nunca mais foi a mesma. Pide e mais pide, tropa todos os dias a chegar, incidentes em todo o lado, prisões durante a noite, a vida cada vez mais difícil. Benilde pensava muitas vezes em como era boa a vida na Praia, difícil a subsistência, mas o ambiente era outro, como era bom se o Vasco conseguisse ser colocado em Cabo Verde, na Praia ou no Mindelo. Chegou até a falar-lhe, mas ele não recebeu bem a ideia. Casaste comigo, as nossas vidas estão juntas para o melhor e para o pior.

Não te esqueças da Tesa, Vasco, lembra-te da nossa menina!

Benilde, a menina continua a estudar, se algo correr mal, voltas com ela para a Praia, para junto dos teus pais.

Teresa estava com 19 anos, vivia intensamente com a ansiedade própria da idade o que ouvia contar em casa e entre os amigos, as gloriosas lutas que se travavam nas matas contra a tropa colonialista, as tentativas de alfabetização das populações, nas escolas dispersas pelo mato, os progressos pela emancipação, o caminho irreversível para independência.

O relacionamento dela com aquele militar era motivo de reprovação dos amigos e do próprio pai. Coisas separadas, pai, não têm nada que ver, já não sou menina!

A mãe Benilde contou ao papá da tua visita, sabes? A princípio, ficou muito calado, continuou a comer, mas não ficou de muito boa cara, não. No fim de jantar, então falou, que ainda sou muito nova, que tenho muito tempo à frente. É mesmo a sério, virado para mim, que tudo indica que sim, não é? Quer conhecer-te, falar contigo quando te apetecer, claro, jantarmos todos, quando pode ser? Um dia quando, não pode ser amanhã?

A Teresa a querer saber novidades, a mandar recados pelo Alegre, chegara até a ir a casa do Sany. Paludismo forte, mas só, mais nada. Entrar em Brá não podia, não a deixaram, deixou recado, 2 abacaxis pequenos, um cartão, dois corações, uma seta neles, pingas da cor do sangue de saudades, um beijo imenso, maior que o embrulho, nem parecia dela.

Encontraram-se depois das febres. O jantar fica então para amanhã, 6ª feira, posso dizer à mamã? Mas espera, Teresa, jantar? Então, não ficou combinado, apresentar-te ao meu pai? Apresentar-me ao teu pai? Gil, as febres deitaram-te abaixo, precisas de te alimentar bem, recuperas num rápido! Mas, Teresa, apresentar-me ao teu pai, para quê?

Teresa no varandim, com aqueles olhos. A mãe como se fosse para a festa, música de morna, o salão grande, sente-se Gil, esteja à vontade, a Tesa faz-lhe companhia, vou ver as coisas, dá-lhe um sumo de ananás com pouco gelo, quer?

Sentia-se fraco, não lhe estava a apetecer nada estar ali, era bem melhor não ter vindo. Os dois sentados, ele a passar a vista pelo salão, a mesa ao canto, fotos antigas de outras terras, rostos desconhecidos, pau preto, a cadeira de palhinha, a luz suave filtrada pelos cortinados, o que estou eu aqui a fazer e os pais a entrar.

Ora viva, então, como, ah, senhor Gil, Gil quê, Gil Duarte, muito prazer, então? Sorriso sem palavras, cumprimentos, quer beber alguma coisa fresca, ah já está servido, então? Então nada, desta vez apeteceu-lhe mesmo responder.

Calor, hem, esta humidade não deixa a gente respirar, então? Então, como? Que vocês lá na metrópole tem um clima bem mais ameno, mais temperado, mas muito frio no Inverno. Acho que vocês nunca prepararam as vossas casas para o frio, se calhar porque estão lá só de passagem, não é, no regresso de todos os Brasis por onde andam, só param em Lisboa para descarregar o ouro, a prata, as madeiras, o sisal, café, cacau, tudo às toneladas, não é, gargalhada trocista. Assim! O pai da Teresa além de trabalhar nos escritórios da maior empresa colonialista, era também um humorista!

Talvez, nunca pensei nesse assunto, ainda não tive tempo. Na sua idade também não, pensava noutras coisas, não é, a Mabilde e um ajudante de travessas na mão, cadeiras a afastarem-se, então é melhor sentarmo-nos.

Galinha à cafreal, saladas, fruta por todo o lado, ananás, bananas, e para beber, cerveja, Casal Garcia, tinto do Dão, o que lhe apetece?

Então? De onde é o senhor Gil Duarte, o que faz na vida civil, os seus estudos, como vai a metrópole, o que dizem de lá, como vêem esta guerra, o Salazar está para durar? Não vai durar a vida toda não é, vem outro a seguir, já deve estar escolhido, claro, quem lhe parece que seja?

Que não estava a par, não fazia ideia. Mas esse assunto não é do seu interesse? Quando lá estive no mês passado, a estudantada andava toda alvoroçada, a guarda a cavalo em Coimbra, na rua da Sofia as lojas todas trancadas. Isto está um problema, senhor Duarte, não pode continuar assim, na vossa metrópole e aqui, a tendência é para agravar, a URSS, a China do Mao (4) , a própria América veja lá, a Suécia, a Noruega, o mundo todo, menos a Espanha do Franco, o vosso governo de portas fechadas em quase todos os países, agora até o Brasil, sabia? Servem-se da vossa juventude, quando regressam deixaram o melhor das vossas vidas, muitos deixam bocados deles aqui, outros nem regressam, não é?

O cafreal da galinha não passava, atravessado na garganta, não havia maneira de ir para baixo, sumo na mão, a da Teresa, a acalmá-lo, a brincar-lhe no joelho por baixo da mesa.

Que estava a par da agitação estudantil, que deveriam ter alguns motivos, mais outros da idade, adiante se veria.

E então, senhor Duarte, a Tesa o que é para si? A Tesa é muito boa menina, já reparou? Um bocado senhora do seu nariz, às vezes teimosa demais, muito boa estudante, até agora…

Como é que a conheceu? O senhor gosta mesmo dela?

5. MAIS DO QUE ESTAVA À ESPERA

Um interrogatório, perguntas atrás de perguntas. Depois, ofegante, braços cruzados, calada, a exigir respostas. O que é feito de ti, porque não tens aparecido, estás cansado de mim, já não tenho novidades para ti, vocês são todos iguais, espera, onde vais, toma nota do que te vou dizer, mas porque viras os olhos, já não me queres ver?

Olhos, uns olhos grandes, agora cinzentos de zangada, brilhantes, húmidos, ele quase esquecido de respirar, momentos de silêncio, tréguas.

Arrependimento a seguir. Coisas que mal a gente diz se arrepende logo, sabes bem como sou, tu também és assim, às vezes dizes coisas que não gostarias de dizer, não é? Mas diz-me, o que vês em mim, Gil?

Um feitio complicado numa figura agradável, Teresa. E o que conheces de mim que eu nem imagino? Não é possível continuarmos assim, Teresa, com esses modos não…

A força das mãos nos braços dele, os olhos molhados, a exigir-lhe silêncio agora, não digas nada de que te arrependas a seguir, pára um minuto só, pára! Pessoas a chegarem, a olharem para eles, os dois a olharem para o lado, como se não fosse nada com eles, os dedos dela a tapar-lhe a boca, a situação a alterar-se. Não posso, Teresa, já não tenho mais disposição para estar aqui contigo, boa noite!

Não se conseguia ver livre dela, só se desse escândalo, mãos dela no pescoço dele, não me deixes agora, sou tão tua amiga, deixa-me estar assim, só este bocadinho, as coisas que se dizem nestas alturas.

Como me podes fazer uma coisa destas, Gil, ele vencido, outra vez a história a andar para trás, tudo a correr tão bem para o fim, afinal nem tinha sido ele a desencadear as hostilidades e agora outra vez, tentativas para se descolar com meiguice, pior ainda, ela a arrastá-lo para o jardim, a empurrá-lo para a rede, em cima dele, vencido.

Isto está a ir longe demais, tens que parar já, é tempo para começares a pensar nos passos que vais dar para te saíres bem, magoá-la o menos possível, nada de choros, o que vai ser difícil, falar-lhe com calma, nem pensar em meiguices, alegar outros compromissos, cada um para o seu lado.

Passou pelo Bento, arranjou transporte para Brá, copo de água no bar da messe, desceu para o quarto, um bom banho e meteu-se na cama com os documentos que lhe deram na 2ª repartição.

“Cassaprica é o maior acampamento IN existente na área deste posto administrativo. Há um caminho bastante perigoso, porém muito importante, uma vez iludida a vigilância dos sentinelas, pois corta a retirada do IN para a república da Guiné-Conackry em caso de operação em Camissorã. Ainda o mesmo disse que em Bagadai perto de Cane Faque, estão a construir uma jangada de paus para transportar a Cane Faque e daí para Caule uma arma bastante pesada. Também informou que mais de metade dos elementos da guerrilha passou para Caule onde existe um acampamento e um pequeno estabelecimento. Que no entroncamento da estrada velha de Cacafal com a estrada de Cambeque, do lado esquerdo de quem vai para Cabo Nepo, junto a uma árvore grande, existe um abrigo onde o IN aguarda oportunidade de montar emboscada à tropa”.

Três folhas com os depoimentos de guerrilheiros apanhados. Tinham dito tudo o que sabiam e, nada de admirações, também coisas que só se lembraram quando lhe apertaram as unhas, a polícia dizia e assinava por baixo, localização dos acampamentos, disposição, nº de guerrilheiros em cada, armas, os nomes dos comissários políticos em alguns casos. Dentro de uma pasta, uma etiqueta na capa a classificá-los. Estivera a lê-los, o sono a chegar, enfiara-os na pasta e fechou o mosquiteiro.

No outro dia, no QG, quis dar andamento às informações que lhe tinham fornecido. Os documentos vistos outra vez um por um, notas ao lado, localização de guias, onde falar com eles, transportes, esboçar os planos de operações. Da 3ª rep ficaram de lhe dizer as melhores datas, meios, as horas das marés, as coisas do costume.

No VW preto de aluguer que lhe tinham entregue logo pela manhã em Brá, meteu a pequena pasta dentro do porta-documentos. Começou a descer para Bissau, um fim de tarde agradável, sentia-se bem sem saber porquê, nada que fazer agora, e se passasse pela casa da Teresa, para arrumar o assunto, era capaz de ser boa ideia, não?


Guiné > Bissau > s/d > "Av Carvalho Viegas"... Bilhete postal, nº 129, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")

Colecção de postais ilustrados: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

A rua sem movimento àquela hora, viram-se logo, ela deitada na espreguiçadeira com os cadernos espalhados pela relva.

Era ele, nem parecia naquele carro, onde o arranjaste, apetece-me sair, levas-me a dar uma volta? É só um instante, arranjo-me depressa, não vou mudar de roupa, só pentear-me, um minuto, ele dentro do carro, à espera.

O pai dela a subir a rua, olhos a cruzarem-se, teve que sair do carro, senhor Duarte, então? Muito trabalho, senhor Vasco? O costume, vocês dão-nos muito que fazer, que bom não é senhor Vasco, é…é… de facto. Então o que diz àquela história da orelha, senhor Duarte? Que orelha? Então, olhos fixos nele, o caso do hotel Portugal! Não sabe? Toda a cidade sabe, um horror!

