terça-feira, 18 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11723: Manuscrito(s) (Luís Graça)(4): Comment ils sont toujours gais, les portugais!


Comment ils sont toujours gais, les portugais!

por Luís Graça

Olho do alto,
do mais alto edifício da Lisboa fontista,
o marquês in su situ,
o dito marquês de Pombal,
le plus fameux marquis du Portugal:
Estatuado,
bem apessoado, 

em pose de Estado,
futurista,
mas sem insígnias de general:
apeado,
sem burro, mula ou cavalo
para se poder passear
pelas futuras avenidas novas,
largas, chiques, burguesas, 

do Ressano Garcia
que ainda está por nascer.


Consulto o guia turístico do pós-25 de Abril
e vejo que lhe falta, do polícia oitocentista,
o cassetete e o apito,
mas ele está bem assim,
acima do Rei de Paus,

abaixo da Lei e da Grei,
maçon e republicano,
domando o leão,
dominando a cidade,
serena, sibilina,
com o Terreiro do Paço,

o Palácio do Santo Ofício, os Estaus,
e o Rio Tejo, o mundo, ao fundo.
── Comment ils sont toujours gais, les portugais! ──
exclama a guia, do vinte e oito da Carris,
que vai da Graça aos Prazeres
da boa mesa e melhor cama.

Olho-o de alto, 

ao Marquês e ao seu leão,
sem desprezo nem paixão,
com o tal olhar sociológico,
que deve ser distanciado,
profundo,
perscrutador, 
sideral, 
como me ensinou o meu professor
de métodos e técnicas
de investigação social:
── Saibam escutar Deus e Diabo,
e ponham a falar o pecador e o santo,
Deus e a sua corte,
mais os pobres deste mundo.


Mas só agora reparo,
no meu pequeno problema
do foro oftalmológico.
Não é uma questão de vida ou de morte,
mas apenas de incapacidade:
estou com falta de perspectiva,
não tenho o súbito ângulo de visão,
nem a suficiente lucidez,
luminosa, altiva,
para descer do pedestal
e caminhar, homo erectus, e sozinho,
pela Avenida, larga, da Liberdade.
O que vale é que p'ra baixo
todos os santos ajudam,

mesmo os papos de anjo e os querubins
do Hospital Real de Todos os Santos,
em ruínas.
Não, não sou santo, pederasta nem pedófilo,
sou o Intendente,
do Largo do mesmo nome,
Pina Manique,
um seu criado para o servir.
E eu, cá por mim,
prezo-me de ser um gajo decente,
não fumo, 

não bebo, 
não conspiro,
não conspurco,
não especulo,
não cometo crimes horrendos,
dou aos pobres,
empresto a Deus,
que me paga com juros e dividendos,
enfim, sou um anónimo súbdito leal.

Je viens du Siècle du Son et e de la Lumière!,
mas sou daqui natural,
primata social,
de sangue quente,
português, discreto,
cidadão avant la lettre,
jacobino, às vezes,
maçónico,
clandestino,

podem chamar-me estrangeirado,
e hoje liberal dos sete costados,
como o Espada, o Pacheco ou o Barreto;
por azar, nascido no Estado Novo,
educado em escola do Conde de Ferreira,
que antes de ser conde era visconde,
como antes tinha sido barão e cavaleiro,
e antes de tudo era o José Ferreira,
nascido em Gondomar,
de pais campónios, mas remediados, 

e maior roceiro e negreiro,
se não mesmo esclavagista,
p'las Angolas e p'los Brasis,
filantropo, benemérito,
apoiante da causa da Dona Maria,
e que eu saiba nunca foi setembrista
ou capitalista manufactureiro.
Mas que deixou o remanescente
da sua imensa fortuna
para fazer a escolinha
p'ró menino e p'rá menina,
a escolinha da minha infância.
E ainda, por duplo azar meu,
ex-combatente da guerra colonial,
no tarrafo do Rio Geba,

nos rápidos do Rio Corubal
e nas bolanhas da Guiné,
terra de azenegues e de negros.
E ainda por cima
contribuinte líquido,
cibernauta, blogador, 

com sintomas de burnout,
ao virar da esquina do século vinte e um.

── Desculpe,  Senhor Intendente,
excelência, 
senhoria,
mas não reparei na velhinha
com o cão pela trela,
na passagem de peões, 

que ia levantar o jackpot do euromilhões
ao quiosque da Tabacaria do Pessoa.

Vote no homem, avozinha,
que ele é bom chefe de família
e benfiquista.


Enfim, andei como tu,
pobre marquês no ocaso dos dias,
grande duque de copas o resto do ano,
uma vida inteira
a exercer ilegalmente
o mister da existência,
o duro ofício de viver:
a enterrar os mortos
e a cuidar dos vivos,
a destruir o passado,
a reconstruir o presente
e a riscar o futuro.
Só não matei de morte matada,
por objecção de consciência, 

nas guerras da pacificação
com o capitão diabo.

E afinal,
alguém me passou um atestado
de robustez física
para poder circular
entre o núcleo duro
da insanidade mental
da mítica cidade de Ulisses:
hoje faz parte da blogosfera,
a cidade gravada em cobre por Braúnio
em Civitates Orbis Terrarum.
── Não sei como deixei escapar
esta exposição
no Centro Cultural de Belém.
──
diz o Intendente Pina Manique,
agora caído em desgraça,

lá p'rós lados da Mouraria.


Por entre reclusos e negros,
mouros cativos
e filosófos esotéricos,
judeus sefarditas
e cristãos velhos,
marinheiros e mercadores,

balantas fuzilados entre a Mina e o Fiofioli,
batedores, dançarinos e cantadores de fado,
portadores do virús HIV,
operários sinistrados
das obras do convento de Mafra,

lançados,
grafiteiros,alcoviteiras,
tocadores de kora,
jagudis, 
e poetas alcoolizados
no Martinho da Arcádia,
pederastas e prefeitos
dos Reais Colégios,

que gostam de pôr os pontos nos ii,
lá me escapei, 

passei a fila
e cheguei à consulta do morbo gálico
no Hospital Real de Todos os Santos.
Estava semidestruído,
vinte anos depois da Grande Peste
(De que Deus nos livre!).

Afinal, o meu mal era português,
disse-me o físico,
de serviço ao banco de urgência.
Era já velho, trinta anos,
a cara coberta de bexigas
por causa da varíola
ou de algum esquentamento mal curado. 
── E aos trinta anos, senhor,
quem não é médico é louco. ──, 
ameaçou-me o maqueiro,
mal barbeado,
com ar de galicado
e chulo do Bairro Alto,

sobrevivente da guerra dos três Guês,
Guidaje, Guileje e Gadamael.
Deu-me, o físico, alguns unguentos e sedativos
e um estranho papel com uma receita com mel:
── Senhor real boticário,
é completamente inútil
este exercício ilegal da medicina.

O mal do doente é português
e quiçá irremediável e universal.
Do coração a sangrar não há sinais,

e da bilis amarela só sai fel,
dê-se conhecimento ao físico-mor
para os devidos efeitos
e procedimentos habituais!

Prognóstico reservado,
depois de vistas as águas!


E eu a pensar que o meu mal
era espanhol,
quando fero conquistador no Novo Mundo,
ou francês,
da rive gauche, que chique!
Ou veramente italiano,
florentino, 
de capa e espada,
católico, apostólico, romano,
genovês,
veneziano, 
viperino...
Não, o meu mal é português,
irremediavelmente, genuinamente, português
em Goa, Damão e Diu;
em Cabo Verde ou na Guiné;
em Angola ou Moçambique,
no Minho, em Macau ou em Timor 

ou outras terras que a gente nunca viu.
Tirei a sina na feira da ladra
e a sentença ficou dada, 

na barraca dos tirinhos:
── Pobrete mas alegrete!

