Guiné > Bissalanca > BA 12 > c. 1972/74 > A moto, Yamaha, de 200 cc, do nosso camarada António Martins de Matos, ex-tenente pilav (BA12, 1972/74), hoje ten gen pilav ref, membro da nossa Tabanca Grande.
Foto (e legenda): © António Martins de Matos (2015). Todos os direitos reservados
1. Mensagem do nosso camarada António Martins de Matos:
Data: 14 de março de 2015 às 21:49
Assunto: Motorizadas versus Motos
A propósito do P14365 (*)
Só na BA12 havia 4 destas, mais velozes que o vento, o problema eram os mosquitos, moscardos e correlativos a esborracharem-se no capacete.(**)Notas do editor:
(*) Vd. poste de 14 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14365: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (24): Seria imperdoável não falar das motorizadas Suzuki, a marca nº 1, de então, sem desprimor para a Honda, e que o meu primo, Costa Pinheiro, vendia aos montes em Bissau (Carlos Pinheiro, ex-1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70)
(**) Vd. poste de 25 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7035: FAP (51): A noite mais perigosa da minha guerra (António Martins de Matos)
Lá para o fim do repasto o 1º Cabo Hélder, um dos meus mecânicos do Fiat G-91, chamou-me a um canto para que provasse a aguardente especial que a família lhe tinha mandado lá da terra.
Apenas saído desta prova e já o nosso amigo e futuro bloguista Victor Barata, não querendo ficar mal visto perante o pessoal das aeronaves de caça (sempre as rivalidades), me apresentou um medronho de primeira.
E depois foi o Miguel e o Mário, e o Correia, igualmente Cabos da Linha da Frente e a quem eu todos os dias confiava a vida ao entrar para um Fiat-G91 por eles devidamente abastecido, municiado e inspeccionado, cada um deles a tentar demonstrar que os bagaços das suas terras eram bem melhores que os restantes.
Por volta da meia-noite a batalha estava terminada, o inimigo completamente destroçado, era tempo de ir dormir, que no dia seguinte e apesar de ser domingo, a outra guerra continuava.
Só que depois de ter passado quase 1 ano a dormir no “Biafra” da Base, a minha cama estava agora a uns bons dez kilómetros de distancia, tinha passado a viver em Bissau, as razões que me levaram a fazer a troca foram duas, o ter constatado que nos últimos seis meses só tinha jantado “francesinhas” e, já que vivia na base, estar permanentemente de serviço, com alvorada às 05:30 (... já que moras na base ficas de alerta!!).
O regresso a casa não tinha qualquer problema, já que tinha como meio de transporte a minha moto, uma bela, potente e roxa Yamaha 200 a 2 tempos, comprada com 16 notas da Metrópole, ali para os lados do que chamávamos a Av. da Liberdade (a que ia do Palácio do Governador ao cais).
Cabe aqui um outro parêntesis para informar que a primeira vez que andei de moto foi no dia que a fui buscar ao stand. Ao pretender saber como se metiam as mudanças o vendedor tão assustado ficou que não ma queria vender, só as D. Marias entregues ali mesmo e no momento o descansaram.
“Ó homem deixe-se de merdices, abra lá a porta do stand e saia-me da frente”, e assim entrei na confusão do trânsito de Bissau.
Voltando à história, ainda estive uma meia hora recostado naquelas grandes valas que existiam na Base para escoar a água das chuvas, a ver se conseguia contar as estrelas, que a maior parte delas não parava de oscilar.
A ideia era tentar alinhar os gyros e decidir se havia de me meter ao caminho ou não, o problema não era o balão, que nesse tempo não existia, nem as estrelas aos saltos mas sim o estranho caso da estrada estar a ficar ondulada, tipo jibóia (e não me venham cá dizer que não há jibóias na Guiné, que eu até as vi).
Após profunda meditação e analisando os prós e os contras, resolvi meter-me ao caminho. Lembro-me apenas de sair à porta de armas e de algum tempo mais tarde ter passado junto a um ou dois quartéis que existiam à beira da estrada, poucas referências para o trajecto de cerca de dez quilómetros.
Enquanto circulava de gás à tábua o meu pensamento não parava de me alertar para que ao chegar ao destino tinha que travar, travar... travar. E assim aconteceu, para além dos mosquitos, moscardos e correlativos a esborracharem-se com fragor no capacete, consegui fazer o percurso sem bater em nada nem em ninguém (ou não fosse eu um piloto de caça).
A terceira referência da viagem foi a porta do meu apartamento onde, a travar, a travar, acabei por vir a bater já muito devagarinho, mas ainda assim com algum estrondo. E tão contente fiquei de ter chegado (e parado) que nem sequer me lembrei que, como passo seguinte, tinha de pôr os pés no chão, trambolhão da moto abaixo, a 0km/h.
Na manhã seguinte fui voar com um braço todo entrapado e umas pastilhas para as dores, tomadas numa auto-medicação bem à revelia do médico, que um dos ombros estava em mau estado.
Felizmente que foi um dia muito calmo, acabei por só fazer uma missão, 40 minutos de voo, 2 bombas de 750 libras algures na Guiné, mais 2 buracos dos grandes, os que sabiam que os continuávamos a apoiar devem-nas ter ouvido... os outros certamente que não.
Hoje, passados 37 anos o vício das motos ficou, trambolhões só dei mais um, também a 0 km/h. E ficou a saudade dos bons momentos passados na Base da Bissalanca. (...)