Um grupo de fuzos (5) ao passar na esplanada do hotel, um deles destacou-se, directo a uma mesa cheia de pessoas de cor, puxou pela orelha de um, facalhão na mão, zás, cortou-a, a correr pela rua abaixo, a rir-se, o ferido cheio de sangue atrás, dá-ma, dá a minha orelha! Não é para rir, senhor Duarte! Um horror! É verdade! Não acredita? Testemunhas é o que não falta!

Não sabias ainda? Sempre metido em Brá, como podes saber, a Teresa parecia que tinha acabado de tomar banho, toda fresca a chegar, a dar um beijo no papá. Isto está cada vez pior, senhor Duarte, cada vez pior! Para onde vão? Tenham cuidado, isto está a ficar de cortar à faca!

Como da primeira vez em que saíram sós, pouco movimento a esta hora, o carro devagar, mal se ouvia o motor, pelas ruas a descer para o porto, o quartel dos fuzileiros, a caminho da Sacor. Encostaram o carro, o Geba orgulhoso lá em baixo, a Teresa a chegar-se, ele a abrir a porta, a pé pela estrada uns metros até lá à frente, a olhar para o rio, deu a volta por dar, olhou para o carro, a Teresa com uns papeis na mão, quê?

Deu-lhes a pressa aos dois, ele a voar sem correr, ela atrapalhada a meter tudo de qualquer maneira no porta-documentos. A cara dela, ah, que cabeça, já me esquecia, tenho uma lembrança para ti, lembra-me depois quando chegarmos a casa, a propósito, quando voltamos a jantar todos juntos? Mal respirava, palavras atrás de palavras.

Mas para onde vamos? Porquê, Gil? Ainda agora chegámos, que pressa é essa, que te deu, não falas? Não estou a perceber nada, Gil, andas tão estranho ultimamente, o que se passa contigo?



Guiné > Bissau > s/d > "Aspecto parcial e Câmara Municipal"... Bilhete postal, nº 133, Edição "Foto Serra" (Colecção Guiné Portuguesa")

Colecção de postais ilustrados: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).


6. PONTO FINAL?

Estás mesmo tramado, todo enrodilhado, e agora, como é que te vais livrar deste sarilho? Não tem outro nome, sarilho só, com letras grandes. Se tivesses procedido com ela como tens feito com outros conhecimentos, não estavas agora aqui a matutar, a cabeça ainda por cima a doer-te. Tens pouca corda na mão, é o que é, deste-lhe demais e a ti também. Problema chamado Teresa, não? Como te vais sair dele, quando te resolves?

A Teresa fora um simples conhecimento, no início só para passar o tempo. Engraçou com dela, os olhos primeiro que tudo, atraíram-no, meteram-lhe medo e como os meninos curiosos quis espreitar, ela mostrou-lhe outras coisas que tinha com ela. Uma mulher diferente das que tinha conhecido aqui, estas sim só para passar as mãos pelas redondezas todas e depois parágrafo.

Nem conseguiu viver debaixo do mesmo tecto com a Matilde! Adiantou-lhe um mês de renda para a ter numa casa, equipada com tudo, apenas para os intervalos das guerras, tomar uma chuveirada com ela, levá-la ainda molhada nos braços para o quarto, um banho outra vez, vou dar uma volta, hoje não posso ficar, tardes e noites seguidas, sempre assim.

Nem conseguiu dormir com ela uma noite inteira que fosse, no início ainda disse que tinha compromissos no quartel, um serviço qualquer para fazer, ela a desconfiar que fosse outro motivo, mas não. Estou habituado à minha almofada, trá-la então, à minha cama, trá-la também, traz tudo contigo, mas não me deixes só que não posso. E deixou-a sempre. Teve pena muitas vezes de a deixar, custava-lhe suportar os olhos dela. Chatices que arranjou e arrumou sempre, melhor ou pior. Porquê?

Matilde, é simples, gosto de ti, o teu rosto, o cabelo negro que te fica tão bem assim, o teu peito pequeno e tão bem feito, a tua barriga lisa, as tuas coxas redondas, as pernas como acho que nunca vi. A tua figura toda, mas acho que tu e eu queremos outras coisas que os dois não temos. Só isso, mais nada, Matilde! De modo que é melhor seguirmos cada um o seu destino, amigos para sempre, quando te apetecer outra coisa comigo, se verá, estás de acordo?

Sacana, porquê? Matilde, não posso ficar mais tempo, tenho que me ir embora! Fica aqui um mês de renda para te arranjares.

Não queres, deita-o pela janela fora, faz o que quiseres dele, não me interessa, esse dinheiro é teu, um beijo, Matilde, não dás? Os outros casos foram entretimento para dois, sem dinheiros nem nada!

A Teresa já não é só Teresa como se apresentou da primeira vez, agora tem um nome mais comprido, Teresa Problema, proporções com que nunca sonhaste.

Os olhos, o sorriso, a figura, o andar dela, só isso? Ou terão a ver mais com outras coisas de que não estavas à espera e muito menos aqui? O gosto pela leitura, de assuntos em que nem tu próprio estavas sensibilizado, nem ainda estás, a solidariedade, o interesse pela sociedade guineense. A cultura geral, invulgar para a idade dela.

E a disposição para te afrontar, para lutar contra ti, contigo, puxar por ti, lutar pelos ideais dela, do povo dela! Para te dizer na cara, com aqueles olhos magníficos, aquilo que ela achava no seu direito de dizer. Os teus olhos a fugirem, os ouvidos que não queriam ouvir, tu a disfarçares, com a mão nela, como quem diz, vamos mas é ao que interessa! Um merdas, um Rasas, nem sempre com cheiro a uísque azedo, mas um Rasas na mesma! A aproveitares-te da sensibilidade dela, a fazeres-te caro, de um momento para o outro, a invadi-la com as tuas mãos, ela a acreditar em ti! Miserável, Rasas de merda!

Nem tanto assim! Mas que chatice! O que fizeste com ela este tempo todo, o que fizeram os dois juntos, afinal? Nada do outro mundo, brincadeiras, uma vez ou outra mais ousadas, mas nada mais do que isso, sempre travaste as tuas incursões e as dela também, e bem te custou às vezes, ninguém imagina! De resto, das tuas mãos está inteira, ou quase, não te lembras de lhe deixar marcas irreparáveis, fisicamente falando, claro.

Então porquê esta atrapalhação toda, porque não vais falar com ela, directa nos olhos, assim, Teresa, temos que alterar a relação que temos vindo a manter, não temos razões suficientes para prolongá-la, devemos dar por terminado o nosso conhecimento, não, não te amo nem um pouco, apenas comecei contigo porque te achei graça, tu também, pelos vistos, este tempo passado diz-me que é melhor não continuarmos, e pronto! Já agora, Gil, continua Rasas até ao fim!

Os olhos dela não acreditavam, continuavam insistentes a furá-lo todo, para onde fores vou atrás, senão sei lá o que faço! Inscrevo-me nas forças combatentes do partido, hei-de encontrar-te, nem que seja de arma na mão! Quero ver como te defendes! O que se diz nestas ocasiões, as mãos amarradas aos braços dele, depois largou-os de uma vez, um metro para trás a tomar balanço.

Como quiseres, tu é que sabes, não tenho que me impor a ninguém, não preciso! Tenho amigos, não me vou perder a chorar por aí! Fui ingénua pela primeira vez, vou ser outra e outra vez ingénua, infelizmente para mim.

Enganei-me, pensei que os teus sentimentos eram verdadeiros, que podíamos fazer vida juntos, afinal…mas não tenhas remorsos, a culpa foi também minha. No fundo, pensando bem, é melhor assim.

Já te vais embora? Espera aí, ouve! Há tempos, quando estava a ler um livro, algo me fez pensar em ti, de uma forma diferente do costume. Pensei que fosse impressão minha, mas não, agora já sei porque me lembrei de ti naquele momento.

Afinal, és exactamente o que pareces, dentro de ti não há calor nenhum. Como o gelo, quando se quebra é só água fria por baixo. Só tens água fria por baixo, Gil. Queres ir-te embora, não queres? Vai então, vai!


7. NOTÍCIAS OUTRA VEZ

“Não estranhes esta carta, não te vou pedir nada! Estive a fazer exercícios de Trigonometria até ficar cansada, já estive na cama mas não consegui adormecer.

Há dias que ando a tentar escrever-te, a certa altura paro para reler e rasgo. Tem sido assim, folha atrás de folha, acho-as sem jeito. Nem sei se deveria escrever-te. Estou a fazê-lo para mim, como se estivesse a falar comigo. De resto o que temos para dizer que já não saibamos, não é? E, fico-me a pensar, será também que a gente quer mesmo saber um do outro?

Tenho sabido notícias tuas, de alguém que te vê todos os dias, até já te viu a tomar banho à noite na piscina do QG. Só mesmo tu! Por acaso, falou nos colegas dele e tu és um deles. Como isto é tão pequeno! E uma noite destas quando saía da explicação, quase que me encontravas, mais um minuto e ficávamos frente a frente. Também foi melhor assim, não é? Olha, acho que desta vez vou mesmo conseguir escrever-te. Mas não quero que te sintas obrigado a responder, fá-lo só se tiveres vontade, sem obrigação. Mas quero dizer-te Gil, que gostava muito das nossas conversas, às vezes lembro-me e fico não sei como…

A mamã Benilde está melhor agora, mas o papá acha que é melhor ela ir a Lisboa fazer exames, ela não quer, mas o papá insiste, até já escreveu para as tias em Benfica, elas dizem que tratam de tudo, para a gente ir, a mamã não quer, que não pode deixar a casa, diz que não deve ser nada, a humidade é muita, o tempo também não ajuda, não é? Diz que só vai se eu for com ela, eu só posso nas férias e este ano é muito complicado para mim.

Estou a ter explicações de álgebra e trigonometria, numa sala em frente ao Pintosinho, é uma turma pequena, só raparigas, somos 4. O professor é um militar que chegou, parece que há dois meses, um jovem com muito bom aspecto, muito inteligente, elas andam perdidas por ele, tu nem imaginas, ficam a passear na rua, para trás e para a frente, à espera que ele saia, ele não lhes liga nenhuma, nem as vê, boa noite, até depois de amanhã. Eu por acaso, não simpatizo muito com ele, isto é, acho-o giro, mas ele só fala em senos, co-senos e tangentes, sabes como são os matemáticos, além disso, não te rias, não gosto muito da colónia ou aftershave ou lá o que é que (desculpa isto ir tudo riscado, ia escrever o nome dele mas ele não quer que se saiba) ele usa. É às 2ªs, 4ªs e 6ªs, das 9 às 11 da noite, às vezes um pouco mais tarde, depende. Estou a gostar muito das aulas, acho que ele explica muito bem, tem muita lógica a ensinar, também quem é que vai para Matemática, não é, só quem tem feitio para os números, para a trigonometria, só de ver os exercícios do Palma Fernandes, é de desanimar! Mas estou a gostar muito e acho que vou conseguir fazer a cadeira logo à primeira.

E tu, tens trabalhado muito no bar da cantina? É lá que estás agora, não é? Tem-te corrido bem a vida? Quando vais embora? A semana passada encontrei a Dora na Ultramarina. Disse que deixaste de lá ir, eu também já não vou lá há muito tempo.
E pronto, desta vez foi mesmo a sério, amanhã vou ver se te mando esta carta. É tardíssimo, sabes que horas são, quase duas e não tenho sono nenhum! Um beijo da tua amiga e, podes acreditar, para sempre tua amiga,

Teresa Correia
Rua dos Rouxinóis, Vivenda Correia, nº 14, Bissau.