Se não tens voz de tenor, senhor,
canta de falsete;
e se não tens cão, hombre!, 
caça com gato.

E sobretudo nunca olhes para trás,
a menos que a vista mereça a pena!


Hoje a cidade está vazia
à hora do terço e da novena,
e já não se dispensam mais
cuidados paliativos nem terminais.
Facto trivial,
uma criança é abandonada
na Roda da Misericórdia,
e dois turistas acidentais
espreitam
à porta da cervejaria Trindade,

fechada por causa do Grande Sismo do Ocidente,
enquanto El-Rei, nosso senhor,
no Paço se deita com a abadessa...
Sangra de saúde, compulsivo,
deixando o seu ministro aflito,

mais o confessor conselheiro,
entre o patíbulo dos Távoras
e a Real Fábrica das Sedas,
ali, às Amoreiras,

de portas abertas à espera do investidor estrangeiro.
Nas paredes do hospital da cidade
alguém escreveu um grafito,
jocoso, 

quiçá subversivo, 
e lesa-majestade:
── Meu caro Marquês, em Lisboa...
nem sangria má nem purga boa!


27 out 2004 / Revisto nesta data


Lisboa, vista em perspectiva. Gravura em cobre, meados do Séc. XVI (Pormenor) (in G. Braun - Civitates Orbis Terrarum.., vol. V, 1593) (Fonte: Museu da Cidade). Em meados do Séc. XVI, a cidade de Lisboa não sofrera grandes alterações desde o reinado de D. Manuel. Destaque, ao centro, para a representação do Terreiro do Paço e, mais a norte, a Praça do Rossio, com os edifícios do Paço dos Estaus, ao fundo, e do Hospital Real de Todos os Santos, do lado direito. O hospital ocupava grande parte do que é hoje a Praça da Figueira. (LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11599: Manuscrito(s) (Luís Graça) (3): O país que via passar os comboios

Guiné 63/74 - P11722: Os nossos médicos (49): O BART 733 tinha 4 médicos (Artur Conceição, 1965/67)


Guiné > Região do Oio > CART 730 (1965/67) > Jumbembem > Missa celebrada no refeitório de Jumbembem. Nela podemos ver o (i) Senhor Capitão Amaro Rodrigues Garcia, cmdt da 730; (ii) o Senhor Enfermeiro Fernando Teixeira Picão, do seu lado esquerdo também em calção, e de mãos cruzadas; (iii) o médico [, ten mil  Jaime Heitor Afonso,] também está presente mas já não o identifico.

Foto (e legenda): © Artur Conceição (2013). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada Artur Conceição, ex-sold trms,  CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembem (1965/67):


Data: 17 de Junho de 2013 às 19:39

Assunto: Serviço de saúde em tempo de guerra (Era bastante bom)

Caríssimos... Este é o meu contributo.

O Batalhão de Artilharia 733.

Médico da CCS/733 - Tenente, Fernando Henrique de Lemos [, que se formou em Coimbra];

Médico da Cart 730 - Tenente, Jaime Heitor Afonso

Médico da Cart 731 - Alferes, António Augusto Galvão Coelho

Médico da Cart 732 - Alferes, Manuel Guimarães da Rocha [, hoje médico ortopedista, nascido em São Pedro do Sul, em 1936; era presidente do Centro Hospitalar de Lisboa, em 2004]


Como se pode verificar, havia um médico para cada uma das quatro Companhias do Batalhão.

Havia para o Batalhão um só Capelão. Alferes, Felisberto Moreira Maia, e que era mais conhecido por Senhor Padre Maia. Penso que era natural do Distrito de Braga ou Viana do Castelo.

A seguir uma foto de uma missa realizada no refeitório de Jumbembem. Nela podemos ver o Senhor Capitão Amaro Rodrigues Garcia, cmdt da 730, o Senhor Enfermeiro Fernando Teixeira Picão, do seu lado esquerdo também em calção, e de mãos cruzadas. O médico também está presente mas já não o identifico.


Respondendo agora às questões que são colocadas (**):


(i) Quantos médicos seguiam com o vosso Batalhão no Barco?

Não posso responder a esta questão uma vez que eu só cheguei ao Batalhão em Fevereiro de 1965 e o Batalhão tinha embarcado em Outubro de 1964. Sei apenas que o Dr Afonso,  da Cart 730,  também não seguiu com o Batalhão.

Para resposta às questões  (ii) e (iii) também não tenho elementos nem me recordo de nada.


(iv)  Precisaram alguma vez de alguma consulta médica?

Por ordem do cmdt da Cart 730, face ao meu estado emocional após o ataque a Bissorã, ocorrido em 2 de Março de 1965, fui a uma consulta do Médico da Unidade que me enviou para Bissau em
consulta externa no HM 241.

Nessa consulta externa fui atendido pelo médico de Neuropsiquiatria, Dr Pimenta. O Dr Pimenta era de Coimbra e era um excelente médico dentro da sua especialidade.

Após aproximadamente dois meses, com consulta semanal, e depois me ter encontrado a dar sangue numa transfusão directa terá pensado que eu já estaria bom e deu-me alta.

Vi recentemente um documento publicado no blogue onde estava a sua assinatura.

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

Nunca estive internado em nenhuma enfermaria do aquartelamento. Não existia mas pela minha parte também nunca foi necessária.

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241?

A cerca de 2 meses antes do regresso, e por alturas do Natal de 1966, estava nessa altura no QG. Um dia a meio da tarde,  depois de sair debaixo do chuveiro, tive um ataque de comichão na sola dos pés, que fui esfregando até onde aguentei. Quando já não aguentava mais comecei a esfregar na gravilha do chão até ficar a sangrar. Fui levado por colegas para a enfermaria e daí para o Hospital.

No hospital fizeram-me o tratamento adequado, ligaram-me os pés e mandaram-me regressar à meia noite e meia hora para fazer análises ao sangue, análises essas que só poderiam ser feitas depois da meia noite que era quando o bicharoco actuava.

O que aconteceu, quando cerca meia noite fui ter com o Senhor Oficial de Dia para lhe pedir que mandasse uma viatura levar-me ao Hospital para fazer uma análise ao sangue fica para outra ocasião. Só quando o Senhor Oficial de Dia recebeu um telefonema do Hospital dizendo que estavam à minha espera é que ficou convencido, porque até aí a minha doença era outra.

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

Evacuado nunca fui. Foram 24 meses sem intervalo.

(viii) Tiveram algum problema de saúde que o médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação ?

Eu não queria chamar a este episódio um problema de saúde, embora tenha havido intervenção do enfermeiro e depois do médico, mas não houve evacuação.

Eu tinha por hábito não encher o meu cantil para levar para perto da cama, no caso de haver sede durante a noite. Uma noite acordei cheio de sede, espreitei em volta e vi uma garrafa branca que tinha dentro um liquido transparente.

Pensando que era água, bebi até ficar satisfeito, só no fim me apercebi que tinha bebido petróleo. O petróleo enviado para a Guiné não tinha corante. Fiquei aflito e fui de imediato acordar o enfermeiro que sem saber o que fazer foi chamar o médico. Eu estava aflito mas nem sequer estava mal disposto, pelo que decidiram que ia tudo dormir, se ficasse mal disposto voltava a acordá-los e pela manhã logo se fazia o ponto da situação. Tudo passou em bem mas o cabelo continuou em
queda.

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população civil?

Fazia parte da [acção] psicossocial.

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

A população em Jumbembem deveria rondar entre 100 a 150 pessoas, salvo melhor opinião, e a afluência ao posto clínico era bastante. Recordo-me de uma mocinha que ensinada pelos enfermeiros fazia umas quantas tarefas mais relacionadas com a higiene intima das mulheres.