P.S. Gil, quero pedir-te desculpa da minha reacção, a conversa apanhou-me desprevenida, eu já desconfiava mas mesmo assim não contava que fosses tão bruto, desculpa se magoei a tua cara, mas também me magoaste muito, na cara não, mas cá dentro. Mesmo assim não te sintas obrigado a responder. Escreve-me só se te apetecer.
Bom, agora é mesmo, tchau!”

8. PONTO FINAL

Encontramo-nos então logo à noite, agora temos que ir a um funeral. Quem morreu? Uma aluna do Ramos, morreu de repente, o funeral é agora às 3, o Manaças contrariado. É pá, se não vens depressa já não vale a pena, o Ramos no jeep!

Chegou-se a um grupo, o Daniel no meio a contar a vida no Xitole. E se fosse até à cidade? E foi, por ali abaixo, o calor a apertar àquela hora, sem trânsito nenhum, uma viatura militar ou outra, o rádio a tocar Capri, c’est fini, o chato do locutor não se cansava de interromper.

Deu a volta à praça do Império, meteu-se a descer a avenida, em direcção ao cais, uma mancha de pessoas lá ao fundo, muitos carros, jeeps e outras viaturas militares à frente dele, a afrouxarem junto à Sé, deve ser o tal enterro.

Pessoas a saírem da igreja, muitos jovens, a Teresa também deve ir ali, as roupas dos padres, a carreta a andar com o caixão em cima, quatro pretos de camisa branca e calça preta ao lado, muitas pessoas atrás, senhoras de véu, rostos mais escuros, deve ser o choro, não quero ver mais, que ideia que tive, vir cá abaixo a esta hora! O cortejo a andar, a virar para a esquerda, para a rua da Teresa, em direcção ao cemitério para os lados da Amura. Não quero ver mais nada.

Meningite, um ataque fulminante, pá! Uma miúda de 20 anos, vê lá tu! Ninguém pode estar descansado, porra! Uma chatice, pá, a mãe desmaiou no cemitério, a comunidade cabo-verdiana toda em peso, até pides lá estavam, pessoal dos correios, muita gente mesmo, o pai é muito conhecido…

“Como foi? Só uma dor. Mamã, não sei o que tenho na cabeça, uma dor muito forte, um saridon que a Benilde costuma tomar para as dores dela, não passava, disse que tinha frio, devia ser paludismo, que é que havia de ser, começou a chorar, não aguentava as dores, quando o pai pegou nela ao colo, que não podia com a cabeça, ele mandou logo a Mabilde chamar o doutor que a conhecia desde menina, ele nem demorou muito.

Quando o médico entrou no quarto e a viu, disse que não devia ser paludismo, que o pescoço estava muito rígido, depois olha, quando deram por ela, estava já desmaiada. Ainda foram a correr para o hospital. Foi assim que o pai contou”. A Dora, a Mabilde e a Cesária inconsoláveis.

A missa foi num final de dia. Os pais da Teresa, a Mabilde, muita gente do Liceu, estudantes e professores, a Dora, a Matilde, a Cesária e alguns amigos cabo-verdianos mais chegados. À saída, cumprimentou os pais, a Mabilde, os amigos. Foi a última vez que os viu.

© Virgínio Briote (2006)
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Notas do autor:

(4) Mao Tse Tung, na altura Presidente da China
(5) Fuzileiros

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Nota de L.G.

Último poste da série > 29 de abril de 2013 >  Guiné 63/74 - P11500: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (10): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte I) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)

Guiné 63/74 - P11506: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (36): Respostas (nº 69/70): António Rosinha (ex-fur mil, Ango9la, 1971; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, 1979); João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)



Resposta nº 69 > António Rosinha [, fur mil em Angola, 1961; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou,  como ele gosta de dizer, colonialista em Angola de 1959 a 1974; cooperante na Guiné de 1979 a 1993]:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Desde o início

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Tudo que se escreve sobre as ex-colónias, vou lá.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Há uns 5 anos (?) [, desde 29 de novembro de 2006]

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Diariamente

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Mando o que vem à rede

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Não


(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Só blogue

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

Só blogue, está bem como vai indo.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Resposta anterior

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Tudo normal.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

O blogue diz pouco a muita gente, porque a Guiné diz muito pouco a muita gente. Representa para mim, muitos anos da minha vida pelos trópicos.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Uma vez em Pombal ], 2007,] e gostei.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Não, em casa não sou só eu a definir prioridades

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Graças ao Graça e seus braços direitos pode durar infinitamente.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Está tudo bem, desde que quem andou aos tiros ou aos mosquitos e paludismo e regressou da Guiné vivo possa escrever para não esquecer


Resposta nº 70 >   João Martins [, ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69 ]


1 - Descobri o blogue em fevereiro de 2012.

2 - Foi o João Gabriel que esteve em Catió em 65/66 quem me indicou o blogue.

3 - Fui admitido em fevereiro de 2012, e logo comecei a escrever as minhas memórias a que juntei as fotografias digitalizadas a partir de slides, tendo enviado tudo para o blogue.

4 - Vejo o blogue diariamente, a não ser quando não me é possível.

5 - Não costumo participar porque gosto mais de ouvir do que de falar, e, frequentemente, sou uma voz crítica e discordante, o que pode chocar certas pessoas, mais sensíveis, que não gostam de ser contrariadas. Há quem prefira ser da "situação", eu, pelo contrário, como regra, pertenço à "oposição", seja ela qual for.

6 - Conheço o facebook.

7 - Vou lá de vez em quando para me manter informado acerca de outros pontos de vista, o que, apesar de se desviar do tema central, tem a vantagem de percorrer outros horizontes.

8 - Gosto de conhecer as experiências e os pontos de vista de todos os outros porque consigo aceitar outras ideias que sempre respeito e compreendo, e que me permitem aumentar e aperfeiçoar as minhas convicções.

9 - Não gosto de ataques pessoais se bem que saiba perfeitamente que calar é consentir, e que consentir é tornar-se cúmplice e co-responsável. E o pior, é que tenho conhecimentos técnico-teóricos e a experiência profissional que me permitem compreender que é porque nos calamos perante a má gestão governativa e situações em que uns "enriquecem", que outros conhecem o desemprego, a fome, a angústia, e até, o suicídio. Situações de que todos temos a nossa quota de responsabilidade porque fazemos muito pouco ou mesmo nada, e porque nos calamos.

10 - Nunca encontrei qualquer dificuldade em aceder ao blogue.

11 - Ir ao blogue para mim é o dever de, de algum modo, não esquecer todos aqueles que perderam a vida, ou que sofreram e sofrem a perda de familiares, pais, filhos, maridos...e também o dever de solidariedade para com todos os que física ou psiquicamente ficaram afetados ou diminuidos.

12 - Nunca participei.

13 - Este ano irei a Monte Real todo o fim de semana,  de 8 e 9 de junho,  para poder conviver com quem conheceu as agruras da guerra e cresceu e se tornou "homem" através do sofrimento, que, não sendo agradável, tem a capacidade de nos mostrar quanto somos "pequenos" e de um momento para o outro nos podemos "ir embora" pelo que devemos desenvolver laços de "amizade" e de "solidariedade".

14 - O blogue tem toda a razão de ser em memória dos camaradas que precocemente nos deixaram...e que não devemos esquecer, na medida em que há uma dívida de gratidão por liquidar. E o País, no presente, tal como no passado, não dá sinais de estar à altura de todo esse sacrifício e, quando assim é, resvala inexoravelmente para a sua perda de independência e para a sua auto-destruição.

15 - Receio que o blogue se torne num simples depósito de lugares comuns em vez de ser a voz daqueles que clamam por justiça e daqueles que, de algum modo, não esquecendo o muito que tão poucos fizeram pelos 5 continentes, exigem um País com futuro onde os nossos filhos e netos possam viver e trabalhar sem serem explorados. Um grande abraço para todos e até Monte Real. João Martins.

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11505: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (35): Respostas (nº 67/68): César Dias, ex-Fur Mil Sapador do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) e Abel Santos, ex-Soldado At da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11505: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (35): Respostas (nº 67/68): César Dias, ex-Fur Mil Sapador do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) e Abel Santos, ex-Soldado At da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada César Dias, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71, com as suas resposta ao nosso questionário:

(1) Quando é que descobriste o blogue? 
R - Finais de 2006 

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 
R - Pesquisa no Google, procurando por camaradas do meu Batalhão 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 
R - Sim desde janeiro de 2007 

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 
R - Diariamente, várias vezes 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 
R - Mandei alguma coisa mas não sou muito assíduo. 

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 
R - Conheço, já a visitei, ultimamente aderi mas não sou muito fã do Facebook 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
R - Ao blogue 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 
R - A possibilidade de revivermos episódios que narrados por camaradas, ficarmos com a sensação de os termos vivido, tão semelhantes são com situações por nós vividas. 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 
R - Temas desfasados dos tempos de Guiné. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 
R - Não, já houve esse problema, mas actualmente é pacifico. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 
R - Ainda não descobri bem, mas todos os dias tenho que visitar o blogue, senão falta-me qualquer coisa, ajudem-me, digam-me o que é isto. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 
R - Não, não tem sido possível. 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real? 
R - Também ainda não será este ano. 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 
R - Penso que sim, ainda há muita gente por aderir, ainda vão aparecer muitas histórias. 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 
R - Tem havido algumas picardias, mas ainda bem, doutra maneira se calhar já tinha acabado o blogue.

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2. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com as suas respostas ao questionário:


(1) Há cerca de um ano 

(2) Através do nosso camarada Vinhal 

(3) Sou. Há um ano 

(4) Diariamente 

(5) Sempre que posso,e já há mais material na forja 

(6) Conheço. 

(7) Ao blogue 

(8) Comentários, do facebook as carinhas larocas 

(9) Gosto deles como estão 

(10) Não 

(11) É o local certo onde posso expor todas as minhas recordações vividas na Guiné e não só 

(12) Não 

(13) Penso ir conhecer esse grande batalhão 

(14) Ainda tem e terá e ainda vamos ser mais 

(15) Meu caro amigo não tenho críticas apontar 

Aquele abraço 
Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11501: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (34): Respostas (nº 64/65/66): Francisco Henriques da Silva (CAÇ 2402, Có,Mansabá e Olossato, 1968/70); George Freire (CCAÇ 153 e 4ª CCaç, Fulacunda, Nova Lamego, Bissau e Bedanda, 1962/63); António Estácio (, guineense, alf mil em Angola, 1970/72)

Guiné 63/74 - P11504: Agenda cultural (265): Lançamento da edição fac-similada do livro "Tarrafo - Crónicas de um Alferes na Guiné", de Armor Pires Mota, dia 9 de Maio na cidade do Porto e dia 10 na cidade de Coimbra

C O N V I T E

LANÇAMENTO DA EDIÇÃO FAC-SIMILADA DE "TARRAFO - CRÓNICAS DE UM ALFERES NA GUINÉ", DE ARMOR PIRES MOTA

- DIA 9 DE MAIO DE 2013, PELAS 16 HORAS, NA MESSE DOS OFICIAIS, NA PRAÇA DA BATALHA - PORTO

- DIA 10 DE MAIO, PELAS 15 HORAS, NA RUA DA SOFIA, SEDE DO NÚCLEO DE COIMBRA DA LIGA DOS COMBATENTES.


EDIÇÃO FAC-SIMILADA DE “TARRAFO”
O ÚNICO LIVRO PROIBIDO DE TODA A GUERRA 

Armor Pires Mota que combateu na Guiné, entre 1963-1965, vai lançar no mercado, através da Editora Palimage, a edição fac-similada do livro "TARRAFO Crónicas de um alferes da Guiné", o único livro de toda a guerra colonial que foi censurado, recolhido pela PIDE e proibido de circular. 

A Edição fac-similada, apresenta, em toda a sua nudez, todas as anotações e sublinhados dos censores, o que faz de Tarrafo, que significa pântano, um documento único em toda a literatura de guerra colonial. 
Acontece isto nos 50 anos da mobilização do seu batalhão 490 de Cavalaria.

O primeiro lançamento de Tarrafo será no próximo dia 9 de Maio de 2013, às 16 horas, na Messe dos Oficiais, na Batalha, cidade do Porto. 

Presidirá à cerimónia o general Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes e integra-se na Tertúlia Fim do Império
Será apresentador o escritor, historiador e poeta transmontano, João Barroso da Fonte.

Entretanto no dia seguinte (10 de Maio) será apresentado em Coimbra, pelas 16 horas, na Liga dos Combatentes, Rua da Sofia, tendo a presidir à sessão igualmente o presidente da LIGA.


Livro incómodo para o governo e FA

“Este livro comporta, desde o início da sua escrita, muitas histórias de guerra, páginas escorrendo nervos, gritos, sangue e lágrimas, chagas, cicatrizes, feridos e mortes. Retrata a guerra em toda a sua violência e brutalidade, por vezes, ao pormenor com esta originalidade: era escrito na sequência dos acontecimentos. O que foi uma novidade no jornalismo, quando começou a ser publicado no Jornal da Bairrada (1964). Era uma ousadia, um desafio quase inocente. 

Mas a este livro, o primeiro sobre a guerra colonial, foi acrescentada uma outra história, única em toda a literatura da guerra. Após alguns dias sobre a colocação da obra numa única livraria, a Vieira da Cunha, em Aveiro, era incluído no número dos livros proibidos. Havia de ser censurado e recolhido pela PIDE. Foi considerado um livro demasiado incómodo, muito desconfortável para o governo. Afinal, havia guerra. Não escondia nada. Nem os mortos, nem o desânimo e as lágrimas, muito menos as aldeias incendiadas e seus nomes, os bombardeamentos e o tipo dos aviões utilizados nas operações”, reconhece o autor. 

Passados muitos anos sobre a sua apreensão e o 25 de Abri, “eis que, como que, por mera sorte do acaso, o exemplar censurado veio parar às minhas mãos”, realça o autor. Tem os carimbos do Ministério de Defesa Nacional e de “Confidencial”. “Rara é a página que não tem sublinhados a vermelho, no sentido vertical, à margem, ou na horizontal por baixo da palavra ou da frase, considerada corrosiva ou subversiva, no mínimo incómoda. Há também notas a lápis, deixando a impressão de que houve dois censores, qual deles o pior”.

Armor Pires Mota
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11449: Agenda cultural (264): Indie Lisboa 2013: A estreia, 4ª feira, na Culturgest, às 21h30, do filme de João Viana, "A batalha de Tabatô". O Jorge Cabral será o representante do nosso blogue, a convite da produtora... E 6ª feira, 26, às 23h00, há festa no Ritz Clube, com os "Super Camarimba"!

Guiné 63/74 - P11503: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (32): Bassarel, um paraíso no chão manjaco

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, BráBachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 6 de Abril de 2013: 

Meu caríssimo Carlos, amigos e Camaradas,
Num passado recente o nosso amigo e camarada José Martins presenteou-nos com dois excelentes trabalhos de pesquisa histórica.
Os artigos debruçaram-se sobre algumas das escaramuças sustentadas pelas nossas tropas contra os nativos da Guiné, muito antes da nossa chamada Guerra do Ultramar. Os belos trabalhos do José Martins evidenciam o cuidado que os nossos antepassados tiveram na feitura da história das suas unidades, que apraz registar. Infelizmente, a esta distância no tempo e por falta de dados suficientes, não me é possível referenciar com rigor histórico o movimento das praças da minha Companhia, nos chamados Destacamentos de Teixeira Pinto. Quedo-me pois pelo movimento dos graduados, aproveitando esta oportunidade única para apresentar aqueles que dignamente tiveram a responsabilidade de comando na CCaç 3327.
Neste escrito que agora trago ao nosso blogue, faço o que me foi possível para facilitar a vida de um futuro José Martins.

Abraço transatlântico.
José Câmara


MEMÓRIAS E HISTÓRIAS MINHAS

32 - Bassarel, um paraíso no Chão Manjaco

Para trás ficaram os sacrifícios e as privações que sofrêramos na Mata dos Madeiros. Bem acorrentadas ao coração levávamos recordações que a neblina da memória até hoje não conseguiu apagar.

Mata dos Madeiros: Aspecto da nova estrada Teixeira Pinto/Cacheu, recordação de uma vida

A CCaç 3327, agora adida ao BCAÇ 2905 para efeitos operacionais, dava início à sua nova missão, ao ir substituir a CCaç 2637, também esta uma companhia açoriana do BII18, nos Destacamentos de Teixeira Pinto.

Era então o dia 29 de Junho de 1971.

Na altura, eram quatro destacamentos: Bajope, Blequisse, Chulame e Bassarel, tendo a companhia formado um novo destacamento em Calequisse, o mais afastado, a cerca de 25 quilómetros de Teixeira Pinto. Aí ficou o 3.° GComb, sob o comando do Alf Mil José Queiroz Lima de Almeida, coadjuvado pelos Furs Mils Carlos Jesus e André Fernandes.

1971 - Capelinha erguida pelo 3.° GComb da CCaç 3327, em Calequisse

Em Bassaarel, a cerca de 20 quilómetros de Teixeira Pinto, ficou o Comando e Serviços e o 4.° GComb, este sob o comando do Alf Mil Francisco João Magalhães, coadjuvado pelos Furs Mils José Alexandre Câmara e Luís José Pinto, aos quais se juntava o Fur Mil Manuel Lopes Daniel (Armas Pesadas) que para efeitos operacionais integrava esse grupo de combate. As transmissões estavam a cargo do Fur Mil João Nunes Correia, os serviços de saúde sob o Fur Mil Rui Esteves e da alimentação se encarregava o Fur Mil Luís Martins de Moura. A secretaria era da responsabilidade do 1.° Sarg João Augusto Fonseca. O comando da companhia estava a cargo do Cap Mil Art Rogério Rebocho Alves.

O 2.° GComb, sob o comando do Alf Mil Agostinho Morgado Barada Neves, coadjuvado pelos Furs Mils Joaquim Fermento e João Alberto Cruz, tomou conta do Destacamento de Chulame.

O 2.° GComb, desfalcado de uma Secção, ficou em Chulame

Em Blequisse ficou uma Secção do 2.° GComb, sob o comando do Fur Mil Fernando Ramos Silva. Em Bajope, o Destacamento mais perto de Teixeira Pinto, ficou o 1.° GComb, sob o comando do Alf Mil João Luís Ferraz, coadjuvado pelos Furs Mils Carlos Alberto Pereira da Costa e Francisco Monteiro Caseiro. Os serviços Auto ficaram em Teixeira Pinto, sendo seu responsável o Fur Mil António José Marques e Silva. Infelizmente, a esta distância no tempo, não consigo localizar onde ficou o 1.° Sarg Manuel Pedro Vieira. Em Bassarel não foi de certeza.

O Furriel João Alberto Cruz, mais tarde transferido para Blequisse, fazendo o recenseamento da população neste Destacamento

Feitas as apresentações dos comandos e dispositivo militar, o que ressalta é a separação dos grupos de combate da CCaç 3327, que só voltariam a encontrar-se no dia 24 de Dezembro de 1972, quando a companhia, em fim de comissão, regressou a Bissau.

Com muita pena minha, com esta separação de forças, logicamente as minhas memórias passarão a ser mais concentradas nas minhas vivências em Bassarel.

Durante a deslocação entre Teixeira Pinto e Bassarel pudemos observar que a picada tinha óptimas condições, até porque ali ainda circulava um autocarro de passageiros que ia até Calequisse. A vegetação era bastante densa em ambos os lados. Como ponto de grande apreensão, a Curva da Onça, um autêntico cotovelo dobrado na estrada, a seguir a Chulame, oferecia condições idílicas para plantação de minas e emboscadas.

Outra particularidade verificada no trajeto, foi a ausência de povoados ao longo da picada, exceção para Balombe e Bafundade já muito perto da entrada para o ramal de Bassarel.
Ao entrarmos naquele ramal, foi possível verificar alguns terrenos muito bem cultivados na direita e outros terrenos em face de desbravamento na esquerda, que faziam parte de uma cooperativa agrícola.

Bassarel, sede do regulado com o mesmo nome, outrora campo de grandes tensões entre manjacos e tropas portuguesas, era agora um pequeno povoado, quase todo ele reordenado, relativamente bem arranjado. Mais tarde, foi possível verificar que as pessoas, sobretudo os homens, eram bastante reservadas, mas que depois da desconfiança inicial se mostravam amigas e receptivas aos nossos militares.

Bassarel: José Câmara junto do monumento da CCaç 2637/BII18

O quartel, de pequenas dimensões, cercado por duas fiadas de arame farpado, tinha dois edifícios principais, relíquias da Casa Gouveia. No edifício senhorial ficavam os dormitórios e messe de oficiais e sargentos, serviço de transmissões, arrecadação de géneros e cantina geral. No alpendre das traseiras ficava o refeitório das praças. O outro edifício, um barracão com alguma dimensão, servia de caserna para os praças.

Destacados destes edifícios havia um forno, uma pequena arrecadação e uma cozinha, esta sim com poucas ou nenhumas condições. O poço de água estava seco.

Como complemento de tudo isto, havia um paiol geral em frente ao edifício principal e uma única vala de defesa virada para o lado oposto da entrada principal. Do lado de fora do arame farpado havia um heliporto construído em cimento, que parecia oferecer excelentes condições de aterragem.

Na direita, junto da entrada principal para o destacamento, entre os arames farpados, debaixo de uma grande árvore mangueira funcionava a escola militar para os jovens das redondezas.

A parada, de terra batida de boas dimensões, também servia de campo de jogos.

Na verdade, Bassarel oferecia condições logísticas muito razoáveis. Para além disso, a zona estava perfeitamente pacificada.

Para nós, que ainda recentemente vivêramos o inferno das Mata dos Madeiros, Bassarel era um paraíso terrestre que importava que assim continuasse.

Quando ali chegámos, cedo na tarde daquele dia 29 de Junho, reparámos que ficaríamos alojados em Tendas de Campanha. Era a nossa sina, mas compreendemos ser razoável e normal num pequeno quartel, cujas instalações não tinham capacidade para tanta tropa.

Fomos recebidos com simpatia e alegria pelos elementos da CCaç 2637. Para estes, era o princípio do fim da sua comissão. Para além disso, havia muita gente conhecida entre os elementos de ambas as companhias. Mas toda aquela simpatia e alegria tinham um preço.

Ainda antes de descarregarmos as viaturas recebemos ordem para nos prepararmos para a primeira patrulha. Iria dar-se o início à sobreposição.