Finalmente quero deixar uma palavra de louvor para os nossos camaradas da saúde, em especial para os da Cart 730. O Pessoal da saúde na 730 era um grupo liderado por um "oficial", que era o 1º Cabo Enfermeiro Picão. Cabeleireiro de profissão na vida civil e enfermeiro militar, não se limitava a distribuir comprimidos para o paludismo e outras mazelas, mas andava atento para não haver fugas. Sempre disponível para pedir à Metrópole produtos que não sendo de primeira necessidade nos davam algum conforto.

Mesmo não havendo enfermaria não quer dizer que não havia doentes, a que o pessoal da saúde estava sempre atento para dar um conforto, e em muitas situações alguma alimentação.

Um grande abraço

Artur António da Conceição
Damaia / Amadora

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Notas do editor:

Último poste da série > 15 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11706: Os nossos médicos (48): O BCAÇ 1887 (1966/68) tinham três médicos, mas a minha CCAÇ 1546 não chegou a ter nenhum em permanência... Um deles era o dr.João Gomes Pedro, mais tarde ilustre pediatra no Hospital de Santa Maria e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (Domingos Gonçalves)

Poste anterior:

14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11704: Os nossos médicos (47): Qual era a dotação médica de um batalhão ? Três médicos por batalhão, diz-nos o ex-alf mil méd J. Pardete Ferreira (CAOP1, Teixeira Pinto; HM 241, Bissau, 1969/71)

(...) Questões:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11721: Convívios (530): Almoço-Convívio do BART 733 (António Bastos)

1. O nosso Camarada António Bastos (ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66), enviou-nos notícias do Almoço /Convívio da sua unidade.

Almoço-Convívio do BART 733

Companheiro Carlos Vinhal boa tarde. 

Companheiro por motivos alheios a minha vontade, só hoje posso enviar as fotos do almoço do B.Art.733, que se realizou em Santiago do Cacém em 4-5-2013. Sei que já vai um pouco tarde mas o problema não foi meu. 

Companheiro eu não fui militar desse Batalhão mas sou sempre convidado, porque foi quem começou a procurar os companheiros e quem fez os primeiros almoços. 

Não identifico os companheiros pois alguns nem os conheço. 






Um abraço, sempre ao dispor.
António Paulo S. Bastos
1ºCabo do Pel. Caç. 953
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em: 

Guiné 63/74 - P11720: Estórias cabralianas (79): O Capitão-Tenente dos Submarinos (Jorge Cabral)

1. Mais um estória cabraliana, desconcertante, como sempre são as estórias do alfeero Cabral... Chegou-nos pela mão (ou melhor, pelo email) da Anabela Martins.

O Capitão-Tenente dos Submarinos

por Jorge Cabral

Qual Guiné? São tantas. Cada um cria a sua ou inventa... E quem diz Guiné, diz Guerra.

Por mim conheço muitas... Mas como esta, que mora no Beco do Cotovelo, à beira da Mouraria, não deve haver mais nenhuma. É na tasca da Conceição, onde às vezes abanco com três ex-combatentes da Guiné. Todos eles lá estiveram, em lugares e tempos diferentes e todos davam pelo nome de Mouraria.

Agora, trocada a G-3 pela garrafa, são aqui residentes e contam estórias... Já há meses que lá vou e sou muito bem recebido. A Conceição, uma jeitosa quarentona, trata-me por tio, os outros bebedores por senhor Engenheiro e sei, que desde que lá levei duas protegidas africanas, sou conhecido pelo velhote das pretas.

Na semana passada, talvez devido à época, os Mourarias capricharam. Emboscadas de gorilas... golfinhos no Geba... e até, calculem, uma raça “ de mulheres com três mamas"... Confirmei, confirmei, confirmei, mas não podia ficar atrás. Assim quando o Mouraria II, me perguntou, se eu costumava viajar nos barcos da mancarra, respondi muito sério:
 – Não, eu ía sempre de submarino!

Alguma coisa devem ter acrescentado os Mourarias, porque há dois dias, quando por lá passei, toda a gente me chamou, Senhor Capitão-Tenente

Jorge Cabral

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Nota do editor:

Vd.os úlltimos postes da série >

12 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11707: Estórias cabralianas (78): A Justiça da Velha Mandinga (Jorge Cabral)

(...) Em Agosto de 1969, nasceu a minha sobrinha Maria João e logo fui nomeado padrinho, tendo sido marcado o baptizado para Janeiro de 1970, nas minhas férias. Numa sortida a Batatá, comprei um boneco, coisa fina, talvez de origem francesa, para levar como prenda. Parecia mesmo um bébé, de bochechas rosadas, com fralda e biberon. Guardei-o na mesa de cabeceira, mas às vezes mostrava-o às meninas da Tabanca, que frequentavam a escola. (...)

18 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11586: Estórias cabralianas (77): As bagas da Dona Binta e os seus efeitos... secundários (Jorge Cabral)

(...) Não sei porque razão os Guineenses escolheram o Largo de S. Domingos, para se reunirem todos os dias. Logo de manhã, chegam, conversam, discutem, compram e vendem. É um lugar recheado de História. Foi de lá que partiram os quarenta conjurados para, em 1640, restaurarem a Independência, mas foi também ali que se iniciou a grande matança de Judeus em 1506. Deixo porém para outros a História séria, pois este velho Alfero conta é estórias (...)


(...) Não sei se foi por distracção ou por preguiça, mas esqueci-me de morrer. Claro que tenho pago escrupulosamente o Imposto de Sobrevivência, mas agora resolvi aceder ao apelo governamental “ todos os velhos devem comparecer na Central de Abate,o que constitui um dever patriótico”. Comuniquei a decisão à família, que ficou muito contente, principalmente a minha bisneta Carol, que foi logo requerer mais um filho nos Serviços de Programação Genética. Um rapagão que nasça já crescido para não dar trabalho (...).

Guiné 63/74 - P11719: Notas de leitura (492): em nome da Grei, por Gustavo Pimenta (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Março de 2013:

Queridos amigos,
Foi graças à Teresa Almeida, da Biblioteca da Liga dos Combatentes, que tive conhecimento deste livro que é uma imprevista descoberta.
Se as suas memórias da Guiné já nos tinham surpreendido, este relato dos meses de recruta, especialidade, colocação numa unidade a aguardar mobilização e, por fim, a formação de batalhão com destino à Guiné, é surpreendente pelo didatismo comedido, a sinceridade das situações, os desabafos de alma, o desvelamento da intimidade.
Um livro magnifico e tocante que não devia andar escondido ou despercebido.

Um abraço do
Mário


Em nome da Grei

Beja Santos

Se me pedissem alguns títulos de obras sugestivas que explicassem com rigor e probidade o que eram as nossas recrutas e especialidades, não hesitaria em propor o diário do soldado Inácio Maria Góis, o livro “O Pé na Paisagem”, de Filipe Leandro Martins e “Em nome da Grei”, de Gustavo Pimenta, Palimage Editores, 2003.

Falou-se de Gustavo Pimenta a propósito de um livro de grande interesse: "sairòmeM Guerra Colonial", Palimage Editores, 1999, dedicado à sua comissão na Guiné. Obra singular, com estrutura em flashback, ou seja ou acontecimentos vão sendo rebobinados. Escrevia ao tempo que esta boa prosa convincente e afetuosa precisava de três leituras: a primeira, para nos aproximarmos dos factos; a segunda, para nos fixarmos numa cronologia de uma comissão que ocorreu entre 1967 e 1969; a terceira, para incorporar nos cinco sentidos um depoimento sensível e delicado sobre quem viveu quase um ano em Madina de Boé e perdeu soldados naquela trágica travessia da jangada, em Fevereiro de 1969.