Nessa altura estava bem longe de saber que nos dias mais próximos iria protagonizar o dia mais negro das minha curta carreira militar.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE JUNHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10030: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (31): Operação Sempre Alerta: a morte de um amigo diferente

Guiné 63/74 - P11502: Notas de leitura (476): Triângulo Nublado, de J. Loufar (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Janeiro de 2013: 

Queridos amigos,
Aqui fica o testemunho de um sargento da Força Aérea que se tem revelado um escritor prolífico, J. Loufar.
Esteve alguns meses em Bissalanca, no início de 1962, fazia parte de uma equipa de pessoal afeta a uma esquadrilha de seis aviões F-86, que poucos anos mais tarde a NATO exigirá ao governo português o seu regresso.
São impressões de uma estadia sem sobressaltos, mas ele pressente uma grande inquietação, a guerra avizinha-se, as notícias são cada vez mais alarmantes. Era uma Bissau alindada ainda com sinais formais de racismo, um mundo que se alterará profundamente dentro de poucos meses.

Um abraço do
Mário


Um sargento da Força Aérea na Guiné, em Janeiro de 1962

Beja Santos

Na base de Monte Real, foi decidido, em Janeiro de 1962, uma missão especial de uma esquadrilha de 6 aviões F-86, e cumulativamente a missão de uma equipa de pessoal que lhe estaria afeta. É com esta missão que se inicia o livro “Triângulo Nublado”, de J. Loufar (José Lourenço Faria), edição de autor, 2004. Viajam num DC6 que tinham pertencido à aviação civil na Índia.

Chegados a Bissau, aboletam-se num hotel. Resolvem conhecer a cidade: “À esquerda, ouvia-se e adivinhava-se a quietude das ondas do estuário do maior rio da Guiné. À direita, perdia-se a vista na maior extensão dessa avenida e o seu termo na praça onde se destacavam a associação comercial e o palácio do governador. Palácio de linhas austeras e antigas”. Mais adiante: “Noto o modesto aglomerado de casas de primeiro andar, espaçadas e alinhadas ao longo das ruas, rodeadas por pequenos jardins bem tratados; a fraca iluminação proveniente de geradores; as montras comerciais, a denunciarem a modéstia de artigos para venda; as esplanadas, com mesas debaixo de árvores ou arbustos atenuadores de calor, tendo como clientes, quase exclusivos, os militares, as ruas alcatroadas, mas com deficiente escoamento das enxurradas, o que justifica o tal pisar de grilos, gafanhotos, baratas, sapos, répteis, etc., quando as chuvas as inundam e explicando a razão dos passeios altos; ausência, quase total, de veículos civis, a circularem e poucos militares, em rondas; cheiro a maresia e lodo…”. Observa ainda que são os homens que fazem os trabalhos domésticos nas casas dos brancos, alguém se impressiona com o à vontade com que as mulheres andam despidas da cintura para cima.

Dá conta da rotina do que os levou a Bissalanca, a reparação, inspeção e preparativos de voo. Começam a estabelecer-se as primeiras relações sociais, formam-se grupos que vão à caça, o autor não esconde a sua falta de mestria para as atividades cinéticas, por desfastio dá uns tiros numas rolas. Sente permanentemente a curiosidade acicatada por essa natureza selvagem, como relata: “O solo, vermelho de barro virgem, a cheirar a terra revolvida, salvo junto de poças de águas das chuvas, onde aparecia com cor e cheiro a lodo; os matos, compostos de diferenciados arbustos e ervas daninhas, com matizes diferentes e cheiros acres ou convidativos; as árvores, com troncos entre o arredondado e recortado por saliências dilatada; outras, mais pequenas e carregadas de frutos desconhecidos…”. Explicam-lhe o que é o caju, vai adquirindo conhecimentos da flora, fauna e terreno. Visita a praia de Tora, fica a saber que existem tubarões por isso a praia está envolvida por uma paliçada que impede a sua aproximação. Anota que os aerogramas já chegaram à Guiné. E chegamos assim ao sentimento da guerra, à cautela há patrulhamentos obrigatórios: “Os três ramos das forças armadas acordaram, entre si, que a vigilância noturna de instalações, clubes, alojamentos, residências particulares ou estabelecimentos hoteleiros, onde pernoitasse pessoal militar afeto a elas, fosse assegurada por elementos dos respetivos destacamentos”. As chefias em Bissalanca convidam todo o pessoal para um piquenique de ostras assadas, e dá notícia de acepipes e gastronomia mais fina: “Lagostas, lagostins, percebes, santolas e outros mariscos que aparecem por cá vêm de Cabo Verde, são trazidos pelos tripulantes do Dakota que semanalmente faz ligação entre a Guiné e Cabo Verde”.

Descobre com assombro que há por ali formigas de muitos e variados tamanhos, já não bastavam as dificuldades dos matos, o risco de pisar uma cobra venenosa ou o receio de ataque do inimigo, salta à vista estalagmites ou coisa parecida, afinal é um trabalho paciente das formigas, construções escarpadas, secas, avermelhadas como o barro de que são feitas.

Sente uma atração irresistível para ir a um batuque, pediram autorização a um régulo para assistir, por prudência vão armados. E descreve o espetáculo: “Os primeiros números revelaram-se monótonos e sem grande rigor na execução. Os segundos revelavam-se exibicionistas e competitivos. A coisa melhorava, o calor aumentava, a poeira adensava-se e o entusiasmo subia. Quando o par ou bailarino/a ficava a rodopiar e a dar os passos que as forças ainda permitiam, o entusiasmo era indescritível. A partir dali, os corpos desnudados, do tronco para cima, iriam entregar-se a volúpia incontrolada, por excitação e hábito. Intimidades várias de namorados, esposos, amantes, extrovertidos e meio embriagados, rejeitavam qualquer ingerência ou assistência de estranhos, mesmo para os da raça”.

Engraça com o cônsul de Dakar na Guiné. Descobre que há crocodilos à volta de Farim e sente fascínio por aqueles rios e rias misteriosos e por vezes mortais: “Enfrentar o ímpeto dos caudais daqueles fundos, largos, impetuosos e sujos rios da Guiné; a fauna dominante dos mesmos, nomeadamente crocodilos; a impenetrabilidade das suas margens, no caso de ser necessário acostar; a força da corrente, com a agravante de se ter de atravessar de uma margem para outra; a eventualidade haver terroristas a seguirem os seus passos e receios, podendo com qualquer armamento matá-los ou afundá-los”.

Visita Bolama, vê praias lindas e uma cidade a agonizar, é um espetáculo desolador. Como gosta muito de fruta, descobre o bom gosto das papaias, mamões, mangas, maracujá e anonas. Considera que o relacionamento entre os civis e os militares tem muitas tensões, sem confrontos físicos nem hostilidades declaradas, sucediam-se discussões, insinuações, provocações e desconsiderações. Para ele, tudo aquilo não passa de despeito e inveja e desabafa acerca das recriminações dos civis: “Que não vimos para cá fazer nada que eles não fossem capazes de fazer, se os deixassem. Que só vimos aumentar o nível de custo de vida. Que vimos receber bons ordenados, que eles têm de pagar, com impostos. Que agimos como se fôssemos mais amigos dos pretos do que dos brancos”. Pior do que tudo, este sargento da Força Aérea vai descobrir que há racismo puro em certos estabelecimentos onde há recusa em servir os africanos, mas alguém observa que a situação está a mudar: “A pouco e pouco, foram tomando consciência de que noutros cafés soldados pretos eram convidados pelos brancos; empregados comerciais e outros exigiam que os seus colegas pretos os acompanhassem; funcionários públicos acamaradavam com os seus colegas de cor, provando que a ousadia deles tinha reduzido tão desagradável tabu”. E chegou a hora de regressar, com a consciência do dever cumprido e com o sentido de que a guerra espreita.

É um documento utilíssimo, importa não esquecer que estamos no início de 1962, no ano anterior houve escaramuças no Norte, a PIDE anda ativa por toda a Guiné a procurar desmembrar as redes do PAIGC, em breve Rafael Barbosa e algumas dezenas de ativistas irão ser encarcerados; mas há já o sentimento de muitos perigos. E ficamos igualmente com um fresco de Bissau um pouco antes da guerra, a tal cidade traçada à régua, limpa, bem ajardinada e com os militares já a dominar as esplanadas.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11476: Notas de leitura (475): Guiné-Bissau - De Colónia a Independente, por José Gregório Gouveia, e O Trabalho de uma Vida - Avelino Teixeira da Mota, por Carlos Manuel Valentim (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11501: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (34): Respostas (nº 64/65/66): Francisco Henriques da Silva (CAÇ 2402, Có,Mansabá e Olossato, 1968/70); George Freire (CCAÇ 153 e 4ª CCaç, Fulacunda, Nova Lamego, Bissau e Bedanda, 1962/63); António Estácio (, guineense, alf mil em Angola, 1970/72)

Resposta nº 63 > Francisco Henriques da Silva  [ex-alf mil, CAÇ 2402 / BCAÇ 2851 (,Mansabá e Olossato, 1968/70), e mais tarde embaixador de Portugal, na Guiné-Bissau (1997/1999)]

Meu caro Luís Graça, 

Peço desculpa pelo meu atraso na resposta, mas, para quem está no estrangeiro e nem sempre dispõe de ligação à Internet, as coisas por vezes não são fáceis. Seguem as resposta:


1. [Descobri o blogue] há cerca de 3 anos

2. Através de dois ex-camaradas de armas e amigos de sempre,  o Mário Beja Santos e o Raúl Albino

3. Sim, [sou membro da Tabanca Grande,] mas não me lembro desde quando.

4. Vejo o blogue 2 ou 3 vezes por semana.

5. Mandei já vário material para o blogue que tem sido publicado.

6. Conheço [ nossa página no Facebook], mas poucas vezes a frequentei.

7. Vou claramente muito mais vezes ao blogue.

8.  O que gosto mais no blogue são os artigos sobre a Guiné actual bem como as recensões e as notas de leitura. A história da Guiné interessa-me muito e não só o período restrito da guerra colonial. Vou pouco ao blogue e gosto de ver algumas notícias de outros tempos.

9. O que menos me interessa no blogue são as notícias sobre as reuniões de confraternização, que, aliás, respeito inteiramente, mas em boa verdade concernem apenas os que lá vão e os camaradas ausentes desses grupos ausentes que por uma razão ou outra não puderam ir. O interesse restringe-se, digamos, a esses participantes. Quanto ao FB, a crítica é sensivelmente a mesma.

10. Não tenho tido dificuldades especiais de acesso ao blogue.

11. Representa uma importante ligação com o passado, sobretudo com a nossa juventude, e com a Guiné em particular.

12. Não, não participei. Muitas vezes não me é possível, devido a prolongadas ausências no estrangeiro que são, a bem dizer, aleatórias.

13. Com pena minha, penso que não, porque devo-me encontrar, mais uma vez fora, mas não posso desde logo responder de forma definitiva. Em resumo, não sei.

14. Acho que sim, todavia creio que o blogue poderia melhorar graficamente a respectiva página que, a meu ver - e peço que não me interpretem mal - é demasiado convencional e pouco apelativa. Continuar? Pois. com certeza, o problema é que vamos ficando cada vez mais velhos e este trabalho acabará quando o último moicano fechar os olhos. Haveria que abrir a página aos mais novos, designadamente aos cooperantes, comerciantes e empresários que passaram e passam pela Guiné, mesmo sem a nossa experiência única de participantes na guerra de África e, por outro lado, aos bissau-guineenses, pois existem de facto alguns, mas ainda poucos que participam nestas lides.