Agora temos um funcionário camarário, tem 22 anos, é educado em meio provinciano, Viana do Castelo, recebeu uma guia de marcha para se apresentar nas Caldas da Rainha, lá vai de Viana para Campanhã, daqui à Pampilhosa, Figueira da Foz, Caldas da Rainha, a recruta será no RI5. Descreve a chegada ao pormenor, a caserna, a arrecadação, as primeiras brutalidades no tratamento, o fardamento, a péssima comida. Quando abre espaço ao diálogo, são frases incisivas, telegramáticas. Como se o leitor tivesse todo o direito a saber o ABC da mobilização militar, esmiúça quem frequentava o CSM ou COM, onde ocorriam tais cursos, como se processava a ordem unida, qual a sua linguagem automatizada, abreviada: “Começávamos logo pela manhã, obedecendo às ordens que faziam de nós um grupo marionetas, mantendo o ritmo e o passo acertado ao som de – esquerda, direita, um, dois!, que depressa se transformaram em – erda, eita, um, dois!, assim como – direita volver! e esquerda volver! passaram a – eita er! e erda er!”

A aprendizagem dos postos da tropa, a docilidade dada pela ordem unida, a proibição de não tratar ninguém por colega, as continências, instrução física e a aplicação militar, a limpeza da Mauser, os crosses, a revista à caserna, os testes escritos feitos às sextas-feiras de manhã, sentados na parada com uma prancheta de platex sobre os joelhos e apostando nas opções de escolha múltipla, as excursões de fim de semana até casa, o ambiente das Caldas, o recebimento do pré, as formaturas para sair do quartel, não há pormenor que escape a Gustavo Pimenta: “Botas de cabedal, que se prolongavam em polainas, afiveladas ao lado, até meio da canela; calças de terylene, camisa de popelina; blusão com as insígnias da arma a que pertencíamos, em metal amarelo, espetados nos virados e boina, com o distintivo da unidade no mesmo metal”. Mas também a barba escanhoada, as apresentações na porta de armas e, mais à frente, parece que o leitor entra num pinhal e vai fazer instrução, ensarilha a arma, monta e desmonta a arma, segue para a carreira de tiro, ali ocorrem sempre peripécias, como a do Pires: “Na primeira sessão de tiro que fizemos, o Pires, que integrara comigo a equipa de futebol júnior do Vianense, possuidor de um corpanzil impressionante, não conseguiu ajeitar a posição da Mauser de forma a acomodar o impacto de recuo. Sucessivamente obrigado a fazer os disparos previstos, a dor e o escárnio do oficial da carreira fizeram-no descontrolar até ao choro. Foi humilhado e, com ele, todos nós. No fim da sessão o hematoma que ele tinha na clavícula era do tamanho da nossa revolta e do desprezo, ainda que inútil, que passámos a dedicar ao alferes que a orientou”. E os exercícios noturnos, a malta a trepar por montes e vales, a tiritar de frio, a emboscar o inimigo. Finda a recruta, vai até à EPAM, foi sol de pouca dura, tinha tido alta classificação, seguiu para Mafra. Põem-se problema de consciência: devia recorrer ao Batateiro para passar a salto, ir para França? Sente-se impelido pelo dever, vai desenganado, aquela guerra não lhe diz nada.

Em Mafra, sai-lhe na rifa dormir na capela, o seu instrutor é o alferes Rocha: “no seu porte atlético, bíceps salientes, atarracado, pernas demasiado pequenas para o tronco que tinha, ar de anão – ou de símio, como preferiam os sussurros a meu lado”. Quem vinha do CSM era visto com desconfiança: “Estes gajos acham que nós, o que viemos do curso de sargentos, somos menos do que eles. A mim, em todos estes dias quase não me falaram”. O alferes puxa-lhes pelo físico, andam constantemente suados, enlameados, a jogar boxe, a sofrer todas as agruras do Vale Escuro. As marchas finais foram inesquecíveis, golpes de mão a aldeias encravadas na montanha, não teve alta classificação porque o Rocha considerou que ele não tinha físico para oficial do Exército, ainda por cima usava óculos.

Aspirante, é colocado em Penafiel, um oásis. Foi praxado e não gostou. Escreve a vida em Penafiel, levou uma vida santa até ter sido responsabilizado pela decoração de um túnel, lá encontrou papelada muito ao gosto do comandante. A espera pela mobilização não foi longa, muito menos inesperada. Foi até Tancos tirar o curso de minas e armadilhas, seguiu para Tomar, faz parte da CCAÇ 1790. Ficamos a saber o que lê os filmes que vê, a música que ouve. Volta-se a pôr a questão da deserção, volta repudiar tal atitude. Agora tem que formar soldados, sente-se confuso: “Como fazer deles os melhores soldados do mundo, que são os únicos que vão para além da morte em todas as impérvias lutas e, perante as mais nobres das causas, chegam até à suprema dádiva da vida? Que causas lhes incutir? Antes, que causa a minha?”. A maioria do contingente era gente minhota. Tinham um soldado envelhecido, com 32 anos. Vivia lá nos ermos, metido na aldeia natal, jamais descera à cidade. Até que lhe nasceu um filho e teve que o ir registar. Aí deram por ele, descobriram que era refratário, não aparecera na inspeção militar: “Introvertido, obedecia a tudo sem resmungo, como se obedecer fosse sina com que nascera. Numa das primeiras sessões de aplicação militar, quando se ensaiavam cambalhotas sucessivas, o Jesus, logo à segunda ou terceira, deu um berro e ficou no chão agarrado ao ombro. Tinha fraturado uma clavícula em dois sítios e a recuperação seria problemática e prolongada. No dizer dos médicos, tinha a estrutura óssea de um velho e não era claro que voltasse a ser o mesmo”.

E um dia vem a notícia: a Guiné espera-os. Ele ama profundamente Joana, não sabe o que dizer à namorada, nem aos pais. Continua a insustentável indecisão entre partir ou fugir. O BCAÇ 1933 está pronto para partir para a Guiné, goza as últimas férias, recebe a bênção dos familiares, escreve cartas ainda em Santa Margarida para Joana, julga e pede-lhe que o esqueça. Já embarcaram no navio Timor, começa uma viagem de vários dias até chegarem ao palco da guerra. Tira a carta destinada à Joana do bolso e lança-a ao rio, tem os olhos marejados de lágrimas. “Invadiu-me uma inexplicável alegria. Senti uma convicção absoluta, uma certeza indestrutível: regressaria, no fim da comissão, inteiro e salvo, para a Joana”.

Um livro comovente, continuo a não perceber como é que estas obras andam despercebidas.
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Nota do editor:

Último poste da série de 14 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11705: Notas de leitura (491): Atlas dos Instrumentos Tradicionais da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11718: Freguesia da Atalaia, concelho de Lourinhã, inaugura no Parque dos Moínhos, com vista de mar, um belo monumento aos seus combatentes, que estiveram repartidos por 5 teatros de operações: Angola, Guiné, Moçambique, Índia e Timor


Vídeo (38''): Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Depois da visita ao cemitério e da missa, o cortejo segue em desfile pela rua principal da vila, encabeçado pela  Banda da Associação Musical da Atalaia [AMA] e com a participação de muitos combatentes e população. A freguesia de Atalaia tem cerca de 1900 habitantes (censo de 2011).


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 Inauguração do monumento aos combatentes:Vista parcial do monumento (1)


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 Inauguração do monumento aos combatentes:Vista parcial do monumento (2)


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 Inauguração do monumento aos combatentes:Vista parcial do monumento (3)

Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 >  Inauguração do monumento aos combatentes, no Parque dos Moínhos: A benção do monumento, na presença (da esquerda para a direita) de: (i) secretário da junta de freguesia da Atalaia, Renato Henriques; (ii) presidente da câmara municipal, José Custódio;   (iii) presidente da junta de freguesia da Atalaia, Luís Fernando Fonseca;  e (iv) secretário geral  da Liga dos Combatentes, cor Faustino Alves Lucas Hilário. A base do monumento é, simbolicamente,  um barco.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 Inauguração do monumento aos combatentes:Vista parcail do monumento: militares vindos de Mafra e Carregueira (guarda de honra e terno de clarins da banda do exército)... Ao centro, o ten cor Costa Pereira, presidente do Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes (que integra a delegação da Lourinhã) está atento aos pormenores protocolares.



Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 Inauguração do monumento aos combatentes: Autoridades civis e militares, com destaque, na primeira fila, do lado direito, para os autarcas, o presidente da câmara municipal da Lourinhã, José Custódio, e o presidente da junta de freguesia de Atalaia, Luís Fernando Gomes da Fonseca.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Estandartes de diversas associações de combatentes (1)



Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Estandartes de diversas associações de combatentes (2)


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Estandartes de diversas associações de combatentes (3): A Associação de Fuzileiros


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Estandartes de diversas associações de combatentes (4): A Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra, e a Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste (AVECO), com sede na Lourinhã.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Estandartes de diversas associações de combatentes (5): A Associação de Comandos.



Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Guarda de honra e aspeto (parcial) da assistência.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Parque dos Moínhos, inauguração do monumento aos combatentes:  Guarda de honra  e aspeto geral da assistência.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Parque dos Moínhos, Inauguração do monumento aos combatentes: Banda da AMA (Associação Musical da Atalaia), dirigida pelo maestro Luís Santos. No Parque dos Moínhos, está também localizada a sua sede (lado direito da foto).


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes:  Aspeto parcial da tribuna com as autoridades civis e militares. Do lado direito, a lápide com os nomes dos combatentes de Angola. O único morto que a freguesia teve, foi em Angola, em combate, a do sold João Cláudio Fernandes, da CSS/BART 400, em 5/7/1963. A família fez-se representar na cerimónia.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Placa com os nomes dos 18 combatentes da Guiné. Todos os camaradas vivos, e disponíveis na data, compareceram à cerimónia, tendo recebido calorosas palmas do público presente.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Parque dos Moínhos, Inauguração do monumento aos combatentes: Terra de moinhos (uma das riquezas patrimonais do concelho da Lourinhã), terra de moleiros, padeiros, pescadores, mariscadores, agricultores... Também foi dia da Festa do Pão do Moínho, este ano na sua 3ª edição.



Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: O meu amigo amigo de infância Jaime Bonifácio Marques da Silva, alferes paraquedista em Angola (1970/72), natural do Seixal da Lourinhã, e antigo vereador do pelouro da cultura em Fafe, mais a sua esposa,a Dina, e a Maria Alice Carneiro.  O Jaime, tanto na sua terra natal (Seixal) como na terra da Dina (Fafe), tem um incansaável dinamizador de iniciativas de homenagem aos antigos combantes: este ano em agosto, vai organizar uma homenagem ao seu colega de escola, e vizinho da Areia Branca, o malogrado José Henriques Mateus, desaparecido na Guiné.

Já aqui falámos, por diversas vezes, do trágico (e ainda hoje misterioso) desaparecimento do José Henriques Mateus, soldado da companhia a CVAV 1484. Nascido à beira-mar, na Areia Branca, entre moinhos e dunas de areia, era muito provável que o Mateus soubesse nadar... É por isso muito estranho o seu desaparecimento no Rio Tombar, no sul da Guiné (actual região de Tombali) e sobretudo, uns dias depois, a localização da sua camisa com uma imagem da Nossa Senhora de Fátima, uma nota de 50 pesos e a sua identificação... Essa estranha e trágica história já foi contada, em 2007, pelo seu e nosso camarada de companhia, o ex-fur mil, Benito Neves, bancário reformado, natural de Abrantes.


1. Foi um dia de festa para a vila e freguesia da Atalaia, concelho de Lourinhã: ontem, domingo,  16 de junho de 2013, foi finalmente inaugurado, da parte da manhã, com toda a dignidade, cívica e militar,  e elevada participação popular,  o monumento aos combatentes  da freguesia de Atalaia, que passaram por 5 teatros de operações, entre 1961 e 1975: Angola, Guiné, Moçambique, Índia e Timor.  (Segundo dados não confirmados, o seu número ascenderia a um centena).

O monumento, localizado no Parque dos Moínhos, com uma bela vista sobre a oceano Atlãntico, o Cabo Carvoeiro e as Berlengas, enche de orgulho as gentes da terra e os seus combatentes da guerra colonial. Era um projeto acarinhado pelo executivo da junta de freguesia local, há vários anos (três mandatos, segundo informação do presidente, Luís Fernando Gomes da Fonseca), e finalmente concretizado com o entusiástico apoio dos combatentes e população locais.

Além da Liga dos  Combatentes e do Núcleo de Combatentes de Torres Vedras (que é presidida pelo ten cor ref C. Pereira), a cerimónia contou com a presença de numeroso povo e de diversas associações de veteranos.

Foi abrilhantada por uma guarda de honra da EPI (Escola Prática de Infantaria, de Mafra) e por um terno de clarins da Banda do Exército (Carregueira), além da banda da AMA (Associação Musical da Atalaia).

Estão de parabéns a junta de freguesia da Atalaia (nas pessoas do seu dinâmico presidente, Luís Fernando Gomes da Fonseca, e do seu jovem secretário, Renato Henriques), o laborioso povo da Atalaia (com fortes ligações históricas ao mar e à terra) e a sua comissão de festas de 2011 (que angariou uma boa parte dos 10 mil euros que, segundo fontes não oficiais, terá custado o monumento e o arranjo urbanístico), bem como como a câmara municipal da Lourinhã. Está também de parabéns o Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes (que integra a delegação da Lourinhã), e que tem dado um grande apoio aos combatentes deste concelho e às suas iniciativas.

A comissão organizadora obsequiou depois as centenas de convidados (combatentes, autoridades militares, civis, religiosas e representantes associativos) com um simpático almoço no pavilhão multiusos da terra, que foi também um excecional convívio para os combatentes da Atalaia e convidados.

Foi também uma ocasião para eu confraternizar com inúmeros amigos e camaradas, vários dos quais falaram com apreço do nosso blogue. Tive também o prazer de estar com o meu amigo de infância Jaime Bonifácio Marques da Silva, alferes paraquedista em Angola (1970/72), natural do Seixal da Lourinhã [, vd. última foto de cima, acompanhado da esposa Dina e da Alice Carneiro), bem como com antigos prisioneiros na Índia, como o Luís Filipe Maçarico  (meu primo, de Ribamar) e o Joaquim Isidoro dos Santos (, meu amigo, da Atalaia).

O secretário da junta de freguesia, Renato Henriques,   ficou de enviar, por email, o discurso que leu na ocasião.

Vídeo e fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.

Guiné 63/74 - P11717: Parabéns a você (589): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11686: Parabéns a você (588): Alcides Silva, ex-1º cabo estofador, CCS/BART 1913, 1967/69

domingo, 16 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11716: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (38): 39.º episódio: Memórias avulsas (20): Tavira - O antes da guerra

Ponte em Tavira


1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 1 de Junho de 2013, enviou-nos mais uma história ocorrida durante "Os melhores 40 meses da sua vida", na bela algarvia Tavira.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65-67 - MEMÓRIAS AVULSAS

20 - O ANTES DA GUERRA - TAVIRA

Contrariado parti, primeiro no comboio de Mora para Évora e daí em diante nem sei como, mas que cheguei... cheguei.

A janela gradeada por fora, onde estava a cama que me destinaram, ainda lá está, que há pouco a voltei a acariciar, em visita de saudade serôdia, que bastas vezes faço, bem como a "porta do cavalo" (assim chamada provavelmente porque era por ali que me desenfiava) e onde hoje ainda, costumo estacionar o meu bólide enquanto vou aos comes.

Por aí saía, pela manhã e para a ginástica matinal a praticar logo ali atrás do quartel e também para as visitas bi-semanais, às salinas que ainda ali estão, só que agora sem recrutas e onde (nesse tempo, Julho-Agosto de 1964), de botas engraxadas, fato lavado e passado a ferro, tive de afocinhar voluntariamente obrigado, naquelas empestadas águas, cheias de enguias.