15. Creio que está tudo dito. Temos de manter viva a chama e temos de gradualmente de passar o testemunho a outros para que este projecto, não comece, nem acaba em nós.


Resposta nº 64 > George Freire [, tenente e depois capitão QP Jorge Freire, da CCAÇ 153 e da 4ª CCaç, Fulacunda, Nova Lamego, Bissau, Bedanda, 1962/63; hoje engenheiro, a viver desde 1963 nos EUA]

1- [Descobri o blogue] cerca de 2008.
2- Através do blogue Do Miradouro.
3- Se me lembro, [pertenço à Tabanca Grande]  desde 2008.
4- [Visiti o blogue] pelo menos uma vez por semana.
5- Todo o material [que tinha], (histórias e o filme que fiz em 1962/1963)], foi enviado em 2008/2009
6, 7, 8 e 9- [Gosto] mais do Blogue do que Facebook
10- Sem problema [de acesso].
11- [Para mim, o blogue reopresenta] boas lembranças.
12 e 13- Naão, estou muito longe, nos EUA, como sabes.
14- Absolutamente.
15- Nada a criticar.

Um abraço,

George Freire

Resposta nº  65 > António Estácio [guineense do chão de papel, filho de pais transmonstanos,   foi aluno da prof Clara Schwarz no Liceu Honório Barreto, colega e amigo do Pepito, é engenheiro técnico agrícola,  reformado, foi  alf mil em Angola em 1970/72, viveu boa parte da vida em Macau, é autor de diversas comunicações e livros sobre a Guiné do seu tempo, como Nha Carlota (2010), e Nha Bijagós (2011)]

Meu caro Luís Graça & Companhia Limitada. .

Estimo-te bem e procurarei ser rápido. Acontece que há várias perguntas que desconheço, e como tal terei dificuldades em responder às vossas perguntas. Mas vamos lá ver se não me faltam mais "memórias"
.

1 - Há cerca de seis anos que, pontualmente, deparava com material referente à Guiné.

2 - Era por andar meio tonto, na busca das mais diversas informações referente à Guiné.

3 - Sim sou membro da vossa "Tabanca", não por direito, mas por "emprestado", pois
fiz a "guerra" em Angola, onde bem poderia ter sido muito mais válido do que fui.

[Foto à direita, o Estácio, em 1964, em Bissau]

4 - Mesmo que esporadicamente, passei a ter maior oportunidade de há uns 5 anos.

5 - Uma ou duas vezes, por mês, e gostaria de ter convívio mais próximo, embora saiba
que será impossível publicitar nomeadamente todas as histórias que possa receber.

6 - Conheço mas a verdade é que me faz certa confusão. Creio que bem bastaria uma
bem pensada por forma a termos tudo lá metido. Admito, porém, estar errar, pois na
Guiné havia deveras malta a queixar-se.

7 - A ambas, mas de preferência ao Blogue.

8 - De um modo geral qualquer delas está próximo do que pretendo.

9 - Nada me leva a negar o esforço que tendes de andar a transportar as coisas de um
lado para o outro. Só imaginando o que tendes feito.

10- Creio que não, muito embora reconheça dever estar bastante pesado.

11- O Blogue é a melhor forma que existe para unir a malta, devendo ser feito um esforço
para ser mantida.

12- Sim, com o deste ano, vão ser já mais três (caras novas) do que eu.

13- Sim. E mais 3 "guinéus",  sendo um Paraquedista, Comando e um de Tropa-fandanga. 

14- Com certeza, daí continuar como deve ser por mais uns anitos.

15- Todas as críticas são justificadas e estou em crer que no vosso caso injustas.

Ora aqui tendes num instante as respostas ao vosso inquérito e viva quem o faz. Viva.

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11498: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (33): Respostas (nº 62/63): J. L. Mendes Gomes (CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66); Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72)

Guiné 63/74 - P11500: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (10): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte I) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)


 I Série: 18 de fevereiro de 2006: Guiné 63/74 - DLV [Poste 555]: Teresa: amores e desamores (Virgínio Briote)...

Esta é já (ou pode vir a ser) uma das mais belas novelas sobre o amor em tempo de guerra (colonial)... Foi a minha reação, espontânea, sincera, quando o Virgínio Briote me mandou este texto para apreciação e publicação...

Descobri que ele que tinha um invulgar talento para a escrita.  "Que garra, que (con)tensão, que ritmo!"... E acrescentava: "É um privilégio, para mim e para os demais tertulianos, podermos ler esta tua mininovela em primeira mão"...

Devida à sua entensão (está entre o conto e a novela) vamos publicar o texto em duas partes. É seguramente um dos melhores postes publicados na I Série. Por isso merece ser revisitado e posto no montra da Tabanca Grande, por ocasião da celebração do nosso 9º aniversário !... Onze mil postes depois! (LG)

PS - Gil Duarte,  comando do CTIG, é  um  alter ego... Teresa, jovem estudante, 19 anos, de origem caboverdiana, não esconde a sua atração por Gil (e vice versa), mas  também não esconde as suas simpatias pelo PAIGC... Estamos em Bissau, em meados da década de 60.  Vasco e Benilde são os pais de Teresa (Tesa, na intimidade). Vieram da Praia. Ele, a trabalhar nos escritórios da Casa Gouveia. guarde-se pela Parte II (a publicar amanhã) para conhecer o fim (inesperado) destes amores e desamores em tempo de guerra.

Recorde-se, por seu turno,  que o Virgínio Briote, nosso coeditor (, jubilado pro razões de saúde, ) nasceu em Cascais, foi alf mil em Cuntima, CCAV 489 / BCAV 490 (Jan/mai 1965); fez o 2º curso de Comandos do CTIG; comandou o Grupo Diabólicos (Set 1965 / set 1966);  regressou em Jan 1967; trabalhou numa multinacional da  indústria farmacêutica; é casado com a Maria Irene.


Teresa, amores e desamores
por Virgínio Briote


1. TERESA. TERESA SÓ!

Sempre em festa, a casa da Dora era uma animação quase todas as noites. Gente conhecida, quase todos da grande família caboverdiana da Guiné, amigas e amigos que chegavam, de Santo Antão, de Santiago, S. Vicente. Novidades, a loja que abriu, a Dona que morreu finalmente com 94, coisas assim. Duas estudantes repartiam-lhe as despesas, pagavam-lhe os quartos, mais alguns pesos para a manutenção da casa, os outros trocados, nunca o soube como os arranjavam, nem nunca quis saber.

A Dora era só um conhecimento, mais nada. Um dia, atacada com paludismo, viu o Gil entrar pela casa dentro, com médico, medicamentos e comida. A partir daí, o conhecido que aparecia às vezes, sempre sem avisar, passou a ser um amigo chegado, daqueles que estão sempre à beira, sem outro interesse que se visse. Amizade, só isso. Como se fossem irmãos muito chegados, a Dora confiava-lhe segredos, mesmo alguns que se calhar não devia, mandava-lhe recados para Brá, convidava-o para pequenos convívios com os amigos, quase todos caboverdianos de Bissau. Para aquela festa, tinha-lhe dito que o iria apresentar a uma pessoa de quem ele iria gostar.

Conheceram-se em Bissau numa pequena festa em casa da Dora. Viu-a logo, mal entrou. Uma caboverdiana linda, a pele morena clara, desenhada sobre o magro, à volta dos 20.

Trocaram as palavras do costume quando a Dora, olhar cúmplice para eles, os mostrou um ao outro.

Teresa. Teresa quê, que não ouvi? Teresa só. Olhos grandes, claros, esverdeados. Que bem que ficavam com aquela pele! Voz doce, ar curioso. Algo esquiva e desinteressada, virou-lhe logo as costas e cada um foi para seu lado. Ouviram músicas, mexeram os braços e as pernas, conversaram com este e aquele até se fazerem horas.

Quando descia as escadas, ela chamou-o, ar atrevido, pareceu-lhe até demais. Mas já vai, tão cedo, nem se despediu, os outros não nos deram oportunidade de falar um pouco mais, uma pena, não foi? Voltamo-nos a encontrar? Um dia, disse-lhe ela, vemo-nos por aí, não? Afinal, Bissau não é assim tão grande… Se é meu desejo? Saiu a desconversar, meio desconsolado.

Dias depois, sentado no Bento, viu-a passar. Os olhares dos outros chamaram-lhe a atenção. Todos se viraram, não era fácil passar despercebida. Parecia-lhe mais alta. Os olhos com um verde mais magnífico ainda, levemente sombreados, cabelo liso preto, a cobrir as orelhas, elegante com um vestido sem mangas, azul-escuro pintalgado de bolinhas branca, a balançar acima dos joelhos, sandália preta de meio tacão. Como se tivessem combinado, dirigiram-se um para o outro, cumprimentaram-se com alguma cerimónia.

Sentados, os olhares dos outros em cima, vamos andar, por aí fora? Meteram-se no carro, uma volta pelas ruas, por aí não, é a minha casa. Saíram da cidade, para os lados da Sacor, estacionaram de frente para o Sol, a desaparecer no Geba.

O rádio a passar Capri , c’est fini (1), ela a cantarolar baixo, até começar a falar. Quem és tu? Sou este que está aqui! Mas quem és tu, porque estás aqui? Como? Porque estás aqui comigo? Sabes lá, que resposta! Vamo-nos embora, então! A conversa assim, até encontrar o fio.

Esta guerra, os desencontros, as pessoas para um lado e para outro, muita gente deslocada das suas casas, todos a virem para Bissau, muita tropa também, demasiada até, onde é que isto vai parar. Assim, de um momento para o outro.

Depois mais suave, as origens, as famílias, os amigos, os interesses. Estava a concluir o 7º no liceu de Bissau, os pais eram de Cabo Verde, queria tirar Medicina em Lisboa, estava com As vinhas da Ira nas mãos, tinha acabado um livro de Hervé Bazin. Só ódio, queres que to empreste? Porquê, se é só ódio? Pode ser interessante para ti, como sabes que não gostas sem o ler? Vou trazê-lo. Ficou assim marcado o próximo encontro.

O que estava ali a fazer, perguntou-se. Como se tivesse adivinhado ela adiantou que gostava de olhar para ele. Que gostava de estar, de o conhecer. Mas quem és tu, fala!

A noite a cair como cai em África, noite num momento. Temos que ir, não é? Deixou-a à porta da Sé, junto à rua dela. O grupo dele saía na madrugada seguinte, para o norte.

No regresso procurou-a. Os olhos, grandes na mesma, pareciam de cor diferente, o rosto mais fechado, o que se passa, algum problema?

Uma semana, esperara este tempo todo, começou ela, parecia que tinha fogo. Porque não disseste nada, Gil Duarte? Saíste para o mato, não? Para onde foste? Para Norte, para o Oio, não? O que fizeram? A fama que vocês têm, Duarte!

Olha-me de frente, Duarte, assim não, olha-me nos olhos, assim! O que sou para ti, ora diz? Porque me foges com os olhos? Séria, os olhos a entrarem por ele dentro, porque andas atrás de mim? Duarte, não falas? Responde, porque não falas? Gosto que me contes tudo! Gil! Encostada a ele, tão baixo que mal a ouviu, vamos sentar-nos antes no jardim? Estamos mais á vontade, a mamã não está, se ela aparecer apresento-ta, qual é o mal?