A suite para 150, era razoável, melhor que a de Mafra, a comida... comia-se... o vinho Lagoa era bestial com os seus 14 graus.

Tavira não era grande, os Algarvios... avarentos de verdade e de tal maneira, que eu e habituado como era, por educação, mesmo saudando-os de borla, quer com os bons-dias quer com os olás nem sequer troco alguma vez recebi.

Uma vez por semana a visita guiada era para a carreira de tiro e isso significava descanso à sombra das alfarrobeiras, pois que só alternadamente íamos disparando lá para baixo onde estavam os alvos.

O melhor de tudo era a hora de almoço, ali mesmo confeccionado nas cozinhas de campanha com tampas abertas a fim de permitir a entrada do pó, que bom sabor a barro dava.

As noites eram porreiras, pois que me permitiram, após a primeira semana, que dormisse no exterior, em casa alugada e com mais dois amigos, além do outro lado do rio. Tal significava que jantava bem e regava melhor. A coisa nem dispendiosa ficava, papando ali nas variagadas tascas à beira do Gilão.
Lembro-me que bebendo um tinto ofereciam três carapaus fritos presos pela cabeça, com um palito.

Outras vezes e dando um salto à praia, trazíamos (éramos três) quilos de conquilhas, mas das grandes, e que depois mandávamos cozinhar e faziam-no de tomatada. Depois era só migar, qual açorda, pão lá p'ra dentro da molhança.

Graças à preciosa indicação do Senhor Aspirante Comandante do Pelotão, que me apresentou ao pai, pescador com barco, este protegeu-me e apresentou-me aos comerciantes de vinhos e seus derivados ali do burgo e tal contribuiu muito para que a minha popularidade enóloga, fosse apreciada e passei a ser convidado para acontecimentos inerentes a provas.

Também colaborei por duas vezes na pesca do atum e só vos digo, que foi das experiências mais valiosas e de que ainda guardo imagens maravilhosas.

E quando se tem sorte, tem-se e mai'nada... até os fins de semana ia passar com a família, pois que um dos camarigos do pelotão, sendo de Évora trazia-me até aí e também juntos, daí regressávamos.

Vínhamos no seu Mini, demoravam-se horas, mas habitualmente às 10 da noite estávamos lá. Depois faltando-me ainda 70 Km até casa recorria a boleias mas o mais tardar ao sábado de madrugada chegava cansado mas feliz.

O trajecto inverso começava ao Domingo depois das migas e levava já comigo a roupa lavada e encerada, um os dois "xóriços", um bocado de paio... ou de morcela da grossa, alguma fruta, alguns escuditos no bolso.

Assim se passaram dois meses após o que regressei com as divisas no local próprio.

O tempo passara rápido e vinha muito, mas muito mais culto qu'até já sabia "trabalhar" c'as Dreyse... FBP... Uzi... Walter... Parabellum e melhor ainda... a medida dos supositórios que usavam, ou seja 7,92 e 9mm.

(continua)
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Nota do editor:

Último poste da série de 3 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11669: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (37): 38.º episódio: Memórias avulsas (19): Mafra, Junho de 1964

Guiné 63/74 - P11715: Blogoterapia (228): A todos quero agradecer os votos de parabéns e as palavras que me dedicaram no meu aniversário (Belarmino Sardinha)

1. Com as nossas desculpas pelo atraso, estamos hoje a dar notícia da mensagem do nosso camarada Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, MansoaBolamaAldeia Formosa e Bissau, 1972/74), com data de 7 de Junho de 2013: 


Agradecimento

Nunca sei, confesso-o, como agradecer o carinho manifestado e a forma como sou brindado por todos vós.

A todos quero aqui expressar o meu sincero agradecimento pelos votos de parabéns e palavras que me dedicaram na data do meu aniversário, mas gostaria de salientar o trabalho dos editores, sendo que começa neles todo um trabalho de lembrança e apresentação de cada camarada, além do restante diário com a leitura e colocação de novos artigos e temas. Para os editores, homens quase dedicados em exclusividade a aturarem as nossas madurezas voluntariamente dando o seu tempo a esta comunidade o meu muito obrigado.

Quero não deixar esquecidos todos os outros que o não tendo feito por escrito neste espaço estiveram igualmente comigo, por telefone, mensagem pessoal ou pensamento na simples bebida de um copo por lembrança de outros dias e tempos das nossas vidas. Para estes vai igualmente o meu agradecimento.

Há muito que não escrevo umas linhas dedicadas a este espaço, o blogue do Luis Graça, este nosso blogue por ocupação autorizada, julgo que serve também para expor ideias e opiniões, o que a seguir espero conseguir fazer, justificando a ou as razões já apresentadas em conversa com alguns, para que tivesse deixado de mimar os aniversariantes com os meus parabéns quando, agora, parece uma contradição, aqui estar a mostrar-me grato por esse facto.

Nenhuma das razões por mim apresentadas deve ser tomada como crítica negativa a quem o faz, apoia ou defende esse princípio de aqui se expressar nesse sentido, seja este escrito entendido apenas como a minha posição de princípio, de consideração e honestidade para com aqueles com quem convivo neste espaço.

Pode, admito, não ser compreensível para todos, para mim é-o na medida em que considero a todos por igual neste aspecto e o facto de nem sempre estar disponível ou atento ao aniversariante do dia, como obriga o serviço do quartel com oficial, sargento cabo e praças de dia, poderia levar-me a dar parabéns a uns em detrimento de outros e onde o esquecimento ou a falta de oportunidade criaria uma falsa ilusão de apoio, preferência ou simpatia que, no caso, não se aplica nem justifica e poderia contribuir para uma estatística errada dos que têm mais ou menos camaradas a dar-lhes um abraço nesse dia festivo e onde, eu, ajudaria negativamente a engrossar as hostes dos desfavorecidos.

Não sei se estas linhas terão sido esclarecedoras ou terão mesmo alguma importância para os outros, para mim têm na medida em que justifico a minha posição, frontal e sem rodeios ou medo de críticas. Continuo, como sempre, a festejar com todos aqueles que felizmente ainda vão comemorando o seu aniversário entre nós, tal como se fosse o meu, mesmo que em silêncio.

Quanto a outras matérias não se tem proporcionado escrever, talvez por falta de assunto com interesse como aqui e agora se comprova.

Com o sentimento de camaradagem de sempre e para sempre, aqui fica o meu sincero agradecimento e abraço para todos.
BS
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Notas do editor

Vd. poste de 6 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11675: Parabéns a você (586): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1972/74)

Último poste da série de 3 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11668: Blogoterapia (227): É por tu que se entendem os tabanqueiros (Joaquim Cardoso)

Guiné 63/74 - P11714: FAP (73): A instrução do AL III no meu tempo (J. Pardete Ferreira, ex-alf mil médico, 1969/71)

1. Resposta, com data de 15 do corrente,  do nosso camarada José Pardete Ferreira, às questões levantadas no poste P11703 (*):

(i) Requalificação;

(ii) 35 horas de voo.
(iii) Voo de contacto. Navegação à vista.
(iv) Ab inicio Al III
(v) Ida directa

(vi) A Sud-Aviation tinha um técnico em permanência em Bissau, Pierre Fargeas, que com a mulher vivia aboletado em casa do ten cor pilav Amaral e em seguida ten cor Brito. Sendo amigo e companheiro de liceu do Ricardo Cubas, ao tempo major pilav, sendo comandante da Esquadrilha Heli, era visita quase diária lá de casa e as soirées eram passadas à "sombra" das pás do rotor principal. Curiosamente o então major pilav Pedroso de Almeida, também foi meu colega de liceu e oficial de operações, penso, da Esquadrilha dos Fiats. Este já depois do final da minha Comissão.

Cumprimentos e um Alfa Bravo

José Pardete Ferreira (**)

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Nota do editor:

14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11703: FAP (71): O AL III faz 50 anos de operação e eu gostaria de saber como se fazia a Instrução da sua pilotagem na época (Fernando Leitão, ten cor pilav, Área de Ensino Específico da Força Aérea, Instituto de Estudos Superiores Militares)

(...) Assim, para a recolha da informação ainda disponível, devo recorrer a quem viveu essas experiências. É nesse âmbito que solicito o seu contributo, de documentos ou experiências vividas, relativamente a:

(i) seleção dos alunos pilotos (recrutamento de civis ou requalificação de pilotos de outras aeronaves?);

(ii) duração do curso (tempo e horas de voo);

(iii) modalidades de voo com maior relevo? (voo de contacto, voo de montanha, navegação, etc.);

(iv) ab initio no Alouette ou antes voavam Chipmunk?;

(v) após o curso de pilotagem de helicópteros, havia lugar a qualificação operacional (curso avançado) ou seguiam diretamente para os teatros de operações?;

(vi) outras informações pertinentes.

(**) Último poste da série > 16 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11711: FAP (72): Eu, periquito, me confesso... (António Martins de Matos, ex- ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

Guiné 63/74 - P11713: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (18): Intenções e Acção de Graças da Missa celebrada na Capela de Sta. Rita de Cássia, Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

Capela de Sta. Rita de Cássia - Termas de Monte Real

1. Por que a memória do nosso VIII Encontro, realizado no passado dia 8 de Junho, está longe de se esgotar, lembramos hoje as Intenções e a Acção de Graças da Missa celebrada na Capela das Termas de Monte Real antes do almoço/convívio da nossa tertúlia, iniciativa do nosso camarada Joaquim Mexia Alves. 


INTENÇÕES 

 Pelos militares portugueses, (lembrando também os nascidos em África), que faleceram durante a guerra de África em todas as frentes, nomeadamente na Guiné.
Por todos os combatentes da guerra de África que já faleceram depois de terminada a guerra.
Pelos combatentes de todos os movimentos políticos africanos que faleceram combatendo o Exército Português em África. 
Pelos povos de Portugal, Guiné, Angola, Moçambique e todos os outros povos onde os portugueses marcaram presença.
Por todos aqueles que tendo combatido nesta guerra ainda hoje sofrem os traumas causados pela mesma guerra e pelas suas famílias que com eles também sofrem.


ACÇÃO DE GRAÇAS

Colocámos hoje nas intenções desta Missa, para além daqueles que foram nossos camaradas de armas falecidos durante a guerra de África, aqueles que faleceram combatendo do outro lado da guerra.
É esta a nossa postura de portugueses, alicerçados na matriz cristã desde o início da nossa pátria, que vivemos e queremos viver, ou seja, sem rancor, sem ressentimento, mas aceitando e dando a mão àqueles que tendo-nos combatido podem precisar de nós, como nós seguramente também precisamos deles.
A paz com o passado não se faz pelo esquecimento, mas sim com a aprendizagem de um caminho de reconciliação, que leva sempre ao melhor dos dons que Deus deu ao homem: o amor.
E disso temos as provas de todos aqueles que, tendo sofrido pelas picadas e matas da Guiné as agruras terríveis da guerra, agora lá voltam para se reencontrarem e sobretudo para ajudarem um povo que sempre nos recebeu de braços abertos e tanto precisa da nossa desinteressada ajuda.
Outro tanto se poderá dizer daqueles que vão a Angola ou Moçambique com as mesmas intenções.
É que viver para o amor, pacifica e constrói.
Viver para o rancor e o ressentimento, violenta e destrói. É como um veneno que mata lentamente a alegria de viver.
Por isso, nesta Capela e neste dia, damos graças a Deus por ter enformado os Portugueses no Seu amor, para o amor.
Muito obrigado Padre Manuel Henrique por ter acedido de pronto ao meu pedido para presidir à celebração connosco desta Eucaristia.
Afinal, é uma Missa celebrada por ex-militares combatentes, presidida por um Capelão Militar no activo.
Obrigado a todos.
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de JUnho de 1013 > Guiné 63/74 - P11712: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (17): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte V): Colocámos nas intenções da missa celebrada pelo capelão militar Manuel Henrique, para além daqueles que foram nossos camaradas de armas falecidos durante a guerra de África, também aqueles que faleceram combatendo do outro lado da guerra (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P11712: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (17): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte V): Manuel Luís Lomba, autor do livro, "Guerra da Guiné: A batalha de Cufar Nalu" (edição, de 2012, Terras de Faria Lda, Faria, Barcelos) e outros camaradas e amigos que nos honraram com a sua presença


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O João Marcelino (Lourinhã) e o Manuel Vaz (Póvoa de Varzim)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Da esquerda para a direita, o Tó Zé (Pereira da Costa, a Maria João e o marido, Jorge Araújo.



Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio >  O João e a Celestina Sesifredo, do Redondo... O João foi 1º Cabo no Pel Nat Caç 52, no Mato Cão, no tempo do Joaquim Mexia Alves.. Já o convidámos para integrar a nossa Tabanca Grande.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O Manuel Luís Lomba e o filho, Luís Manuel, que vieram de Faria, Barcelos. O Manuel Luís Lomba é autor do livro, "Guerra da Guiné: A batalha de Cufar Nalu". A edição, de 2012, é de Terras de Faria Lda, Faria, Barcelos (341 pp.)




Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio >  Diamantino Varrasquinho e a mulher Maria José,  de Ervidel, Aljustrel... "Foi 'meu' Furriel no 52 no Mato Cão", acrescenta o Joaquim Mexia Alves.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > A família do António Santos (Caneças / Odivelas): na foto só aparece a Graciela, mais a filha, o genro e as netas. Três gerações!


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > A Margarida Peixoto (à esquerda), que veio de Penafiel (mais o Joaquim); e a Joaquina Carmelita, esposa do nosso camarada Manuel Carmelita (Vila do Conde).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O Ernestinmo Caniço, ao centro, comandante do Pel Rec Daimler 2208; à sua direita, o António Proença e à sua esquerda esquerda o Carlos Pinto.


 Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O "alfero Cabral", em grande plano; em plano secundário, a filha do António Santos e o marido.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Diz o Josema (Zé Manuel Lopes) para o Zé Manuel Cancela: "Sabes, estou cansado de fazer vinhos de cinco estrelas e não ter mercado para os escoar... Trouxe o carro cheio e levo-o meio cheio, de volta... Ficam aqui os meus contactos, para quem ainda não conhece o Pedro Milanos da Quinta Sra da Graça, da região demarcada do Douro: Quinta Senhora da Graça - S. João de Lobrigos, 5030 429 Santa Marta de Penaguião, telem. 916 651 639".

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.

Guiné 63/74 - P11711: FAP (72): Eu, periquito, me confesso... (António Martins de Matos, ex- ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

1. Mensagem de ontem do nosso camarada António Martins de Matos, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, atualmente ten gen pilav ref

Eu periquito me confesso
por António Martins de Matos

Disse o Luís Graça no seu discurso de boas-vindas do nosso último encontro [, em Monte Real, 8 de junho passado,] que tínhamos no nosso convívio uma série de novos periquitos.

Sinal de vitalidade, alguns dos novos a chegarem, só que não ouvi os habituais PIUs, tão característicos da recepção aos maçaricos por aquelas terras onde andámos. 

Sinal de velhice?

Alzheimer?

Estarei a ficar surdo?

É certo que já somos todos sessentões mas que diabo, um periquito é um periquito e, por mais airoso que seja, … tem de ser devidamente enquadrado. Este pensamento levou-me a recordar os meus tempos de Periquito na Guiné.

Eu, tenente piloto aviador dos jactos, embarquei para a minha comissão num DC-6, no Figo Maduro e na madrugada de 10 de Maio de 1972.