Que gostava, mas agora não. E logo? Os papás ficam no varandim a apanhar o fresco, até ás 11, depois vão-se deitar. Gil, que é que te deu, não falas? Tens namorada na metrópole, todos vocês têm, sei muito bem, como é ela? A boniteza não é só na cara, sabias? Não gostas de mim? Então que estás aqui a fazer?


Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados



Duarte, que estás aqui a fazer na Guiné, que estão vocês todos aqui a fazer, a desinquietar-nos? O que vocês fizeram na Associação Comercial (*), orgulhas-te disso? Que vergonha, entrarem sem serem convidados, estragarem a nossa festa! A causar-nos sofrimento, a matar pessoas, a ocupar a nossa terra, a impedir o nosso povo de ser livre, é isso?

Estás a olhar assim para mim, porquê? Achas que não temos cabeça para pensar, que só somos corpo para vocês gozarem? Porque nunca te vejo fardado, porque será, tens vergonha de vestir a farda? Aliás odeio fardas, nunca me esperes fardado à porta do liceu, ouviste?

Vens logo à noite? Quando os papás se vão deitar fico sempre um bocado à janela. Saiu dali atordoado, sem saber o que fazer. Uma mulher diferente!


2. NOS ANOS DA DORA

Do portão viu a Dora ao cimo das escadas. Ambiente animado, pessoal a dançar cá fora, para aí uma dúzia de pares, gente caboverdiana, colados uns aos outros, aquele jeito deles, os corpos no ritmo das mornas e coladeras.

Então, bem aparecido, zangado comigo? Porquê, Dora, a consciência pesa-te? Não lembro de nada, mas sempre pode ter acontecido alguma coisa de que me não tenha dado conta, não é?

Que não deve ter ocorrido nada, que se recorde, os olhos dele pelo baile, a Teresa a dançar, a um metro bem medido do parceiro caboverdiano, a saia do vestido bem acima dos joelhos, o decote a mostrar. Mal os olhos se cruzaram, ela encostou-se ao parceiro, a cara para o outro lado.

Que não, não havia problema nenhum, estivera fora, andava ocupado, aos fins dos dias não tinha vontade de sair, só isso, mais nada. Só isso, de certeza? Anda comigo, a Dora a levá-lo para o meio dos dançarinos, mexe o corpo assim, juntinho.

Passa-se alguma coisa contigo, Gil, alguma coisa que eu não saiba? O que é que tu não sabes, Dora? Porque andas tão afastado agora, tão cheio de cerimónias, anda aí qualquer coisa e tu não queres contar. Não sabes do que estou a falar, ora, estás a desconversar, especialidade tua.

Dora, estão a chamar-te, dali, olhos na Teresa, colada ao par.

Despediram-se da Dora, isso agora vai, olhar maroto para as mãos deles. Tinham dançado uma e outra vez até ao fim da noite, quase só os dois no fim, tão colados que os outros até reparavam. Desceram a rua de Santa Luzia, mãos entrelaçadas, a fazerem cócegas um ao outro, a rirem-se por ali abaixo.

Á porta dos pais dela, os rebentamentos que ouviam há horas soavam mais fortes. O que será? Jabadadas (2) , menina, chega-te para cá, para onde vais, Teresa? Tenho medo, não posso, encosta-te então, não te sentes mais abrigada assim, mas não é das explosões que tenho medo, então de que é?

Uma mão na perna, a subir, ai, aí não, Gil! Respirações atrapalhadas, afastados, um momento que não acabava, a olharem um para o outro, uma sirene bem perto, a Teresa lançada outra vez, os lábios a rasparem-se, o gosto da boca dela, a mão dele nos seios, aqui não, anda, não podemos ficar aqui, mão amarrada à dele, que malucos, que é que nós estamos a fazer, Gil?

Na espreguiçadeira onde se recostava a ler e a sonhar nas tardes quentes de Bissau, ansiosa, não sabia o que queria, a mão dele fazia-lhe comichão no joelho, ria-se das cócegas e do nervoso. A mão em cima da dele, parecia-lhe que a acalmava. As duas mãos juntas, a subirem por ela acima, não posso, Gil, tem cuidado, miminhos só, não me faças mais nada!

Não ando a fazer nada com ela, não pretendo nada da Teresa, só passar uns momentos entretido! Não sei é se me vou aguentar assim, não sei não! Se calhar é melhor ir procurar a Matilde. E a Clara, onde andará aquele amor? Ah, Clara, Clara!

Esta história com a Teresa pode dar chatices, pode trazer-te problemas! Como vai ser o próximo lance? O 14-04 com o pára-brisas no capô, vento na cara, a falar sozinho, até Brá.

3. QUE TERESA!

Naquele fim de tarde, quando descia a rua devagar em direcção à Sé, viu o pai da Teresa, de calção, a tratar da relva e das flores. Aliás, viram-se um ao outro ao mesmo tempo, que chatice, ele a desviar os olhos para as montras da Ultramarina, o pai mais demorado, endireitou-se, sacho na mão, se calhar é aquele o gajo que anda atrás da Tesa.

Acabada a missa da tarde, Teresa, véu dobrado na mão, braço na mãe, desceu as escadas. Iam começar a subida da rua para casa quando o viu. E agora, que faço?

A mãe conhece-o de vista, já o viu da janela mais que uma vez, está a par, uma tardinha perguntou-lhe até quem era. Sei lá, mãe, um militar qualquer, como hei-de saber, queres que lhe pergunte o nome, porque está a passar na rua? Que atrevida que estás, Tesa, julgas que tenho os olhos fechados? E se nós mudássemos a conversa, mãe?

Uns tempos mais tarde vira a Tesa a falar com aquele moço moreno, alto e magro, de farda amarela clara, junto a um jeep. Quando a viu voltar a correr, com a roupa do ténis, fizera-se desentendida, descera para o jardim, para a beira dela, calada com o livro na mão. Sentira-a ausente naqueles instantes, rodeara-a, falara-lhe da carta da tia de Santo Antão a dizer que vinha passar um mês com eles. A Tesa ausente, desinteressada, ah sim, quando?

Aliás, o Vasco já reparara, a nossa filha está diferente, claro meu amor, já tem 19 anos! Não é disso que eu estou a falar, Benilde, acho-a diferente, o comportamento dela! Porque dizes isso, nunca dei por nada! Vai para o quarto cedo, anda a pé às vezes à noite, já a vi junto à janela da sala mais que uma vez! Ora,  Vasco, sempre assim foi, são raparigas novas, aconteceu connosco, já não te lembras? Não, Benilde, cuidado, a Tesa é muito nova, abre-me esses olhos!

Tesa, e as tuas aulas como vão? Ora mãe, que te deu agora? Tentou evitar até não poder mais, a mãe Benilde a cercá-la, sim conheço-o, tem mal, mãe? Que não, filha, desde que me contes tudo, desde que tenhas cuidado, sabes como são, militares longe das famílias, saudosos das namoradas, estão aqui de passagem, só querem divertir-se, tu sabes bem o que aconteceu à Lurdes com aquele alferes dos comandos também, até a chegaste a avisar, já te esqueceste? Tinha sido assim, a conversa ficara neste ponto, um dia que calhe, eu apresento-to, pronto.

De braço dado com a mãe, mudou de passeio e subiram a rua, a mãe a beliscá-la, a olhar para as montras como quem não quer a coisa, até ficarem frente a frente. A mãe Benilde, o Gil Duarte, um amigo, as mãos estendidas.

Sentámo-nos no varandim, com sumo de laranja e ananás, feito na ocasião pela Mabilde, a nossa criada de Cabo Verde. Conversávamos e calavamo-nos ao mesmo tempo, até teve graça. Os meus estudos, as disciplinas de Física e Matemática, os meus professores, o ambiente que se vive em Lisboa, as tias, as irmãs do papá, que vivem lá em Benfica.

Foi pouco tempo, para aí 1 hora, a mamã a lamentar, que pena o teu pai não estar aqui para o conhecer, naqueles fins de tarde andava a tratar do jardim, depois ainda ia ao escritório, ficaria para mais tarde, também se estavam a fazer horas, o Gil a dizer que tinha que ir. A minha mãe portou-se impecável, um amor mesmo, desci com ele as escadas, ainda ficámos um pouco na brincadeira, a rirmo-nos. Combinámos encontrarmo-nos lá mais para a noitinha, quando todos estivessem deitados.

A mamã ficou muito bem impressionada contigo, sabes? Gostou de ti, acha-te simpático, é verdade, não te rias, tu simpático, vê lá! Que pareces atinado, muito correcto. Depende dos dias e dos momentos, também acho, agora simpático, como as aparências enganam, se ela te conhecesse melhor!

Gosto de estar contigo, nem sei bem porquê. E no entanto, há tanta coisa entre nós a separar-nos. O quê? Esta guerra, por exemplo!

Nem entendo como te envolveste assim, numa força tão agressiva, porque foste para lá? Porque é que toda a gente pergunta isso? Sei lá porquê, talvez o fascínio pela guerra, não sei! Soldados com as caras sujas, o sangue nas fardas rasgadas, as imagens da destruição, os heróis lavados com as fardas novas, os emblemas a reluzirem, os tambores a rufarem, o clarim a tocar aos mortos, o frio pela espinha, os jeeps, os camiões, as lagartas dos carros de assalto, o nó que sinto na garganta, não sei, Teresa, sei lá!

E não sentes uma ponta de remorso pelo que andas a fazer, não entendes a luta deste povo? É um assunto de que não queres falar? Nem sequer te interessa? E em ti, tens pensado na guerra em que andas envolvido, de arma na mão? Porque é que não fizeste como tantos outros, levar uma vida mais resguardada, mais sossegada, até no teu interesse? Tens pensado no futuro ou é também um assunto que não te interessa?

Claro que estamos a fazer tropelias, não o devíamos fazer, não é para isso que estamos aqui. Lutamos pelo gosto da luta. Gosto disto, desta adrenalina toda. O único problema é ficarmos mutilados, se morrermos, nem damos por ela. Mas odeio a guerra, esta ou qualquer outra. Aliás, não há dia nenhum que não combata contra a minha própria guerra. E não quero morrer, nem quero que os outros morram. Mas, por mim, não vamos perdê-la. Mas é um assunto pessoal, muito íntimo, Teresa. Para as outras conversas és íntimo comigo, porque é que esta é diferente, tens outras vidas de que não queres falar comigo? Para mim tens? Alguém te obriga a estar aqui comigo ou alguma vez te obriguei?

A consciência pesa-te aí dentro, no teu íntimo, Gil, e por mais que digas que não, estás traumatizado e mais, se pudesses, fugias daqui. As minhas aulas vão andando, obrigada, não desconverses!

Quando vai ser, não sabemos. Já estivemos mais longe. Eu era muito menina, andava para aí no 3º ano, quando tudo começou a sério. Até 63, tirando o caso do Pidjiguiti (3), ao que ouço dizer, era só conversa. Nem me lembro de alguma vez ter ouvido falar a sério em independência. Independência, só a vossa, com o rei Afonso Henriques, que bateu na mãe dele, aprendeste também? E também em 1640 e tal, outra vez Portugal a dizer aos reis de Espanha que mandassem na terra deles, não foi? A partir de 1963, a história aqui passou a escrever-se de outra forma. Foi pena, mas para trás, se formos a ver,  tem sido sempre assim, não se consegue quase nada a bem, é pena, mas é assim.

Não estava era à espera de vir a ter esta conversa contigo hoje. Sempre pensei que um dia viria a falar deste assunto com alguém que estivesse do outro lado, assim, tão frontalmente como estamos a fazer agora, mas nunca me ocorreu que viesse a ser contigo! Mas também é bom que assim seja, temos interesses comuns, interessamo-nos um pelo outro, somos capazes de ter uma conversa destas assim, sem recriminações, sem zangas, não achas? És capaz de me dizer, se estivesses deste lado, o que fazias, alistavas-te no partido?

Olha, Gil, acho que não vai ser já, vai demorar ainda uns anos, mas tenho a certeza que a nossa bandeira vai subir no mastro do palácio, lá em cima na praça, e quem sabe, nós os dois no meio do povo, a vê-la ao vento, diz lá, eras capaz de ir comigo?

O barulho dos ramos das árvores e um mocho ou uma coruja lá para trás, dos lados do cemitério, os dois sentados há que tempos, na espreguiçadeira que mal dava para um.

 (Continua)


© Virgínio Briote (2006)

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Notas do autor:

(1) Canção romântica,  1965, de Hervé Villard

"Nous n'irons plus jamais, 
Où tu m'as dit je t'aime, 
Nous n'irons plus jamais, 
Comme les autres années, 
Nous n'irons plus jamais, 
Ce soir c'est plus la peine, 
Nous n'irons plus jamais, 
Comme les autres années. 
Capri, c'est fini, 
Et dire que c'était la ville, 
De mon premier amour, 
Capri, c'est fini, 
Je ne crois pas que j'y retournerai un jour" ...

(2) Rebentamentos das flagelações a Jabadá, aquartelamento das NT frente a Bissau.

(3) Greve dos estivadores no cais do Pidjiguiti, em 3 Agosto de 59, reprimida violentamente pela Polícia.

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Notas de L.G.

(*) Vd postes de:

13 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXVII: O 'baile dos comandos' na Associação Comercial

" (...) Na esplanada do Bento, a 5ª Rep, como também era conhecida , bebia cerveja com mancarra, num grupo de 5 ou 6 comandos e páras. Um terá dito que naquela noite, na Associação Comercial de Bissau, havia o baile dos finalistas do Liceu. Outro lembrou-se de perguntar se alguém recebera convite. Eu não, tu não, aquele também não…Ninguém se lembrou de nós, como pode ser? Queres ir? (...)"

13 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXIII: O baile dos finalistas do Liceu de Bissau de 1965 (João Parreira)

"(...) Na manhã daquele dia para me descontrair tinha ido com alguns camaradas para Quinhamel, uma vez que estava com grandes projectos para aquela noite. Semanas antes tinha conhecido a Helena uma moça caboverdeana, que era o que se costuma dizer uma brasa e andava todo entusiasmado" (...).


(**) Último poste da série > 21 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11438: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (9): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes XVII / XVIII / Fim): Final da comissão em Empada (set 69 / jan 70)

Guiné 63/74 - P11499: Os nossos seres, saberes e lazeres (52): João e Vilma Crisóstomo, "just married", são notícia no New York Times e no LusoAmericano






Notícia do casamento do nosso querido amigo e camarada João Crisóstomo com a Vilma Kracum. LusoAnmericano, 24 de abril de 2013 (Reproduzida com a devida vénia...)


1. Mensagem de João Crisóstomo

Date: 2013/4/29

Subject: > Thank you,... one thousand times!

My very dear friends,

I am unable to contact you all immediately individually, as I would like and intend to do as soon I can ( mostly by phone, for, as you know, I am not good with facebook and other digital network communications.) But I want you all to know that , try as I might, I cannot find words to express and convey to you all how grateful I feel to all of you.. It was your participation , either by your personal presence or simply in spirit , as evident by your so welcome and appreciated messages of heartfelt good wishes that made this day, already so special to me, an even better day,of almost indescribable joy and happiness for me and Vilma.

I am also happy that or wedding, given the unusual circumstances that led to our meeting again after a long separation, attracted the attention and special interest of some media outlets, In fact both the Luso Americano and The New York Times made extensive coverage of the event which can be seen by "clicking" ( is that the word??? I hope so!!..) the links  http://nyti.ms/182jEN2  ( for the New York Times) and for the Luso Americano please see pdf attached.

Once again, THANK YOU INDEED!

Will talk to you soon,

João and Vilma ( Crisóstomo too now,... both of us!)

Tradução [de L.G.]


Data: 29/4/2013

Assunto: Os nossos mil e um agradecimentos 


Meus muito queridos amigos:

Na impossibilidade de vos poder contactar  imediatamente a todos, um a um,  como eu gostaria e pretendo fazer assim que puder (principalmente por telefone, pois, como sabem, eu não sou bom com o facebook e outras redes digitais de comunicação),  queremos levar ao conhecimento de todos vocês que, por mais que tentemos, não conseguimos  encontrar palavras para expressar e transmitir-vos a nossa gratidão. 

A vossa participação, presencial  ou simplesmente em espírito, como é evidente pelas mensagens de parabéns que recebemos, contribuir para fazer deste dia um dia ainda melhor, de indescritível felicidade e alegria para nós os dois, eu e a Vilma.

Também estou feliz pelo facto deste casamento, dadas as circunstâncias excepcionais que levaram ao nosso reencontro depois de uma longa separação, ter atraído  a atenção e o interesse especial de alguns meios de comunicação. Na verdade tanto o Luso Americano como  The New York Times fizeram uma extensa cobertura do evento que pode ser visto por "clique" (que é a palavra?? Espero que sim! ..) em http://nyti.ms/182jEN2 (para o New York Times) e através do anexo em pdf (para o Luso Americano).
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Mais uma vez, muito obrigados, e até um próximo telefonema,
João e Vilma (Crisóstomo também agora, ... nós dois!)
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11448: Os nossos seres, saberes e lazeres (51): WE HAVE IT!!!.... Um linda história de amor, um reencontro ao fim de 40 anos, um casamento em Nova Iorque... E agora, que sejam felizes para sempre, meus queridos João (Crisóstomo) e Vilma (Kracum)! (Tabanca Grande)

Guiné 63/74 - P11498: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (33): Respostas (nº 62/63): J. L. Mendes Gomes (CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66); Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72)

A.  Mandámos mais lembrete (o terceiro e último) ao pessoal da Tabanca Grande, em 27 do corrente, sobre o inquérito aos leitores do blogue,  e estamos já publicar as primeiras respostas da 3ª vaga...

Amigos e camaradas que se sentam à sombra do frondoso, mágico, fraterno poilão da Tabanca Grande:

Estamos vivos e estamos juntos, é isso que estamos a comemorar neste 9º aniversário do nosso blogue. A efeméride, celebrada a 23 de abril, foi/é apenas um pretexto. Começámos a "blogar" em 2004... Os tempos que correm são mais de depressão do que de efusão. Mas nós, camaradas, somos velhos combatentes, sobreviventes, resistentes mas também resilientes...
Está a decorrer um pequeno inquérito por questionário aos membros da Tabanca Grande, podendo também ser respondido pelos "leitores externos" que nos acompanham. Para o caso dos "internos", a sua desejável resposta é também uma forma de "prova de vida"... Há camaradas e amigos de quem continuamos a não ter notícias há muito... 

Até à data responderam-nos mais de meia centena, o que é bom sinal... E para esses vai o nosso Oscar Bravo (OBrigado). Queremos, contudo, ultrapassar a barreira dos 10% de respondentes. A Tabanca Grande tem hoje 615 elementos formalmente inscritos. 

Contamos com a vossa melhor boa vontade e santa paciência, respondendo até ao fim da próxima semana ao nosso questionário. A resposta não rouba mais do que 5 minutinhos ao vosso valioso tempo.

Um Alfa Bravo (ABraço) para todos/as, amigos/as e camaradas da Guiné. 

Luis Graça, em nome da equipa editorial.


PS - As respostas serão publicadas com direito a foto... Escusado será dizer que respeitamos a vontade de quem não quiser responder.


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B. Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

C. Resposta nº 61 > Joaquim Luís Mendes Gomes [ ex-alf mil, CCAÇ 728, (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)]


1. Tê-lo-ei descoberto, por volta de 2008.

2. Quando pesquisava sobre a Guiné.

3. Sou membro, desde logo.

4. Umas duas vezes por dia. De manhã e ao serão.

5. Vou participando de vez em quando.

6. Não costumo ver a página do Facebook.

7. Muito menos [ir] ao FB.

8. Gosto mais dos relatos das vivências pessoais e das fotos de então.

9. Gosto de tudo. Poderá existir um ligeiro excesso de erudição...mas que se compreende.

10. Não [, não tenho dificuldade no acesso].

11. O blogue teve e tem uma importância de valor incomensurável. Só o futuro revelará...

12. Nunca participei nos encontros.

13. Não [, também irei este ano].

14/15. Tem de ter [ força para continuar].

D. Resposta nº 62 > Paulo Santiago [ex-alf mil at inf, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72]

Penso que foi em 2005 que descobri o blogue [1]. Andava, ainda, com muita nabice, navegando na net, procurando algo sobre a Guiné [2] quando me apareceu uma página com umas fotos do Saltinho, de Bambadinca, e uma do Vacas de Carvalho, meu camarada na instrução de Mílicias, sentado em cima de uma Daimller. Tinha chegado ao blogue,que à época julgo chamar-se "fora-nada". Dominando mal esta máquina de teclas,j ulgo que mandei uns comentários que não sei se chegaram ao destino.

Formalmente,entrei para a Tabanca Grande,aí por Maio ou Junho de 2006 [3] ,e teclando com um único dedo,ainda hoje,mandei alguns escritos e fotos para o nosso blogue. As memórias da guerra eram mesmo memórias, nunca escrevi qualquer diário no meu tempo de comissão, e as cartas e aerogramas que escrevera aos meus pais e irmã, desapareceram. Quem imaginaria que agora fariam jeito para alimentar esta coisa chamada blogue? [5]

Continuo a visitar o Luís Graça e Camaradas diriamente, no blogue[4]. Sou f requentador assíduo do facebook, mas sem visitar a página da Tabanca Grande [6/7].Explicando, o blogue é calmo, é um repositório temático de memórias de combatentes da Guiné, enquanto o facebook, para mim, é mais nervoso, não é temático, até dá para "puxar da G3" [8/9]. Assim.no blogue,encontrei/fiz camaradas e amigos, outros acabaram,  iniciei algumas causas, como o caso do Batista, da viúva do Ferreira, fiz uma catarse sem psiquiatra. No "face" ando por lá pela actualidade, para, algumas vezes, escrever mais com o coração.

Já participei em vários encontros,e num deles fui representado pela minha filha. Este ano, ainda não sei se estarei presente, estou num dilema: encontro ou torneio de veteranos de rugby...irei decidir.[12/13].

Quanto ao fôlego do blogue [14], acho que o tem. Em 2006, Éramos cento e poucos, não havia aniversários, havia menos anúncios de convívios, havia postES de memórias todos os dias. Agora que somos mais que um batalhão, porque não há-de o blogue ter fôlego? Penso que há muitos camaradas que têm de escrever para além do poste de apresentação,é isso que está a faltar[15]

Abraço a todos
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11495: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (32): Respostas (nº 60 e 61) de Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68) e João Rebola, ex-Fur Mil da CCAÇ 2444 (Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70)