Algo que muitos teimam em não reconhecer mas que vem descrito nos compêndios da especialidade, uma guerra de guerrilha nunca se ganha nem se perde pela via militar, só termina com uma decisão política, (esperem um pouco, esta verdade vai mais uma vez ser confirmada no Afeganistão de 2013), estava absolutamente convencido que faria mais comissões, razão pela qual e podendo ter sido nomeado para Luanda me tinha oferecido para a Guiné, a ideia era começar pelo pior, depois logo se veria…

O voo foi sem história, até já conhecia a África das areias, só que, ao abrirem a porta do DC6..., cum caneco!, o calor e cheiro à África dos trópicos a entrarem-me pelas narinas.

Alguém me tinha ido esperar ao Terminal e logo me conduziu ao meu novo local de trabalho, o Grupo Operacional 12 e Esquadra 121 da Base, à chegada ouvi um ou outro PIU, nem sabia o que isso era.

Apresentações feitas às Entidades competentes e logo me deram um alojamento na Base, uns 9m2, uma cama de ferro, uns caixotes pintados de branco a fazerem de prateleiras tipo Móveis 3K e uma ventoinha que fazia um barulho semelhante a uma batedeira de bolos e que motivou a minha primeira decisão em terras africanas, comprar em Bissau e na “Casa Pintosinho” uma nova e silenciosa ventoinha que me deixasse dormir.

No dia seguinte à chegada lá vesti o meu fato de voo, emblema dos Falcões bem visível “à cause des mouches”, apresentei-me no Grupo 12, só aí é que percebi que aqueles PIUs insistentes que ia ouvindo me eram destinados !!!!

Piloto dos jactos, reacções rápidas, logo tentei cortar o mal pela raiz, apontei a um Furriel que acabara de “Piar”, o homem assustou-se quando viu um Tenente a vir na sua direcção, ao chegar ao pé dele perguntei-lhe algo que nada tinha a ver com a situação... Nunca mais houve PIUs e … fiz um amigo.

Mas sejamos claros e aqui que ninguém nos ouve, todo e qualquer militar que chegasse à Guiné, independentemente dos PIUs e correlativos e até ficar completamente à vontade naquelas terras (e ares), era um completo…Periquito.

A adaptação não era só em relação à guerra mas sim a tudo o que o rodeava, até mesmo o andar por Bissau era também algo de “misterioso e preocupante”, nos primeiros dias até fui armado com uma Walter PPK, sabia lá se havia algum turra à porta do Pelicano ou do Solar do Dez?

E, falando do Pelicano, dizia-me um piloto velho: “ Vamos comer uns Ninhos”?... Ninhos? Que raio de porcaria seria essa?

E uma ida às ostras? Eu até gostava do marisco, estava habituado a comer um prato delas (6) ali para os lados da Solmar ou da Portugália, abertas e com gelo, o susto que apanhei quando me puseram à frente um facalhão e uma travessa a fumegar cheia de pedras, tive que aprender como se comiam aqueles conglomerados.

Muitas outras coisas me foram sendo ensinadas pelos velhos, o uso do Lion Brand, não beber água da torneira, as pastilhas de sal e de quinino, as diferenças entre a bagaceira, o brandy e o whisky...

O ser periquito também tinha algumas vantagens, observava-se o ambiente sem ideias pre-concebidas ou segundas intenções, logo ao segundo dia constatei que o PAIGC podia terminar a guerra de um dia para o outro, bastava dar uma bazokada na carrinha dos pilotos que todos os dias seguia às 19:00 para Bissau e regressava às 21:00, de um só golpe acabavam com a acção da FAP.

Periquito mas não parvo, de imediato e apesar de não ter a respectiva carta de condução, comprei uma moto, uma Yamaha 200, linda de morrer, 16 notas da Metrópole, lá no meio do escuro da estrada Bissau-Bissalanca até podia ser comido por uma jibóia mas bazokada é que não me acertava.

Ao terceiro dia de comissão estreei-me a dormir no mato, em Pirada, algo que a maior parte dos velhos nunca tinham feito, claro que não disse aos FTs locais que era um PIRA acabado de chegar….nem eles me perguntaram, estavam preocupados com a situação do momento já que o comerciante local (Mário Soares de seu nome, nada a ver com o outro) se tinha ausentado, quando ele se ausentava era sinal divino e misterioso que podiam “embrulhar”, felizmente nessa noite nada aconteceu.

Depois foi o aprender a voar DO-27, “só podes levar 350 kg de carga”, logo a pergunta confusa mas pertinente do PIRA: “Há balanças no mato? Como é que peso a carga?”

“Não pesas, como regra e por cada passageiro contabilizas 70kg, podes levar 5, ou então 4 e umas malas, ou...vais fazendo as contas, se forem fusos e como na Marinha comem bem melhor que nos restantes quartéis, fazes 90 kg por cabeça".

"Antes de descolar e já que algum pessoal julga que um avião é parecido com uma Berliet, tens sempre de voltar a contar as cabeças não vá aparecer-te um passageiro clandestino”.

A minha primeira missão operacional de DO-27 foi levar 4 belos Coronéis de Bissau a Tite e Fulacunda, os seus temores ao constatarem que estavam na presença de um PIRA Aviador, apenas descolados de Tite e não fosse o PIRA perder-se, já todos apontavam com o dedo a direcção de Fulacunda, melhor sistema de navegação não podia existir.

A minha aprendizagem durou algum tempo, queixavam-se os do Exército que iam mal preparados para o Ultramar, a primeira vez que larguei uma bomba real foi… na Guiné, até essa data apenas tinha largado bombas de treino (e esta, heim?).

As primeiras impressões de voo na Guiné também foram estranhas, não se enxergava um palmo diante do nariz pelo que me parecia estar a voar num grande território, era o final da época seca, logo vieram as chuvas e fiquei com a ideia que o território tinha encolhido. E depois havia alguns temas que me faziam sentir um autêntico PIRA, em termos de reconhecimento do terreno não conseguia ver nada do que os pilotos mais batidos viam, eles bem se esforçavam por me mostrar o que estava por baixo da floresta mas os meus olhos não conseguiam focar para além da copa das árvores, era tudo verde, o resto ficava difuso.

Só quando passados alguns meses e na área do Morés finalmente consegui enxergar umas palhotas dissimuladas no meio da floresta, então sim, dei o treino por terminado, tinha deixado de ser PIRA e entrado directamente para a categoria de Velho.

Para o final da comissão todo o pessoal mais antigo acabava por ter uma nova tarefa, acolher os novos PIRAS, tentar tirar-lhes as dúvidas e receios, transmitindo-lhes um pouco da experiência acumulada, o circulo a completar-se.

E, como tudo na vida, se a maior parte dos PIRAS lá ia assimilando os conselhos dos mais velhos, também havia aqueles que, por razões desconhecidas, chegavam dizendo já saberem tudo de tudo… nunca seriam PIRAs!

Foram esses que identificaram bases de morteiro onde só havia… eiras de arroz!

Também foram esses que, em grande alvoroço, identificaram marcas de blindados anfíbios a saírem do rio Cacheu.

A observação posterior de um velho concluiu que, a ser um blindado tinha de ser do tipo bicicleta, já que havia apenas um “rodado”.

Mais tarde e depois de grande azáfama concluiu-se que o “rodado” pertencia às marcas que um crocodilo tinha deixado ao sair do rio em direcção à margem.

Passou a ser conhecido como “O Crocodilo”.

Há muitos anos que a guerra terminou…

O tempo foi passando…

Já não há ninguém que me ensine…

Tenho saudades de ser PIRA
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11703: FAP (71): O AL III faz 50 anos de operação e eu gostaria de saber como se fazia a Instrução da sua pilotagem na época (Fernando Leitão, ten cor pilav, Área de Ensino Específico da Força Aérea, Instituto de Estudos Superiores Militares)